A Dois

Yaoi

1x2

by Yoru no Yami

Novamente Heero está com a câmera na mão e isso me faz sorrir ao lembrar da quantidade de fitas dentro do armário da sala e do quarto. Nossa própria coleção, realmente como Heero disse, e não falo apenas das fitas que registram nossa maneira desmedida e cada vez mais intensa de fazer amor, mas aquelas que registram nosso cotidiano em geral.

As prateleiras do armário da sala encontram-se as fitas que docemente chamamos de Q.U.P.A (qualquer um pode assistir) e estão registrados momentos de descontração, férias e pequenas coisas, que para muitos não tem o menor valor e poderia até mesmo parecer bobagem, mas que para nós possui um significado único e especial.

Um desses momentos foi o dia em que Heero tentou consertar o vazamento na pia da cozinha. A operação em si rendeu alguns minutos de imprecações por parte dele. Nunca imaginei que meu calado e ardente namorado conhecesse tantos palavrões. Alguns que sinceramente eu teria vergonha de pronunciar, e olha que eu não consigo controlar meu palavreado tão bem quanto ele. Eu registrei esse pequeno, mas engraçado episódio para o desespero dele, que ficou corado ao ouvir o ele mesmo dissera, mas devo confessar que vê-lo molhado da cintura para cima e com um palavreado que deixaria em pé o cabelo de qualquer padre me estimulou. Ele estava incrivelmente sexy. Meu amor pode ser um excelente engenheiro, mas é um péssimo encanador.

Há uma gravação em particular que é para mim uma vergonha, mas na concepção dele é adorável; como se filmar alguém acordando fosse adorável. Abri meus olhos e o encontrei filmando meu sono, e quando digo filmando meu sono é porque ele realmente me filmou dormindo. Uma hora de gravação apenas do meu ressonar, minha cabeça deitada no travesseiro, os fios soltos caindo pela lateral de meu rosto, e isso me faz ver que ele está ficando muito bom nisso. Ele registrou a forma como abri meus olhos pela manhã e sorri para ele; a maneira como dava um muxoxo pedindo para ele parar de filmar e me escondia embaixo da cobertas. Para no fim, levantar me espreguiçando, tentando espantar o sono e começar a me arrumar para mais um dia de trabalho.

Pequenas coisas...tão nossas. Nossas mais doces lembranças.

Ver Duo na cozinha preparando o jantar é uma verdadeira fascinação para mim; a forma como combina os temperos, a preparação e o colorido dos pratos abre o apetite de qualquer um. Ele é tão bom no garfo e acredite, ele come bem para alguém com um corpo maravilhoso como o dele e não praticante de atividades físicas. Tanto é bom cozinhando, que seus conhecimentos culinários se estendem aos mais diferentes e diversificados pratos; e o que mais me surpreende é que ele aprendeu tudo sozinho. Segundo ele, sua segunda paixão é a cozinha, sendo a primeira, eu. Alguns de seus pratos podem parecer assustadores e bizarros, mas nem menos saborosos, pois acredite não é qualquer um que mistura creme de amendoim em uma omelete e o deixa saboroso.

Duo se vira e sorri ao me ver com câmera na mão o filmando. Depois daquele dia no teatro a primeira coisa que fiz foi comprar uma câmera, e acabei por adquirir uma verdadeira fascinação pela arte da filmagem; a câmera em minhas mãos se tornou tão indispensável quanto o laptop em nosso escritório. Sei que Duo às vezes se incomoda por eu filma-lo dormindo, mas eu acho adorável a suavidade e tranqüilidade de seu rosto enquanto dorme. Ele não vai admitir, mas sei que ele gosta de filmar esses momentos sublimes tanto quanto eu.

Embora eu chegue a pensar que ele aprecia mais as fitas no armário de nosso quarto do que as da sala. Ok, eu também as aprecio e muito, mas isso é apenas um detalhe. Costumamos chamar nossa pequena coleção no quarto, que já não é tão pequena assim, de A.Q.E.A.S. (apenas quando estivermos a sós). Afinal não queremos que ninguém veja nossa intimidade. Eu esganaria o primeiro que se atrevesse a bisbilhotar nossa coleção particular, já que não quero alguém babando ao ver o corpo deliciosamente maravilhoso de Duo despido. Apenas eu posso fazer isso.

