Rotas de Escape

Harry entrou em pânico. Não pensou. Pegou a varinha e atacou.

"Estupefaça!"

"E agora?" perguntou Gina. De que adianta estuporá-lo? Só piora as coisas para a gente. Ele é monitor e você o atacou."

Harry ficou olhando abobado para ela sem saber o que pensar.

"Não tenho a menor idéia do que fazer. Você tem alguma sugestão?" Harry disse isso e começou a se recompor. Abotoou a camisa, pôs para dentro da calça, arumou a gravata, ajeitou as vestes. Ao fazer isso, sua mão roçou o bolso e ele sentiu um volume.

"O espelho!" exclamou. "Nunca pensei que fosse usar este espelho numa situação dessas, mas o que você acha de eu tentar me comunicar com o Remo?" Harry estava mais pensando alto do que propriamente perguntando a opinião de Gina.

"O que o Remo poderia fazer, Harry? E o que você vai dizer para ele? Que estávamos aqui sozinhos, no maior amasso, quando um monitor chegou e você o estuporou?"

"Bem, acho que não preciso entrar nos detalhes. O Remo é discreto. Não vai fazer um interrogatório."

"De qualquer maneira, o que ele pode fazer?"

"Sei lá! Ele era um dos Marotos, né? Junto com meu pai e Sirius ele aprontou bastante por aqui e sempre deram um jeito de se safar."

"Mas eles não estuporavam monitores. Ele é que era um monitor."

"Gina, esta não é a questão. Você é monitora. Não creio que isso vá melhorar o seu lado, pelo contrário. Que alternativa sugere?"

"Você tem razão. Estou sem conseguir pensar. Sinto falta dos gêmeos. Se ao menos pudéssemos falar com eles..."

"Seria bom. Mas não podemos. E o que temos de mais parecido com eles é o Remo. Os Marotos aprontavam tanto quanto seus irmãos."

"É. É melhor tentar o Remo mesmo. Estamos sem conseguir pensar."

Harry sentiu um aperto no coração, pensando que seria muito melhor falar com Sirius. Sentiu-se meio culpado porque ultimamente não vinha pensando muito no padrinho. Só na hora de um aperto desse calibre.

"Remo Lupin" disse para o espelho.

"Harry? O que há?" Lupin apareceu do outro lado, com uma expressão preocupada.

"Fique tranqüilo, não estou em perigo mortal. Posso falar à vontade com você? Gostaria que estivéssemos a sós."

"Tudo bem. Estou na minha casa, absolutamente sozinho. Hoje não tem reunião da Ordem e, como meu turno foi ontem, já estava me preparando para dormir. Posso conversar."

"Remo, eu fui pego com a Gina pelo Draco Malfoy na Câmara Secreta. Você já ouviu falar dela, né? Bem, não estávamos fazendo nada demais, mas ele é monitor e não hesitaria em nos comprometer. Disse que conseguiria nossa expulsão. Acho até que podia estar blefando, mas entrei em pânico e o estuporei. Agora acho que estou mesmo ferrado."

"Vocês ainda estão na câmara?" Nessa hora Harry ouviu a voz de Pansy Parkinson chamando por Draco Malfoy. A voz parecia vir do banheiro da Murta.

"Sim."

"E ninguém sabe que ele está aí?"

"Acho que a Pansy sabe. E a Gina, claro.Harry imitou a voz de Draco e disse: "Já vou, Pansy."

"Mais alguém?" Remo perguntou, enquanto Harry lidava com Pansy.

"Não sei."

"Estupore a Pansy também. Ou peça a Gina para fazê-lo. Ah, meu Deus. Eu, um ex-professor, mandando você estuporar os colegas..."

Harry voltou-se para a Gina.

"Amor, você ouviu, não? Faz isso? Já estamos ferrados...que seja ferrados e meio. Assim ganhamos tempo para ver o que fazer. Vá com a capa de invisibilidade e veja se não tem mais ninguém por lá."

Gina saiu e Harry continuou a falar com Remo.

"Bem, Gina foi cuidar da Pansy. O que fazemos agora?"

"Você não pode se arriscar a ser expulso, Harry. A situação está perigosa aqui fora e ainda corremos o risco de ter a Narcisa como ministra. Nem Dumbledore conseguiria evitar a sua expulsão se você fosse acusado pelo filho da ministra de estar fazendo sexo na escola e de depois ter estuporado um colega, um monitor."

"Eu não estava fazendo sexo!"

"E quem vai acreditar? Os dois sozinhos numa câmara que só vocês conseguiram abrir nos últimos cinqüenta anos."

"Que você sugere que eu faça, então?"

