– CAPÍTULO TRINTA E NOVE–
A Estação de Metrô
As palavras Dumbledore pareceram proclamar um feitiço de massa. Todos os bruxos e bruxas ás suas costas havia instantaneamente desaparatado. Um por um foram desaparecendo sem vestígios ou marcas. Voldemort e suas Comensais riram alto, abrindo na noite fria uma profusão infernal e irônica de risos e gritos maldoso. O Lord Negro brandiu a varinha e uma nuvem de fumaça roxa e preta os englobou. Redemoinhos de fumaça brilhosa fizeram os bruxos das trevas desaparecerem. A aglomeração que antes era massiva e impactante havia simplesmente desaparecido. Restaram apenas Dumbledore, Harry e seus amigos. O Largo Grimmauld voltou a ser como era; escuro, úmido e silencioso.
Dumbledore não havia se movido; permanecia no mesmo lugar, as vestes estáticas, a varinha prontamente erguida e os olhos observadores ligados. Parecia preocupar-se que alguém pudesse voltar, ou simplesmente ali aparatar. Harry que agora não era preso por mão invisível alguma, apenas esticou os braços e tremulou a varinha; curtas faíscas vermelho-douradas saíram de sua fina ponta de azevinho.
– Dumbledore? – perguntou o garoto; a voz estava seca, estivera muito atento ao diálogo entre Voldemort e o Diretor. Dumbledore não respondeu. – Dumbledore? – chamou novamente. Desta vez ele escutou, ao menos ele ergueu a mão livre e fez com que esperasse alguns minutos. Após isso ele virou-se e mostrou seu semblante sereno e velho. Parecia estranhamente despreocupado, como se tentasse fingir algo impossível. Como se o inevitável estivesse muito próximo.
– Creio que esta é uma grande chance para você. – disse muito sério. Sua expressão estranha havia sido banida de seu rosto que agora mostrava rugas intrincadas e poderosas, o Dumbledore de sempre. O diretor ergueu a varinha e descreveu um alto retângulo à sua frente. Ao terminar uma porta de madeira maciça foi conjurada do nada. A porta não possuía maçaneta, tranca ou fechadura. – Ronald, sua coragem a trouxe até aqui, então, por favor, fique atenta e não desgrude de Tonks, Quim e Estúrgio. Isso vale para vocês também. – completou Dumbledore olhando para Neville, Luna e Hermione.
Dumbledore retirou uma chave de dentro das pesadas vestes de veludo azul. Harry reconheceu instantaneamente sendo uma Chave da Sede da Ordem da Fênix. Ela era azul-perolada, num tom metálico que se equiparava aos profundos olhos azuis do diretor. Sua ponta subdividia-se em três outras pontas, cada uma com uma esfera disforme e cheia de entalhes que Harry não pôde enxergar. O diretor posicionou a chave diante de onde uma porta comum teria o buraco da fechadura. A porta abriu com um estalido gélido e opaco.
Do outro lado da porta, não foi visto a mesma rua que estavam, mesmo que nada houvesse atrás da porta, um local diferente dali pode ser vislumbrado. Era uma larga rua, avenida ou estrada, Harry não poderia dizer. Ela se estendia metros à sua frente, longa e solitária. Era incrível, mas nenhum carro trouxa passava por ali. Em um determinado trecho, a estrada prosseguia sobre um rio; grades de ferro vermelho e dourado a erguia formando arcos típicos de uma cidade fria e agitada. Era uma ponte, das muitas de Londres, que cortavam o Tamisa, ligando dois lado distintos.
– Vocês podem vir por aqui. – Dumbledore esticou o braço pela porta para que passassem. Quando todos passaram Harry olhou para Dumbledore e caminhou para atravessar o portal, mas antes que o fizesse Dumbledore o impediu. – Você deve vir comigo. – Hermione que foi a última a atravessar a porta, olhou para trás. Ela parecia nervosa, mas muito convicta do que fazia, ela piscou para o amigo e com os próprios dedos empurrou a porta, lacrando-a.
Harry olhou atônito para a amiga, minutos antes da porta se fechar. Ele virou os olhos para o diretor e ficou estático, congelado. Esperando uma forma de sair daquela rua mórbida. Dumbledore riscou no ar uma nova porta; a primeira já havia desaparecido com o vento úmido e frio da noite londrina. Ele não a abriu com sua chave, mas fixou os olhos em Harry. Esperando que este encaixasse sua chave na porta. Harry não estava com a chave ali. Como poderia ter imaginado que precisaria daquela chave maldita? Dumbledore balançou a cabeça tristemente. – Vamos Harry, não temos mais tempo. – Dumbledore abriu a mão e Harry viu uma chave já conhecida; dourada, com um cubo perfeito na ponta. Harry sorriu e quando tocou na chave ela tornou-se quente como brasa e nova como a lua. Sua ponta inchou e transformou-se numa bela pirâmide. O dourado brilhoso agora era de um vermelho luzidio e sangüíneo. Harry tocou a ponta da pirâmide na porta preta e ela deslizou para o lado.
No beiral da porta, um pequeno lance de escadas precipitava degraus a baixo. Harry sentiu a mão de Dumbledore tocar-lhe o ombro e lhe empurrar até o interior das escadas. Quando eles entraram completamente, Dumbledore bateu a porta e, um flash de luz azul ofuscou-lhe os olhos. Onde poucos minutos antes havia uma porta, agora Harry viu uma enorme entrada de vidro e aço. Era circular na parte superior e descia reta até o chão. Os vidros era muito limpos no meio da entrada havia uma porta, também de vidro, com um enorme cadeado trancando o interior. Do lado externo, Harry pode ver um guarda trouxa. Ele não parecia ver nada do que ocorria ali dentro. Acima da porta, havia um letreiro luminoso; era um círculo vermelho, cortado por um retângulo azul-escuro e, estava escrito: VAUXHALL ST.
– Onde estamos? – perguntou Harry; a varinha ainda erguida.