Em nossa vasta coleção há momentos de verdadeira luxúria que fazem minha temperatura subir apenas em lembrar o conteúdo gravado. Fazemos cada loucura. Mas há uma em particular que é especial para nós dois, pois ela nos lembra um momento de crise, se é que se pode chamar assim, pois foi nossa primeira briga séria...quer dizer não foi bem uma briga, seria mais certo dizer que foi um desentendimento sério depois de dois anos juntos.

Tudo começou por culpa do Duo, não de propósito é claro, mas ele é extremamente teimoso em certas coisas, além de desligado, bem como gentil com todo o ser humano que encontra, um péssimo hábito em minha opinião. Ele confia nas pessoas e se esquece o quanto elas podem ser mentirosas e dissimuladas. Mas o fato em si foi agravado pela minha incapacidade de não controlar meu ciúme por ele, pois acredite, eu sou terrivelmente ciumento no que diz respeito ao rapaz cantarolando na cozinha.

Era início de inverno e Duo estava terrivelmente gripado. Ele havia sido dispensado de suas atividades por alguns dias, além do médico ter receitado alguns medicamentos e recomendado que Duo descansasse. Infelizmente era aniversário de Hilde, e no que diz respeito a diversão e festa, não havia médico que o proibisse de se divertir.

- Ah, Heero...

- Já disse que não.

- Mas é o aniversário da Hilde, eu não posso atchiiimm...

- Pode e vai faltar. O médico recomendou repouso, lhe deu um atestado para que não fosse trabalhar e você quer ir a uma festa onde EU sei que não vai ficar parado um segundo?

- Eu prometo ficar quietinho do seu lado na festa, Heero, por favor, eu já confirmei nossa presença com a Hilde.

- Pois não deveria ter feito isso.

Heero continuou trabalhando em seu laptop, ignorando o olhar de súplica de Duo, pois sabia que se virasse para olha-lo, e visse a íris violeta implorando para irem, acabaria cedendo. Duo cruzou os braços aborrecido. Ele não podia faltar ao aniversário de sua melhor amiga; sabia que o médico havia lhe dito para ficar em casa e repousar, tanto que já tinha três dias que não colocava o pé fora do apartamento. Ele havia dito que estava debilitado e poderia piorar se pegasse friagem e o tempo estava frio com ameaça de neve pelos próximos dias.

Duo abaixou a cabeça tentando descobrir uma forma de convencer Heero, quando começou a tossir ficando vermelho e tento dificuldade em respirar direito. Heero se levantou, indo a cozinha e pegando um copo com água, uma colher e o xarope. Com tudo em mãos, voltou até o amante lhe entregando o copo, fazendo Duo beber a água devagar. O americano bebeu toda a água e devolveu o copo a Heero. que o colocou sobre a mesa.

- Abra a boca.

Duo sorriu ao ver a colher com o xarope a sua frente, e abriu a boca. Heero depositou a colher na boca de Duo, a retirando após ele tomar o xarope; em seguida ele olhou para o amante, vendo os olhos suplicantes e deu um meio-sorriso antes de beija-lo suavemente nos lábios.

- Apenas por uma hora e se você piorar nós voltamos imediatamente. Se estiver nevando nem saímos de casa.

- Sim..sim..sim...Heero, tudo que você quiser.

Duo se levantou abraçando Heero e beijando o pescoço do japonês, antes de pegar o copo, a colher e o remédio e deixar o amante sozinho para trabalhar. Heero balançou a cabeça ao vê-lo sair alegre do escritório, apenas porque iriam a festa de Hilde.

Dois dias depois:

- Heero, vamos ou chegaremos atrasados.

- Calma, Duo... nós vamos de carro e são apenas 15 minutos até o apartamento da Hilde e, que eu me lembre, ela marcou para às 21horas e ainda nem são 20horas ainda.

- Mas eu quero chegar cedo para conversar com ela, tem um tempão que eu não falo com ela.

- Você ficou quase três horas dependurado no telefone com ela ontem. Não acha que já conversaram o suficiente?

- Não e agora vá se arrumar logo.

- Ok, eu vou me trocar e a gente sai, apressado.

Duo sorriu e seguiu Heero até o quarto. O japonês foi até o banheiro enquanto o amante sentou-se na cama, ficando de frente a câmera colocada sobre o tripé e decidindo se valia a pena retira-la do lugar para levar até a festa. Heero saiu do banheiro enxugando o rosto e vestindo uma calça marrom escura; ele colocou a toalha atrás do pescoço e abriu o armário pegando o suéter de lã crua e o vestindo.

