Procurando um apartamento. Encontrando um amor.
Yaoi
1x2
by Yoru no Yami
Duo andava de um lado para o outro sem saber o que fazer, ele olhou para a mesa de centro, onde se encontrava a carta que recebera há alguns dias, não... ele não poderia considerar aquilo como uma carta, apesar dela ter sido entregue pelo correio e carimbada, como todas as correspondências que costumava receber.
Mas diferentemente das outras que traziam mensagens de amigos, familiares, contas e propagandas, essa em especial não poderia ser rotulada como carta ou ser tratada da mesma forma.
- O que eu vou fazer agora?
Duo pegou o comunicado entre as mãos lendo-o cuidadosamente. Ele tinha exatamente uma semana para deixar o apartamento, o que se resumia no momento há exatamente dois dias, mas ele não tinha lugar para ir. Até o momento não conseguira encontrar uma moradia, com as mesmas especificações do atual.
Tudo que buscava em uma moradia era um aluguel barato, próximo ao centro comercial, onde ficava o shopping onde trabalhava, e de onde pegava o coletivo que o deixava na entrada da faculdade. Esses eram os motivos pelos quais gostava do seu atual apartamento, mesmo sendo um lugar pequeno, era perfeito para si.
Mas o que faria agora? Para onde iria? Não possuía dinheiro suficiente para alugar outro apartamento próximo a faculdade e ao trabalho.
Exasperado sentou-se no sofá colocando o braço sobre os olhos; batalhara tanto para chegar até ali e agora isso. Sem opção Duo olhou para o relógio, notando que já passava um pouco das dez horas da manhã, e se quisesse chegar ao trabalho no horário, teria que sair no mesmo instante. Sem alternativa, levantou-se caminhando até o quarto, pegou sua mochila com as coisas da faculdade e deixou o apartamento. Talvez acontecesse algum milagre e ele conseguisse resolver seu problema de moradia, senão ele teria que voltar para a casa dos pais e isso era a última coisa que desejava, pois lutara muito pela sua liberdade e não estava disposto a abrir mão dela sem brigar.
Eram pouco mais de uma hora quando Duo entrou na sapataria onde trabalhava no shopping do centro comercial da cidade, ele havia parado no jornaleiro e comprado um exemplar para procurar nos classificados, novamente, um lugar para morar. Ele abriu seu armário colocando sua mochila e pegando o avental de trabalho, colocando-o sobre o resto do uniforme. Ele ouviu a voz suave atrás de si e se virou.
- Oi, Duo!
- Oi, Hilde, tudo bem?
- Estou sim, já não posso dizer o mesmo de você. Ainda não encontrou um lugar pra morar?
- Não, e tenho apenas dois dias, Hilde.
Hilde olhou para o amigo. Sabia o quanto Duo gostava de seu apartamento, embora ela não conseguisse entender como alguém poderia ficar feliz em morar em um cubículo onde a cozinha era dentro da sala, o banheiro mal dava uma pessoa e o quarto possuía apenas uma cama. No entanto sabia o quanto o apertado espaço era precioso ao amigo. E se não morasse com o noivo, e o mesmo não morresse de ciúmes do Duo, certamente já teria oferecido abrigo ao amigo até ele arrumar um lugar.
Duo olhou para Hilde, ela era uma das poucas pessoas que poderia chamar de amiga. Desde que saíra de casa em busca de seus sonhos, ela fora a primeira pessoa a ajuda-lo a conseguir um emprego e a oferecer um canto para que ele ficasse até encontrar o seu cantinho, que na opinião da amiga deveria se chamar de cubículo devido ao tamanho. Ele procurou sorrir e se levantou guardando o jornal, que leria depois, durante o intervalo.
O movimento na loja foi intenso durante todo o expediente ,o que impossibilitou que Duo lesse o jornal. As festas de final de ano estavam se aproximando e muitas pessoas pareciam ter decidido antecipar suas compras. Quando Duo olhou para o relógio já havia passado duas horas de seu horário de saída, o que certamente o faria chegar atrasado a faculdade, mas felizmente ele fizera uma venda que lhe concederia uma boa quantia. Ele pegou suas coisas e deixou a loja se despedindo, apressadamente, de Hilde, que estranhou o fato do amigo ainda não ter saído, pois ele não costumava passar de seu horário.
Duo conseguiu chegar no ponto de ônibus no momento em que o veículo, que o deixaria na porta da faculdade, deixava o terminal. O motorista já o conhecia e parou o ônibus deixando que ele entrasse pela porta da frente.
