O AZUL DOS OLHOS TEUS

Wanda Scarlet

Capítulo 2 – O sorriso que precede a tempestade

O barulho de um trovão anunciando uma tempestade fez ouvir-se ao longe em meio ao silêncio quase mórbido que reinava na cabana. Os dois apenas encaravam-se, toda a sorte de emoções e sentimentos aflorando em seus corações naquele instante pela surpresa do encontro.

Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio com a voz incerta e quase sem nenhuma força:

- Esmeralda...

A moça riu baixinho de pura satisfação por escutá-lo pronunciar seu nome. Engraçado como seu nome soava quase como uma declaração de amor nos lábios dele.

- Você encheu-me de perguntas antes, e agora não consegue pronunciar uma frase completa. – o tom era de divertimento, estava imensamente feliz por encontrá-lo novamente.

Como ele só continuava olhando-a sem nada dizer, resolveu ela agir senão continuariam parados encarando-se. Devagar foi aproximando-se dele até que estivessem a alguns centímetros, a cabeça inclinada sem desviar os olhos dos dele nem por um segundo sequer.

- Seus olhos são ainda mais belos do que me lembrava. – falou baixinho num fio de voz, levou a mão ao rosto dele numa carícia cheia de ternura e manteve a palma delicada na face como que tendo certeza que retinha toda a atenção do cavaleiro para si – Meu amor... que saudade... – os olhos verdes brilhando com as lágrimas de felicidade marejando-os enquanto ainda sorria – Por que demorou tanto?

Ikki fechou os olhos e inclinou a cabeça para o lado em direção à palma em seu rosto aprofundando o toque da mão macia, deliciando-se com o calor que sentia emanar dela. Ela estava ali... "Não é possível" pensou ele enquanto cobria a mão da jovem com a sua apertando ainda mais contra sua face como que querendo imprimir o toque em sua pele ainda de olhos fechados. Ele os abriu e descobriu-a sorrindo ainda mais encantadoramente olhando-o amorosamente.

- Eu finalmente morri? – a voz cheia de emoção e carregada de esperança, querendo, desejando com força que finalmente houvesse morrido e que aquela era realmente Esmeralda, sua amada, e não mais um produto de seus sonhos e ilusões.

A moça riu, um riso cristalino e suave que aquecia a alma tão calejada do cavaleiro.

- Você quer estar morto? – perguntou suavemente divertida com o desejo incomum que transparecia na voz do rapaz.

- Sim... é o que mais quero.

- Por que? – os olhos verdes agora tristes e o semblante preocupado – Por que quer estar morto meu amor?

- Porque então você estaria verdadeiramente comigo agora, não seria um sonho ou uma ilusão. – disse com o olhar mergulhado no verde dos olhos dela segurando o queixo fino com a ponta dos dedos, exultando por sentir a maciez daquele rosto.

Esmeralda então abriu um novo sorriso.

- Não acha que eu esteja verdadeiramente com você agora?

Foi a vez dele de sorrir, um mero curvar de lábios quase imperceptível ao primeiro olhar. Mas o principal no sorriso do cavaleiro não eram os lábios, mas sim os olhos. Ikki possuía o extraordinário dom de sorrir com os olhos, deixando transparecer completamente a alegria e felicidade que experimentava em seu íntimo só pelo olhar. A vida o fizera tornar-se uma pessoa reservada, sorrisos seus eram extremamente raros devido às poucas alegrias que tivera.

- Por mais que eu queira, sei que isso não é possível. – disse conformado – Se eu não estiver morto, você não passa de um sonho, uma ilusão, um produto da minha mente que quer desesperadamente encontrá-la. Por isso desejo ardentemente que eu esteja, enfim, morto. – fez uma pausa agora com o cenho franzido como que percebendo algo – Mas... – e calou-se, limitando continuar fitando-a com curiosidade.

- Mas...? – perguntou ela querendo que ele terminasse o que dizia.