- O que você está fazendo, Duo? A câmera está desligada.

- Eu tava pensando se levo a filmadora ou não. É que só em pensar em tirar ela daí e depois recolocar no ângulo certo...

Heero sorriu e concordou, havia levado algum tempo até que eles acertassem a posição correta da filmadora de forma que ela pegasse a cama completamente e alguns centímetros fora dela. Se retirassem a mesma do lugar, teriam que fazer tudo novamente.

- Porque você não pega a pequena, que compramos ano passado.

- Mas ela não está no conserto?

- Não, eu a peguei ontem a tarde quando fui ao centro. Ela está aí dentro do armário, junto com as fitas.

Duo se levantou e abriu a porta do armário que se encontrava repleto de fitas. Ele sorriu ao lembrar do conteúdo delas, que estavam catalogadas por data. Ele pegou a câmera e escolheu uma fita para assistirem quando voltassem. Heero saiu do banheiro com os cabelos penteados e perfumado, olhou para a fita na mão de Duo antes de sorrir maliciosamente.

- Acho que não temos tempo para assistir, Duo.

- Eu sei, amor, mas a gente pode faze-lo quando voltar.

Duo colocou a fita sobre a cômoda antes de ir até Heero e aspirar o cheiro do perfume amadeirado que lhe dera de presente. Heero colocou suas mãos ao redor da sua cintura, o puxando e beijando os lábios devagar. Suas mãos apertavam o corpo junto a si por cima do agasalho grosso de lã. Ele deslizou sua boca pelo pescoço alvo, sentindo Duo começar a ofegar e murmurar seu nome.

- Heero...

- Diga, amor.

As mãos de Heero alcançaram a pele quente por baixo do agasalho, deslizando pelas costas do amante, reconhecendo cada músculo. Duo tentava pensar, enquanto sentia a mão de Heero descerem por suas costas e entrarem por sua calça, deslizando os dedos no início da fissura que separava suas nádegas.

- Nós temos que ir...mmmm...a casa....da....Hilde.

- Nós vamos...

Heero sorriu ao ouvir a voz rouca de Duo. Ele tinha outros planos no momento e não nada envolvendo a ida deles a casa de Hilde.

- ...mais tarde.

Duo sorriu e se deixou ser erguido e colocado sobre a cama, tendo seu pescoço novamente atacado pelos lábios habilidosos de Heero. Ele não podia imaginar nada melhor do que ser amado no momento. Hilde poderia certamente esperar um pouco... ou talvez muito, dependendo do que Heero tinha em mente. E o japonês sabia ser muito persuasivo quando queria.

"Hilde que me perdoe, mas eu não pretendo sair daqui tão cedo".

Duo e Heero chegaram pouco depois das 21h30 no apartamento de Hilde. Heero ligou a câmera filmando o percurso até o apartamento onde seria a festa. Duo agradeceu o fato de não estar nevando quando saíram, pois o tempo havia esfriado consideravelmente, o que deixara Heero preocupado. Eles foram recepcionados pela garota que sorriu ao vê-los.

- Duo, Heero, sejam bem-vindos. Entrem.

- Feliz aniversário, Hil, esse é um presentinho meu e do Heero.

- Obrigado, Duo.

- Felicidades, Hilde.

- Obrigada, Heero.

Hilde recebeu um braço e um beijo dos dois, pegando os casacos deles e os colocando dentro do armário junto à porta de entrada.

- Eu achei que você tivesse piorado e não viesse. Vocês não chegaram no horário que o Duo disse que viriam.

Duo e Heero se olharam e sorriram antes que o americano respondesse.

- Nós acabamos nos atrasando, sabe como é, né.

Hilde sorriu e balançou a cabeça imaginando o porquê do atraso dos dois. Heero apenas filmava o rosto corado de Duo e a expressão maliciosa de Hilde.

- O importante é que vocês vieram, por isso meninos, divirtam-se.

Não havia muitas pessoas na festa: apenas alguns amigos mais íntimos e parentes. Todos estavam se divertindo, até mesmo Heero se permitira conversar com algumas pessoas, sem que isso o fizesse desgrudar os olhos de Duo, que no momento o filmava de longe o fazendo sorrir para o amante. Foi quando viu que o primo de Hilde tentava novamente se aproximar de Duo.

