Quando Kagome acordou no outro dia, Inuyasha estava dormindo sentado no chão, ao lado da cama. A mão do hanyou estava pousada no braço dela. Ele ficou cuidando de mim a noite toda, pensou ela feliz. Mas ao levar a mão para tirar a dele, sentiu uma pontada e olhou os curativos. Foi quando ela se lembrou dos acontecimentos passados. Yuri bateu na porta e Kagome o mandou entrar. Ele sorriu ao ver a cena.
- Esse cara gosta muito de você senhorita Kagome.
- Sim – ela respondeu – mas é muito idiota, porque não deitou na poltrona ali do lado.
Ao mencionar a palavra idiota ele imediatamente despertou, esfregando os olhos ele disse.
- Ein?... quem é idiota? Eu?
- Nãããooo! – Kagome foi enfática – disse que o Naraku é um idiota Inuyasha, não é você o idiota!
Ele a olhou desconfiado.
- Hum...
- Se quiserem trago algo pra vocês num instante! – Yuri disse saindo.
- Vamos descer!
- Tem certeza Kagome? – Inuyasha falou se levantando.
- Claro! Estou ótima!
E viu que ainda estava vestida com as roupas de ontem.
- Eu só preciso tomar um banho antes.
- Tem toalhas no armário. E o banheiro é no fim do corredor.
- Obrigada Yuri. Devia ser amável como ele Inuyasha!
- Feh! – o hanyou desdenhou – espero você lá embaixo Kagome. E não demore!
Ele saiu do quarto de Kagome e não resistiu. Abriu lentamente a porta do quarto de Shanara. Ela ainda estava dormindo. Ele se aproximou da cama e tocou seu rosto, mas uma voz o fez pular e tomar postura defensiva.
- Ora ora! Seu vira lata pulguento, o que faz aqui tão cedo?
Kamala saiu do banheiro que havia no quarto e se encostou no batente da porta, olhando friamente. Inuyasha rosnou.
- Vim ver como ela estava, porque, não posso?
- Claro que pode – ele caminhou em direção a porta e a abriu dizendo – mas que não passe da linha com ela senão eu te trucido. E saiu fechando a porta detrás de si.
O hanyou fez cara de poucos amigos mas ao se virar tomou uma expressão doce. Vê-la novamente bem e como sempre bela o enchia de alegria. A culpa que ele carregou por todo esse tempo era um fardo muito pesado e agora, graças a Kagome, ele se sentia aliviado do peso da culpa. O brilho do olhar de Shanara voltaria a iluminar a vida de todos que estavam ao redor dela. Mas, até quando. Sua expressão se tornou sombria. O maldito vampiro voltaria a procurá-la e a arrebataria de novo ao caos e escuridão. E ele não permitiria isso novamente. Custasse o que custasse.
Ela subitamente começou a se levantar de olhos fechados, como no outro dia. Ele novamente ficou surpreso e olhou ao redor, tentando sentir o cheiro de incenso e terra de cemitério de Trovoada Negra, mas não captou nenhum odor. Ela ficou de pé e andou vagarosamente em direção a ele e aproximou o rosto do dele, que ficou paralisado e totalmente atônito. Os lábios dela tocaram o rosto dele levemente e Shanara pulou pra trás, rindo. Seus olhos se abriram e sua luz inundou a penumbra da manhã que invadia o quarto.
- Enganei você!
Inuyasha passou do surpreso ao irritado num segundo.
- Ora! Não faça isso! Quer me matar de susto é sua garota idiota?
Suas mãos encontraram as mechas do cabelo dele e os dedos roçaram seu rosto delicadamente.
- Desculpe meu querido... eu não resisti! E você precisava ver a sua cara!
- Feh! Se a coisa for realmente séria da próxima vez, talvez eu não te ajude!
Shanara se virou e caminhou até a janela. Ele a olhou e seus olhos correram pelo corpo dela, que vestia uma camisola de algodão diáfana. O vento fresco da manhã agitava o tecido fino e os cabelos dela, trazendo até o hanyou o cheiro inebriante que emanava do seu corpo esguio. Se sentiu tonto e embriagado. Inuyasha tinha certeza que esse perfume era como uma maldição, que envenenava o seu coração e era por causa dele que tinha viajado até aquele lugar estranho somente para senti-lo de novo, o que não era próprio de sua índole de youkai. Se abalar de casa por causa de uma garota humana? Será que ele estava realmente enfeitiçado por ela? Ela disse.
- Você pode me dar licença pra eu me trocar Inuyasha? É que o Kamala está meio... nervoso, sabe? Ouvi o que ele disse e não quero que ele se chateie, ele ficou aqui todo esse tempo zelando por mim, devo isso a ele.
Esse comentário causou uma irritação em Inuyasha. E ele? Que tinha cruzado meio mundo somente para vê-la mais uma vez? Irritado ele virou de costas e saiu.
- Bah! Estou lá embaixo.
E bateu a porta ao sair. Shanara se sentiu triste ao perceber que de certa forma magoou os sentimentos do hanyou mas tinha que ser assim. Ele precisava se desgarrar da lembrança dela. Há dias atrás tinha se dado conta de como deixou Inuyasha perturbado, quando ele disse que estava disposto a morrer com ela. Ele amava Kagome. Tinha que lembrá-lo disso.
