Férias no campo

Remo entregou a Harry um canivete e disse: "Portus!" O canivete tornou-se a chave de portal a ser usada. Harry sentiu o tradicional puxão atrás do umbigo, o vento, as cores passando e súbito caiu num gramado. Ele não estava no Largo Grimmauld, mas diante de um pequeno bangalô no campo.

"Onde estamos ?" perguntou ressabiado a Remo.

"Eu não lhe disse? Pô, desculpe, mas não precisa se assustar. É aqui que você vai ficar. É a casa que Gui Weasley acabou de comprar de um trouxa, aonde pretende morar com Fleur em breve. Eu, Dumbledore e os Weasleys achamos que não é bom que vocês passem o verão trancados na casa que foi de Sirius."

"Vocês? Quem mais estará comigo?"

Mal Harry disse isso, reparou que havia duas vassouras vindo em sua direção, que logo percebeu serem Rony e Gina Weasley.

Lupin apontou para eles e disse : "Esses dois. Os gêmeos arranjaram um pequeno apartamento perto da sua loja, mas Rony e Gina ficavam n'A Toca. Molly e Arthur não tinham coragem de deixá-los sozinhos por lá, que é um local visado. Molly teria que deixar o serviço da Ordem para pajear os dois. A Toca tem suas proteções, mas certamente não dá para colocá-la sob a proteção do Feitiço Fidelius. A família é muito grande e complicada para isso. Como fariam com a tentativa de se reconciliar com Percy, especialmente se ele resolve trazer amigos para casa?"

Nesse ponto, Rony e Gina já tinham aterrissado e pulado no pescoço de Harry para abraçá-lo. Harry reparou que a moça estava linda, de short e uma camiseta que se colava ao seu corpo, molhado de suor. Ficou meio perturbado ao abraçá-la. Nunca tinha pensado em Gina como uma garota, ela sempre fora a irmãzinha de Rony, embora ultimamente estivesse também se mostrando uma boa amiga. Mas naqueles trajes e com aquele sorriso lindo, não dava para deixar de perceber que ela estava se tornando uma mulher realmente atraente.

Depois de se cumprimentarem, Remo voltou ao assunto da casa.

"Estava aqui explicando ao Harry porque vocês vieram para cá. Esta casa ainda é desconhecida dos Comensais, ninguém sabe que ela é de um bruxo e a estamos protegendo com diversos feitiços e encantamentos. Ainda não usamos o Fidelius, mas ele será aplicado em breve. Só estamos esperando a Fleur voltar da França, onde foi passar uns tempos com a família."

Harry pensou que realmente seria bom ficar num lugar onde poderia voar e onde cada canto não o fizesse lembrar do padrinho.

"Além disso, tem o problema da herança, né?" disse Rony.

"Como assim? Que he... " Harry parou no meio da pergunta, dando-se conta de que estavam se referindo à herança de Sirius. " Para quem ficou a casa do Largo Grimmauld?"

"Este é um ponto bem complicado" disse Lupin. "Você foi criado por trouxas, não sei se sabe como funciona esse negócio de herança entre nós."

"Não tenho a menor idéia. Como é?" Harry perguntou.

"Bem, as famílias bruxas, especialmente as antigas e metidas a nobre, como os Black, não queriam que seus bens fossem divididos e dilapidados, por isso tinham uma tradição de que as propriedades e bens de valor da família deveriam ir todos para um único herdeiro. Aliás, entre os trouxas isso também ocorreu até recentemente. Só que entre os bruxos, tal prática ainda é a mais comum. Muitas famílias preferem até ter um único filho para que não haja deserdados. Em muitos casos, como é o dos Black, há uma espécie de testamento mágico que atravessa os séculos. As propriedades devem continuar com a família, independentemente do desejo do seu eventual possuidor. Sirius não poderia alterar isso, mesmo que tivesse tido tempo, cabeça para se debruçar sobre o assunto e não fosse tido como criminoso."

" E? Afinal, para quem ficou a casa?"