- Você não está atrasado, Duo? Esse não é o seu horário usual.
- Oi, Bob. Pois é eu não prestei atenção ao horário e acabei ficando preso na loja, o movimento hoje foi intenso, o que é melhor pra mim.
- Imagino. Bem vamos ver se eu consigo avançar alguns sinais.
- Ok, mas, por favor, não vá bater em nenhum carro dessa vez.
- Que é isso garoto! Eu não tenho culpa desses taxistas se acharem os donos da rua e entrarem bem na minha frente, além do mais meu carro é maior, então a prioridade é minha.
Duo sorriu e encostou-se no banco olhando a rua passar rapidamente pela janela. Realmente Bob avançaria alguns sinais como havia dito. Ele abriu a mochila para pegar o jornal e dar uma olhada nos classificados, pois ainda tinha esperanças de conseguir encontrar alguma coisa, mas elas morreram assim que constatou que não trouxera o jornal.
O ônibus parou em frente a um condomínio de apartamentos, e ele olhou para o conjunto de prédios. Estivera ali uma vez procurando um apartamento, mas o aluguel estava além de seu orçamento. Algumas pessoas começaram a subir no ônibus, e passaram admirando sua beleza, mas Duo se encontrava tão triste que não as notava, por isso não viu o olhar do rapaz que parou nos degraus do ônibus, como que petrificado.
- Vai subir ou não?
Duo xingou-se mentalmente, como pudera ser tão descuidado? Mordendo o dedo, ele se obrigou a não chorar, sentia que suas esperanças estavam morrendo a cada segundo e fechou os olhos deixando que uma lágrima caísse deles.
O rapaz olhou para o motorista com um olhar frio e subiu, passando pela roleta, dando uma última olhada no belo rosto manchado pela tristeza. Não sabia quem ele era, mas já o havia visto no campus na faculdade algumas vezes, no entanto nunca imaginara que o encontraria no ônibus. Não que costumasse pegar o coletivo; dificilmente andava de ônibus, mas como seu carro se encontrava na oficina, não tivera escolha à não ser pegar o transporte coletivo.
Ele procurou sentar-se em um banco onde pudesse admirar a beleza andrógena. Era a primeira vez que o via tão de perto e que o via chorar.
"Por que ele está chorando?"
Sempre que o encontrava havia um sorriso iluminando o belo rosto, mas nos últimos dois dias em que o vira, o semblante, sempre alegre e descontraído, se encontrava triste e preocupado. E por diversas vezes durante aula se viu perguntando o porquê. Nem ao menos sabia o motivo de se sentir tão atraído pelo rapaz. Não que tivesse algo contra homens, até porque procurava manter a mente aberta a oportunidades, mas todos os seus relacionamentos haviam sido hetero e jamais olhara para outro homem, como andava fazendo com esse rapaz.
Ele olhou para o lado de fora, notando que já se encontrava perto do campus. Levantou-se e olhou uma última vez para o rapaz de cabelos compridos, ao que parecia ele não iria descer no ponto, uma vez que mantinha os olhos fechados e a expressão triste no rosto. Ele fez sinal para descer, e continuou olhando para o banco, na esperança de que o outro descesse. O motorista parou o carro e olhou para Duo, que mantinha os olhos fechados.
- Duo, chegamos.
Duo abriu os olhos e olhou para fora, não se sentia com disposição para assistir nenhuma aula no momento, tudo que desejava era abrir um buraco e se enterrar nele, mas sabia que isso não resolveria seu problema de moradia e não poderia deixar que esse tipo de contra-tempo o desanimasse assim. Afinal, ele vivia dizendo a todo mundo que não adiantava se desesperar pelas coisas, que tudo sempre acabava se ajeitando no final.
Bob olhou para o rosto desanimado do rapaz, parecia que o mundo inteiro havia caído sobre os ombros deste. Com um sorriso ele tentou anima-lo, sabia o quanto o garoto era esforçado e o quanto ele se preocupava com os outros.
- Hei! Anime-se, Shinigami.
Duo sorriu diante do apelido que recebera de uma senhora japonesa que costumava pegar o coletivo as segundas-feiras. Foi quando ele dera um corretivo em um encrenqueiro que costumava importunava as pessoas, principalmente as pessoas idosas, que a senhora se aproximou, tomou seu rosto entre as mãos e olhando nas íris ametistas lhe dissera que ele tinha a morte nos olhos, como se fosse o próprio Shinigami, o deus da morte. Desde então Bob e todos os presentes na cena o chamavam assim. Sabia que ele o chamara assim apenas para faze-lo sorrir, pois não sentia-se nem um pouco como o Deus da Morte.