Inuyasha chegou a cozinha e viu uma moça a qual ainda não conhecia. Era alta e esguia, e tinha cabelos curtos e claros. Ela estava preparando café, o qual o hanyou nunca havia sentido o cheiro. A moça se virou ao sentir a presença dele, e sorriu.
- Oi!
Ele olhou para os lados confuso. Várias vezes a Kagome tinha dito que não era bom que pessoas do mundo dela o vissem. Mas ela parecia não se importar com a aparência dele.
- Er... oi.
- Você deve ser o tal homem cachorro que veio ver a Shanara, eu sou Viviane, namorada do Yuri! Já, já o café vai estar pronto!
Ele nem tentou responder. Apenas se sentou na cadeira que havia perto dele e esperou pelo tal café, que nem sabia o que era. Em seguida surgiu Yuri e Kagome, já trocada e de banho tomado.
- Vivi, já conheceu o Inuyasha?
- Ah sim – ela disse – mas ele é meio calado não é? Ele não fala bem a nossa língua?
- Inuyasha! Você não foi grosseiro foi? – Kagome já ia brigar.
- Não é isso! – ele se defendeu – é que você sempre me diz que ninguém do seu mundo pode me ver ou descobrir quem sou, então fiquei na dúvida!
Viviane riu.
- Ah é isso! Não se preocupe seu moço porque já vi de tudo nessa vida, nada mais me assusta não viu?
O café ficou pronto e todos se sentaram. Vivi serviu pão, manteiga, frutas, chá e café. Kagome quis experimentar a novidade mas achou forte demais. Inuyasha que já havia ficado perturbado com o cheiro da bebida não arriscou e preferiu chá com alguns pãezinhos.
- A sua prima não vai descer Yuri? Você me disse que ela estava bem agora...
- Ela preferiu tomar café no quarto. Você pode levar pra ela?
Nesse instante surgiu Kamala.
- Pode deixar Vivi. Eu levo pra ela.
O rapaz pegou a bandeja preparada em cima da pia e subiu as escadas. Inuyasha olhou aquilo e seu sangue ferveu por um momento. Mas seu coração abrandou quando Kagome pousou a mão em seu ombro e o olhou carinhosamente.
- Que tal um passeio depois do almoço Inuyasha?
Ele abaixou o olhar, não podia encará-la, ela, sempre ela a seu lado fosse o que fosse.
- Bom... claro Kagome, se isso não for...
- É uma excelente idéia! – animou-se Vivi – adoraria passear com vocês! Posso mostrar-lhes o lugar todo, será muito divertido!
Lá em cima, no quarto, Shanara e Kamala conversavam sobre o hanyou.
- Não está sendo fácil pra mim o que estou tendo que fazer Kamala.
- Eu sei – ele fechou a cara por um momento – mas o vira lata estava obcecado por você, e isso não é bom pra ele Narinha, e a Kagome estava se magoando demais também. Isso não é justo, caímos você e eu de pára-quedas na vida dos dois e bagunçamos tudo, isso tem que parar por aqui.
- Tem razão – ela suspirou – apesar de eu gostar muito do Inuyasha, muito mesmo, não posso ser um estorvo entre os dois. Eles se amam Kamala, e isso me lembra muito a gente... antes do Gabriel aparecer em nossas vidas.
Ele abaixou o olhar. Tudo isso era muito parecido mesmo. Por isso eles tinham que sair da vida deles. Tinha que ter um fim por ali. Embora o estrago já estivesse feito, pelo menos eles não causariam mais sofrimento aos dois.
- Lembra Narinha – ele divagou olhando a brisa movimentar as folhas lá fora – de quando a gente se conheceu lá na escola? Você chegou no começo do ano, toda gatona, com o Yuri numa moto, e todos os carinhas olhavam pra você assim meio bobos, inclusive eu – ele riu por um momento – putz, por onde você passava o perfume que deixava, um cheiro de ... nem sei definir, um perfume bom, coisa de doido...
Ela afagou as mechas que teimavam em ficar soltas apesar da trança. Sorriu e olhou pra ele.
- É... nós chegamos na escola e o Yuri de cara te livrou de uma fria com a inspetora. Ela ia te pegar com a Força, você ia entrar numa roubada se te flagrassem com uma katana dentro do pátio...kamala, como você sempre foi impulsivo, levar ela na escola e ainda arrumar encrenca com os malas de lá?
Ela riu ao lembrar do episodio com os brigões da escola. Kamala pegou no pulso dela e acariciou levemente.
- Eu sempre fui assim Narinha... um cara meio rebelde, faço o que dá na telha sabe? Mas desde que conheci você tento ser um pouco menos impulsivo, menos maluco. Principalmente depois do que aconteceu com você naquela noite... por causa da minha bebedeira...
- Não se culpe – ela falou com voz firme, porém suave – o que passou passou, não se pode mudar as coisas e nem as atitudes. Se eu não fosse tão ciumenta não teria caído nas garras daquele monstro. Naquele momento eu fui impulsiva e botei tudo a perder...
Kamala a fitou naquele instante com firmeza. Olhando agora para o rosto ainda abatido de Shanara ele se dera conta que aquela garota era sua verdadeira força. Por isso não a deixaria sozinha. Nunca mais.