- Mas mesmo morrendo eu não seria digno de estar em sua presença. Você é um anjo Esmeralda, um anjo de amor e luz. Eu jamais cruzaria as portas do paraíso, jamais conseguiria estar onde você está...

- Que bobagem meu amor! – exclamou com os olhos cheios de lágrimas que ameaçavam escorrer pelas faces – Você julga-se desmerecedor de qualquer felicidade, e está completamente errado. Depois de tudo que passou, todas as dores e sofrimentos, você merece toda a felicidade do universo. É você que é o anjo de amor e luz meu querido Ikki. – e colou seu corpo ao dele num abraço apertado, cheio de saudade e carinho, um abraço retribuído na mesma intensidade pelo cavaleiro.

Com uma mão segurando a cabeça dela junto ao seu peito e a outra nas costas querendo retê-la junto de si para sempre, ele fechou os olhos e entregou-se ao momento de sublime satisfação por tê-la consigo, mesmo que se tratasse de um fruto de sua imaginação. Pelo menos por um instante queria pensar que era sua Esmeralda que estava abraçando, sua amada Esmeralda.

- Eu estou aqui Ikki! Eu estou com você de verdade... – falou tentando convencê-lo de que aquilo era real, as lágrimas correndo soltas pelo seu rosto e molhando a camiseta dele – Não sou fruto de sua imaginação e muito menos você está morto, mas eu estou aqui, eu realmente estou aqui.

- Não me importa se você é um produto de minha mente ou se eu alcancei o paraíso. Nada disso importa desde que eu esteja com você de alguma forma.

Ela afastou-se um pouco para olhá-lo nos olhos. Enlaçou o pescoço dele com as duas mãos e puxou o rosto do homem que amava para unir seus lábios aos dele. Um beijo suave e terno que Ikki correspondeu com igual entrega e amor. Era muito mais do que um beijo, era uma carícia, uma carícia de almas que se completam e há muito separadas uma da outra mas que agora finalmente haviam conseguido se encontrar. O beijo era o toque há muito esperado, a saudade acumulada que ameaçava devorá-los em meio à separação, as boas vindas dadas aos corações que agora podiam bater juntos novamente, a demonstração de todos os sentimentos bons e puros que os acometia por estarem um nos braços do outro.

Então aos poucos as bocas foram diminuindo os movimentos, deixando-se em meio a pequenos beijos, até que finalmente se separaram, para que os olhares dos dois se unissem. E ficaram assim, abraçados e olhando-se sem nada dizer até que o som cavernoso de um trovão soou alto assustando a moça que instantaneamente agarrou-se tremendo ao cavaleiro.

- Calma, foi só um trovão meu amor... – falou suavemente tentando tranqüilizá-la fazendo movimentos circulares com a mão que mantinha nas costas dela. Ikki sabia que Esmeralda tinha medo de tempestades e parecia que uma bem forte estava aproximando-se da ilha.

De repente um vento forte e gelado entrou pela porta aberta fazendo com que o fogo na lareira trepidasse lançando sombras pelo aposento bem como envolvendo os dois com o frio. Ele soltou-a do abraço e virou-se para fechar a porta atrás de si. Voltou-se para Esmeralda e viu que ela havia se afastado mantendo-se de costas para ele, os longos cachos loiros como uma manta dourada envolvendo-a e contrastando com o negro profundo das vestes longas que trajava.

O cavaleiro retirou a mochila que ainda conservava em suas costas e depositou-a num canto junto à parede ao lado enquanto caminhava tentando diminuir a distância entre os dois.

- Ikki... você não está morto. – disse séria ainda de costas sem perceber que ele continuava aproximando-se – Isso tudo é real, você precisa acreditar! – ignorando as palavras suplicantes da moça ele abraçou-a por trás envolvendo-lhe a cintura e apoiando a cabeça entre o pescoço e o ombro aspirando inebriado o perfume que emanava do cabelo dela.

Ela cobriu os braços que a envolviam com os seus num gesto claro de que retribuía o abraço, fechou os olhos apenas apreciando o calor passado de um corpo para o outro mesmo através das roupas. Então abriu os olhos determinada a fazê-lo entender o que se passava, precisava explicar-lhe tudo.