"Nunca gostaria de lhe dar este conselho, mas não vejo outra saída. Leve-o até um lugar seguro, reanime-o e, antes que ele tenha tempo de se recompor, lance um feitiço de memória. Talvez seja até melhor a Gina reanimá-lo. Assim você prepara o feitiço de memória enquanto ela ainda está falando ennervate."

"Não posso lançar o feitiço de memória ainda enquanto ele estiver estuporado?'

"Não isso provavelmente traria danos permanentes à memória dele e acabariam desconfiando, ainda mais que você não deve ter experiência com feitiços de memória.'

"É, nem sei lançar."

"Além disso, por mais que o desprezemos e que ele seja um aprendiz de Comensal da Morte, este ataque seria algo realmente covarde e sujo, que poderia, inclusive colocar você em Azkaban."

Harry teve um arrepio de horror com a idéia.

"Bom, e como tenho que fazer para conseguir que ele se esqueça apenas que entrou aqui?"

"Eu te ensino. Depois de tudo isso ter acabado, volta a entrar em contato comigo. Não conseguirei dormir sem saber o resultado de tudo isso."

Remo deu instruções detalhadas de como fazer Malfoy esquecer apenas o que fizera após entrar no banheiro da Murta. Harry colocou Draco, ainda inconsciente, em sua vassoura e o levou para fora da Câmara . No banheiro estavam Gina e uma Pansy estuporada.

"E aí, o Remo deu alguma idéia?"

"Sim, ele me ensinou a lançar um feitiço de memória, mas temos que reanimá-los antes de mexer com a sua memória. Temos que dar um jeito de fazer um deles voltar a si e depois o outro, sem que o primeiro se dê conta do que estamos fazendo com o último."

Depois de examinar as possibilidades, os dois planejaram reanimar Draco do lado de fora do banheiro, fazendo-o supor que estava esperando a Pansy. Harry usaria a sua capa de invisibilidade ao lançar o feitiço e colocaria Draco de costas para a porta do banheiro, esgueirando-se para dentro em seguida e fechando a porta. Dentro do banheiro reanimariam Pansy e modificariam sua memória. Pansy veria Gina, mas isso não seria problema, já que ali era um banheiro feminino. Fecharam a Câmara, para que Pansy não a visse mais e procederam conforme o combinado.

Quando Pansy voltou a si, Draco já a estava chamando, do lado de fora do banheiro. Harry ainda estava por ali, sob a capa de invisibilidade, e viu quando ela tentou deixar Gina constrangida.

"O que você está fazendo aqui?"

"Lavando as mãos e o rosto. Por que? É proibido?"

"Veja como fala, eu sou monitora!"

"Eu também. E você, o que faz neste lugar, se acha que é tão estranho o fato de alguém estar aqui?"

"Entrei atrás daquela sua gata. Achei muito suspeito o fato dela entrar aqui."

Nesse momento a Murta apareceu e começou a berrar com as duas.

"O que fazem aqui? Por que estão gritando?"

Gina resolveu tentar obter o apoio da Murta.

"Olá, Murta. eu só entrei para lavar as mãos, mas essa babaca aí achou suspeito. O que você pensa disso?"

"Que se vocês viessem me visitar com mais freqüência, ninguém acharia suspeito entrarem aqui."

"Tem razão, Murta. Prometo que virei ao menos uma vez por semana dar um alô para você. Pelo menos quando não houver exames."

Para sorte de Gina, Pansy não tentou investigar como a Murta a conhecia. Pelo contrário, achou que a Murta testemunharia a favor de Gina , se ela tentasse qualquer acusação ou provocação. Decidiu ir embora. Fora do banheiro, encontrou-se com Draco.

Harry ouviu este dizer:

"E aí, Pansy, o que aconteceu? Por que a gata estava no banheiro?"

"Aquela Weasley estava aí dentro. Diz ela que somente lavando as mãos e o rosto, mas não sei não... Só que aí apareceu a Murta que Geme e logo as duas estavam bancando as amiguinhas." A voz de Pansy já não estava mais audível. Ela e Draco tinham ido embora e aparentemente o plano dera certo.

Harry notou que Gina estava aflita, mas não ia tirar a capa de invisibilidade com a Murta ainda por ali. Gina fez um sinal para ele e saíram ambos do banheiro. Ela verificou, pelo Mapa do Maroto, que não havia ninguém por perto e disse:

"Amor, já está tarde. Vou voltar para a torre. Por favor, investigue o que aconteceu com a Felícia. Ela deve ter deixado bem aberta a porta da Câmara. É possível que esteja lá dentro. Dá uma olhada para mim?"

"Claro. Tudo bem."