" Não interrompa que eu chego lá. Entre os Black a herança fica com o filho homem mais velho do último proprietário, para preservar o nome dos Black. Em não havendo filhos, ela pode passar a filhas, irmãos, irmãs, tios, tias, primos, primas, nessa ordem. Há, porém uma cláusula, que diz que se o herdeiro presumido desrespeitar a tradição da família, a herança deve passar ao seguinte. Seguindo essa lógica, a herdeira é Andrômeda, mas Narcisa está alegando que Andrômeda desrespeitou a tradição familiar ao se casar com um bruxo nascido trouxa. Afinal o lema da família é Toujours pur, sempre pura."

" Então, a Ordem teve que abandonar a casa" perguntou Harry, ansioso.

" Não, ainda não. Tonks pediu a casa para a mãe e ela a deixou com a filha. Mas a coisa não está decidida. Narcisa entrou na justiça bruxa para que a situação fique resolvida. Isso não será resolvido apenas por juízes, como entre os trouxas, mas é preciso usar também artefatos mágicos para detectar qual deve ser o real herdeiro, qual o que melhor se encaixa na tradição familiar. É uma coisa complicada, que envolve tanto a interpretação do testamento pelos juízes como pelos artefatos."

" Por que ela não tentou tirar a casa de Sirius? Sendo considerado um criminoso, ele não estaria fora da herança, por esses critérios?" Harry, estava achando aquela coisa toda meio sem sentido.

" Os Malfoy não precisam de mais essa casa. Nem pensaram nela no tempo em que Sirius esteve em Azkaban. Os Tonks tampouco estão interessados, por isso Andrômeda, que, diga-se de passagem, nem desconfia do uso que a casa tem tido, nem pestanejou em deixar a filha se apossar da casa. A questão é que aparentemente Narcisa acabou sabendo, provavelmente pelo Monstro, que a casa estava sendo usada pela Ordem. Não sei exatamente como foi isso, já que Sirius o tinha proibido de falar qualquer coisa da Ordem para Narcisa. Mas depois da morte de Sirius, ela se deu conta de que pode nos atrapalhar bastante, exigindo a casa para si."

" E o que a Ordem vai fazer?"

" Não precisamos exatamente daquela casa. Ela é conveniente porque é bem localizada e bem protegida, mas estamos preparando outros locais para eventualmente substituí-la, inclusive este aqui. De qualquer modo é bom que vocês não fiquem por lá, caso a gente tenha que sair rapidamente. Por outro lado, há algo estranho. O Monstro foi herdado por Andrômeda, junto com a casa, mas vem dando um bocado de trabalho, pois não tem obedecido a Tonks direito, diz que só obedecerá à sua mãe. Ninguém está entendendo muito o que acontece com ele. Talvez isso seja um sinal de que as propriedades dos Black realmente devam ser de Narcisa, pois as amarras que o deveriam prender a Tonks não funcionam."

Harry mudou de assunto. Decididamente não queria falar daquele elfo maluco que era um dos responsáveis pela morte de Sirius. " E aqui, quem vai estar aqui?" quis saber.

Foi Rony quem respondeu: " Só nós três e o Gui, que passa o dia inteiro em Gringotes. Mamãe disse que vai tentar dar uma passada todos os dias para ver como vão as coisas, ver a roupa a ser lavada e fazer alguma comida, mas quando não der para ela vir, a gente vai ter de se virar."

Lupin acrescentou: " Eu também procurarei vir de vez em quando, imagino que Arthur também, e Dumbledore virá aos sábados e domingos para aprofundar suas lições de oclumência."

Harry ficou deliciado com a idéia de ficar sozinho com Rony e a bela Gina, mas logo lembrou-se de que eram apenas três adolescentes proibidos de usar magia.

Lupin, como que adivinhando sua preocupação, acrescentou: " Olha, aqui estão três broches, que vocês devem usar constantemente. Eles são chaves de portal que os levarão para o Largo Grimmauld a qualquer perigo que haja. Basta tocar nesta parte aqui " e Lupin mostrou um ponto na parte da frente do broche. " Não hesitem em usá-los, nem tentem bancar os heróis enfrentando Comensais sozinhos. Isso seria bastante perigoso e depois ainda teríamos que enfrentar o Ministério, que nunca se sabe como reagirá."

Depois de todos estarem com seus broches, Remo se despediu e foi embora.