- Valeu, Bob. Que horas você deve passar hoje?
- Lá pelas 22h30, por isso se quiser carona no meu carro, trate de estar no ponto nesse horário.
- Ok, eu vou tentar.
Duo desceu do ônibus acenando para o pessoal da condução, e quando se virou, seu olhar se encontrou com o de um outro rapaz, que se encontrava parado, olhando-o profundamente. Duo sentiu um arrepio por todo o corpo e sacudiu a cabeça, nunca se sentira assim com ninguém. Seu relógio apitou informando serem oito horas da noite e ele subiu correndo os degraus. Estava terrivelmente atrasado.
Duo agradeceu pelas duas primeiras aulas serem na sala 801, pois a entrada da mesma ficava atrás da sala e não no início, junto ao quadro. Assim, ele entrou discretamente na sala, sentando-se no fundo, esperando que o professor não o notasse, pois não estava com disposição para receber uma reprimenda pelo atraso. Entretanto, o professor o notou, mas dirigiu-lhe apenas um olhar de reprovação, virando-se novamente para o quadro.
Duo copiou a matéria do quadro rapidamente antes que fosse apagada. O sinal do intervalo tocou, mas o professor continuou a aula como se o tempo dele não houvesse acabado; pouco tempo depois ele dispensou a turma, que reclamava por ter perdido o intervalo. Duo não se levantou, pois ainda se encontrava copiando a matéria que o professor começava a apagar. Ele sentiu alguém se sentar ao seu lado e algumas folhas sendo colocadas em sua mesa. Ele sorriu e parou de copiar, pegando as folhas com toda a matéria copiada.
- Obrigado, Solo.
O rapaz sorriu e balançou a cabeça. Quando Duo não chegara no horário ele começou a copiar a matéria duas vezes, certo de que o amigo precisaria delas, sempre faziam isso quando um se atrasava.
- Você se atrasou. Pensei que não viria hoje.
- Eu nunca faltaria, mas sabe como é o trânsito.
- Sei...nesse horário ele costuma ser calmo.
Duo sorriu e começou a guardar suas coisas.
- Eu não reparei na hora lá na loja e me atrasei, ok.
- Conseguiu um apartamento?
O olhar de Duo mudou e ele balançou a cabeça. Solo olhou para o amigo de infância, sabia das dificuldades pelas quais ele estava passando e sabia o quanto ele era orgulho para aceitar sua ajuda, ainda assim ele insistiu mais uma vez.
- Por que você não fica lá em casa.
- Melhor não, Solo. Se seu pai descobre, ele vai contar para o meu e eu não quero que ele saiba.
- Ta legal, não vou insistir, mas se mudar de idéia, sabe que o sofá lá de casa ta disponível.
- Valeu amigão.
- Agora vamos senão não vamos encontrar um lugar.
Solo se levantou puxando Duo com ele. A outra turma começava a entrar na sala e eles tiveram uma certa dificuldade em passar pela porta. Solo continuou a puxar Duo pelos corredores, acenando para algumas garotas que chamavam seu nome e devoravam com os olhos o amigo que parecia alheio aos olhares. Eles costumavam chamar a atenção por onde passavam no campus, mas Duo era quem conseguia arrancar mais olhares e suspiros.
O amigo era educado com todo mundo que encontrava conhecendo ou não, mas não parecia se interessar por nenhuma garota na faculdade, mesmo elas sendo atiradas e ousadas além do que se chamaria normal. Ele já chegara a pensar que isso se devia ao fato de que seu amigo poderia ser gay, mas Duo não olhava nem pros caras que o secavam quando andava pelo campus ou participava do futebol. Assim acabou chegando a conclusão de que Duo não se interessava por ninguém, porque simplesmente não tinha tempo para isso.
Ele trabalhava, ia para a faculdade e voltava para a coisa minúscula que ele chamava de apartamento, e que deveria deixar no dia seguinte. Duo não sabia para onde Solo o estava levando, deveriam estar seguindo para a sala no bloco 6D, onde teriam aula de comércio exterior e, no entanto estavam indo à direção do auditório.
- Solo, onde estamos indo?
- Não me diga que esqueceu, Duo.