Harry voltou à Câmara e chamou a gatinha. Viu ela sair de um cantinho, por baixo da estátua de Salazar Slytherin. Ao chegar mais perto, para pegar Felícia, Harry reparou que parecia haver uns pergaminhos ali. Foi olhar e descobriu um caderno, um rolo de pergaminho e dois livros – Fazendo Poções Avançadas, de Libatius Borage, e A História do Príncipe Mestiço, por Fernando Deutscher. Livros, cadernos, pergaminho estavam bem velhos e sujos. Harry reconheceu a letra no pergaminho: era a caligrafia de Tom Riddle.

Harry tinha prometido a Remo avisar do desfecho da questão Malfoy. Resolveu fazer logo isso e perguntar o que fazer com o seu achado.

"É melhor você tirar esse material daí e entregá-lo para o Alvo."

"E como vou explicar a ele que encontrei isso? Sabe, professor, eu gosto de passear pela Câmara Secreta. Quem sabe encontro um basilisco por lá?"

"Você está brincando, mas, de repente, essa podia ser mesmo a desculpa. Afinal todos estamos preocupados sobre o que fazer com os basiliscos do Largo Grimmauld. Você podia dizer que resolveu ver se havia na Câmara algo que pudesse dar alguma dica sobre como enfrentar um basilisco."

"É até que faz sentido. Mas acho que prefiro antes dar uma olhada no material e ver se vale a pena."

"Harry, você tem certeza de que não deixaria escapar alguma coisa importante? Isto é, não descartaria como lixo informações relevantes?"

Harry pensou um pouco e lembrou do verão entre o quarto e quinto anos, quando olhava o Profeta Diário todos os dias, à procura de notícias sobre Voldemort e nem reparou nas insinuações que estavam lançando sobre ele próprio e o que acontecia com Dumbledore.

"É, eu bem que poderia deixar passar. Mas a Hermione certamente não deixaria."

"Tudo bem. Se você se sente mais tranqüilo, dê para ela dar uma olhada. Mas não deixem de dar uma checada se o material não está protegido por algum tipo de feitiço. Afinal, isso quase que certamente é coisa do Voldemort."

"Bem, estou cansado e você também deve estar. Vou dormir. Mais alguma recomendação?"

" Só para você me avisar sobre o que tem nesses livros e anotações de Voldemort, depois que tiverem dado uma olhada. Não descarte o material sem comentar comigo, por favor. Vocês podem não ser capazes de julgar adequadamente a importância desse material. Boa noite, Harry.'

"Boa noite."

Harry queria que Hermione desse uma olhada naquelas coisas, mas não estava com nenhuma vontade de comentar com Rony que estivera sozinho com a Gina na Câmara Secreta. Claro que o amigo devia imaginar que ele e Gina vinham se encontrando às escondidas. Mas qual seria a sua reação, ao saber que ficavam absolutamente sozinhos, fechados na Câmara? E que tinham sido pegos em situação comprometedora? Harry decidiu que ia tentar falar a sós com Hermione.

Ao voltar ao Salão Comunal, Harry ficou sabendo que Rony tinha marcado para o dia seguinte um treino de quadribol dividido em duas partes. Na primeira hora só treinariam goleiros e artilheiros (inclusive reservas), ensaiando jogadas de ataque e defesa. a segunda hora incluiria o time completo. A primeira hora do treino seria o momento ideal para falar com Hermione.

E assim fez. Hermione riu dos temores do amigo.

"Harry, quem foi que te ensinou sobre feitiços contraceptivos?"

"O Gui, mas o que tem isso a ver?"

"Tem a ver que você fica imaginando que os irmãos da Gina estão preocupados em não deixar que a relação de vocês esquente, mas isso está longe da realidade. Estamos quase no terceiro milênio, Harry. Suponho que o Sr. e a Sra. Weasley talvez se preocupem com as atividades amorosas da filha. Mas o Rony certamente só deseja que vocês sejam felizes e façam o que quiserem, desde que com responsabilidade."

"Mas o Rony sempre fica falando dos namorados da Gina."

"Não. Ele ficava achando defeito neles, porque queria que ela namorasse você. Ele acha que só você a merece porque é seu amigo. Mas ele nunca interferiu abertamente na relação dela com nenhum deles. E nem ousaria. Você não é capaz de imaginar qual seria a reação dela, caso ele ou algum dos outros irmãos se metesse?"

"Bem, é..."

"Pois é. O Rony também é capaz de imaginar. Mas vamos ao que interessa. Mostra o material que estava na Câmara."

"Bom. São estes dois livros, este pergaminho e este caderno. O Remo mandou checar se não estão amaldiçoados e não vão trazer problemas a quem os ler."

"Claro. Dá aqui."