Imediatamente sua expressão se alterou e Heero já não prestava atenção a conversa, nem em nada a sua volta. Sua atenção estava agora focalizada no rapaz que se aproximava de Duo, enquanto o mesmo estava distraído conversando com Charles, um amigo de trabalho.

Heero notara a maneira como o primo de Hilde observava Duo durante a festa, o secando com os olhos e tentando de todas as maneiras se aproximar. Heero avisara Duo para não ficar perto dele, pois sabia que o mesmo significava problemas.

Alguns minutos antes:

Duo e Heero estavam na cozinha. Duo havia tido outra crise de tosse e estava tomando um pouco de água e o xarope que o japonês o obrigara a trazer.

- Acho melhor irmos embora, Duo. Você já está tossindo.

- Eu me engasguei, Heero, não é nada, além do mais não partiram o bolo ainda. E eu quero um pedaço de bolo. A Hilde disse que é de chocolate com trufas.

Heero teve que sorrir diante dos olhos brilhantes do amante, sabia o quanto Duo era maníaco por chocolate. Ao lembrar-se do outro motivo pelo qual desejava ir embora seu sorriso sumiu, enquanto estendia a colher com o xarope para que Duo o tomasse.

- Tudo bem, pelo menos até ela partir o bolo. Mas não quero que você fale ou fique perto do primo da Hilde.

- Heero, deixa de ser ciumento. O primo da Hilde não está fazendo nada.

- Nada além de seca-lo a festa inteira.

- Que é isso, Heero, conheço o Phill e ele não gosta de homens.

- Se ele gosta ou não, pouco me interessa. O que eu sei é que não gosto da forma como ele olha para você.

- Huummm...adoro quando você fica com ciúmes..você fica tão lindo possessivo.

- Duo, eu não estou brincando. Pessoas alcoolizadas tendem a não refrearem seus atos e ele já bebeu o suficiente para causar problemas.

Duo olhou para o rosto do namorado, pronto para retrucar a respeito do ciúme dele, quando a porta da cozinha se abriu e Phill entrou.

- Me desculpem, não sabia que a cozinha estava ocupada.

- Tudo bem, nós já estávamos de saída, né Heero?

- Hn.

Duo deu um pequeno sorriso e puxou Heero que o repreendia com o olhar, enquanto era arrastado para fora da cozinha. Ele precisava retirar Heero antes que o mesmo resolvesse tomar satisfações sobre o sorriso malicioso nos lábios do rapaz de cabelos negros. Phill viu os dois saírem da cozinha e deu um sorriso cínico para o japonês, que parecia querer arrancar-lhe a cabeça. Ao saírem da cozinha, Heero segurou o braço de Duo o fazendo parar antes de chegarem à sala.

- Nada de sorrisos, não quero que ele imagine coisas.

- Tá bom, Heero, vou procurar ficar longe dele.

Duo sorriu e beijou os lábios do namorado, concordando. Sabia o quanto Heero era ciumento e quando cismava com alguém não tinha maneira de mudar sua opinião, embora nesse caso concordasse com ele. Phill já havia bebido além da conta.

Agora ali estava ele tentando se aproximar de Duo. Heero pediu licença e levantou-se disposto a impedir seja lá o que fosse que o outro pretendesse fazer, mas antes que chegasse no seu namorado, foi parado por Hilde que lhe perguntou alguma coisa. Foram poucos segundos, mas o suficiente para que desviasse seus olhos de Duo. Quando os voltou novamente, na mesma direção, não viu nenhum dos dois.

Heero seguiu até onde Duo estivera há poucos instantes, perguntando para o amigo que estivera conversando com seu amante se sabia sobre o mesmo.

- Charles, você viu para onde o Duo foi?

- Ele foi até a cozinha beber um pouco de água, Heero.

- Obrigado.

Charles notou a preocupação na voz de Heero e sorriu, os dois não se desgrudavam um minuto, um sempre mantinha o olho no outro, cada vez que um se mexia ou sumia de vista começavam a se procurar, como agora. Heero foi até a cozinha e entrou no exato momento em que Phill imprensava Duo contra a pia da cozinha e o mesmo tentava empurra-lo.

