Cap 2
Ainda era madrugada quando acordei.
Aquele maldito sentimento de culpa não me deixou dormir por mais que algumas poucas horas.
Chegava a ser...enervante.
Merda! Eu não tinha culpa! Eu não podia ter culpa...ele não estava com Trowa, ele o abandonara por sua maldita insegurança.
Eu não poderia prever a sua reação, nem tão pouco a merda do carro que virou a esquina em alta velocidade!
Merda! Merda! Merda!
Por que minha mente doentia tinha que ficar pintando que eu era o maldito culpado? Que nunca deveria ter me envolvido com Trowa?
– Duo? – Quase pulei da cama com o som da voz de Heero.
Céus!
Eu esquecera daquela parte da história!
Heero, que eu sempre imaginei ser um bastardo sem coração, que me abandonara como se abandona um cachorro, havia aparecido no hospital de repente.
Bem, nem tão de repente assim, já que sempre imaginei que ele era amigo de todos os pilotos, logo se Quatre estava quase partindo dessa para melhor, o certo seria se Heero aparecesse.
Mas claro que eu achava que isso era um pensamento unicamente meu e nunca pensei que Heero compartilhasse dele.
Porém ele me surpreendera.
Como também me surpreendera me pedindo uma chance e me tratando como se nós nunca tivéssemos nos separado, como se jamais houvesse existido aquele espaço de tempo em que eu sofri como um cão.
Merda! E minha cabeça ainda doía pelos malditos remédios.
– Duo? Tudo bem, amor? – Estremeci, sentindo como se alguém se divertisse batendo com uma pá na minha cabeça.
– Acho que sim. – Respondi, roçando o rosto em seu peito. – Mas vamos deixar essa coisa de "amor" pra depois, ok? Eu ainda estou em choque, com a cabeça doendo e existem milhões de coisas antes de tudo de acertar, se é que vai se acertar. – Ele suspirou, beijando minha testa.
– Certo, então tente descansar.
Céus! Um Heero compreensivo era demais pra eu suportar no momento.
Com extremo cuidado, me levantei, sentindo seus braços, relutantes, tentarem me segurar.
– Onde vai?
– Pro hospital, Trowa precisa de mim. – Ouvi um suspiro irritado. – E Wufei não vai gostar de nos ver dormindo juntos na cama dele, huh? – Ajeitei meus cabelos e fui até o banheiro lavar o rosto.
Quando voltei, Heero estava de pé, as roupas já meio no lugar e uma expressão nada agradável no rosto.
– Vou te levar. – Neguei. – São duas da manhã, Duo.
– Olha, Heero, eu vou pra ficar com o Trowa, se você for me levar, mantenha isso em mente, ok? – Seus dedos tocaram meu rosto.
– Eu nunca percebi o quanto eu te amo, amor, até saber que você está...estava com ele. – Eu ri, não me contendo e me jogando em seus braços.
– Isso é jogo sujo, Hee. – Murmurei, afundando o rosto em seu pescoço.
– Eu sei, amor, eu sei. – Depositou um beijo leve em minha testa e se afastou, segurando minhas mãos nas suas. – Eu vou te levar, mas...vou voltar pra cá, ok? De manhã eu vou com o Wufei.
– Heero, por que? – Perguntei, sinceramente.
O mundo não podia dar uma volta tão grande de repente, sem ter uma explicação lógica, certo?
– Medo, Duo...eu sempre pensei que você estaria lá, mas quando eu soube, quando vi você e o Trowa...Deus! Eu quis bater minha cabeça na parede por ser tão estúpido. – Eu ri. – Eu queria dizer que...
– Agora não, Heero, Trowa precisa de mim, certo? – Depositei um beijo em sua bochecha. – Depois nós dois conversaremos direito.
– Certo, Duo.
Não...nada estava certo naquelas vinte e quatro horas do inferno, mas o que fazer?
Minha cabeça ainda latejava e eu precisava pensar direito.
Havia Trowa, havia Quatre e havia Heero.
Eu amava Heero. Por Deus como eu amava! Mas não podia ignorar tudo que se passara nos últimos meses, não podia deixar de me lembrar do apoio que tive de Trowa.
Não...eu não lhe viraria as costas para ficar com Heero, que já ma abandonara uma vez.
Primeiro Trowa e o acidente de Quatre.
Depois eu pensaria em Heero e em meu coração que batia desesperado quando me lembrava da sua voz rouca embalando meus sonhos, com aquela música que me recordava do nosso tempo juntos.
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Eu tentei, juro que tentei, manter minha cabeça fria e perceber que Duo estava agindo da forma correta.
