Título: O Começo do Fim
Autora: Kwannom
Censura: M
Gênero: Ação/Aventura/Angst
Beta: Nenhum até o presente momento
AVISOS: Violência, linguagem e sexo explícitos
Disclaimer: Eu não sou proprietária de nada do Senhor dos Anéis. Todos os personagens e nomes de lugares mencionados pertencem a JRR Tolkien. Eu não pretendo, nem estou tendo qualquer ganho financeiro com a criação dessa história. Apesar disso, os personagens originais - Wilrog, Haleth, Siward, Seyton e outros - são meus e ninguém tasca:D
Linha temporal: Ano 3423 da Segunda Era. Universo Alternativo.
Sumário: Fic derivada de Máscara Dourada. Wilrog, um jovem humano que sonhava em ser um guerreiro tão valoroso quanto Beren, acaba por se tornar o mais temível capitão de Sauron. Esta é a sua história.
NOTA DA AUTORA
Ok, demorei mais de quatro meses sem atualizar, aparentemente não tem desculpa pra isso - já que eu continuei a postar novos capítulos das outras duas fics que eu tô trabalhando - mas eu juro que posso me explicar... O negócio é o seguinte: eu percebi que o inconsciente é foda (desculpem o termo). Sério mesmo. Eu cresci vendo e adorando Star Wars e, pra meu horror, Wilrog, a cada dia que passa, fica mais parecido com Darth Vader. Fiquei retada MESMO. Me xinguei toda, achei que tava virando plágio, que devia deixar a história de lado, mas aí eu pensei: rapaz, mas eu não tive a intenção de fazer Wilrog ficar igual ao Darth Vader! Quatro meses de dor na consciência e sete sessões de Episódio III depois, eu cheguei à conclusão de que eu vou continuar a escrever minha história sim, porque não tem nada a ver, Wilrog não é Darth Vader coisa nenhuma e a cultura pop que vá plantar batatas.
Fim de papo e mais dois capítulos pra vocês quererem me matar depois. Acreditem, vocês vão ver o motivo rapidinho, até eu me assustei...
Obrigada a:
Simone: por ter criado o nome desse capítulo e por ter lido os capítulos comigo.
SadieSil: Pois é, Wilrog é cheio de sentimentos contraditórios e se existisse psicólogo na Terra Média ele devia contratar um. Você vai ver como ele está ficando cada vez mais perturbado. E quanto a traduzir o texto pra o inglês, ainda não fiz. Só quando eu terminar todinho. Aí sim vou traduzir. Valeu pela idéia!
Giby a Hobbit: Ruim pra cacete, é isso que Wilrog é! Não tenha medo não, Giby! Não é por nada que esse fedelho psicótico vai virar você-sabe-quem (afe, essa foi podre, meio Harry Potter :P).
Myri: Siward é um cavalo batizado, Myri, se ele não fosse tão engraçado e leal, eu que não queria um cara tão grosso desses por perto. Realmente a descrição de Wilrog perdido na floresta ficou meio fria, mas a intenção era essa mesmo. Eu estou pensando em termos de Idade Média, quando com 14 anos um pentelho já era considerado um Homem e com 18 já tinha uma penca de filhos e já tinha passado uns trocentos na espada. Seguindo esse padrão, com 11 anos Wilrog já podia pensar desse jeito mesmo. Sem falar que ele já é psicótico por natureza...
Virginia-Revel: Também achei o segundo capítulo muito melhor que o primeiro. Mas eu só escrevo péssimos primeiros capítulos, pra mim é muito difícil começar uma história. Espero que você goste desses outros aqui! E prometo que não vou ficar cheia porque você é minha fã hehehe Só um pouquinho ;)
Lore aka Kwannom
Ainda,
Apaixonada por Derfel Cadarn, Capitão saxão dos exércitos do rei Arthur;
Fissurada em Hephaestion, General amante de Alexandre o Grande;
Protetora de Wilrog e
O pior pesadelo de Haldir bwahahahaha.
FILHOTE DE ELFO?
Wilrog abriu os olhos, sonolento e assustado. Onde estou? Aos poucos ele foi se acostumando com a luz e observou o ambiente estranho onde se encontrava. Uma tenda... Armas e sacolas estavam a um canto do lugar parcamente mobiliado; uma abertura cerrada com um pano que ia até o chão à sua esquerda indicava a entrada para o que parecia ser uma tenda maior; à sua direita, por uma outra abertura que dava para o exterior, os sons de um acampamento em atividade chegavam-lhe aos ouvidos.