Assim que a porta da cozinha se abriu e Duo viu a expressão no rosto de Heero, temeu pela vida do primo de Hilde, pois sabia o quanto seu amante podia ser violento. Deveria ter ouvido Heero, pois raramente o mesmo se enganava em relação a uma determinada situação. Deveria ter pedido ao namorado que o acompanhasse até a cozinha e não ido sozinho. Ele deveria ter feito tanta coisa e não fizera nenhuma delas, apenas por teimosia.

Duo estava sentindo a garganta seca e decidira ir até a cozinha beber um pouco de água; dissera a Charles que já voltava e saiu sem notar que era seguido. Ele pegou um copo e um pouco de água, se postando de costas para porta, assim apenas a ouviu abrir imaginando que fosse Heero que o seguira. O amante parecia um pouco protetor demais essa noite, talvez fosse pelo fato dele estar doente, mas sabia que não era isso. Adorava saber que Heero sentia ciúmes e uma exagerada proteção em relação a si, mas jamais admitiria isso ao japonês. Virou-se com um sorriso, esperando encontrar o olhar preocupado de Heero, mas ficou apreensivo ao notar que não era ele e sim o primo de Hilde.

- Ah... oi, Phill.

- Pensou que fosse seu namoradinho.

A forma sarcástica com que Phill mencionou o envolvimento dele com Heero o preocupou. Podia ver pelos olhos injetados e vermelhos, que Phill estava excessivamente bêbado. Colocou o copo dentro da pia e se preparava para deixar o aposento, quando Phill se aproximou.

O que se seguiu foi rápido demais para que pudesse assimilar. Em um momento Phill estava junto à porta e no outro o estava imprensando contra a pia. Ele tentou afasta-lo de si antes que o mesmo conseguisse o que queria, que no momento parecia ser beija-lo.

Mas não conseguia muita coisa, ainda estava muito debilitado e um novo acesso de tosse, devido ao nervosismo, apenas piorava as coisas. E foi com felicidade e temor que viu Heero na porta da cozinha. O brilho frio e escuro em seus olhos indicava que ele estava pronto para matar o homem que estava tocando no que ele dizia sempre ser seu.

Heero nem ao menos proferiu alguma palavra, simplesmente pegou Phill por trás do pescoço, o jogando com toda a força por cima da pequena mesa da cozinha e fazendo com que ele batesse com o corpo violentamente no chão. Heero olhou para Duo tentando se assegurar de que o outro estava bem e sem um único fio de cabelo faltando. Ele ouviu Duo gritar e teve tempo apenas de bloquear com o braço o ataque de Phill, que atingiu com uma garrafa de cerveja, fazendo cacos voarem por todos os lados, inclusive em cima de Duo.

- Heero!!!

O japonês agarrou o pescoço de Phill com ambas as mãos, pronto para enforca-lo, ao ver que um dos cacos da garrafa cortara superficialmente a pele do rosto de Duo. O grito de Duo foi ouvido na sala; Hilde e os outros correram para a cozinha para encontrar Duo tentando puxar Heero que ainda se mantinha firme no propósito de enforcar o outro homem. Charles e o noivo de Hilde seguraram Heero, o puxando e fazendo com que o mesmo soltasse Phill.

Assim que se viu livre, Phill deu um soco no rosto de Heero, que estava seguro nos braços dos outros dois. O moreno começou a rir ao ver o filete de sangue nos lábios do japonês, e o olhar escuro.

- Que foi? Ninguém pode tocar na sua garota? Ops....

Phill bateu com a mão aberta sobre a própria testa, começando a rir novamente, como alguém que percebe ter dito uma besteira.

- Não é uma garota, não é...mas um beeellllooo garoto. Feminino, mas ainda assim muito atraente..porque você não divide ele comigo?

- Cala a boca, Phill, você já bebeu demais!!!!

Hilde gritou para o primo, que era seguro por outros dois convidados da festa. Heero abriu a boca para responder, mas Phill começou novamente a falar.

- Não responda...eu já sei porque. Você tem medo que ele goste mais do meu material do que do seu...ahahahahahah. Dizem que homens asiáticos têm aquilo pequeno, por isso que ele....

Duo deu um tapa forte no rosto de Phill, fazendo com que o rosto do outro virasse fortemente. Ele sentia as lágrimas caindo por seu rosto quando olhou para Heero, como que pedindo desculpas, mas o olhar do namorado ainda era raivoso. Charles e Christopher tinham dificuldade em segura-lo.