Rony virou-se para o amigo e disse: "Estávamos treinando um pouco, você sabe, a Gina quer passar a artilheira do time, numa das vagas abertas com a saída de Angelina e Alicia. Eu fico de goleiro e ela como artilheira, mas seria melhor se tivesse alguém que fizesse jogadas de ataque com ela. Você vem?"

" Claro. Espera só eu deixar minhas coisas no quarto. Que aliás, fica onde?"

Rony viu que as coisas de Harry ainda estavam espalhadas pela grama. " Nossa, é mesmo! Vamos resolver isso logo."

Enquanto entravam e Rony mostrava o quarto em que ambos ficariam, Rony contou que tinham convidado Hermione para se juntar a eles, mas ela tinha achado melhor ficar um pouco com os pais, que quase não tinha visto no ano anterior. Depois do aniversário de Gina talvez se juntasse a eles."

Ficaram a tarde toda jogando e pela primeira vez , Harry conseguiu passar algumas horas sem pensar em Sirius nem na profecia. O que foi muito bom, mas não poderia durar.

Lá pelas seis horas, Molly chegou e os chamou, para ajudá-la com o jantar. Depois de uma rápida chuveirada, foram todos para a cozinha. eles não podiam fazer muito, pois não eram autorizados a fazer magia, mas separavam os ingredientes, pegavam as panelas e artefatos e Harry demonstrou suas habilidades de cortar legumes e temperos à maneira trouxa.

Harry percebeu como as coisas tinham mudado com ele desde a última semana em Hogwarts. Já conseguia estar entre amigos sem sentir aquela angústia inexplicável, aquela vontade de fugir, de ficar sozinho, já não sentia como se as conversas desimportantes do cotidiano fossem algo intolerável. Mas depois que Molly se foi, Gina e Rony foram jogar xadrez e Gui foi escrever para Fleur, a tristeza voltou a invadir a sua mente.

Quando Gui acabou de escrever a carta, Harry reparou que ele não foi atrás de nenhuma coruja, mas a colocou num envelope dentro de uma pasta.

" Não vai enviá-la? " perguntou e logo se arrependeu. O que ele tinha a ver com isso?

" Vou, claro. Ninguém lhe falou para evitar usar as corujas aqui?" Gui respondeu.

" Não. Ninguém disse nada. Mas como mandaremos cartas sem as corujas?"

" Entreguem-nas para mim, que eu as enviarei do Gringotes, como vou fazer com esta. Não queremos que ninguém repare num movimento incomum de corujas por aqui. Os Comensais não devem saber que aqui há bruxos. Ainda mais a Edwiges, que chama muita atenção, não a use. Só em último caso."

Depois disso, Gui deu boa noite a todos e foi dormir, pois tinha que trabalhar cedo no dia seguinte. Harry deixou-se ficar, triste. Com o treino de oclumência, tinha aprendido a não se deixar tomar pela culpa, mas a sensação do luto o invadia de novo. Não tinha como fugir dela, então usou-a para o seu treinamento de oclumência e foi ficando na sala de estar, sem nem reparar nos amigos.

O jogo deles terminou e Rony resolveu subir para o seu quarto e escrever para Hermione. Chamou Harry, mas este nem reparou que estava sendo chamado. Rony foi e Gina chegou por trás de Harry e ficou a acariciar a sua cabeça bem lentamente. Harry estava tão voltado para si mesmo, que custou um pouco a reparar. Quando o fez, ficou espantado e embaraçado. O que ela estava fazendo?

Gina percebeu que ele ficara perturbado e disse: "Atrapalho? Vi você aí sentado, com o olhar tão perdido, tão triste. Não quero te incomodar, mas pensei que talvez pudesse se sentir melhor com um pouco de contato, de carinho. Lembro que depois do que aconteceu comigo,... você sabe, a Câmara e Tom Riddle, eu não queria falar com ninguém, não havia o que ser dito de fato, não havia consolo. Não conseguia me engajar nos papos dos meus irmãos, nada do que eles diziam parecia fazer sentido, nada conseguia me fazer parar de pensar no acontecido. Mas gostava que alguém ficasse comigo, silenciosamente, segurando minha mão, me acariciando a cabeça. Sentia-me melhor. Queria que você soubesse que vou sempre apoiar você quando precisar. Pode contar comigo."