Cavalos relinchavam, Homens conversavam e gargalhavam e o barulho estridente de armas sendo afiadas cortava o ar. Pela abertura Wilrog podia ver os soldados caminhando para dar conta de seus afazeres e a luz fraca do sol indicava um final de tarde glorioso. Como, diabos, eu vim parar aqui?
Sentando-se no colchão de palha onde estava deitado, Wilrog piscou algumas vezes e esfregou os olhos tentando lembrar como tinha chegado ali. Ele se sentia estranhamento limpo e quando passou as mãos pelos cabelos antes emaranhados e piolhentos, viu que haviam sido lavados. Uma nova inspeção mostrou que seu corpo também tinha sido banhado e chegava a exalar uma leve e agradável fragrância. Wilrog riu de leve por alguns instantes, mas a alegria durou pouco quando seus dedos tocaram novamente os cabelos ainda úmidos.
Respirando com dificuldade e os olhos verdes faiscando de raiva, Wilrog sentiu o coração bater rápido no peito e seu corpo tremer.
Quem foi o miserável que cortou o meu cabelo?
As mechas, que antes haviam chegado até os seus ombros, agora mal alcançavam a nuca. Merda! Ele xingou silenciosamente. Merda! A raiva fez ativar sua memória e Wilrog lembrou o que havia acontecido nas últimas horas. Lembrou dos olhos tristes e negros. Lembrou que não estava na floresta. Não estava sozinho.
Depois que a menina chamada Haleth o encontrou, ele dormiu chorando nos braços dela. Chorando como uma mulher, seu idiota. Ela e o outro homem que estava na floresta deviam tê-lo carregado até ali. Precisava encontrar os dois e tirar satisfações, mas onde estariam eles?
Seus olhos percorreram mais uma vez os aposentos simples, enquanto tentava acalmar a raiva, e encontraram água, frutas e pão descansando num banco de madeira. Comida! Sem pensar duas vezes, Wilrog correu e se ajoelhou diante do que, para ele, era um banquete e comeu com voracidade. A textura delicada e suculenta das pêras e das maçãs era como o paraíso. O pão, crocrante por fora e macio por dentro, fez a sua boca salivar antes que pudesse dar a primeira mordida. E a água, a água... Limpa, pura e cristalina pela primeira vez em quase dois anos de água lamacenta e cheia de bichos.
O líquido desceu frio e refrescante por sua garganta. O esforço de falar com a mulher mais cedo a deixara extremamente dolorida. Será que eu vou voltar a falar normalmente algum dia? Já fazia tanto tempo que não usava a sua voz que o simples esforço de falar lhe parecia a pior das torturas. Quando terminou de devorar aquele banquete enviado pelos seus anfitriões, Wilrog voltou a se concentrar nos barulhos que ouvia. Sempre tivera uma excelente audição, o que se tornou motivo de espanto para muitas pessoas durante a sua infância.
Foi quando ouviu o murmúrio de duas pessoas conversando. Uma voz, mais baixa e suave, e outra, grave e potente, discutiam um assunto sobre o qual Wilrog tinha muito interesse: ele mesmo. Lambendo os dedos sujos de comida ele se levantou e foi caminhando lentamente em direção aos sons, tentando escutar o que falavam sobre ele. A conversa vinha da outra tenda maior, separada da sua por um pano. Wilrog afastou o material com a mão.
"Ei, o que você pensa que está fazendo?"
Pela espada de um Balrog! A mão de Wilrog parou o movimento por completo diante da voz áspera que vinha de trás dele.
Se a sua garganta não estivesse tão machucada, ele teria gritado de susto naquele momento. Virando-se bruscamente, os olhos verdes arregalados, o coração batendo com força contra as suas costelas, Wilrog encontrou na sua frente o homem que havia acompanhado a menina guerreira na floresta. A lembrança da garota encheu seu peito de uma ternura estranha. Qual era mesmo o nome dela? Haleth, isso, Haleth.
"Ninguém nunca te ensinou que é falta de educação espionar a conversa dos outros?" o jovem soldado disse o pegando de leve pelo braço, para afastá-lo da entrada para a outra tenda. O ato fez com que Wilrog lhe mostrasse os dentes, produzindo um grunhido que lembrava o de um animal enjaulado. "Eu achava que você era um filhote de Elfo, mas pelo visto você é um filhote de outro tipo de animal."