Duo olhou para o amigo confuso. Ele não se lembrava de ter alguma aula no auditório hoje. Solo riu da expressão confusa do amigo e continuou puxando-o pela manga da camisa branca. Eles chegaram ao auditório que já estava lotado. Duo viu a placa informando sobre a palestra de vendas em um mercado competitivo e se deu um tapa mental. Ele havia esquecido completamente da palestra. Solo sorriu ao ver que Duo havia se lembrado e começou a procurar um lugar para sentarem, até que avistou um jovem loiro que acenava para eles. Caminhando entre a fileira de bancos, chegaram nos lugares marcados pelo amigo. Assim que viu os dois Zechs acenou para eles e retirou os livros que guardavam os lugares.
- Pensei que não viessem mais.
- Foi mal, Zechs, a culpa foi minha. Me esqueci completamente.
- É, eu tive que arrasta-lo o caminho todo.
Duo mostrou a língua e Zechs riu. As luzes do auditório se apagaram e o locutor iniciou a exibição de slides, obrigando-os a se calarem. Alguns minutos depois Zechs se curvou, sussurrando para falar com Duo, que se encontrava sentado ao lado de Solo.
- Duo, agora que me lembrei, você já encontrou alguma coisa?
- Não, e eu tenho até amanhã para fazer isso.
- Acho que tenho uma solução, se ele não tiver encontrado ninguém ainda.
Os olhos de Duo brilharam em expectativa e Zechs lhe entregou um pedaço de papel.
- Eu comentei com Treize sobre você, e ele me disse que um cara da sala dele estava procurando alguém para dividir o apartamento. Ele não entrou em detalhes, mas pode ser uma chance. Aí tem o nome e a sala dele. Eu devia ter falado com você anteontem, mas eu não te encontrei e ontem eu acabei esquecendo. Desculpe-me.
- Tudo bem, Zechs.
Duo observou com atenção a folha de papel: um nome, o número de sala e o curso. Tudo escrito em uma letra firme e bem desenhada, indicando claramente não haver sido o loiro que o escreveu, uma vez que apenas um tradutor de escritas estranhas identificaria alguma coisa escrita por Zechs.
- Ele é do curso de engenharia. Será que ele veio hoje?
- Veio sim, Treize me perguntou se eu já tinha falado com você porque queria saber se você tinha conseguido. Eu disse que ainda não tinha te encontrado e ele falou que o cara veio hoje.
Duo olhou para o relógio, faltavam pouco mais de vinte para às dez. Se ele esperasse a palestra acabar para ir falar com o rapaz, corria o risco de não encontra-lo e não podia perder a oportunidade de achar moradia antes de esgotado o prazo. Por isso, ele pegou sua mochila do chão decidido.
- Eu vou até lá falar com ele. Solo você assina a presença para mim.
- Claro...vai lá e boa sorte.
- Valeu. Obrigado, Zechs.
- De nada, Duo, depois me diga se conseguiu.
- Tá.
Duo se levantou e sentou-se novamente.
- Você sabe como ele é?
- Não, mas o Treize sabe quem é. Procura por ele na sala e pede para apresenta-los.
- Tá, valeu.
Duo saiu do auditório e atravessou o campus correndo até o prédio de engenharia, que ficava do outro lado da faculdade. Ele levou cerca de dez minutos para chegar no prédio, e seu cabelo havia se soltado um pouco durante a corrida, fazendo com que algumas mechas caíssem por sobre os ombros. Ele torcia para que a turma ainda estivesse em sala e que não houvesse sido dispensada mais cedo, mas ao chegar na sala a encontrou completamente vazia.
- Não!
- Algum problema?
Duo não pode evitar dar um grito de raiva ao encontrar a sala vazia, mas ao ouvir a voz fria em suas costas sentiu um ligeiro arrepio, e seu coração começou a bater descompassado. Ele se virou para encontrar o mesmo rapaz do ponto de ônibus e sentiu o rosto corar diante do olhar dele.
- É que... eu precisava falar com alguém dessa turma, mas não há mais ninguém aqui.
- O professor dispensou mais cedo hoje.
- Ah!
Duo bufou cansado, empurrando para a trás da orelha os fios soltos do cabelo. Ao que parecia hoje não era o seu dia. Ele olhava para o chão atordoado. Precisava pensar no que iria fazer no dia seguinte, mas levantou a cabeça ao ouvir um pigarro e encontrou o rapaz de olhos azuis escuros o observando. Por algum motivo, ele sentia-se despido diante dele e sentiu que corava violentamente como uma colegial.
""timo, ele deve achar que eu sou doente ou coisa parecida. Mas tem alguma coisa nos olhos dele que parece enxergar através de mim".