Eu o abandonara, não podia esperar que ele se jogasse em meus braços, cheio de paixão.
Mas vê-lo abraçando Trowa quando chegamos ao hospital doeu bastante.
Sequer um beijo ou uma palavra.
Simplesmente me virou as costas e correu de encontro ao moreno, envolvendo-o num abraço que eu mesmo sentira tantas vezes. Quase podia imaginar o calor que Trowa sentiu.
Os observei por algum tempo.
Era tortura vê-los abraçados, sussurrando coisas que eu queria desesperadamente saber.
Merda! Eu queria ir até lá e socar a cara de Trowa por alisar, tão carinhosamente, a trança de Duo. Do meu Duo.
Eu precisava sair da lá e confiar que Duo ainda me amava e que, assim que Quatre melhorasse, tudo voltaria aos eixos.
Vi Duo tomar as mãos de Trowa nas suas e beija-las com carinho.
Merda! Eu precisava mesmo sair dali.
Me encostei em uma das paredes claras, fora da linha de visão dos dois, fechando meus olhos, desejando ardentemente que, quando os abrisse novamente, Duo estaria nos meus braços, não nos de Trowa.
– Heero? – Bati a cabeça na parede com o susto.
– Por Deus, Duo! Quer me matar do coração? – Ele sorriu, bagunçando ainda mais meus cabelos.
– Vá pra casa de Wufei, certo? – Virei o rosto. – Não é confortável sentir seu olhar assassino sobre Trowa. – Senti minhas bochechas esquentarem. – Por favor?
Eu conseguiria resistir aquele apelo tão doce?
Certamente que não.
– Eu vou sim, mas quero um beijo. – Murmurei, travesso.
– Pidão. – Sorri, sentindo os lábios macios sobre os meus.
Desejei abraça-lo e arrasta-lo de lá, levando-o para algum lugar bem longe de Trowa, mas, obviamente, não fiz isso.
Ainda restava um pouco do controle de soldado em mim.
– Vá e diga a Wufei que Quatre já está fora de perigo, ok? Apenas alguns pontos na testa, o corte no abdômen inspira muitos cuidados, mas a transfusão foi o suficiente. – Franzi as sobrancelhas. – A perna operada está bem.
– Só isso?
– Merda, Yuy, nada passa por você, não é? – Roçou seus dedos por meu rosto. – Ele está dopado, mas acordou durante a operação, por isso o desespero de Trowa e o meu.
– Mas...
– Tudo está bem agora. – Afirmou, sorrindo.
– Duo, como...
– Agora não, por favor. – Suspirei, irritado.
Por que ele se negava tanto a me contar o que realmente tinha acontecido?
Algo fez um clique em minha cabeça e me chutei mentalmente por não ter juntado as peças mais rápido.
– Ele viu você e Trowa? Juntos? Na cama? – Ele arregalou os olhos, mas logo sorriu suavemente.
– Trowa estava na cama, eu estava saindo do banho, com apenas uma toalha e bem...Heero, você entende, não há mais o que explicar. – Apertei seu braço levemente e ele suspirou. – Quatre ligou as coisas e correu como um desesperado, você o conhece, sabe bem que quando o controle foge...ele não o recupera tão rápido. – Abaixou a cabeça. – Foi atropelado quase em frente ao nosso...ao apartamento de Trowa. – Sufoquei um gemido dolorido. – Foi isso...nós viemos com a ambulância pra cá, algumas horas antes de você chegar.
– A culpa não foi sua, Duo, não se torture. – Disse firmemente, o abraçando.
Deus! Eu tinha certeza que alguma parte mesquinha e maldosa da mente de Duo estava dizendo que a culpa era dele, mas...merda! A culpa era minha que o abandonei, de Quatre por ter deixado Trowa...mas não de Duo! Nunca por culpa dele.
– Estou tentando enfiar isso na cabeça. – Sorriu suavemente. – Agora vá.
E eu fui.
Tentando pensar em como um piloto Gundam perde o controle e se deixa ser atropelado.
Se fosse eu no lugar de Quatre...merda! Eu teria atirado nos dois e depois atirado contra minha cabeça!
Mantenha o foco Yuy.
Respirei fundo e tentei não pensar em como os braços de Trowa estariam em volta de Duo, dando o conforto que eu queria dar.
Mas eu não podia fazer nada.
A maldita culpa era minha.
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Heero era...tão doce quando ficava confuso.
Eu pude vê-lo lutando contra a própria vontade de esquecer aquilo tudo e me levar para longe.
E fiquei feliz por ele perceber que eu precisava estar com Trowa no momento.
– Então...ele confessou que quer me matar? – Eu sorri suavemente, me sentando ao lado de meu amigo.