– Você não leu? Estação Vauxhall, uma das mais movimentadas de Londres. – Dumbledore apontou a varinha para sua perna, mais ou menos na altura de seu joelho esquerdo. Ele deu uma sacudidela e um jorro de luz azul opaca fez com que as vestes do diretor, somente naquele ponto ficassem invisíveis. Harry observou atentamente seu joelho velho. Era enrugado e cheio de marcas, linhas e cortes. – Nunca imaginei que fosse usar isso... – Comentou o diretor como se falasse sozinho. –... Estamos aqui. – O bruxo tocou um ponto de sua perna com seu longo dedo fino e branco. E Harry compreendeu. O garoto lembrou-se quando Dumbledore adiara contar-lhe sobre sua cicatriz, dizendo que possuía uma réplica idêntica do metrô de Londres em seu joelho esquerdo. – Vamos.
Eles desceram as escadas e caminharam pelo corredor dourado da estação. Postes negros e baixos, com redondos globos de vidro branco estavam apagados por toda a extensão da estação. Do lado direito pequenas lojinhas estavam de portas baixas. Do lado esquerdo, a vala da linha do metrô. Haviam pequenos letreiros coloridos informando a próxima promoção da Harrods (meias escocesas pela metade do preço). Ignorando tudo isso eles caminharam até mais ou menos metade da estação. Dumbledore consultou seu estranho relógio com doze ponteiros; ele pôs a mão dentro das vestes e tirou um pequeno instrumento de metal cromado, parecia-se muito com um isqueiro trouxa, porém aquele era o apagueiro de Dumbledore. O Bruxo ergueu o instrumento de metal e uma bola de luz ergueu-se solitária no vazio escuro; o mesmo globo de luz dividiu-se em dois e entrou dentro dos dois postes mais próximos. O bruxo virou o rosto para Harry e sorriu. Ele ergueu a varinha, e sem palavras Harry entendeu o que havia pedido. Harry também ergueu a varinha. Os dois bruxos, talvez os mais unidos, aguardavam o inimigo. Mas não foi uma espera longa.
A densa cortina de fumaça roxa e brilhante invadiu a estação diante dos dois, exatamente sobre os degraus onde estivera alguns segundos antes. A nuvem aumentou do tamanho de uma noz para ocupar todo o espaço entre o chão e o teto. Junto com a fumaça das Trevas, a risada fria e ecoante de Lord Voldemort invadiu a estação fria e vazia. Sua gargalhada ecoou na profundidade obscura do túnel por onde andava o trem do metrô. No meio da fumaça roxa, a primeira visão de Harry, foram seus olhos frios e vermelhos. As pupilas verticais fitavam Harry e Dumbledore com a euforia de uma criança; atrás dele apenas uma Comensal, era Bellatrix. Não havia motivo para usar o capuz, sabiam que era ela. A bruxa tinha os cabelos negros soltos pelas costas; a mão erguida empunhava a varinha e para desespero de Harry, Gina Weasley estava suspensa no ar, os cabelos estavam caídos sobre o ombro e a cabeça pendia molemente sobre o pescoço. A menina estava obviamente inconsciente e controlada pela Maldição Impérius de Bellatrix.
Quando a grossa bruma se dissolveu completamente no ar subterrâneo e Voldemort começou a descer os degraus amarelos da estação Harry pareceu ser enganchado pelo seu cérebro, uma linha diferente o fez relembrar algo esquecido. Seu estranho sonho; onde um homem descia escadas, a capa ondulando. Harry viu Voldemort meses antes. Mas não havia visto Gina ou Bellatrix, mas tinha certeza que aquela era a mesma visão. Era seu sonho transformado num terrível pesadelo real. Voldemort olhou irônico para os dois e disse sarcástico.
– Pensei que você fosse inteligente, Dumbledore. – começou sarcástico – Afinal, meu Comensal traidor é muito mais forte que este garoto tolo que você trouxe inutilmente para cá.
– Talvez – respondeu Dumbledore, a varinha erguida apontando para o peito de Voldemort –, a falta de conhecimentos o torne tão ou mais tolo que Harry, como você apregoa. Afinal, você tem tido perdas realmente grandes nos últimos tempos, não é mesmo?
– Não diga o que não sabe! – exclamou Voldemort começando a encher-se de fúria. – Meu Exército das Trevas está pronto para liquidar toda a ilha da Bretanha!
– Não sei? Tudo bem, – disse Dumbledore irônico – foram doze Comensais presos e um traidor...
– ...que serão libertados e este morto ainda hoje...
– Umas dezenas de gigantes...
– ...também serão mortos...
– O ministério está atrás de você...
– ...tolos...
– Ah, ia me esquecendo... – Dumbledore deliciou-se ao dizer a última frase – Você perdeu sua profecia!
– VOCÊ! – Voldemort vociferou a varinha trêmula nos aranhosos dedos brancos – Não viemos aqui conversar sobre vitórias ou erros Dumbledore. – sua voz mudou de enfurecida para misticamente etérea. – Sobre as Runas dos Gringotes. Diga-me onde elas estão escondidas... – Voldemort mudou a direção da varinha, virando-a de Dumbledore para Gina. Harry precipitou-se.
– Não ouse! – gritou. Dumbledore não o impediu. Voldemort e Bellatrix riram alto; a última pareceu muito absorta em rir.
– Não ouse você a falar comigo, criança insolente! – disse Voldemort como se falasse a um bebê. Voldemort virou-se para Dumbledore desconsiderando Harry. – Me diga onde...
– EU AINDA NÃO T-E-R-M-I-N-E-I ! – Harry não sabia o que estava fazendo, muito menos o que dizer, mas sabia que não havia terminado para ele simplesmente desconsiderá-lo; mas ele sentiu algo invisível incentivando-o.
– O que mais tem a dizer – Voldemort olhou para Gina analisando a garota dos pés à cabeça. –, sobre sua namoradinha inútil e pateticamente frágil? – Voldemort encarou-o como seus olhos rubros em brasa. – Não que em nosso último encontro ela tenha sido inútil... – Harry sentia uma raiva absurda subir-lhe as veias, superior a qualquer sentimento que fluísse de seu coração naquele instante, a raiva era a mais forte.