Duo se afastou, dando passagem ao rapaz, e se preparou para sair decidido, quando lembrou que talvez ele conhecesse o rapaz que Zechs mencionara.
- Hã...você é dessa turma?
O rapaz de olhos azuis e cabelos escuros e rebeldes balançou a cabeça, enquanto pegava o caderno embaixo de uma das carteiras. Ele estava quase chegando no ponto de ônibus quando se lembrou do caderno e voltou para pegá-lo. Ele virou-se e viu um sorriso no rosto do rapaz de cabelos compridos e sentiu seu coração bater mais forte. Duo se aproximou, talvez o jovem a sua frente pudesse ajuda-lo, se soubesse quem era o rapaz que procurava, talvez pudesse informar onde o mesmo morava.
- Você conhece....
Duo pegou do bolso o papel dado por Zechs, afim de ler novamente o nome escrito.
- ...Alguém chamado Heero Yuy?
- Conheço, eu sou Heero.
Duo sentiu que seu coração deu um salto ao ouvi-lo dizer que era Heero. Era ele a pessoa que estava procurando. Heero notou que os olhos violetas adquiriram um brilho quando dissera ser Heero.
"Como alguém consegue ficar ainda mais belo apenas sorrindo?"
Por algum motivo ele o estava procurando, mas porque.
"A menos que...".
Um colega de sala havia comentado a respeito de um amigo que tinha um conhecido que precisava de um lugar para morar e que talvez fosse a pessoa que procurava para dividir o aluguel e despesas do apartamento. Mas a tal pessoa não aparecera nos últimos dois dias e Heero supôs que essa pessoa não existisse realmente. Porém agora, ali estava o rapaz que passara a admirar secretamente, e que por um acaso do destino, feliz por tê-lo encontrado.
- Você é a pessoa que um amigo de Treize comentou?
- Sou. Por favor, diga que não encontrou ninguém. Você é minha última esperança... meu senhorio vendeu o terreno do prédio e eu tenho que deixar meu apartamento amanhã sem falta, e ainda não encontrei um lugar.
Heero olhou para o rosto aflito e balançou em negação, na verdade algumas pessoas já haviam ido dar uma olhada no apartamento, mas ele não simpatizara com nenhuma delas. Sabia que não era uma pessoa fácil de se conviver: sua expressão sempre fechada e escassez de diálogo de sua parte dificultavam um pouco encontrar alguém para dividir o apartamento. A pessoa com quem dividira o apartamento era tão calado quanto ele, tornando a convivência entre os dois satisfatória, mas o mesmo se mudara para outro país, devido a uma proposta de emprego. Com isso, Heero se vira obrigado a procurar alguém com quem dividir as despesas, pois não poderia arcá-las sozinho.
Duo sorriu ao saber disso. Mesmo não sabendo onde era o apartamento e nem o valor do aluguel, só o fato de saber que ainda tinha uma chance o fez esquecer desse detalhes importantes, porque dependendo do valor do aluguel talvez não pudesse se mudar, mas faria qualquer coisa para superar esses pequenos obstáculos.
Apesar do olhar de alívio do rapaz, Heero não sabia se o mesmo poderia dividir o apartamento com ele, não que desgostasse da idéia - muito pelo contrário, ele adoraria se o outro viesse morar com ele - mas eles ainda tinham que discutir sobre o aluguel e mostrar o apartamento antes de fecharem alguma coisa.
- Eu ainda não fechei com ninguém no momento....
Duo olhou confuso e depois se tocou de que não havia dito seu nome. Sorridente, ele estendeu a mão dizendo seu nome.
- Que burrice... eu nem me apresentei. Me chamo Duo Maxwell, mas pode me chamar de Duo.
A mão de Heero cobriu a outra mão, que era um pouco menor que a sua. Duo sentiu seu rosto ficar vermelho ao sentir o toque suave da mão de Heero; a mão dele era um pouco maior que a sua, mas extremamente macia. Heero olhou para o rosto corado, sentindo um formigamento em sua mão. Sabia que deveria soltar a mão do outro rapaz, mas foi incapaz de faze-lo por alguns instantes; parecia tão perfeito, tão certo segurar a mão do outro, senti-la junta a sua.
Duo sentiu um arrepio correr por todo o seu corpo, e por algum motivo, que não entendia, sentia-se seguro, com a mão quente segurando a sua. Momentaneamente a imaginou correndo pelo seu corpo, tocando seus cabelos soltos e puxou a mão, assustado com os próprios pensamentos. Jamais imaginou tal cena, ainda mais com um homem, mas no entanto, nos poucos instantes em que sua mão ficou presa à outra, sua mente o assaltou com imagens que o arrepiou e excitou ao mesmo tempo. Ele baixou a cabeça envergonhado, como se Heero pudesse ler-lhe os pensamentos através de seus olhos.