Harry viu que ela estava certa. Ele não estava acostumado com esse tipo de carícia, aliás não estava acostumado com nenhum tipo de carícia. Mas estar com ela parecia ajudar. E o apoio dela era bom de se ter. Ela não se impunha a ele, nãopedia nada, não exigia nada.

" É, acho que você tem razão. Estava bom com você passando a mão na minha cabeça, enquanto eu estava tão perdido nos meus pensamentos que não notava. Mas quando percebi, fiquei meio sem jeito, sei lá. Mas fica aqui comigo, sim, se não se importar."

Gina sentou-se ao lado dele no sofá e fez ele pôr a cabeça no seu colo. Ali eles ficaram um bom tempo, sem nada dizer. Harry nunca tinha ficado assim com ninguém e viu que pela primeira vez conseguia realmente se sentir bem com alguém enquanto pensava em Sirius. De tarde também tinha sido bom, mas tinha sido diferente. Jogando, tinha conseguido não pensar em Sirius por um tempo. Agora conseguia dar vazão à sua dor.

O sono começou a bater e eles foram cada qual para o seu quarto. Aquela noite Harry dormiu muito bem, pela primeira vez desde a morte de Sirius.

"Quer dizer que você vai ter que comemorar seu aniversário com os trouxas? Como é que vai ser isso?" Rony e Harry conversavam enquanto faziam a revisão de Transfiguração das férias.

" Não sei. Eu nunca comemorei o aniversário. Mas acho que tenho que passar o dia 31 na casa da minha tia."

" Pô, eu já 'tava começando a pensar no que faríamos para o seu aniversário, onde o faríamos, quem chamaríamos, essas coisas."

" Definitivamente, acho que é melhor não ir ninguém na casa dos Dursley. Talvez só o Remo, que a minha tia já conhece, e a Hermione que sabe se comportar como trouxa. Não, não vale a pena ir ninguém."

Nesse momento, Gina entrou na sala em que ambos estavam. Rony foi logo dizendo:

"Pode esquecer aquela idéia de fazermos um aniversário decente para o Harry. Ele vai ter que comemorá-lo na casa dos trouxas."

"Como assim, você vai ter de fazer uma festa lá?"

" Acho que não " respondeu Harry. " Meus tios teriam um troço e nunca mais me deixariam por os pés lá, se vocês aparecessem numa festa em casa deles. E sem vocês, não seria uma festa, para mim. Não que eu esteja morrendo de vontade de voltar lá, mas ainda é uma proteção que não posso descartar. Acho que só eu preciso passar o dia por lá. Sábado eu pergunto ao Dumbledore."

"Se é assim, vamos falar com o Neville. A mamãe não mencionou ontem que tinha esquecido n'A Toca um convite para o aniversário dele?" perguntou a garota. " Então, se é aniversário dele no dia 30, a gente vai na festa e aproveita para festejar você também, já que provavelmente mal estaremos com você dia 31."

" É mesmo! Não é que você de vez em quando tem boas idéias, maninha? Mesmo assim ainda ficamos devendo uma festa de aniversário só para o Harry."

"Ih! Deixa pra lá. Nunca tive festa de aniversário mesmo, nem quando era criança. Agora já não é tão importante. O que quero mesmo é poder estar com as pessoas que amo e isso não tem sido muito fácil, né? Afinal, nos tempos que correm a vida ficou mais frágil e a qualquer momento podemos perder os amigos para esses estúpidos Comensais " Harry disse desalentado. Acho que realmente devemos fazer uma força para irmos todos no Neville."

No dia seguinte já era sábado e Dumbledore apareceu por lá pela manhã com um monte de cartas na mão.

" Bem, já que estava vindo para cá trouxe as cartas da escola e os resultados dos N.O.Ms. para vocês. Dêem uma olhada, enquanto trato de algumas questões da Ordem com o Gui. Depois vocês me dão as respostas" Dumbledore disse isso e se retirou.

As notas de Harry foram : Adivinhação: D(eplorável); Astronomia: A (ceitável); Defesa contra as Artes das Trevas: Ó(timo) ; Feitiços: O; Herbologia: O; História da Magia: P (assável); Poções: O; Transfiguração: E(xcede espectativas); Trato das Criaturas Mágicas: O.