Wilrog tossiu, tentando limpar a garganta e falar, ele precisava falar, e gritar para aquele homem imbecil largar o seu braço! Mas nenhum som que se assemelhasse a uma palavra humana saiu de sua boca. Wilrog entrou em pânico, pensando que estava mudo, e por alguns instantes, seus olhos se marejaram de lágrimas. Mais uma vez se sentiu sozinho e dessa vez indefeso diante do jovem soldado que se erguia como uma torre sobre ele. Os olhos cinzentos do rapaz, antes tão ferozes, se suavizaram.
"Me desculpe," ele disse afrouxando o aperto em seu braço e se afastando. "Minha intenção não era assustar você… Wilrog. É este o seu nome, não é? Wilrog?" Wilrog fez que sim com a cabeça e o rapaz assanhou os seus cabelos carinhosamente. "O meu é Siward. E não se preocupe que eu não mordo… nem arranho, como certas pessoas que eu conheço."
Siward virou o lado esquerdo do rosto para que Wilrog visse as marcas deixadas pelos seus arranhões e o menino deu risada. Não sabia por que ria – fazia tanto tempo que alguma coisa lhe era motivo de alegria – mas o riso logo morreu, dando lugar a uma expressão ainda desconfiada e a novas indagações. Quem eram aquelas pessoas e o que iam fazer com ele? O que ia ser de sua vida?
A boca de Wilrog se abriu novamente, e dessa vez ele conseguiu fazer com que as palavras saíssem arranhando a sua garganta, ásperas, entrecortadas, causando-lhe dor, mas também um alívio infinito. "O que... vai acontecer… comigo agora?"
Siward suspirou. "Não sou eu quem decide, garoto. Sou só um simples soldado." Vendo o olhar de apreensão no rosto do menino, Siward sentiu o coração ficar apertado. Tinha pena daquele garoto. Ele estava prestes a dirigir uma palavra de conforto a Wilrog quando a visão de tristes olhos negros desviou sua atenção. Siward fez uma leve reverência quando a dona dos olhos negros e de seu coração abriu caminho para o físico avantajado de Hamá, que entrava na tenda. "Meu senhor Hamá."
O comandante ruivo caminhou até o pequeno hóspede e então parou, observando o menino com atenção. Wilrog olhou para aquele homem largo e imponente com uma ponta de medo que lhe causou um frio no estômago. Tinha certeza de que aquele era o comandante do grupo e, portanto, senhor de seu destino. E que destino seria esse? O que o futuro lhe reservava? Entretanto, quando olhou para o sorriso doce e encorajador da menina que estava parada em silêncio ao lado do homem ruivo, Wilrog sentiu uma calma invadir o seu ser.
Qualquer que fosse o seu destino, a calma que a menina chamada Haleth lhe passava seria capaz de ajudá-lo a atravessar todas as dificuldades. Aquela sensação era... estranha.
"Vejo que apreciou a nossa comida, pequeno Wilrog," Hamá disse enquanto olhava para o prato vazio de frutas e pão que jazia esquecido em cima do banco de madeira. "Embora eu saiba o seu nome, você desconhece o meu. Chamo-me Hamá, filho de Bearach, e sou o Comandante deste exército." Hamá pousou uma mão sobre o ombro da garota. "Você já conhece a minha filha, Haleth, minha Capitã. Aquele jovem ali," disse apontando para o rapaz moreno que permanecia de pé, rígido, "aquele jovem é Siward, um dos meus melhores soldados," Hamá não deu atenção ao rubor que tingiu as faces do rapaz de vermelho e continuou. "Agora que já fizemos as devidas apresentações, gostaria que me acompanhasse, criança, tenho muitas coisas para lhe perguntar."
Por alguns instantes, Wilrog hesitou, sem saber se seguia aquele homem imenso ou não. Foi a bondade escondida nos olhos daquele guerreiro ruivo que parecia ser dono de uma força brutal que fez com que o menino o acompanhasse.
Os dois atravessaram a entrada coberta pelo pano que dividia a tenda em duas e Wilrog se descobriu num aposento mais espaçoso, mas sem muitos luxos. O Comandante se sentou em uma cadeira e indicou um pequeno banco para que Wilrog se acomodasse. O menino obedeceu, ainda ressabiado, e olhando para os lados em busca de um inimigo invisível.
"Não há nada para temer aqui, pois está entre amigos, pequeno Wilrog," Hamá falou suavemente enquanto observava as reações do menino. "Você consegue falar? Minha filha me contou que você estava com dificuldades para isso."