Heero não sabia o porquê do outro rapaz ter abaixado a cabeça e puxado à mão tão bruscamente, como se tivesse sido queimado. Talvez porque, como ele, o rapaz sentisse como se seu corpo estivesse em chamas, e isso começava a despertar uma dúvida, que aumentava a idéia de ter o outro rapaz morando consigo. Alguns alunos passaram pelo corredor, olhando para os dois e cochichando. Afinal, ter dois rapazes parados na porta de uma sala vazia, com os corpos tão próximos, ambos calados e o outro com o rosto vermelho, certamente despertaria a curiosidade de qualquer um.
- Você quer ver o apartamento?
Duo olhou para Heero e depois para o relógio, notando quer eram quase 22h30 da noite e daqui a poucos minutos seu ônibus passaria. Era um tanto tarde para ver o apartamento, mas ele precisava se mudar no dia seguinte, a primeira hora do dia. E se ele quisesse ter um teto para morar no dia seguinte, deveria conhecer o local antes de acertar alguma coisa com o rapaz que estava mexendo com seus hormônios, que estavam adormecidos há algum tempo.
- Não vai dar trabalho?
- Nenhum, além do mais você deve ver o apartamento antes que eu diga o valor do aluguel ou acertemos alguma coisa.
- Ok, então. É muito longe?
- Não, fica apenas alguns minutos de carro e o ônibus passa na porta do condomínio.
- Condomínio?
- Sim.
Duo ficou confuso o único condomínio próximo era o que vira a caminho da faculdade. Heero começou a andar e Duo o seguiu correndo. Eles ficaram calados durante todo o percurso até o ponto do ônibus, e assim que chegaram, o coletivo em que vieram parou. Duo entrou sorrindo para Bob, que notou que o humor do rapaz havia melhorado consideravelmente nas últimas horas.
- A aula foi boa, Duo?
- Não sei, eu quase não assisti.
- Mas você está mais alegre.
Duo olhou para Heero, que passara por ele e se preparava para passar pela roleta. Bob olhou para o rapaz de expressão séria e depois para o jovem amigo, que no momento possuía um brilho nos olhos que não estivera ali quando o deixara na porta da faculdade.
- É seu namorado?
O rosto de Duo ficou vermelho no mesmo instante e olhou para Heero,que o olhava também com o rosto corado.
- Não, Bob. Heero...tem um apartamento e está procurando...alguém para dividir o aluguel...e como eu estou para perder meu teto amanhã....
- Sei....
O motorista riu da expressão dos dois, pois se eles não tinham nada um com outro certamente não era por que não se sentiam atraídos. Duo ficou ainda mais vermelho diante do olhar do motorista, que parecia não ter acreditado em nenhuma de suas palavras, ele se levantou, passando pela roleta e sentando-se ao lado de Heero.
Heero olhou para o rapaz ao seu lado. Nunca em sua vida se lembrara de ter corado alguma vez se quer, mas não pudera evitar ao ouvir o motorista perguntando se eram namorados. E ele simplesmente afastou-se antes que seu constrangimento aumentasse ainda mais.
Heero ficou olhando pela janela evitando olhar para o garoto ao seu lado; ele estava mexendo com seus sentidos e isso não era nada bom. Em pouco tempo eles se aproximaram do lugar onde deveriam descer e Heero se virou para o rapaz que parecia distraído.
- Vamos.
Duo se assustou ao ouvir a voz de Heero o avisando que deveriam saltar. Ele se levantou e começou a caminhar para o final do ônibus.
Como ônibus não estava correndo muito Duo não se preocupou em segurar em uma das barras de ferro do coletivo, mas um carro acabou entrando, do nada, na frente do ônibus fazendo com que o motorista fizesse uma manobra brusca para não bater no carro. Duo foi jogado para trás e conseqüentemente seria jogado para frente e já se via caindo no chão antes mesmo de ser arremessado para frente, mas seu corpo não se moveu pra frente.
Ao ser jogado para trás sentiu um corpo em suas costas e um braço em sua cintura o mantendo seguro. Todo o seu corpo se arrepiou ao sentir a respiração quente em sua nuca e a voz rouca falar junto ao seu ouvido.
- Você está bem?