– Não ouse, ou você terá de arcar com as conseqüências... – Voldemort riu com gosto, parecia aproveitar o momento de forma única e inconfundível. Eram como um júbilo à sua noite, ele ria, estava desvairado de nervoso, Harry sentiu sua cicatriz arder em desespero, ele precisava daquelas Runas, mais do que precisava de sua morte. Lembrou-se da ira de Bellatrix na rua e voltou a falar –... Afinal, eu já impedi três dos seus planos, não é mesmo Riddle? – Harry tocou no ponto frágil de Voldemort. Ele enfureceu-se tamanha proporção que a cicatriz em sua testa ardeu.
– DIGA DUMBLEDORE! DIGA ONDE ESTÁ A PROFECIA OU MATO ESSA GAROTA AGORA! – Voldemort ergueu novamente um fio de cabelo de Gina. Embora não ventasse, o fio de cabelo estava ereto e ondulante no ar frio. – Vamos Bella! Faça-a sofrer! – A maldosa bruxa nem aguardou para erguer a varinha e exclamar "Crucio!". Foi a pior visão de sua vida. Gina não acordou continuava dormindo um sono mágico e tranqüilo, porém ao som da varinha, a menina que até então conservava o rosto sereno, mudou sua expressão bruscamente. Gina não gritava, mas as feições de seu rosto deformavam-se pela dor, ela continuava parada no ar, mas agora era possível ver os músculos de suas mãos retraírem-se e darem a menina um aspecto cadavérico. Harry não agüentou.
– PARE! – Harry cortou o ar com a varinha e um lampejo dourado ergueu-se no ar. O corte voou na direção de Bellatrix, mas a bruxa desviou e o feitiço de Harry explodiu um letreiro luminoso mais atrás.
– Tom, vamos acabar com isso agora. – interveio Dumbledore. – Quero a garota você as Runas. Isso acaba aqui. – Dumbledore tirou um pergaminho de dentro do bolso e ergueu o no ar por magia. – As instruções ao local das Runas estão escritas aqui. Dê-me a garota e recolha o pergaminho.
Harry não entendia porque aquilo era necessário, era tão mais simples lançar um feitiço contra Bellatrix e recolher Gina antes da queda que Harry não se conformava em entregar as Runas a Voldemort era sentenciar o fim da humanidade. Harry olhou do pergaminho para Gina e de Voldemort para Bellatrix.
– Você parece achar as coisas tão simples Dumbledore... – disse Voldemort – Essa é uma qualidade que me irritava em suas aulas.
– Suas reminiscências me seriam muito interessantes... – ironizou o Diretor – Mas outro dia... Por agora quero que me devolva Ginevra Weasley! – a voz do diretor aumentou gradativamente até tornar-se ecoante e vibrante, no entanto aquilo não era, de forma alguma, um grito. Harry ofegava ao seu lado, ainda não entendia o porquê.
– Tudo bem Dumbledore. – os olhos do bruxo estavam tremulando em deleite – Irei entregar esta garota a você se é o que quer. Mas me entregue primeiro o pergaminho. – Voldemort pareceu parar de falar, mas lembrou-se de uma recomendação de última hora. – Aberto para que eu vejo o que nele está escrito. – Voldemort abriu o rasgo que era sua boca, como se sorrisse.
O pergaminho á frente de Harry e Dumbledore, já suspenso no ar pelo poder mágico da varinha do diretor, brilhou opaco; ele, que estava muito bem enrolado em um rolinho fino, desenrolou-se sozinho. Pelo reflexo da luz que provinha dos únicos postes acesos, Harry viu o que haviam escrito no pergaminho: havia complexos sistemas esféricos e linhas grossas e finas que se entrecruzavam formando uma teia grossa e maciça dos que Harry supôs serem caminhos. Ao fim do mesmo havia símbolos, que Harry não identificou, escritos com tinta preta. Eram definitivamente, as instruções às Runas.
– Dumbledore! – atentou Harry desesperado. – Você não pode! – cochichou Harry mexendo o mínimo possível dos lábios. Dumbledore não o escutou, o fingiu não o tê-lo. Ele apenas ergueu a varinha e fez com que o pergaminho flutuasse, se aproximando de Voldemort. O desespero começou a tomar conta de Harry; ele não podia entender como, nem porquê Dumbledore o fazia. O pergaminho estava, agora, a poucos centímetros de Voldemort, ao alcance de sua mão alva e aranhosa. Ele esticou os longos dedos finos e tocou o pergaminho.
– Bom trabalho Dumbledore... Dom trabalho...
– Me entregue a garota! – ordenou Dumbledore – Não brinquei com você; não brinque comigo! – Dumbledore não gritava, tampouco continuava com seu tom normal de voz, parecia furioso, mas satisfeito também. Isso deixou Harry muito confuso.
– Acho que já consegui o que queria... – Voldemort deu sua risada fria e cruel. Ele olhou para Gina e brandiu a varinha, a fumaça roxa começou a se formar a sua volta. Gina permanecia, estática, suspensa no ar. Bellatrix ria da expressão desconexa de Harry diante de sua perda. Embora a raiva fosse algo quase concreto dentro de si, algo o impediu de se mover. Não foi algo mágico, mas algo natural, ele estava em estado de choque, acabara de ver Gina Weasley sumir, sem destino de volta, com Lord Voldemort. Ele ainda estava parado, olhando fixamente para onde minutos antes estivera o corpo de Gina Weasley. Ela realmente se fora, e tudo havia sido culpa de Dumbledore.
– SEU VELHO, CADUCO E BURRO! – Gritou Harry ainda sem olhar para o diretor.
– Acalme-se Harry...