A garganta de Wilrog doía, implorando para que ele não mais falasse uma palavra, mas o garoto não iria demonstrar aquele sinal de fraqueza para um homem tão poderoso como o Comandante Hamá. Iria falar, quer sua garganta sangrasse, ou não. Iria mostrar para o guerreiro que ele, Wilrog, não era um fraco.
"Posso... falar," disse com um esforço extremo que fez o seu peito arfar e o seu corpo tremer.
Os lábios de Hamá se encurvaram num meio sorriso diante daquela demonstração de orgulho infantil. Pelo que podia ver, não era a toa que aquele menino conseguira sobreviver na floresta sozinho. O garoto tinha uma força interior incrível que até mesmo ele, um simples mortal, podia sentir. Cruzando as mãos sobre o colo, Hamá examinou o menino magro, louro, alto para a idade e extremamente belo. Agora entendia porque Siward o tinha confundido com uma criança Élfica.
Mas não era só a beleza que chamava a atenção.
Os olhos verdes detinham uma ferocidade e uma inteligência tais, que era difícil encará-los. A pessoa que olhasse para aquelas órbitas verdes poderia se perder, ter seu espírito enfraquecido e seus movimentos presos por cordas invisíveis. Como isso é possível? E Wilrog parecia não ter noção de nada daquilo. O menino lembrava Haleth, em um certo nível. Nunca antes Hamá havia encontrado um olhar tão perturbador quanto o de sua filha.
Aquele menino era um achado.
Com um bom treinamento, Wilrog daria um bom soldado, se o garoto estivesse disposto a isso. Não seria a primeira vez que Hamá adotaria um jovem aprendiz de qualidades excepcionais a fim de ter mais um grande guerreiro em seu exército. Talvez, talvez Wilrog tenha sido guiado até nós pelas mãos dos Valar. E agora Hamá empregaria todas as suas armas de persuasão para fazer o menino ficar.
"Não sabemos como você foi parar na floresta. O que aconteceu, Wilrog?" começou Hamá, olhando intentamente para o menino.
Wilrog passou a mão pelo cabelo agora curto e por um instante a raiva lhe voltou, mas ele se acalmou logo. Isso é só cabelo, não seja patético como uma menina. Ele respirou fundo e limpou a garganta, sentindo um aperto no peito ao perceber que aquela seria a primeira vez que falaria sobre o que havia lhe acontecido. Mais uma vez respirou fundo, agora para afastar as lágrimas que fizeram seus olhos verdes brilhar.
"Minha vila foi... atacada," ele disse com grande dificuldade, "os Orcs mataram..." ele engoliu em seco "os Orcs mataram a minha mãe e... um Elfo... que estava nos ajudando a escapar me... mandou correr até a floresta. Eu... esperei por ele. Mas o... Elfo não apareceu."
Hamá coçou o queixo barbado com a mão. "Um Elfo, você diz. Qual era o nome dele?"
"Não me lembro," Wilrog respondeu com um olhar pensativo.
Era estranho, mas realmente não se lembrava do nome do guerreiro élfico. Todavia, da decepção que ele sentiu quando o Elfo não foi atrás dele na floresta, Wilrog se lembrava com clareza. E das inúmeras vezes que havia berrado insultos direcionados ao Elfo mentiroso a plenos pulmões dentro da floresta, também.
"Você tem algum parente vivo, pequeno Wilrog?"
Wilrog baixou os olhos. "Não."
Hamá estudou o menino ainda mais atentamente. Era incrível como Wilrog, ainda tão novo, já possuía uma magia toda sua, uma espécie de encantamento que ele usava sem saber e que a ele prendia os homens e os levava a adorá-lo. Pois Hamá, por alguma obra do destino, tinha sido atingido por aquele encantamento. Mais do que nunca, queria ter aquele menino sob seus cuidados. Tranqüilo agora e com uma realeza inconsciente, Wilrog parecia feito de ouro. Esse menino tem que ficar entre nós, Hamá pensou sentindo a garganta ficar seca quando fitou os olhos verdes da criança e viu toda a curiosidade, a mágoa, a dor, o espanto e a inteligência brilhando dentro deles.
"Não tem parentes, nem um lugar para ir. Eu poderia lhe dar um lar, pequeno Wilrog, se você aceitasse aprender os segredos da espada e entrar para o meu exército," Hamá manteve os olhos fixos nas poças verdes perturbadoras do menino, ansiando por uma resposta afirmativa à sua oferta. O garoto com certeza diria sim. Em tão tenra idade, Wilrog já possuía a aura de um guerreiro. "O que você gostaria de fazer, criança?"