Heero viu quando o corpo de Duo foi jogado para trás de encontro ao seu, e sabia que ele não conseguiria se segurar antes que fosse lançado para frente e caísse no chão. Automaticamente ele segurou a cintura do rapaz com o braço livre, o mantendo junto a si e evitando que o mesmo caísse e se machucasse. Ele podia sentir o aroma suave do perfume que Duo usava, as formas se encaixaram perfeitamente com as suas, como se sempre houvesse sido assim. Viu quando a pelugem do pescoço alvo se arrepiou e o estremecimento do corpo junto ao seu, quando lhe perguntou se estava bem. Percebeu que estava excitado, seu jeans parecia ter encolhido alguns centímetros, e sabia que dificilmente o outro rapaz não notaria seu estado.
- Estou...o....obrigado.
Duo teve dificuldades em encontrar sua voz quando sentiu algo duro se pressionar contra sua bunda, sabendo exatamente o que era. Ele sentia problemas para respirare o braço ao redor de sua cintura parecia queima-lo sobre a roupa, mas ele desejava que todo o seu corpo queimasse dessa forma; e quando olhou por sobre o ombro, perdeu-se nos olhos azuis cobalto que o encaravam. Ele viu quando o rosto de Heero se tornou mais próximo e sua respiração acariciou sua face. Seguindo seus instintos, fechou os olhos esperando por algo que, desde que deixara a faculdade em companhia de Heero, se viu desejando.
Heero não sabia mais o que estava fazendo, ele seguia seus instintos que lhe diziam para beijar o rapaz junto a si, automaticamente inclinou seu rosto e viu os olhos violeta se nublarem por alguns segundos antes de se fecharem. Sentiu a respiração do outro junto a seus lábios e... antes que pudesse beija-lo ouviu uma moça atrás deles se manifestar.
- Desculpe interrompe-los, mas eu gostaria de descer.
Duo abriu os olhos e ficou vermelho, se afastando de Heero, que olhou para a mulher com o olhar frio a fazendo recuar assustada. Ele havia quase tocado os lábios vermelhos e se sentiu frustrado, mas percebeu que Duo evitou encara-lo, envergonhado.
Duo se deixara levar pela química que parecia existir entre os dois, e quase deixara Heero beija-lo, e eles se conheciam a apenas alguns minutos. Ele se virou acenando para o motorista que buzinou, observando coletivo seguir seu caminho; por um segundo cogitou a idéia de voltar para ônibus e não ir com Heero. Mas ao olhar novamente para o rapaz que tinha os cabelos agitados pelo vento, sentiu que se o seguisse sua vida mudaria drasticamente e estava certo de que não se arrependeria por isso.
Heero seguiu na frente, caminhando até o bloco onde morava, anotando mentalmente, que precisava de um banho frio logo, ou acabaria sucumbido aos desejos despertados pela presença do rapaz.
Ao chegarem, Heero mostrou todas as dependências e eles discutiram o valor do aluguel e das despesas do apartamento. No final Duo decidira ficar, ele teria que gastar quase R$ 200,00 a mais de que estava acostumado, mas valeria a pena, pois teria um teto sobre sua cabeça e o quarto onde ficaria era três vezes maior do que onde morava agora; outro ponto interessante, era que o apartamento já estava mobiliado, e que, na verdade, seu apartamento inteiro caberia quatro vezes nesse.
Algumas horas mais tarde Duo rolava na sua nova cama. Ele deveria ter ido embora para arrumar as coisas para se mudar pela manhã, mas acabara ficando no apartamento devido ao adiantado da hora, além de que jamais conseguiria encontrar um ônibus no centro que o deixasse próximo de onde morava. Assim acabara ficando e dormindo em seu novo quarto, não que tivesse conseguido pregar o olho até o momento. Ele se levantou para pegar um pouco de água e encontrou Heero na cozinha, em frente à geladeira, vestindo a parte debaixo do pijama do qual a camisa ele o havia emprestado.
Não pode evitar encarar a beleza máscula do rapaz iluminado pela luz da geladeira aberta. Se não havia conseguido pregar o olho até o momento, foi naquele exato momento em que o viu, que soube o motivo. Ele desejava ser tocado pelo rapaz de olhos frios, que o encarava com luxúria.
Ele viu Heero recolocar a garrafa na geladeira e se aproximar. Sentiu os dedos frios tocarem seu rosto devagar, como se o estivesse desenhando. Duo fechou os olhos, sua respiração alterando-se e tornando-se descompassada ao sentir o contato suave em seu rosto. Ao sentir uma mão envolver sua cintura, ele ofegou, sendo puxado de encontro aos músculos perfeitos do tórax de Heero.