– Acalme-se uma ova! – Harry virou-se para o lado e começou a bater com a varinha em Dumbledore. O garoto deu pontadas com a varinha no braço e abdômen do diretor. Ele parecia incomodar-se um pouco, mas tinha uma expressão de segurança estampada no rosto.
– Harry! – pediu com calma – Você, por favor, pode ser racional um instante! – explicou Dumbledore – Voldemort vai voltar aqui, as Runas estão sob nós. E temos pouco tempo.
– Como assim?
Mas não foi preciso uma resposta verbal por parte do bruxo; este brandiu sua varinha dizendo palavras incompreensíveis aos ouvidos de Harry e apontou a mesma para o chão de pedras calcárias, desgastado pelo uso e amarelo devido à iluminação. Um enorme tremor de terra sacudiu as estruturas da estação subterrânea.
O guarda, próximo à porta, percebeu que algo ocorria e começou a utilizar seu walkie-talkie, mas Harry impediu um rebuliço maior, exclamou, "Accio!" e o aparelho correu com tanta força que quebrou as vidraças da entrada. O guarda continuava agindo, Harry deu alguns passos para mirar melhor, ele apenas lançou um Feitiço do Silêncio e uma Azaração do Corpo-preso, para que imóvel e quieto não chamasse a atenção dos habitantes trouxas. A vidraça quebrada foi concertada com "Reparo!".
Os tremores continuaram até que no meio do chão de pedra, um redemoinho negro formou-se e um enorme bloco de pedra surgiu do chão. Parecia-se com um monte, erguido do chão; era do tamanho de um labrador adulto e não tinha uma forma corretamente definida, havia cortes, falhas e quebras por toda a pedra. Nas faces mais lisas pequenas letrinhas surgiam a partir de um profundo crivo rubro no centro da pedra. Harry reconheceu pela foto e teve certeza de que aquela eram as Runas do Gringotes. A raiva parecia ter desaparecido do corpo de Harry. Era óbvio que Voldemort voltaria para pegar as Runas. Dumbledore olhou para Harry e este compreendeu.
– Subsicívum! – O diretor brandiu a varinha e Harry sentiu uma brisa suave lamber-lhe o rosto. – Harry, aguarde, eu lhe encantei para que possa ampliar sua visão. Sempre que desejar, olhe mais fundo. – Harry não entendeu absolutamente nada, mas antes que formulasse uma pergunta, Dumbledore continuou. – Voldemort voltará. Ele virá com raiva e será impiedoso. – Dumbledore ergueu a longa varinha; Harry fez o mesmo. Estava à poucos metros a frente do diretor. Ele estava ansioso por ter Gina de volta ao seu lado, sentia satisfeito por ter Dumbledore ao seu lado. Totalmente divorciada de seus sentimentos pessoais, uma raiva ferocíssima apoderou-se de si. Sua mente era só raiva e culpa. Ele sentiu a cicatriz arder e diante de seus olhou viu Voldemort aparatar novamente. Ele gritava de raiva e parecia não se importar com nada; Bellatrix ao seu lado já tinha a varinha erguida apontando para o coração de Harry, que fazia o mesmo com a sua de vinte e oito centímetros, pena de fênix. Gina jazia, inconsciente, ao lado dos dois, estava sendo totalmente desprezada, como um jornal velho.
– AH! DUMBLEDORE SEU MALDITO! Mobilicorpus! – linhas invisíveis saíram da ponta da varinha do bruxo e começaram a arrastar as Runas para mais perto da comitiva das Trevas. As Runas se moviam progressivamente, mas Harry olhou para a varinha de Voldemort e foi mais rápido que o ato de Dumbledore.
– Finite! – as finas linhas transparentes cortaram-se ao meio e as Runas caíram no chão com um baque surdo que fez o chão tremer mais uma vez aquela noite. O teto, muito antigo, parecia ceder, e diversas rachaduras começava a se abrir. Antes que Harry visse o que saía da ponta da varinha de Bellatrix, ele sentiu a pesada capa de Dumbledore envolver-lhe. Ele sentiu seu corpo ser transportado para um outro local diferente de onde estavam. Harry notou que aos seus pés jaziam as Runas, intactas.
– ONDE VOCÊ ESTÁ! – vociferou o bruxo das Trevas, sua Comensal olhava furtiva para todas as direções. – ONDE ESTÁ VOCÊ DUMBLEDORE! APAREÇA! – Voldemort curvava-se para o desespero, as costas envergavam até o chão, suas faze pálida contorcendo-se. Dumbledore ergueu a varinha e Harry o acompanhou, ele girou a capa e apareceram exatamente atrás de Voldemort.
– Estou aqui Tom. – Dumbledore e Harry brandiram as varinhas, juntos. Os feitiços uniram-se poderosos. Seus respectivos raios prata e dourado, lançaram os dois adversários indefesos longe. Conforme voavam metros até o fundo da estação, lixeiras e bancos foram incendiando-se. Enquanto se recuperavam do ataque lascivo e já corriam de volta para recuperarem a batalha, Dumbledore ergueu a varinha para a pesada pedra rúnica e um clarão róseo fez com que a pedra se dividisse ao meio.
– SEU TOLO! – berrou Bellatrix. Ela corria na direção de Harry. Ele apenas viu um jato de luz preta correr até sua direção. Dumbledore estava ocupado com as Runas. Harry correu metros à frente, abriu os dois braços e exclamou.
– ECUSSON! – um enorme escudo prateado irrompeu de sua varinha e fez com que o jato de luz preta fosse absorvido pelo forte escudo mágico. Harry escutou Voldemort gritar de frustração, a força de seu sibilo ofídico fez com que todas as vidraças da entrada do metrô explodissem pela vibração impetuosa. O escudo de Harry começou a receberem investidas dos bruxos à sua frente.
– Harry, proteja sua metade da pedra. – Dumbledore entregou a Harry um pedaço disforme de pedra. Harry confirmou com a cabeça. Ele sacudiu a varinha e o enorme escudo desfez-se. Antes que uma maldição o atingisse e ele conseguiu gritar para sua metade rúnica, "Inevisive!". Harry virou-se e viu que Dumbledore já batalhava com Voldemort. Bellatrix estava a sua frente, um flash de luz verde perpassou-lhe o ombro, mas por pouco escapou safo.