Eu? Um guerreiro? Wilrog olhou espantado para Hamá. Seria como ter um sonho realizado, ser um guerreiro tão valoroso e magnífico quanto Beren! Aprender a lutar. Ser temido e amado pela sua destreza com a espada. Ser tão rápido e feroz quanto o guerreiro élfico mentiroso. Destruir aqueles que arrasaram a sua vila. Não havia muito o que pensar, já estava decidido.
Sim, estava decidido. Um sorriso crispou o seu rosto e seus olhos brilharam. "Aceito... ficar," ele disse, sua voz adquirindo uma firmeza súbita. "Quero matar... Orcs. Quero... me vingar."
Hamá franziu o cenho, espantado. "Vingar? Essa é uma palavra pesada demais para estar na boca de uma criança."
"Sinto muito... por desapontar você, mas deixei de ser... uma criança no dia que aqueles... Orcs desgraçados... invadiram a minha vila e... mataram a minha mãe," Wilrog retorquiu erguendo o queixo insolente, decidido. "Quero... vingança... sim."
Hamá suspirou, entrevendo como seria uma oportunidade fantástica, mas também dificílima, treinar o menino e domar o seu espírito feroz.
"Você poderá matar todos os Orcs de Arda, mas isso não trará a sua mãe de volta, pequeno Wilrog."
A expressão no rosto de Wilrog ficou séria e seus lábios se apertaram formando uma única e triste linha. "Mas fará... com que eu durma em paz, sabendo que... menos um deles... anda sobre a terra."
As palavras duras saindo de um menino como aquele assustou Hamá. Como alguém já poderia ter tanto rancor com tão poucos anos de vida? Aquele seria um problema para ser contornado no futuro, e não agora.
Naquele momento, Wilrog acabava de se transformar no mais novo aprendiz de seu exército.
"Então que seja. Bem vindo ao exército de Hamá, garoto. Espero que você não me desaponte."
Naquele momento, nem Hamá nem Wilrog sabiam, mas o garoto se transformaria em muito mais do que um simples soldado.
É verdade, Wilrog seria um excelente capitão e senhor da guerra, quase tão temido e invejado quanto a filha de Hamá, Haleth.
Infelizmente, o garoto não estaria exatamente do lado que Hamá gostaria que ele estivesse.
W&W&W&W&W&W
Eles partiram assim que os primeiros raios de sol iluminaram o céu de Arda.
Rapidamente e seguindo uma organização rígida, o exército de Hamá desfez o acampamento que fora erguido em Isengard e seguiu para Minas Ithil. Lá, segundo Siward havia contado, Wilrog começaria o seu treinamento. O menino mal podia conter a excitação. Se pudesse faria os cavalos criarem asas para chegar mais rápido! Queria conhecer a majestosa cidade dos grandes reis que tinham vindo do mar e da qual os mercadores que passavam por sua cidade tanto falavam.
"Olhe, escute e aprenda," Hamá disse um dia, se aproximando do alto de um cavalo castanho e tirando Wilrog de seus devaneios infantis. "Não pense que seu ensinamento vai começar apenas quando você passar pelos portões de Minas Ithil e aprender como melhor enterrar uma espada nas entranhas de um Orc, pequeno Wilrog. Cada gesto que fazemos, cada posição que tomamos, cada informação que trocamos já é o próprio início do seu treinamento." Hamá então gargalhou, uma risada cheia que ribombava poderosa diante do olhar petulante de Wilrog. "Cahal vai gostar de você, com certeza."
Wilrog apertou as sobrancelhas, sem entender. "Cahal?"
"Sim, Cahal," Hamá respondeu com um meio sorriso enigmático no rosto. "Já está olhando, escutando e aprendendo, Wilrog?" o comandante perguntou com um ar de seriedade forçada.
Wilrog, que viajava empoleirado numa carroça de mantimentos e espólios de uma luta sangrenta contra os Homens Selvagens que assolavam Isengard, apenas assentiu com a cabeça, compenetrado. Secretamente ele esperou que Hamá o convidasse para cavalgar na garupa de seu majestoso cavalo, mas esse momento nunca chegou. O Homem se despediu com um sorriso e partiu rápido para retomar sua posição na dianteira do pequeno exército. A Wilrog, que o observava admirado, restou ficar tão somente com a ânsia para que a viagem terminasse por companhia.