- Por favor, Ikki, ouça-me. Você precisa entender o que está acontecendo, por que estou aqui.

- Eu estou te abraçando, é isso o que está acontecendo. E você está aqui porque eu te amo muito. – falou ele sem a menor vontade de querer saber como e porque tinha sua amada para si, isso não importava, só precisava estar com ela, qualquer outra coisa era irrelevante.

Ela riu e ele apertou mais o abraço.

- Eu te amo muito também meu amor. – disse ela emocionada, mas continuou mais séria – Só que eu preciso explicar a você tudo.

- Não quero saber. – disse ele com a certeza de que ela revelaria que era um espectro que invadira um de seus sonhos ou sua mente tomando a forma da mulher que amava, não queria ouvir isso.

- Mas precisa, você ao menos deve isso ao seu irmão.

Ele abriu os olhos espantado.

- O que meu irmão tem a ver com isso? – perguntou preocupado temendo que algo de ruim houvesse acontecido com Shun.

- Tudo a ver. É por um sacrifício dele que eu estou aqui.

- O quê! – perguntou surpreso com as palavras dela, ao mesmo tempo que a soltava segurando-a pelos ombros e virando-a para que pudesse encará-la.

Os olhos verdes puros e sinceros fitaram-no sérios e determinados.

- Seu irmão e a deusa Athena conseguiram com que pudéssemos nos encontrar nessa vida.

- Nessa vida? – os olhos azuis então se apresentaram confusos – Isso é impossível! Até mesmo para a deusa Athena não é possível fazer alguém voltar à vida. – balançou a cabeça tentando negar os pensamentos que ela tentava fazê-lo crer.

- Sim, é verdade. Mas mediante um sacrifício Athena é capaz de fazer com que alguém retorne do mundo dos mortos.

- E que sacrifício é esse?

- O sacrifício que seu irmão fez esperando dar-lhe um pouco da felicidade que você merece.

- Meu irmão...? – não queria entender "Sacrifício? Shun? Pela minha felicidade? O que ela está dizendo?" – O que quer dizer?

- Quero dizer que não sou uma ilusão, sou real, mesmo que você não queria acreditar. E tudo isso se deve ao sacrifício de Shun. – ela levou uma das mãos ao rosto dele fazendo-lhe um carinho enquanto continuava suavemente – Meu amor, seu irmão quis dar-lhe um presente que o fizesse feliz. Mas parece que acabou presenteando ambos nós, porque nada me faria mais feliz do que poder estar novamente ao seu lado.

- O que houve com Shun? – falou com os ânimos exaltados temendo o pior.

- Fique tranqüilo, não aconteceu nada com ele. – falou suave tentando acalmá-lo – Não tem porque se preocupar. Ele está bem, está com Athena no Santuário.

Não sabia o que pensar. Será que isso era verdade? Ela era real? E se for, será que seu irmão estaria realmente bem?

Vendo a confusão estampada nos olhos dele ela sorriu.

- Você está em dúvida não é? – pegando uma mão dele ela o conduziu pela sala até a frente da lareira.

- O que pretende?

- Provar que sou real.

Ele então percebeu o que ela pretendia quando a viu puxar a manga da túnica revelando o braço fino e branco. Agarrou a mão dela e puxou-a para longe do fogo. Não importava se ela era real ou não, simplesmente não suportaria a idéia de ver Esmeralda machucar-se. E era isso que ela devia estar pretendendo, machucar-se para mostrar que era real.

- Não faça isso!

- Então você acredita em mim?

Ele ficou em silêncio.

- Entendo... – ela baixou o olhar pra a mão forte que segurava a sua, apertou-a e ergueu-a na altura de seu rosto logo em seguida mordendo-a forte.

Imediatamente ele retirou a mão, mas sem emitir nenhum som. Olhou primeiro para ela e depois para a mão onde conseguia divisar as pequenas marcas deixadas pelos dentes dela em sua pele.