– Você não pode comigo, garoto Potter... – Bellatrix correu até o garoto e espantou-se ao descobrir que não havia pedra alguma consigo. Ela apenas riu e lançou-lhe um raio estuporante que tremulou em sua direção. Harry foi ágil o suficiente para que antes de atingido exclamasse "Rochido!", e então uma parede sólida de pedra terrosa ergueu-se dois metros para cima partindo do solo. Bellatrix continuava a correr e Harry escutou o feitiço e a bruxa colidirem com a parede de terra. Por cima da mesma parede ele escutou um outro baque surdo, distinto de Bellatrix e suas mágicas, para então escutar a risada fria de Voldemort; mas para a satisfação de Harry, ele vislumbrou um lampejo vermelho e escutou a risada de Voldemort sendo interrompida. Dumbledore tinha controle da situação.
– Vamos POTTER! – exclamou Bellatrix chamando Harry à luta – A bruxa ergueu a varinha – Finite! – o muro de terra se desfez como pó e Harry viu que ela não estava muito contente. Harry teve apenas o tempo para gritar a primeira azaração que lhe veio à cabeça.
– Truncat! – um corte dourado foi erguido no ar para depois correr até o rosto de Bellatrix, a bruxa não conseguiu reagir e sua bochecha foi cortada de forma dramática. Ela urrou de dor, Harry sentiu-se estranho, como se aquilo fosse muito mais doloroso para si que para a bruxa. Com o sangue escorrendo lhe o rosto a bruxa exclamou, apontando a varinha para si mesma, "Jointementus!". Onde houvera um corte feio e profundo, a pele de Bellatrix fechou-se, mas a imprecisão do feitiço criou-lhe uma enorme marca que ia de sua orelha até a ponta do lábio. Ela começou a soluçar no chão caída. Parecia muito dolorida, e um triunfo apoderou-se de Harry. Bellatrix estava derrotada. Harry virou as costas para ver onde estava Dumbledore e antes que vislumbrasse alguma coisa sentiu o impacto de um feitiço atingir-lhe. Era obviamente a Maldição Cruciatus, Harry berrou de dor, sentia facas penetrarem-lhe toda a extensão do corpo, no entanto, mais cedo do que ele ou Bellatrix esperavam, a dor cessou.
– Satisfeito Potter? – gritou Bellatrix sarcástica. O rosto, ainda ensangüentado, estava pálido e caótico, os risos a deixavam feia e seca, a pele grudava no osso de forma quase esquelética.
– Muito. – Respondeu Harry erguendo a varinha e se preparando para gritar. – FRACTUS! – uma fina poeira branca saiu da ponta de sua varinha e correu até a bruxa risonha, mas esta reagiu tão rápido que Harry quase foi atingido. A bruxa ordenou "Protego!", e a poeira começou a correr na direção de Harry, mas mais uma vez aquela noite ele recorreu ao Feitiço do Cânion e uma enorme parede rochosa o protegeu de ter um osso quebrado.
– Você parece estar melhorando nisso Potter. – disse Bellatrix. – Mas ainda posso derrotar você. – A bruxa brandiu a varinha e dela um jato de lava quente e alaranjada foi projetado na direção de Harry; o garoto sentindo o calor se aproximar exclamou espontaneamente "Congelitus!", eum raio azul gelo, frio e congelante saiu da varinha do garoto. Os raios, de fontes opostas, foram de encontro um ao outro colidindo e ricocheteado nas paredes da estação. A lava, ainda quente, derreteu o chão e abriu uma larga faixa entre Harry e Bellatrix, formando-se uma vala entre os dois. O garoto não havia percebido, mas a lava quente continuava a arrastar-se pelo chão e ele sentiu o calor corroer seu sapato e queimar-lhe os dedos e o pé por inteiro. Ele sentiu sua carne sendo trucidada pelo fogo líquido. Ele novamente executou o feitiço congelante e sua dor cessou por alguns minutos.
As Runas do gringotes ainda permaneciam onde Harry as havia deixado, estavam a longos e distantes metros de distância. Bellatrix não seria capaz de pegá-las, não consegui vê-las, muito menos Voldemort que estava metros mais a fundo na estação. Antes que Bellatrix se recuperasse, a raiva de Harry o fez exclamar novamente, "Impedimenta!". Um flash vermelho iluminou a cena e Bellatrix foi paralisada por alguns minutos – foi o suficiente para Harry poder recuperar a sua metade da pedra, que tão longe estava.
Ele lembrou-se dos treinos noturnos com Dumbledore e Harry concentrou-se na palavra "Mobilicorpus" ele só desejava trazer as Runas até ele, para que junto com Dumbledore recolhessem Gina que jazia próxima da escada. Seu pé voltava a doer incomodamente, ele sentiu bolhas diversas serem estouradas. Bellatrix lutava contra as forças do feitiço que atuavam sobre seus membros. O efeito do Feitiço da Invisibilidade de Harry parecia começar a se desgastar, pois de invisível, a pedra estava agora, apenas transparente. Harry já havia percorrido metade do percurso até ter a pedra próxima de si.
Neste meio tempo Harry foi atentado para algo novo, uma coisa estranha e diferente para Harry. Sua preocupação constante com o diretor fez com que olhos inexistentes dessem ao garoto a visão do duelo entre Dumbledore e Voldemort. A runa flutuava e passava ao lado de Bellatrix que continuava contorcendo-se no chão, parecia exasperada ao ver seu bem tão procurado perpassar-lhe as mãos. Voldemort preparou-se para lançar um feitiço em Dumbledore, mas este, deu vida aos postes mais próximos e o protegeram dos raios roxos que eram lançados contra ele. Protegido, Dumbledore lançou um raio azul-anil no peito de Voldemort, este se ergueu no ar, envolto por espirais azulados, pelos seis metros de altura do pé direito, até que por fim, as espirais se desprenderam e fizeram com que Voldemort caísse de uma altura relativamente alta. Harry apenas escutou um barulho de ossos antes de voltar à atenção para Bellatrix que finalmente voltava a ter os movimentos. Foi a vez da bruxa exclamar, ainda de borco no chão.
