Ouviu o tilintar das moedas e fez uma careta.
-Precisa de explicação, Remo? –perguntou Dumbledore.
-Não, acho que não.
Pegou as moedas desajeitadamente e as enfiou no bolso. Dumbledore então se virou para Severo e entregou um frasco contendo pó-de-flu.
-Cada um de vocês já sabe onde tem que ir e quem deve buscar. Em até três horas quero que pai e filha estejam seguros em meu escritório.
Assim que Dumbledore saiu ele desaparatou. Tinha que encontrar uma garotinha que ele não sabia quem era, vestida de um jeito que ele não sabia como e tinha um sinal de reconhecimento instantâneo que ele não sabia qual.
Resumindo, não sabia nada. Só que precisava achá-la.
Também não sabia porque deveria achá-la, mas tinha certeza que essa família estava de algum modo envolvida nos planos de Voldemort. Entrou na estação do metrô trouxa e procurou pela primeira porta de banheiro feminino, ela estaria próxima a uma, mas ele não sabia qual. Novidade.
-Não vejo nenhuma criança.
-Não há criança nenhuma para ver.
Ele olhou para o lado e uma mulher estava ao seu lado. Cabelo curto e loiro, roupas de tons neutros. Apesar da aparência normal, o sotaque dela era forte e dava para ver que não era verdadeiramente britânica. Provavelmente estava transfigurada por questões de segurança.
-Vamos? –disse a mulher num tom amigável.
-Eu...
A mulher mostrou o pingente do colar, uma fênix. Ele sorriu indignado.
-Esse pingente mínimo e que por sinal estava dentro da roupa era o sinal de reconhecimento instantâneo?
Ela riu.
-Não, eu própria sou o sinal. Eu já sabia que você viria me buscar, Dumbledore me informou. Você sabe, por causa da segurança.
Os dois saíram andando em direção à plataforma. Ela olhava a tudo muito curiosa, ele só queria sair dali o mais rápido possível.
-Para onde vamos? –perguntou ela.
-Londres.
-Ah...
Ele pegou as moedas e suspirou.
-Teremos de ir de metrô, por um motivo o qual eu não sei, já que há outros meios melhores que isso, mas o fato é... isso vale quanto mesmo?
Ela riu e tirou as moedas da mão dele, separando a quantia suficiente para a passagem dos dois.
-O mal dos bruxos é esse, sempre se perdem no mundo trouxa.
Ele sorriu, mas não disse nada.
-Por que você esperava uma criança?
-Sabe que eu não sei... Dumbledore falou 'pai e filha' e eu imaginei que fosse uma criança.
Ela deu uma sorriso faceiro.
-Quem seria o desnaturado de deixar uma criança sozinha na estação do metrô?
Ele levantou as mãos.
-Ok, eu me rendo!
Ela deu uma gargalhada gostosa e algumas pessoas olharam. Os dois entraram no metrô e Remo sentou no banco sentindo-se totalmente desconfortável.
-Não tenho nada contra os trouxas, sabe? Mas realmente não acho uma boa idéia estarmos viajando por esse modo.
-Não vejo outro modo de viajar.
Ele não sabia o que ela quis dizer, por isso só sorriu. Queria perguntar porque tinha que escoltá-la, mas sabia que ali não hora nem lugar.
Quando chegou na plataforma certa eles desceram, então caminharam alguns quarteirões calados. Ela observava bem as coisas ao redor, parecia encantada. Remo não pôde deixar de pensar que ela parecia tão curiosa quanto uma criança.
-Engraçado, tudo que eu vejo por aqui me parece ser bem trouxa.
Ele riu.
-E é bem trouxa.
-Ah sim... a velha e chata segurança.
Ao entrar na casa nº 12 encontraram um senhor baixo, calvo, um pouco encurvado e de aparência frágil junto a um velho alto, de nariz torto e barba enorme, ambos preocupados.
-Nadijah! Achei que não chegava mais.
O homem abraçou a garota e pela cara que Dumbledore lhe fez parecia que ele também estava esperando pelo pior.
-Ah papai, preocupado em excesso.
Ele foi a cozinha tomar água e ao voltar à sala não a reconheceu. Ela era pouco mais alta que o pai, de estatura mediana, olhos amendoados e cabelos negros e lisos com alguns cachos nas pontas. Pele parda queimada de sol, boca grossa, e corpo bem torneado, ainda que um pouco fora de forma, como se nos últimos meses ela tivesse comido mais do que deveria.
-O Sr. Lupin me guiou direitinho até aqui, embora ele não esteja totalmente apto a mexer com dinheiro trouxa.
Ele e Dumbledore riram, então Molly Weasley apareceu descendo as escadas.
-Nadijah, Gen, essa é Molly Weasley. Molly, Nadijah será nossa hóspede por aqui. E agora se vocês me dão licença, tenho alguns assuntos a tratar. Remo, venha comigo.
Ele seguiu o diretor e entraram os dois no escritório.
-Não houve sinais de espiões?
-Uma estação antes do lugar que descemos havia um suspeito de ser novo Comensal, e estava acompanhado de Wang, o que não é bom, mas eles não nos viram.
Dumbledore sentou-se.
-Teremos muitos problemas. Amanhã Gen irá comigo para Hogwarts, tenho que avaliar a real situação, se temos informação perigosa nas nossas mãos e tenho que saber o real perigo que essa gente corre.
-A garota não irá?
-Não. Ela ficará aqui, até que eu decida um lugar mais seguro.
-Não há como quebrar a segurança daqui, ela estará bem.
-Ela eu tenho certeza que ficaria muito bem aqui, o problema é quem conviver com ela. Terei que designar alguém para somente tomar conta dela, e acho que já devo te deixar de aviso prévio, caso eu não possa colocar outra pessoa a disposição dela, você será o encarregado.
A cabeça dele começou a fervilhar de perguntas, embora soubesse que naquele momento não deveria perguntar nada. O que mais lhe preocupava era o fato de não parecer seguro ficar ao lado dela, não estava com medo, mas aquilo não lhe parecia bom sinal.
-À propósito, o nome dela é Nadijah Borjigin, ela é mongólia e cuidado ao comentar sobre a guerra, ela acabou de perder a mãe.
-Morreu há alguns meses?
-Morreu ontem à noite.
Aquilo foi um choque, as poucas horas que passara ao lado dela tudo o que a viu fazer foi rir, sorrir e se dar a gracejos, não parecia que acabara de ficar órfã há menos de 24 horas.
Dumbledore então se levantou e caminhou até a porta.
-Prepare-se para problemas, você não vai ouvir o sobrenome Borjigin muitas vezes, mas ele trará muita confusão.
-Principalmente para Harry?
-Principalmente para Harry, e é ele um dos motivos pelo qual eu quero tirá-la logo daqui, Harry, Rony e Hermione vão acabar descobrindo o que não devem, eles sempre fazem isso, e o contato dos dois pode não ser algo bom.
Bom, se antes ele estava preocupado, agora então nem se falava. Já imaginava que aquela família fatalmente estava ligada aos planos de Voldemort, mas eram as maiores vítimas, e a pior coisa que poderia acontecer é que o lord das trevas os pegasse.
Remo se levantou para sair do escritório quando Dumbledore o fez parar.
-Espere Remo, você sabe, assim que eu arranjar um lugar para Nadijah você irá levá-la, então...
Ouviu o tilintar das moedas e fez uma careta.