Realmente havia algumas maldições que poderiam ter tirado um dedo ou até cegado quem tentasse ler aquele material. Hermione conseguiu desfazê-las e quando terminou já estava na hora de Harry ir para o treino. "Vai para o seu treino e deixa isso comigo. Vou dar uma olhada e depois converso com você."

Quando Harry, Rony e Gina voltaram do treino, estavam tão cansados, que Harry nem perguntou nada a Hermione. Foi logo dormir. Antes, porém, comentou com Gina o acontecido na Câmara e desmarcou o encontro do dia seguinte com ela. Ao invés disso, os quatro conversariam sobre o material, no Salão Comunal mesmo, sob o pretexto de estudarem.

Hermione conseguiu fazer uma leitura diagonal de todo o material e explicou aos amigos do que se tratava.

1. O livro sobre o príncipe mestiço era o relato de um episódio da história bruxa. Mais ou menos na época da criação de Hogwarts, havia um reino bruxo que abrangia as ilhas britânicas, as penínsulas Ibérica e Itálica e mais outras partes do continente europeu, delimitado pelos Alpes e pelo Reno. Hermione teve que explicar aos amigos que essa era a região de muitos países atuais: Portugal, Espanha, Reino Unido, Irlanda, Itália, Holanda , Bélgica e parte da Alemanha.

Os reis bruxos eram extremamente poderosos, mas tinham o mesmo tipo de problemas para governar encontradas pelos reis trouxas: intrigas na corte, dificuldades em manter a lealdade dos nobres, etc.

Mais ou menos na época da criação de Hogwarts o rei da região era Henrique, que, para fazer aliança com um poderoso monarca do norte da África, casou-se com sua filha. Desta união nasceu apenas um filho, Eduardo, porque pouco após o nascimento do filho o rei foi atingido por um poderoso feitiço que o tornou estéril.

Eduardo foi criado normalmente, preparado para suceder ao pai. Quando tinha quinze anos, porém, a corte descobriu que sua mãe não era bruxa puro-sangue. No reino dela era absolutamente normal os bruxos terem mulheres trouxas, especialmente os monarcas, que tinham vastos haréns.

Quando o casamento de Jamila (a rainha) e Henrique foi combinado, este assunto não veio à baila e depois que se casaram e ela veio para o reino de seu marido, acharam mais conveniente calar sobre ele.

Quando se espalhou a notícia de que a mãe da rainha era trouxa, isso criou tremenda oposição a que Eduardo assumisse o trono. Entre os principais opositores estava um primo do rei, que tinha esperanças de sucedê-lo, Adolfo Nigellus, casado com Morgause Slytherin, irmã de Salazar. Adolfo era um bruxo poderoso e profundamente contrário a que mestiços e nascidos trouxas tivessem os mesmos direitos dentro da sociedade bruxa que os puro-sangues.

O livro contava a história da luta política que tinha acabado por levar à cassação do direito de Eduardo ser rei, à sua morte e ao fim da dinastia e do reino. Trazia também relatos dos meios mágicos usados nesta luta.

2. O livro sobre Poções Avançadas tinha sido surrupiado da bilbioteca de Hogwarts. Hermione apurou que o livro tinha sumido de lá em 1940. Desde então, mudaram os feitiços que protegiam os livros, que passaram a voltar à biblioteca automaticamente no término do prazo de empréstimo.

Nele havia instruções sobre inúmeras poções extremamente pouco conhecidas e divulgadas. Seria meio difícil entender que significado poderia ter o fato daquele livro ter sido roubado e estar na Câmara Secreta, se não fosse pelo pergaminho comentar sobre uma poção específica nele contida, uma poção que era um veneno poderoso.

3. O caderno e o pergaminho continham anotações pessoais do jovem Tom Riddle. O caderno continha anotações sobre a Câmara Secreta. Por elas era possível acompanhar o processo de pesquisa que Tom empreendera para descobrir sua localização e como acessá-la e como descobrira os segredos de Salazar Slytherin.

Na sua parte final, percebia-se que depois de encontrar a Câmara, Tom voltou seus interesses e investigações para meios de ganhar poder e suplantar a morte.

4. Já o pergaminho era formado de comentários específicos sobre uma poção venenosa contida no livro de Poções e parecia relacioná-la aos basiliscos. No final das anotações, havia uma frase em que Voldemort dizia ser preciso acabar com todas as fontes onde se pudesse ensinar a poção. Apenas ele deveria ter o conhecimento de como prepará-la.

Hermione ficara fascinada com tudo aquilo, mas não conseguira se decidir se aquelas informações seriam ou não de valia para a Ordem da Fênix. Como tinham o fim de semana pela frente, decidiram ler melhor o material, já que Hermione só dera uma olhada. Dividiram entre si a leitura e combinaram voltar a trocar idéias sobre o assunto na noite de domingo.