Também ansiava por empunhar uma espada pela primeira vez e se sentir como um Homem de verdade. Quando disse aquilo em voz alta, logo nos primeiros dias de viagem, o rapaz chamado Siward riu dele, dizendo que nenhum Homem se tornava Homem apenas porque tinha uma espada nas mãos.
Wilrog não gostou daquilo. Não gostou da maneira como o jovem pronunciou as palavras, do tom de deboche escondido na voz, de como o rapaz se referia a ele por filhote de Elfo, o que sempre provocava risos entre os soldados.
Bastardo.
Não suportou aquela atitude e daquele dia em diante, Wilrog não disse mais nenhuma palavra.
A cada dia que passava, Wilrog continuava mudo e tinha mais certeza de sua raiva por Siward. Estudando o rapaz silenciosamente, ele contava cada gesto ou palavra que o soldado lhe dirigia. E a cada dia não gostava mais e mais da maneira como aquele rapaz arrogante, que se achava superior a ele e no direito de rir de seus sonhos, o tratava. Como se ele, Wilrog, fosse um idiota! Só porque Hamá o tinha em consideração mais alta do que as dos outros soldados, Siward achava que podia fazer pouco dele, transformando-o em motivo de piada, sempre com aquele sorriso arrogante no rosto. Mas o que mais enfurecia Wilrog era a desculpa que sempre se seguia aos insultos de Siward:
"Eu não tive a intenção. Você não deveria ser tão enfezado. Sossegue, garoto."
Bastardo arrogante e imbecil.
E era aquele rapaz detestável quem havia sido apontado para cuidar de Wilrog. Siward era como uma sombra, sempre o seguindo. A presença do rapaz ao lado da carruagem onde estava era desconfortável e angustiante. O imbecil tagarelava como uma mulher fofoqueira! Ainda bem que não tinham que dividir a mesma tenda! Wilrog preferia dormir sob o teto de estrelas, pois os panos das tendas pareciam se fechar em volta dele e o faziam ficar com falta de ar. Realmente, os anos passados na floresta o tinham mudado profundamente.
Mas Wilrog não vivia apenas de agüentar as brincadeiras odiosas de Siward. Durante os dias de viagem que se seguiram, ele aprendeu a observar com interesse um outro personagem: Haleth.
Durante a noite, a menina se sentava sozinha junto ao fogo, escrevendo o que ela depois lhe contou serem relatórios sobre os ataques de Orcs que o exército de Hamá derrotava.
Haleth...
O Comandante Hamá fez com que Wilrog jurasse jamais contar que ela era uma mulher. Ele poderia fazer qualquer coisa que talvez fosse perdoado, mas contar o segredo da menina não teria perdão e seria punido com a morte.
Pois seria com a morte que as autoridades de Gondor puniriam Haleth se descobrissem que ela era uma mulher.
A primeira vez que a viu com o rosto coberto pela terrível máscara dourada que usava, Wilrog se sentiu apavorado. Aquele só podia ser um monstro que tinha invadido o acampamento durante a noite! O objeto incrustado com runas que Wilrog não conseguiu identificar escondia todos os traços delicados do rosto da garota e deixava à mostra apenas os grandes olhos negros. Duas pequenas aberturas no nariz ajudavam a respirar, mas não havia nenhuma abertura onde ficava a boca. Assim, não se sabia se Haleth estava triste, ou sorrindo, ela era apenas um fantasma de ouro sem emoções. Naquele dia ela foi até Wilrog e colocou a mão sobre o seu ombro, com um olhar doce e negro.
"Sou eu, Haleth, pequeno Wilrog," ela disse e a boca de Wilrog se abriu de espanto, não podia acreditar, era como se ela tivesse sido possuída por algum espírito, até a voz da garota estava diferente! Haleth parecia maior, mais temível... masculina. Depois a menina se afastou e montou num magnífico cavalo negro cujo nome, Dernhelm, Wilrog logo aprendeu. O capuz sobre a cabeça e duas espadas presas à cintura compunham o terrível quadro.
Quando seu coração deixou de bater acelerado no peito e Wilrog engoliu em seco, a visão aterradora o fez se lembrar de outra coisa. De uma lenda. De um jovem herói chamado Máscara Dourada que combatia os Orcs da Terra Média com uma fúria digna do próprio Vala Oromë e de quem os mercadores que visitavam a sua vila tanto falavam.
O jovem era a garota. Pelas barbas de Ulmo!