" Consegui 7 N.O.Ms e tive O em Poções. Uau! Acho que vai dar para prosseguir na idéia de ser auror, disse Harry sorrindo. E, você, Rony?"

" Não acredito, cara. Tive oito NOMs. Consegui até tirar um A em Adivinhação."

" E você vai continuar aturando a Trelawney? Eu pelo menos não vou ter mais que passar pela previsão da minha morte a cada aula."

" Ah! Mas o Firenze vai continuar dando aulas. Acho que vou continuar, sim. Embora não seja algo muito preciso, sempre pode ser útil, né?"

Harry deu de ombros e abriu a outra carta. Nela havia uma lista do material para cada uma das disciplinas em que os eles poderiam optar por fazer classes de N.I.E.Ms. Mas eles precisavam confirmar se realmente as fariam. Harry e Rony dispensaram Astronomia e, assim, Harry ficou com seis disciplinas e Rony com 7.

" Pô, vai ser bem melhor este ano. Vamos ter mais tempo" disse Harry, já pensando no quadribol e até em fazer estudos aprofundados em DCAT (Defesa Contra as Artes das Trevas) para se preparar melhor para a guerra."

Rony, porém, não concordou muito. "As classes de N.I.E.Ms são mais difíceis. Pelo menos é o que os meus irmãos diziam. Quer dizer, os mais velhos, porque os gêmeos não contam, já que eles quase não fizeram matéria nenhuma nos últimos anos. Além disso, vou me preparar para o exame de Aparatação, pois em março completo 17 anos e talvez dê para fazer o exame nas férias da Páscoa."

Nesse momento, Dumbledore voltou e antes de Harry ir para a aula de Oclumência, o rapaz perguntou sobre o aniversário.

"Não, você não precisa dar uma festa na casa de seus tios, Harry. Aliás, mesmo que eles deixassem, talvez não fosse bom juntar todos os seus amigos numa casa trouxa num horário mais ou menos divulgado. É claro que a casa goza de proteções, mas elas são mais dirigidas a você e seus parentes e seria mais difícil organizar a defesa de todos os presentes, a maioria adolescentes sem permissão de usar magia. Mas se vocês todos vão na casa do Neville, vou providenciar para que haja membros da Ordem por lá. Deixa comigo, que converso com a Sra. Longbottom com o Nevile e com o pessoal da Ordem."

Harry ficou excitado. Seria a promeira festa bruxa a que compareceria fora de Hogwarts.

Molly, ao vir para ajudar a fazer o jantar, trouxe uma mensagem do Dino para a Gina. Harry tinha esquecido que a garota tinha dito que estava saindo com o Dino. Ao ver a carta, Harry ficou meio perturbado e percebeu que estava com ciúmes. Será que estavam mesmo namorando? Ou será que tinham apenas ficado uma ou outra vez no fim do semestre? Será que a Gina gostava mesmo do Dino?

Será que ele, Harry, gostaria de ficar com a Gina? Estar com Gina por perto era algo tão bom. De manhã, quadribol, que além de ser gostoso, ainda fornecia uma bela visão da moça, que geralmente usava short. À noite, a presença silenciosa dela o fazia extravasar seu confuso estado emocional. Harry não sabia se a queria como amiga ou se gostaria de algo mais. Quer dizer, é claro que gostaria de algo mais, pô, a garota era mesmo atraente. Mas a Gina já se tornara muito amiga para ele arriscar tentar algo mais. Se um dos dois se envolvesse realmente e o outro não, seria um desastre completo. Talvez não fosse mais possível manter a amizade. Quando ela era mais nova e tinha uma paixonite por ele, era totalmente impossível ter uma conversa normal com ela. Pensando bem, ele não tinha tido melhor desempenho com Cho.

Além do mais, ela era irmã do Rony, que certamente ia querer se meter e qualquer problema amoroso entre Harry e Gina poderia também afetar a amizade dos dois. Melhor era deixar quieto. Manter o tipo de convivência que tinham. Harry deu-se conta de que tinha de aproveitar ao máximo aquelas férias, pois ao voltar para a escola, tudo seria diferente. Ela estaria tendo que estudar alucinadamente para os N.O.Ms. e nas horas vagas provavelmente ia querer ficar com o Dino.