- Heero é mais homem do que você nunca será. E mesmo que ele não me satisfizesse como o faz, você seria a última pessoa no planeta que eu deixaria que me tocasse.

Duo tocou o braço de Heero sussurrando que fossem embora. Heero olhou para os dois homens que o seguravam, fazendo com que soltassem seus braços e seguindo Duo para a fora da cozinha, enquanto ouviam a risada de Phill ecoar. Hilde deu um chute na canela do primo para que ele se calasse. Depois correu atrás dos dois rapazes e os alcançando na porta do elevador.

- Duo, Heero. Me perdoe pelo que aconteceu...eu...sinto muito.

Duo olhou para Heero, que ainda se mantinha de costas e não o olhava. Sabia que o amante estava aborrecido e não falaria nem mesmo com ele enquanto não se acalmasse e isso poderia levar dias. Ele olhou para a amiga dando um sorriso triste antes de responder.

- Não, Hilde, eu é que peço desculpas por estragar seu aniversário. Nós não deveríamos ter vindo.

Duo ouviu um resmungo de Heero e se controlou para não chorar novamente, sabia o que ele havia dito: se tivessem ido embora quando Heero disse nada disso teria acontecido, mas ele fora teimoso. Hilde fez menção de se aproximar, mas Duo balançou a cabeça, entrando no elevador em silêncio. Quando deixaram o prédio notaram que estava nevando, Heero olhou para o céu.

"Era o que faltava".

Heero começou a andar mais rápido, sabendo que Duo o seguiria. Sabia que o amante não tinha culpa do que havia acontecido, queria dizer-lhe que sabia disso, que ele deveria estar sentindo-se culpado, mas ainda sentia raiva das palavras de Phill. Eles viviam momentos maravilhosos na cama, mas será que satisfazia realmente Duo? A dúvida havia sido plantada pelas palavras sarcásticas do primo de Hilde. E ele não tinha coragem para sana-las.

Eles caminharam em silêncio em direção ao carro, e se mantiveram assim até chegarem no condomínio onde moravam. No entanto, Duo não estava disposto a permanecer em silêncio até que entrassem no apartamento. Ele sabia que deveria dar um tempo a Heero para que ele se acalmasse, mas sentia-se frágil e necessitava dos braços dele a sua volta, e não teria isso se não conversassem. Duo parou, em vez de segui-lo, quando o mesmo aumentou os passos ao notar que neve aumentava.

Heero saiu do carro e notou que a neve aumentava, indicando que seria uma noite fria. Se a garagem não estivesse em reforma não seria necessário deixar o carro no pátio aberto e Duo não precisaria se expor à neve e ao frio. Ele começou a caminhar rapidamente em direção a entrada, mas parou ao notar que Duo não o seguia.

- Duo, vamos.

- Não até conversarmos.

- Depois conversamos, agora não.

- Agora sim.

Heero abaixou a cabeça tentando se acalmar diante da teimosia de Duo a querer conversar no meio do pátio e debaixo da neve que já se acumulava nos cabelos dos dois.

- Duo, está nevando e você pode pior....

- Dane-se a neve. Eu quero que fale comigo, Heero. Eu não vou fechar meus olhos e deixar que me afaste como sempre faz quando está aborrecido. Eu te amo.

Heero caminhou na direção de Duo ao vê-lo abaixar a cabeça. O amante tremia de frio mesmo agasalhado e ele levantou o rosto de Duo, notando a face corada. O japonês estreitou os olhos e o pegou no colo, seguindo em direção ao apartamento.

- Conversaremos no apartamento.

- Não, temos que falar agora.

- Você está com febre e ficar no meio da friagem não vai ajuda-lo, vai apenas piorar seu estado.

- Eu posso andar.

- Eu sei que pode.

Heero não o soltou e entrou no elevador com ele nos braços, sob o olhar do porteiro. Duo encostou sua cabeça no pescoço de Heero, se sentindo indisposto. O japonês colocou Duo no chão, mas o manteve junto a si enquanto abria a porta; depois a fechou carregando o namorado para o quarto. Duo abriu os olhos febris para Heero, que acariciou seu rosto.

- Vamos conversar agora?

- Não...temos que cuidar dessa febre primeiro.