– Impedimenta! – mas ela não havia mirado em Harry, mas no bloco de pedra que caminhava até Harry. Harry não estava preparado, ele sentiu seu elo com a pedra romper-se e a pedra caiu, ela caiu sobre os destroços de lixeiras e bancos quebrados, rachou mais uma vez e permaneceu sólida parada.
Bellatrix começou a correr. Harry fez o mesmo, a dor em seus pés a fez ganhar vantagem, estava mais próxima das Runas; uma vala profunda os separava; jatos verdes, vermelhos e dourados confrontavam-se e ricochetavam nas paredes. As estruturas da estação ruíam, e a poeira sedimentar invadiu-lhe os olhos. Harry não se cansava em exclamar Feitiços do Corpo-Fechado e Estuporamentos de última hora. Bellatrix mirava Harry com Estuporamentos e Maldições da Morte, que graças à habilidade adquirida como Apanhador, eram dribladas com a facilidade de um guepardo, ainda que com o pé derretido. As Runas jaziam, quebradas, no fim da vala abissal. Ao aproximar-se, Bellatrix lançou-se sobre os destroços, entre eles, as duas metades da parte de Harry. Harry foi impulsivo. Ergueu a varinha e exclamou.
– DEPULSO! – a bruxa foi lançada metros para trás, caiu rolando de costas próxima a uma lojinha de chá que fez rolar pãezinhos de minutos e saches de camomila pelo chão. Ao bater com força na grade metálica, um alarme sonoro apitou. A bruxa logo exclamou "Silencio!", e o alarme cessou. Harry ganhara tempo suficiente para que atravessasse a vala que os separava, reunisse sua parte da pedra e as reparasse com um Feitiço de Cola. Ele, por fim, aplicou novamente o feitiço da invisibilidade. Enquanto Bellatrix corria em sua direção, Harry disparou cerca de dez jatos vermelhos que por pouco não a acertaram. A bruxa se aproximava, ela fez um amplo gesto com a varinha e chamas roxas riscaram a retina de Harry. Ele apenas desviou com as próprias pernas e berrou com todas as suas forças.
– ESTUPEFAÇA! – um jorro de luz vermelha saiu da ponta da varinha de Harry e percorreu metros de distância, ele atingiu em cheio o colo desprevenido de Bellatrix, que antes que pudesse gritar, começou a cair, definitivamente estuporada. As cenas começaram a transcorrer de forma lenta e vagarosa. As chamas roxas conjuradas pela bruxa inclinaram-se e foram de encontro a Harry. Que teve de conjurar um escudo rudimentar para proteger-se do feitiço completo. Ele apenas sentiu uma linha invisível aquecer-lhe o abdômen. Ficou imobilizado por alguns minutos; seus olhos ficaram a visar à queda de Bellatrix, seu joelho comprimiu um ângulo estranho e bateu com força no chão, fazendo um barulho pavoroso. Os olhos de Bellatrix estavam vidrados e pareciam fechar-se vagarosamente.
Pela sua própria nuca Harry pode vislumbrar o duelo de Dumbledore. Seu pé esquerdo sofria as queimaduras recentes e Harry preferiu não olhar para seu pé, sabia que talvez não estivesse inteiro. Harry caiu no chão, os joelhos ruíram de cansaço, e ficou ajoelhado com a varinha apontada para Bellatrix. Ele podia ver Dumbledore lançando raios prateados contra Voldemort e este se defendendo com todas as forças que possuía. Harry já não agüentava de dor, os olhos lacrimejavam e a dor parecia tomar conta de todo o seu corpo.
Seus olhos estavam atentos para dentro, observar o duelo entre Voldemort e Dumbledore, mas ocorreu algo que chamou a atenção do garoto. Pelas vidraças quebradas e estilhaçadas, a luz da lua criava nuances escuras, sobre o pedestal mais alto das escadas de acesso, Harry avistou um bruxo alto, cabelos espessos, varinha erguida e óculos de ferro sendo iluminados pelos reflexos de feitiços e maldições do duelo de Voldemort. Ele começou a descer as escadas vagarosamente, para que ninguém notasse sua presença.
Harry mantinha-se sentado no chão, o pé imóvel pela dor, a varinha erguida mirando o coração de Bellatrix e os olhos divididos entre o bruxo que descia as escadas e o duelo entre Voldemort e Dumbledore. O bruxo começou a caminhar pelo breu da estação noturna; sua capa era de uma tonalidade escura de laranja, estava mais para tijolo do que para marrom. O bruxo passou ao lado de Gina e para desespero de um Harry incapacitado, ele ergueu a varinha. Um clarão branco iluminou a estação. Mas não haviam sido as varinhas de Voldemort ou Dumbledore, havia sido a varinha do bruxo até então desconhecido. Mas então a visão de Harry se concentrou em Gina e ele pode ver que ela estava bem, um enorme e robusto leão, feito de uma fumaça branco perolada, estava fazendo a guarda da garota; era um patrono corpóreo.
O bruxo continuou a caminhar pela estação, quando ele entrou dentro do campo de luz formado pelos dois únicos postes acesos, Harry viu o rosto do bruxo. Ele possuía cabelos espessos castanho-alaranjados, os óculos de ferro, envolviam olhos também castanhos e sua expressão era de profundo descontentamento, parecia triste por ali estar, fazendo o que estava fazendo. Era definitivamente o bruxo com quem Dumbledore conversara semanas antes em Hogwarts. Num instante fugaz, Harry escutou o grito de Voldemort.