Wilrog sorriu. Sua admiração por Haleth crescia a cada dia. Já não mais pensava em ser como Beren, mas como a menina. Seria um herói tão famoso quanto Haleth. Seria admirado como ela, teria as pessoas implorando para tocar em um pedaço de seu corpo quando passasse com o exército de Hamá. Provocaria os olhares de devoção que via nos outros soldados quando a garota passava. Mas não era só isso. A menina o tratava como um igual e demonstrava se importar verdadeiramente com ele. Ao contrário de Siward, Haleth lhe tratava com respeito.
Guardando sempre na memória o sorriso carinhoso de Haleth, Wilrog se deixava guiar para o mundo dos sonhos a cada noite que passava em companhia daquele exército. Agora, estava deitado no chão da caverna de Henneth Annûn, o esconderijo secreto do exército de Hamá na floresta de Ithilien. O chão estava frio e o som de passos das sentinelas ecoava pelas paredes de pedra nua. O barulho distante de uma cascata começava a embalá-lo e Wilrog se aconchegou entre as cobertas, buscando se aquecer com o calor do tecido.
Só faltavam dois dias, dois dias para avistar Minas Ithil e iniciar o seu treinamento para se transformar num herói. E descobrir quem era Cahal. E começar uma nova vida. Não seria mais o menino assustado que se perdera numa floresta, agora seria o Homem guerreiro. Wilrog sorriu com orgulho de si mesmo. Queria que minha mãe estivesse viva e me visse agora, pensou, sentindo uma pontada de tristeza no coração. Infelizmente, Frea estava entre os Valar, a salvo da dureza do mundo real, ou pelo menos era nisso que ele acreditava.
Aos poucos, o cansaço da viagem finalmente começou a embaçar a melancolia que ameaçava trazer lágrimas de volta aos seus olhos verdes e com um último suspiro para acalmar a dormência em seu peito, Wilrog dormiu, sonhando com um futuro de glória.
Observando à distância, Siward se aproximou a passos lentos que ressoaram secos e agudos no interior da caverna. Em suas mãos ele trazia um cobertor extra com o qual cobriu o menino assim que a respiração estável de Wilrog denunciou que o garoto dormia profundamente. Com gentileza, Siward certificou-se de que o ele estava confortável e afagou de leve os cabelos louros e lisos do menino.
"Vejo que você desenvolveu uma afeição pelo garoto."
A voz de Haleth o sobressaltou e Siward se virou, um tanto que desajeitado ao ser pego de surpresa daquela forma. Seus olhos cinzentos brilharam palidamente ao cumprimentar a garota.
"Boa noite, minha Senhora Haleth," ele disse com uma imponente reverência cuja seriedade era quebrada pelo sorriso matreiro em seus lábios. A menina riu de seu gesto brincalhão e Siward sentiu como se tivesse sido banhado pelo calor do sol. "Posso lhe fazer companhia?" ele perguntou numa atitude ousada quando viu Haleth se dirigir até um canto da caverna com o livro de relatórios embaixo do braço.
No minuto de silêncio que se seguiu à pergunta dele, Siward teve quase certeza de que a garota podia ouvir as batidas descompassadas de seu coração. Não sabia por que, mas todas as vezes que estava perto dela ele se comportava como um idiota. As palavras lhe faltavam, ficava desastrado e as palmas das mãos ostentavam uma fina camada de suor frio. Merda, eu daria o meu braço em troca de um beijo seu, Haleth. Ela se sentou calmamente e fixou os olhos negros nele; Siward engoliu em seco. Duas vezes merda.
"Por favor, a sua companhia é uma honra, Siward, sente aqui comigo," ela o convidou numa voz suave e cheia. "Meu pai que me perdoe, mas hoje não estou com cabeça para relatórios."
Sem pensar duas vezes, Siward avançou e se sentou ao lado de Haleth, agradecendo a todos os Valar pela oportunidade de estar na companhia dela. Eram raros momentos como aquele, em que podia usufruir da completa atenção da garota que tinha o seu coração nas mãos. Será que ela sabia disso? Não, não sabia. Quando iria tomar coragem e contar o que sentia por ela de uma vez por todas? Talvez só quando for tarde demais. Siward suspirou; odiava a voz da sua consciência. Quando olhou para o rosto de sua capitã, mordeu o lábio de preocupação ao ver a fisionomia esgotada da menina.
"Você deveria dormir, posso ver que está cansada."
Haleth suspirou. "Não estou cansada. Estou triste."
"Triste?" Siward perguntou, intrigado, desejando saber o motivo para tal sentimento estar assombrando Haleth. "Por quê?"