– Sim, assim que você sair desse hospital, ele vai atirar em você. – Trowa riu, deitando a cabeça no meu ombro.
– Duo, como tudo isso...
– Vamos deixar as coisas claras aqui. – Declarei, segurando seu rosto entre minhas mãos, olhando diretamente em seus olhos. – Eu amo o Heero, sou louco por ele, mas, em hipótese alguma, vou destruir tudo que temos, entende? Eu não vou tirar meu traseiro desse hospital e nem vou sair do seu lado para estar com ele. E se você quiser manter o que tivemos nesses últimos meses, eu dou um pé no Yuy e pronto!
– Eu quero a sua felicidade, Duo. – Suspirei. – Jamais ficaria no seu caminho e no dele, você sabe. – Assenti. – Mas...eu preciso de você do meu lado agora, eu me sinto...tão culpado. – O abracei, carinhosamente.
– Também tem um lado desgraçado da minha mente que insiste em dizer que temos culpa, mas, Tro, você sabe que não é assim, não foi você quem terminou tudo, não foi você que foi inseguro e por Deus! Nós não podíamos saber que ele iria aparecer! – Ele riu. – Por isso vamos mandar esses pensamentos pro inferno e quando Quatre acordar, vamos nos concentrar em fazer ele não ficar com muita raiva de nós, certo? – Recebi um aceno positivo. – Talvez ele nos odeie um pouquinho, mas...
vOh, Duo...eu me sinto tão cansado, eu preciso tanto...
– Dele. – Completei, puxando-o para um dos sofás que havia ali e fazendo-o se deitar com a cabeça em minhas coxas. – Tudo vai ficar bem, você verá. – Murmurei, vendo-o dormir quase imediatamente.
Fechei meus olhos, minha cabeça ainda doendo um pouco, mas sentir Trowa perto de mim aliviou uma parcela da dor.
Nós dois estávamos naquela história e permaneceríamos juntos até o fim.
Não importando qual fosse.
Um flash de tudo que aconteceu cruzou minha mente e eu suspirei, cansado.
Queria Heero cantando para mim.
Mas ele estava longe, da forma que tinha que ser.
Eu já havia me humilhado demais enquanto estávamos juntos e o tempo que passei com Trowa serviu para eu aprender a me dar valor.
Não que eu quisesse que Heero corresse atrás de mim, mas muita coisa havia acontecido e eu não podia simplesmente esquecer e recomeçar minha história com ele.
Dormi mal, mas acordei me sentindo um pouco melhor.
Acho que estar perto de Trowa realmente me fazia bem.
– Café? – Sorri ao meu amigo, pegando o copo com o líquido fumegante. – Duo, eu queria agradecer por ter passado a noite aqui comigo, eu sei que...
– Chega. – Era adorável vê-lo meio ruborizado. – Já passamos dessa fase, vamos nos concentrar em Quatre, ok? – Ele assentiu, sentando-se ao meu lado. – Horas?
– Cedo, mas o médico cruzou comigo e me disse que traria notícias logo. – Senti meu estômago embrulhar. – Quatre vai ser transferido para o quarto e nós...poderemos vê-lo.
Essa seria a parte difícil.
Quatre deveria estar...nos odiando.
– Trowa, eu...
– Senhor Barton? Senhor Maxwell? – Quase derramei o café em meu colo quando escutei e voz do médico.
– Sim, somos nós. – Trowa apertou firmemente minha mão.
– O senhor Winner já se encontra no quarto, consciente e gostaria de falar com o senhor... – Olhou em sua prancheta, aumentando ainda mais o suspense. – Senhor Maxwell.
Minhas entranhas ameaçaram se revirar, mas respirei fundo, assentindo.
– Onde ele está? Como está?
– Quarto 205. Ele está bem. Me acompanhem, por favor.
Caminhamos juntos, o silêncio de Trowa me deixando apavorado.
– É aqui. – Meneei a cabeça e ele se foi.
Encarei meu amigo, vendo-o quase sem cor.
Trowa...
– Duo, eu o amo...com todas as minhas forças, não vou suportar se ele...
– Hey, fique calmo. – Estalei um beijo em sua bochecha. – Sente-se, me espere e, por favor, tente se acalmar.
Ele me abraçou com força, quase cortando meu ar, mas eu retribuí.
Na extremidade do corredor, surgiram Wufei e Heero.
Não me soltei do abraço, aproveitando para afagar as costas de meu amigo.
– O que aconteceu, Maxwell? – Me afastei de Trowa, encarando Wufei.
– Vou falar com ele, Fei... fique com Trowa. – Ele se afastou, levando o moreno junto.