Heero foi até o aquecedor para liga-lo. Em seguida, foi até o armário de remédios na cozinha, buscar um antitérmico; quando voltou, o quarto já apresentava uma boa temperatura. Duo já havia se despido e se encontrava deitado embaixo das cobertas. Heero estendeu um copo com água e o remédio, retirando a franja grudada do rosto do amante. Duo tomou o remédio sem desviar os olhos do rosto de Heero, que não o encarava.

Duo se encolheu em meio as cobertas quanto o namorado o deixou sozinho no quarto, e fechou os olhos por alguns minutos, antes de se dispor a ir atrás de Heero, mas acabou vencido pelo sono. Heero voltou uma hora depois para encontrar Duo dormindo calmamente, e se aproximou verificando a temperatura, aliviado pela febre ter cedido. Beijou a testa suada e deixou o quarto novamente.

Duo acordou esticando o braço e procurando pelo corpo de Heero, mas encontrou apenas o vazio, e pela temperatura fria do lençol, o lugar estava vazio a algum tempo. Ele colocou o robe e se levantou, procurando-o pelo apartamento. O encontrou sentado no sofá observando a neve cair.

Heero sentiu a presença de Duo, mas não se moveu, mesmo quando o outro sentou-se a suas costas; apenas o ouvir falar, com a voz carregada de tristeza.

- Vamos conversar?

- Vai adiantar eu dizer que não?

- Sabe que eu vou insistir até conseguir.

- O que quer falar?

- Eu devia ter te ouvido, mas...

- Foi teimoso.

Duo abaixou a cabeça, mas a levantou novamente ao ouvir Heero falar novamente.

- E eu possessivo... Você não teve culpa pelo que Phill tentou fazer.

- Mas se eu tivesse te ouvido.

- Bom... o dia que você fizer isso vou ter certeza de que você não é a pessoa pela qual me apaixonei.

- Heero...

Duo sentiu seus olhos cheios de lágrimas ao ver que Heero não estava aborrecido com ele. O japonês se virou, estreitando Duo em seus braços e o beijando na testa.

- Você não deveria ter saído da cama, volte para lá e descanse mais um pouco. Eu vou preparar um caldo para você tomar, já que não comeu quase nada na festa.

- Como você sabe?

- Talvez porque eu o tenha observado a noite inteira.

- Não demora, a gente ainda tem uma fita para assistir.

Duo sorriu maliciosamente e Heero sacudiu a cabeça em negação, o fazendo ficar emburrado.

- Nem pensar, você precisa dormir e descansar. Sabe muito bem o que geralmente acontece quando assistimos uma dessas fitas.

- Eu sei, mas...

- Sem mas, Duo.

- Ok.

Duo voltou para o quarto, colocando a fita no videocassete. Não estava com sono e nem cansado para um pouquinho de diversão, então sentou-se na cama e ligou a TV, aumentando o volume para que Heero pudesse ouvir da cozinha. O moreno ouviu o som vindo do quarto e sorriu: Duo nunca mudaria. Quando terminou de preparar a sopa, já se encontrava excitado apenas em ouvir os gemidos e suspiros de ambos na gravação.

Ao chegar no quarto pôde ver o olhar febril de Duo, e não tinha nada a ver com a febre de horas atrás. Ele colocou a sopa sobre a cômoda, pegou o controle remoto da TV e do vídeo, os desligando. Ligou a câmera e sorriu para Duo, que se deitou abrindo as cobertas e mostrando seu corpo excitado, antes de abrir os braços para Heero.

- Vem.

Heero se despiu e deitou-se sobre Duo, beijando-o. A sopa teria que se esquentada mais tarde...bem mais tarde.

- Heero, vem jantar.

- Já vou, amor.

Heero desliga a câmera e senta-se na mesa posta. Duo olha para Heero, que tem um sorriso nos lábios. Ele serve a salada enquanto pergunta o que o fez sorrir.

- Porque está sorrindo, amor?

- Eu estava lembrando de uma de nossas fitas.

- Sei...é.

- Gostaria de saber qual vai ser a sobremesa do jantar.

Duo sorriu maliciosamente antes de se levantar, morder a orelha de Heero e pegar a sobremesa na geladeira: bolo de chocolate e trufas.

Há pessoas que poderiam achar uma mera coincidência, mas eu acredito que seja destino.

Owari.

Acabei mais um.

Agradecimentos especiais a sis Lien.

A minha Mami.

E a todos que comentaram sobre os capítulos anteriores.

E espero mais comentários