– Trouxe companhia Dumbledore? – exclamou feroz ainda batalhando, maldições explodiam a cada segundo pela ponta de sua varinha. Voldemort distraiu-se das ações do diretor e agora lançava maldições contra o recém-chegado bruxo. Dumbledore aproveitou a distração do oponente ergueu a varinha e a tremulou como um feitor faz com seu chicote. Um enorme laço dourado ricocheteou no chão dando um estalido mágico. O Diretor brandiu o chicote mais uma vez e prendeu Voldemort pela cintura.
– Creio que não Tom. – respondeu Dumbledore muito sensato. Voldemort sentiu a corda prender-lhe e desaparatou metros à frente. Sua risada ecoou fria na estação.
O amigo de Dumbledore passou ao lado de Bellatrix e conjurou-lhe correntes de luz que a prenderam fortemente à parede. Ele veio caminhando na direção de Harry. O duelo entre Dumbledore e Voldemort continuava incessante, mas Harry suspeitava que o cansaço já deixasse Dumbledore em desvantagem. O bruxo, da juba amarelada, aproximou-se de Harry e agachou, ficando de cócoras. As grossas vestes faziam volume e tocaram o braço de Harry; aquela era a seda mais pura que outrora havia conhecido. Ele olhou para Harry e cochichou muito baixo.
– Gina já está a salvo. – afirmou convicto. – Recolhi a Maldição das Três antes que Voldemort cortasse seu cabelo, isso seria desesperador demais. – Harry deu um gemido de dor e indicou ao bruxo o pé queimado. – Consigo dar um jeito nisso. – O bruxo ergueu a varinha e disparou um jorro de luz verde-folha em seu pé; uma sensação refrescante invadiu suas feridas. Ele fez alguns movimentos com a varinha e Harry pode sentir as feridas se fechando. Quando Harry olhou para o seu pé viu que o mesmo já estava quase normal, porém havia cicatrizes, marcas fundas e recém feitas. – Fique aqui, mantenha a concentração em Bellatrix.
O bruxo não esperou uma resposta de Harry, ele apenas levantou-se e de onde estava girou sobre os calcanhares e fez o caminho de volta. Dumbledore pareceu satisfeito de ver que ele, ali estava. Dumbledore Lord das Trevas; ele conjurou um escudo roxo e tremulante, todos os feitiços do diretor ricocheteavam contra o mesmo, foi então que Dumbledore exclamou "Fragmentum!", e uma estrela de luz azul-esverdeada colidiu contra o escudo de Voldemort. Um som, gélido e enrregelante, tomou conta do momento. O escudo de Voldemort explodiu em vários caquinhos que sumiram em uma névoa lilás.
O patrono que protegia Gina começava a desaparecer em uma fumaça densa e prateada, a garota começava a acordar. Harry pode ver que ao longe sua fortaleza mexia os frágeis punhos, parecia ainda desconcertada e desconhecia o presente. Ainda que só tivesse erguido o tronco do chão, os cabelos vermelhos vivo começaram a ondular novamente, e uma felicidade arrebatadora encheu Harry de poder. Sua dor pareceu ser suprimida pelo sentimento tão nobre e livre que lhe corria o corpo. Os olhos de Gina estavam mais fixos que o chão e ela não parecia feliz, parecia ainda temer pelo nada. Harry quis levantar-se. Desejou ajudá-la. Ele ainda escutava Dumbledore gritar.
– VOLDEMORT! VOCÊ PERDEU! – esclareceu Dumbledore para a fúria de Lord Voldemort. – Não há escapatória! Você perdeu as Runas e sua prisioneira agora já está sob nosso poder novamente! – Voldemort eriçou-se de raiva. – AVADA KEDAVRA!
O bruxo amigo de Dumbledore passou novamente em frente a Bellatrix, andou mais alguns passos rápidos e reencontrou Gina. O leão, já totalmente desfeito pelo vento e ar frio da noite que desciam as escadas vazias, reapareceu com um novo aceno de varinha do bruxo. Gina que mantinha os olhos fixos até o momento, agora parecia começar a conectar fatos e visões, até entender que estava sendo resgatada.
Uma luz verde tremulou da ponta da varinha de Voldemort. Ela correu até o peito de Dumbledore e antes que encontrasse o alvo, Dumbledore desaparatou. Ele desaparatara exatamente ao lado de sua metade das Runas, ele fez um floreio com a varinha e sua metade rúnica voou até o lado da metade invisível de Harry. Os olhos de Voldemort pareceram acompanhar a trajetória da pedra, como se estivesse a ter sua maior derrota.
Quando a atenção de Harry voltou para Gina, ela já não estava mais na estação. Bellatrix permanecia inconsciente e as cordas de luz que a prendiam a parede estavam ainda muito bem amarradas, não havia cedido ou algo do gênero: era firme como rocha. Harry contentou-se ao saber que sua fortaleza havia sido tirada do campo de batalha, estava finalmente salva.
Voldemort não tirava as pupilas verticais de cima das pedras rúnicas ao lado de Harry; ele continuava batalhando, mas parecia agora mais preocupado em pegar as Runas. Ele cometia erros bobos, fugia como criança das maldições de Dumbledore. A excessiva atenção as Runas a fez perdê-las. Dumbledore conseguiu atingir Voldemort em cheio com um raio azul tremulante. Harry já havia visto aquele feitiço naquela noite mesmo. Espirais azuis enrolaram-se pelo corpo de Voldemort e o ergueram os seis metros de altura da estação. Neste intervalo da subida, Dumbledore desaparatou e aparatou ao lado de Harry e das Runas. Voldemort observava tudo de cima; a espirais afrouxaram e ele começou a cair. Dumbledore sorriu para Harry e disse.
– Situações drásticas, medidas drásticas. – Dumbledore ergueu a varinha. – PALIMPSÉTUS!