Heero me encarou, seus olhos faiscando, mas eu apenas sorri de forma cansada.
– Depois, amor. – Foi só o que eu disse antes de entrar no quarto.
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"Amor"
Era um bom começo.
Me afastei da porta, me voltando para onde Trowa estava.
Eu queria mesmo odiá-lo.
Mas simplesmente não conseguia.
No final das contas, ele não tinha culpa, eu não podia condena-lo. Eu havia abandonado Duo. E pensando nisso eu até acho que tive sorte.
Pelo menos eu sabia que Trowa amava Quatre louca e desesperadamente.
Eu podia comprovar isso pela forma que suas mãos tremiam e seus olhos viajavam do nada para lugar nenhum.
Sentia...pena dele. Definitivamente não deveria ser bom saber que a pessoa amada está atrás de uma porta, machucado e, provavelmente, o odiando.
Me aproximei, sentando-me ao seu lado.
– Yuy. – Wufei me advertiu, mas eu apenas neguei.
Trowa me encarou, olhos nos olhos e eu não podia esperar menos dele. Ele jamais teria medo de mim e isso era uma das coisas que eu admirava nele.
É um fato a se levar em consideração quando metade do planeta tem medo que você saia explodindo coisas por aí.
– Eu sinto muito por tudo isso. – Disse, verdadeiramente.
– Eu sei, vejo a forma que você olha para o Duo. – Tentei esconder minha surpresa. – Ele nunca deixou de te amar, eu lhe asseguro.
– Estava falando de Quatre. – Ele corou, sorrindo em seguida. – Eu não... – Respirei fundo. – Não queria que isso tudo acontecesse, nem com Duo, nem com Quatre...nem com você.
– Entendo, mas, Yuy, não fique assim, Duo é seu, sempre foi. O que tivemos foi...
– Um apoio. – Murmurei. – Eu entendo. – Seu rosto estampou sua surpresa e eu sorri contidamente.
Era difícil arrancar esse tipo de reação dele.
– Mas Duo quer...permanecer ao meu lado enquanto isso tudo não acaba. – Fechei as mãos em punho, querendo socar algo.
– Eu sei. – Praticamente rosnei, me levantando.
Droga! Aquele cara...havia tocado em meu Duo, sentido sua pele, suas curvas...merda!
Eu precisava realmente socar algo.
E a máquina de refrigerante em um dos corredores serviu perfeitamente.
Chutei e soquei a maldita máquina até que metade da segurança estava a minha volta, mas nenhum dos policiais teve coragem de me tocar.
Oh, sim!
Ele é um piloto Gundam, pode querer explodir o maldito hospital!
– Yuy, seu louco dos infernos! – Wufei praticamente me jogou contra a parede.
Respirei fundo, engolindo toda a raiva que ameaçou explodir em forma de uma bela surra naquele chinês petulante.
Mas ele também não tinha culpa, então tudo que fiz foi lançar um olhar mortal a todos que estavam em volta, até que sobrássemos somente Chang e eu no corredor.
– Droga, Yuy! Controle-se! Para de agir como um estúpido adolescente ciumento! – Aturei o pequeno puxão de orelha e me ergui, levemente contrariado e com muita vontade de explodir algo. – Você pode, por um maldito segundo, se colocar no lugar deles?
– Tudo bem, Wufei, já entendi. – Ajeitei a gola da camisa. – Só precisava extravasar.
– Vá explodir alguma maldita base abandonada, não uma máquina de refrigerante. – Sufoquei um sorriso, não querendo deixa-lo ver que tinha ganhado a discussão.
Com minha dignidade um pouco rebaixada pela bronca daquele chinês, voltei a me sentar perto de Trowa, esperando o momento que a porta se abrisse e Duo saltasse nos braços e Quatre nos de Trowa.
Seria perfeito.
Mas claro que não aconteceria.
Fiquei lá sentado, fazendo todos os exercícios mentais possíveis para controlar meu estresse.
Ou teria que socar mais algumas coisas.
Continua...
/Se escondendo/
Ok...ok...a conversa do Duo com o Quatre ficou pro próximo cap, mas não temam! Logo eu posterei o último cap!
Meus agradecimentos a Litha-chan, MaiMai, Hina (que bom que vc surgiu huh?), Darksoul, BelaYoukai, Sakuya! Muito, muito obrigada mesmo! Cs não sabem como tava roendo as unhas com medo desse fic!
Ah...Vovó Evil e Celly, cs merecem agradecimentos especiais e super abraços por serem tão fofas! Ah...Ju, vc tb!Bjus!
Bjus a todos!
Quanto mais comentários, mais rápido vem o próximo cap, huh?