"Não sei," ela respondeu deixando que a cabeça caísse num sinal de cansaço por alguns instantes e então voltou seu olhar negro para Siward. "Acho que encontrar Wilrog me deixou triste. Ele me faz lembrar da minha própria solidão."
Como assim, ela se sente sozinha? Será que Haleth não vê que eu estou aqui? Hesitando por alguns instantes, Siward olhou em volta para verificar se havia alguma sentinela por perto; quando teve certeza de que estavam sós, ele envolveu Haleth num abraço. O rapaz precisava que ela soubesse, através da ternura que esperava passar quando os seus braços masculinos envolveram a garota, que ela estava enganada.
Enquanto vivesse, Haleth jamais estaria só, pois Siward ficaria sempre ao seu lado. Ele faria qualquer coisa por aquela menina que enchia todos os seus pensamentos, encantava os seus sonhos e guiava a sua vida. Haleth precisava saber que ele estava ali, mesmo que não fosse certo que ele, um simples soldado, abraçasse sua capitã, a filha de seu comandante, de forma tão íntima.
Acariciando os cabelos cacheados e curtos de Haleth, Siward não conteve o sorriso que adornou o seu rosto quando a garota não o evitou. A princípio, ela permaneceu rígida, mas os movimentos reconfortantes em seu cabelo a fizeram relaxar e deixar escapar um profundo suspiro. Um dia ainda teria o amor de Haleth, mas por enquanto contentava-se apenas com a amizade e a confiança que a garota depositava nele.
"Você percebeu que o menino não fala?" Siward perguntou tentando desviar a atenção de Haleth para outro assunto. Suas mãos continuaram a acariciar as madeixas femininas.
"Percebi, você sabe o motivo?"
"Acho que o irritei," Siward confessou enquanto um dos cachos do cabelo de Haleth se enroscava em seus dedos e ele o soltou delicadamente. "Eu fiz algumas brincadeiras que o enfezadinho não gostou, mas minha intenção não era irritar aquele filhote de Elfo. Eu só queria que ele se sentisse mais à vontade entre nós."
Siward sentiu a bochecha de Haleth se arrebitar contra o seu peito num sorriso. "Você sabe que não é todo mundo que gosta de suas brincadeiras, ainda mais no caso de uma criança um pouco perturbada como Wilrog. Você já pediu desculpas a ele?"
"Já, mas parece que isso só o irritou ainda mais."
Haleth se desvencilhou dos braços de Siward suavemente, deixando-o com um sentimento de perda, e se levantou.
"O problema, Siward, é que você não sabe quando manter a boca fechada," ela disse enquanto se inclinava para depositar-lhe um beijo na testa. "Boa noite, meu amigo, e obrigada pela companhia."
"Boa noite," Siward respondeu num murmúrio quase inaudível.
As palavras ditas por Haleth machucavam como o talho feito por uma lâmina na carne de alguém. E a palavra amigo é que era a faca que infligia os golpes. Mais uma vez, era só isso que ele significava para a menina. Que seja, quando a hora chegar, eu serei muito mais do que um amigo. Se espreguiçando com um grunhido, Siward olhou para a janela de Henneth Annûn que descortinava o céu noturno da Terra Média; a posição das estrelas lhe dizia que já era tarde e deveria dormir, pois tinham um dia cheio pela frente. Quando estava prestes a ir buscar o conforto de seu próprio colchão de palha, Haleth o chamou mais vez.
"Eu queria te pedir só uma coisa, Siward," ela disse e ele esperou por que o pedido fosse feito. "Pare de chamar Wilrog de filhote de Elfo. Você sabe que todo o exército vai começar a chamar o menino assim se você continuar com isso."
"Tudo bem," ele aquiesceu, resmungando baixinho que não tinha culpa se o pirralho parecia um filhote de Elfo. Mas é um filhote de Elfo mesmo, com aquele cabelo todo lisinho e louro parecendo de menina.
"Siward..." Haleth o repreendeu. Ele não tinha percebido que havia murmurado um pouco alto demais.
"Já sei, nada de filhote de Elfo, não sou surdo," ele respondeu, um pouco irritado. O que havia de mais em fazer aquela brincadeira? Caminhando a passos duros até o canto onde seu colchão estava, Siward deitou e dormiu o sono dos mortos, sem qualquer tipo de remorso.
O certo é que, por causa daquela simples brincadeira, o apelido perseguiu Wilrog por muitos anos e somente fez aumentar a raiva que ele nutria por Siward.
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