Heero não conseguiu dormir sabendo que no quarto ao lado estava Duo; quando ele resolvera ficar, o outro viu que teria que fazer um esforço, usar uma quantia além do que estava acostumado para se controlar, mas disse-lhe que não haveria problemas.
Heero se levantou para beber um pouco de água. Foi até a cozinha e abriu a geladeira, pegando uma garrafa, e levando-a aos lábios, quando ouviu a porta do quarto ao lado do seu abrir. Ele aguardou que o outro aparecesse no recinto, uma vez que o som dos passos indicavam essa direção, mas não estava preparado para a visão que surgiu a sua frente: Duo se encontrava com os cabelos soltos e vestia a blusa do seu pijama. A blusa estava semi-aberta, revelando o peito alvo, os músculos do tórax, as coxas trabalhadas e expostas, pelo simples fato da camisa não chegar além do meio das coxas.
Ele viu o brilho de desejo nos olhos ametistas, e colocou a garrafa em seu lugar, se aproximando lentamente do rapaz que tinha a respiração descompassada. Envolvendo-lhe a cintura beijou suavemente, provando os lábios vermelhos e macios. Ele deslizou a ponta da língua sobre eles e sentiu a boca de Duo sugar-lhe a ponta para depois tocar-lhe com a língua.
Heero se afastou acariciando-lhe o rosto, jamais sentira nada parecido: o toque da língua do outro na sua, o corpo do outro junto ao seu. Ele o beijou novamente, aprofundando o beijo, pedindo permissão para invadi-la. Quando foi atendido, o beijo se tornou voraz e faminto e eles tiveram que se afastar em busca de ar.
Ele sentia as formas de Duo contra seu corpo, o membro excitado dele contra sua coxa, mas ele precisava de mais, precisava senti-lo por inteiro: com as mãos, os lábios, com seu membro a penetrar-lhe o corpo. Ele olhou para Duo que o olhava, os olhos brilhantes e febris.
Duo jamais sentira-se tão completo em sua vida, como sentira-se nos braços de Heero, com as mãos grandes[1] e fortes o segurando pela cintura. Ele desviou seu olhar para a frente do pijama, que se encontrava estufado e que revelava a excitação. Ele mordeu os lábios imaginando como seria sentir a masculinidade de Heero dentro de si, o amando, preenchendo. Já havia lido alguma coisa a respeito de relações homo, e ouvira relatos de um dos colegas de trabalho que eram gays. E agora ele se via desejando descobrir se era verdade tudo o que lera e ouvira falar dos amigos. Sabia que Heero o queria, tanto quanto ele o desejava.
Duo levou seus dedos até os botões da blusa, os abrindo. Quando a camisa estava aberta, ele deslizou-a pelos ombros, deixando cair sob seus pés. Respirando fundo, ele levou suas mãos até o cós da cueca que vestia, pronto a tira-la e se mostrar por inteiro a Heero.
Heero prendeu a respiração ao ver Duo retirar a blusa do pijama e procurar fazer o mesmo com a cueca vermelha que vestia. De repente sentiu a boca seca ao imaginar que, em pouco tempo, o veria nu. No entanto ele desejava que fizessem isso juntos e se aproximou, segurando-lhe a mão. O olhar violeta o encarou confuso e temeroso, como se tivesse medo de ser rejeitado.
Mas Heero não pretendia rejeita-lo, mas ama-lo, torna-lo seu, possuir a beleza andrógena e o corpo que sabia ser virgem. Ele beijou Duo, passando seus braços sobre as pernas dele e o carregando em seus braços para seu quarto e sua cama.
Ao ser depositado com cuidado nos lençóis macios da cama de Heero, Duo soube que havia encontrado não apenas um teto para morar, mas alguém para amar e compartilhar sua vida, que até aquele momento não havia notado ser solitária e vazia.
Owari.
Ai que emoção!!!!!
Pela primeira vez consegui escrever uma fic com um único capitulo, com menos de 20 páginas e sem lemon. Tô curada!!!! (comentário da Lien: A Yoru não tá curada, ela foi abdusida!!! Só isso explica ela não ter feito um Lemon!!! E nós queremos LLLLLEEEEMMMOOONNNN)
Agradecimentos a Mami Evil e a sis Lien
Espero que tenham gostado da fic e como sabem eu aguardo comentários e criticas também, né? Fazer o quê?
[1] Uma de minhas taras: homens de mãos grandes.