Harry tentou tirar esses pensamentos da cabeça, que não ajudavam em nada a oclumência, já que ficava ansioso e de fato não havia o que fazer a respeito, ou será que havia? Melhor deixar pra lá. Embora a blusa que ela estava usando não ajudasse em nada. Melhor nem olhar para ela. Viu que Gui estava pensativo e resolveu puxar papo.

" Esses assuntos que você tratou com Dumbledore hoje são muito secretos? Até onde você pode contar para a gente?"

" Na verdade, não tudo. Você sabe que, como trabalho no Gringotes, faço a ligação com os duendes. Eles não são adeptos de Voldemort ou dos Comensais, que geralmente não tratam os não-humanos com dignidade, além de terem matado duendes da outra vez em que tentaram tomar o poder. Mas a questão é que as coisas com Fudge e o Ministério não vão nada bem. Primeiro foi aquele problema com o Ludo Bagman que sumiu deixando uma enorme dívida com os duendes. Depois começaram boatos, não de todo injustificados de que o próprio Fudge estaria tentando passar a perna neles para ganhar maior controle sobre Gringotes. Sabe, como tentou fazer com Hogwarts. Só que ele logo viu que era melhor maneirar. Mas os duendes estão ressabiados, com o pé atrás, mais ainda do que já são normalmente. E parece que há tentativas de corrupção também, mas isso ainda é negócio que precisa ser melhor investigado.

Uma parte dessa história já tinha vazado na imprensa e houve denúncias n'O Pasquim. Não houve muita repercussão, por causa da fama desse jornal de ser muito fantasioso. Mas os duendes estão realmente inquietos e a questão foi desenterrada."

Rony e Gina ficaram interessados na conversa e todos ficaram conversando sobre política aquela noite. A questão não era só os duendes, mas todo o jogo de soltar boatos dos Comensais e tentar distorcer os fatos, para atrair o apoio dos bruxos. Não apoio a Voldemort, exatamente, que isso obviamente não seria possível. Mas apoio a medidas que favoreciam seus interesses. Os garotos começavam a perceber como era intrincada a luta da Ordem. Não se tratava apenas de ter armas e proteger artigos que poderiam ser de interesse de Voldemort. O convencimento dos outros, a difusão de notícias, a distribuição de poder dentro do Ministério e no seio da sociedade bruxa eram de fundamental importância. Os Comensais lutavam em grande medida tentando desacreditar as pessoas que poderiam se contrapor a eles e, ao fazê-lo, colocavam a serviço de seus interesses muita gente inocente, que não percebia o jogo de manipulação deles. Tinham tentado fazer isso no ano anterior, alimentando o medo que Fudge tinha de Dumbledore. Agora que o próprio Fudge se voltara contra eles, procuravam desacreditar Fudge, através de boatos bem plantados. Não que Fudge lhes dificultasse as coisas, é claro, pois tomara um monte de medidas arbitrárias, que prejudicavam os interesses de muita gente, além dos Comensais.

É claro que isso não era bem novidade. O ano anterior já tinha sido rico nessa luta de informação e contra-informação. Mas agora Harry e seus amigos viam, que mesmo com o Ministério sabendo sobre a volta de Voldemort, ainda havia muito espaço para os Comensais na imprensa e nas organizações importantes do mundo bruxo: Gringotes, o Ministério, etc..

Narcisa Malfoy estava sempre dando um jeito de posar de vítima de preconceitos. "Lúcio já foi inocentado no passado", dizia. " Será que nunca nos veremos livres desse estigma? É preciso libertar meu marido, pois não há acusação formada contra ele. Ir ao Ministério é crime? Então por que aquelas crianças, que saíram da escola sem permissão e foram para o Ministério não foram punidas? O que Dumbledore estava fazendo lá? Por que ele pode estar no Ministério e o meu marido não?"

Harry sentiu falta de Hermione. Ela era tão mais capaz de entender essas coisas do que eles! No ano anterior, ela tinha sacado a Umbridge logo de cara.

Bem, mas na hora de dormir, era melhor não pensar nessas coisas, altamente perturbadoras da oclumência. Melhor lembrar do jogo de quadribol da manhã anterior.