- Se eu não fosse real eu poderia fazer isso? – perguntou desafiando-o.

- Você... – não terminou a frase agora começando a acreditar que aquilo era a mais pura realidade, nenhum sonho ou ilusão seria real ao ponto de fazê-lo sentir tanto o calor do corpo de Esmeralda quanto a pequena dor pela mordida dela.

Começou a rir baixinho se conscientizando de que a moça o havia mordido.

Pensando que ele poderia estar rindo da atitude dela, Esmeralda acabou ficando corada, baixou os olhos e virou-se de costas para esconder o rubor pelo que acabara de fazer. Então, tão repentinamente quanto começara a risada controlada do cavaleiro, terminou ficando em silêncio. Ela notara a mudança e virou-se para encará-lo.

- Meu irmão está bem mesmo? – perguntou sério olhando-a intensamente.

- Sim, ele está bem.

Suspirando aliviado por confiar nela e saber que Shun está bem, agora permitiu-se pensar no que estava lhe acontecendo.

Esmeralda.

A sua Esmeralda.

Estava viva.

Viva e diante dele.

Sem qualquer cerimônia ele a abraçou apertado dando vazão a todos os sentimentos, tentando matar a saudade, assegurando que ela não deixaria seu lado. Ergueu-a do chão e rodou com ela, rindo animadamente como há muito tempo não fazia. Esmeralda também ria em seus braços divertindo-se com a alegria dele. Então Ikki parou de rodá-la e depositou-a no chão, sem contudo soltá-la, apenas olhando sorrindo como jamais havia feito na vida, um sorriso lindo tanto de lábios quanto de olhos. Ele estava imensamente feliz.

Então um trovão estrondou fazendo com que ela se agarrasse ao cavaleiro trêmula devido ao susto. Ele só fez abraçá-la bem e massagear suas costas tranqüilizando-a enquanto murmurava em seu ouvido.

- Calma, meu amor... Eu estou aqui... – falou suavemente passando toda a segurança para fazê-la relaxar.

Afastou-se um pouco e ergueu o rosto dela pelo queixo contemplando maravilhado os olhos puros e bondosos de sua amada. Baixou a cabeça e tomou os lábios macios entre os seus para um beijo apaixonado fazendo os dois esquecerem-se de tudo, da tempestade, das tristezas, dos longos anos longe um do outro, das saudades e tudo de ruim que pudessem ter experimentado enquanto estavam separados. Existiam um para o outro, e naquele instante era somente eles no mundo, qualquer coisa fora dos limites daquele abraço e daquele beijo simplesmente não tinha razão de ser...

Wanda Scarlet

NOTA DA AUTORA: Nhaaaa... eu disse que esses dois não são minha praia. Mas pra quem tah lendo assiduamente esperando o hentai eu queria lembrar que sou a "suprema sacerdotisa da enrolação", ou seja, demoro pra poder saciar a curiosidade quanto às cenas picantes. Só que espero que não criem espectativas, esse casal é muito sensível e delicado aos meus olhos e aos meus dedos, por isso as cenas não serão "aquele" fogaréu que acabei fazendo na fic TRY. Mas dessa vez, só dessa vez, eu não estou fazendo uma fic pra mim e sim pra uma amiga ficwriter doida por esse casal ( ¬¬' essa aí ainda me paga por me colocar nessa fria sem precedentes). Eu sinceramente espero que ela esteja gostando pq eu sou um caso perdido...essa história tah tão açucarada na minha opinião que se pegar o monitor e dar uma apertadinha nele escorre mel em vc...hahaha Mas tah aí: sou eu que escrevo a fic mas ela é pra Petit Ange (e pra todos que são fãs de Ikki&Esmeralda também), coloco todas as esperanças em cima da Angezinha, pq se nem ela gostar eu vou me dar o prazer de engavetar o projeto...

Beijos gente, e muitos beijos pra vc Petit "FLASH" Ange.

Obrigada por ler!