– NÃÃÃO! – Voldemort gritou conforme caia até o chão duro de pedra. Mas ele não gritava pela queda, mas sim pelo efeito do simples feitiço de Dumbledore. Harry não havia visto, mas o feitiço de Dumbledore fez com que todas as inscrições entalhadas na pedra calcária fossem banidas do universo, para ninguém mais se lembrar. As Runas do Gringotes, agora eram pedra comuns, cheias de quebras, mas em uma das faces inteiramente lisa. O poder do Príncipe Bastardo se fora para sempre consigo.
Não houve muito tempo para sair da estação, após a queda de Voldemort; o feiticeiro começou a lançar bolas de fogo contra as estruturas do prédio além de tentar acertar Harry ou Dumbledore com uma Maldição Imperdoável. Os dois se esquivavam, corriam e lançavam feitiços estuporantes por cima do ombro. Dumbledore o ajudava a correr, mas a dor era algo que deveria ser esquecido, e foi. Ele correu o máximo que pode, a perna capenga não ajudava, mas ele por fim conseguiu. Além de desviarem de feitiços e maldições, pedaços de teto começavam a cair, a estação ruía com a ira de Voldemort. Nada estava resistindo. Os bancos e lixeiras voavam pelos ares, como se fossem leves como penas. As paredes começavam a rachar, desde o chão até o alto teto ranhuras profundas e escuras cortavam a estação em um enorme quebra-cabeça macabro. Os trilhos dos trens desprenderam-se dos rebites como se fossem cordões de barbante. Um caos total tomou conta de Vauxhall. Nada parecia sereno ou normal, tudo estava quebrado ou em ruínas.
As escadas estavam poucos metros à frente, Harry sentia pontadas lancinantes no pé queimado, nunca sentira algo pior. O calcanhar, também atingido, cedeu. Harry caiu feito uma criança aprendendo a andar; seus pés torceram-se no chão duro e ele caiu estatelado no chão. Mas antes que sentisse mais dor ou cansaço, ele foi momentaneamente livrado de todos os seus problemas, uma felicidade incomum para o momento o apreendeu. Ele sentiu as pernas movimentarem-se sozinhas e subirem correndo as escadas para fora da estação. Ele olhou para trás e viu que Dumbledore provavelmente o controlava com uma Maldição Impérius devido à varinha erguida.
Harry empurrou a porta de vidro e sentiu o ar frio da noite invadir-lhe os pulmões, a dor votou com intensidade total após o término do feitiço do diretor. Ao seu lado Dumbledore sacudiu a varinha com os punhos e Harry escutou um estampido de lacre nas portas da estação. Harry tornou a olhar e viu que a estação estava em ruínas, mas antes mesmo que pudesse pensar em algo, os vitrais explodiram de forma trágica e caquinhos de vidro diversos voaram contra seu rosto facetando-o em diversos pontos. Harry ainda gritou "Protego!", mas já era tarde. Não havia nada onde antes existia a movimentada Estação Vauxhall, era agora apenas um buraco de poeira e destroços. Harry sentiu uma pontinha de felicidade real ao lembrar que Bellatrix e Voldemort haviam remanescido na estação lacrada de metrô.
– Potter! Dumbledore! – exclamou uma voz aflita e desconexa. Era Madame Pomfrey, ela não usava os trajes habituais de enfermeira, estava vestida de preto, na mão direita uma varinha relativamente pequena e na cabeça um coque que se equiparava ao de McGonnagal. A bruxa brandiu a varinha e uma cúpula verde amarelada foi conjurada ao redor dos três.
– Papoula – começou Dumbledore ofegante –, Potter teve uma queimadura séria nos pés e ele precisa estar bem.
– Entendo Dumbledore! Eu entendo! – ela falava depressa, o rosto contraía-se e a varinha não parava um minuto sequer de lançar jorros de luz e fumaças que reconfortavam Harry. O garoto percebeu que por alguns instantes lampejos coloridos cortavam o céu, uma batalha ocorria nas proximidades da estação. – A enfermeira lançou um olhar de desafio para Harry e disse triste – Isso vai doer. – ela sacudiu a varinha e uma goma vermelha saiu da ponta de sua varinha, ele sentiu algo quente entrar-lhe na pele e titubear por entre seu ossos e veias. A dor permaneceu por longos segundos, mas depois de terminado, Harry viu o pé novamente: não estava queimado, estava muito vermelho e possuía uma grossa camada de uma pasta laranja nele. Os dedos, antes cotos provenientes das queimaduras, haviam sido recobrados e até unhas já possuíam. – Pronto Dumbledore! O pé está novo. Mas...
Ela calou-se. Dumbledore sorriu e conjurou um sapato preto que se calçou magicamente ao seu pé novo. A enfermeira brandiu a varinha e a cúpula se desfez com um zunido grave. Os três encontravam-se em uma enorme avenida, ela era larga e asfaltada, havia postes em toda sua extensão e na outra extremidade havia um gramado muito verde que ia de encontro a gradinhas vermelhas e douradas, as mesmas que Harry havia visto do outro lado da porta por onde seus amigos haviam passado. As gradinhas protegiam os pedestres de caírem acidentalmente em um longo rio de águas escuras e profundas, o Tamisa. Na outra extremidade do rio, mais à direita, um relógio alto em uma torre alta soava doze badaladas graves e sonoras, indiscutivelmente o Big Ben. A longa rua terminava ali, mas seguia cinco caminhos distintos, havia a possibilidade de seguir em frente margeando o rio, se entranhar no continente ou atravessar a ponte. Dumbledore nem ao menos pensou, seguiu os lampejos aéreos e caminhou até a ponte de Vauxhall.
Harry ergueu-se do chão e acompanhou o diretor, Papoula também seguiu ao lado de Harry; não parava de resmungar que Potter não poderia andar tão rapidamente e que a guerra era sempre assim, um ninho de ferimentos e infecções. Ela choramingou. Harry tapou os ouvidos, aquilo apenas o aborrecia ainda mais. Dumbledore seguia sozinho à frente. Quando o diretor pisou na ponte Vauxhall Harry teve uma visão gigantesca do que ocorria. Ele pode ver o que se passava de vários ângulos e ficou assombrado a cada vez que via a cena.
