Retratação: Gundam Wing, Duo e Heero não me pertencem...infelizmente. Se assim fosse, faria mais atrocidades deliciosas com eles do que descrevo nessa fic.
Agradecimentos: Bom, à Juzinha, que adora o casal, à Arsinoe que me viciou ainda mais por conta das maravilhas que escreve e à Pipe e à Lili por estalarem o chicote atrás de mim quando eu disse que estava com preguiça!
Recadinho: essa fic é uma resposta ao pedido da Ju por uma fic com o casalzinho. Como sempre, nada pode ser apenas simples vindo de mim. Então, Ju...vou tentar atender ao seu pedido da melhor maneira possível! Desde já vou avisando que eu te adoro, tá?
Amor Em Três Atos
Ato 1 – O Encontro:
A mansão de Quatre parecia estranhamente maior do que sempre fora e por alguns segundos pensei em não entrar ali. Eram muitas as lembranças, especialmente naqueles dias frios do inverno quase que cortante. Dei as costas para o portão gradeado alto e acendi um cigarro.
A nicotina fazia mal aos meus pulmões, mas bem ao meu cérebro, que, enevoado pela fumaça, me permitia não pensar no motivo pelo qual ainda estava ali. Dei dois passos em direção a calçada, tencionando a fazer o que já era esperado de mim, ir embora; mas uma voz conhecida me chamou, para minha infelicidade.
Nunca tive sorte com essas coisas.
— Senhor Yuy, me desculpe. Espero que não tenha ficado aqui fora por muito tempo.
— Não, Adam. Estava pensando em ir embora.
— Por favor, não pense nisso. –o senhor disse, abrindo o pesado portão com a ajuda de um pequeno controle remoto. — O senhor Winner nunca me perdoaria se o deixasse partir.
Bufei, inconformado. Quatre e aquela mania insuportável de saber como eu era, provavelmente havia mandado o pobre mordomo ficar na frente do portão até que eu chegasse, para que não tivesse nenhuma desculpa para ir embora. Definitivamente, precisava cortar aqueles laços com ele.
Aliás, com todos eles.
Nunca gostei daquela mansão, ela era grande demais, diferente demais. E naquele dia parecia ainda pior, vários carros estavam parados à frente da casa principal, descarregando caixas e flores.
Franzi a testa e parei de andar por alguns segundos. O mordomo, percebendo o que havia feito, colocou amigavelmente a mão sobre meu ombro. Olhei-o por alguns segundos, esperando que me dissesse alguma coisa. Nunca falhava aquele tipo de intimidação silenciosa.
— O senhor deverá entrar pela cozinha, está tudo muito desarrumado na entrada, me perdoe mais uma vez.
— Adam, o que está acontecendo aqui? –perguntei, não gostando da sensação estranha que estava me subindo pela espinha. Era patético, eu, um grande soldado, aliás, O soldado, receoso porque a entrada da mansão de Quatre estava obstruída.
Notei que o homem empalideceu diante do meu tom de voz frio. Ele não me disse nada, apenas manifestou-se com um aceno de um dos braços, indicando a entrada lateral da casa, onde eu sabia que seria levado direto à cozinha.
O lugar estava apinhado de mais caixas e pensei se por um acaso Quatre estava pretendendo fazer uma festa. Sabia que as comemorações dos Winner eram notórias, mas naquele dia, quando completava cinco anos que Relena havia morrido, uma festa era absolutamente descabido, para não dizer mórbido.
Sentei-me em um dos banquinhos de ferro em volta da bancada de mármore polido e resolvi abrir uma das caixas. A voz do meu amigo loiro impediu que eu prosseguisse; como sempre, ele chegava nas horas mais importantes.
— Heero! Você veio! Ótimo trabalho, Adam, não deixou ele escapar. Venha, meu amigo, venha. –ele disse, com sua voz doce, porém firme, segurando minha mão, levando-me a outro cômodo da casa.
Ainda tive tempo de olhar para trás e ver Adam ordenar algo às empregadas que acabavam de entrar na cozinha. Imediatamente elas se puseram a desfazer as caixas, mas não consegui reparar o que era aquilo.
Quatre me levou até a biblioteca, eu sabia bem aquele caminho. Não trocamos nenhuma palavra, mas podia perceber que a mão do árabe estava ligeiramente trêmula e só então lembrei-me que quando ele falava rapidamente sobre tudo e nada, era um sinal de que estava nervoso. Por que aquela aura de mistério estava no ar?
— O que está acontecendo, Winner? –perguntei, aquele joguinho monossilábico me enervando aos extremos.
Quatre não me respondeu, apenas abriu a porta e me convidou a entrar. Assim que o fiz, ele fechou a porta e pude identificar, sentados nas poltronas confortáveis, de couro bordô, Trowa e Wufei. Ambos estavam com as expressões fechadas, como se tivessem notícias ruins a serem transmitidas. Notei a ausência de Duo, mas aquilo era comum.
Sentei-me em uma das poltronas, esperando que Quatre viesse a nosso encontro, o que não demorou a acontecer. Ele sentou-se ao lado de Trowa, que o abraçou possessivamente e ficamos todos em silêncio, apenas observando-nos.
— Maxwell faltou ao encontro feliz? –perguntei, nem sei ao certo porquê me importava com a presença dele ali; acho que apenas precisava falar alguma coisa para acabar com aquele silêncio ridículo.
Quatre e Trowa olharam-se, apreensivos. Wufei começou a estalar os dedos e, mesmo que não o olhasse, sabia que ele estava nervoso. Aquilo era patético. Quando eles não me responderam, lembrei de algo que havia recebido pelo correio dois dias antes, o motivo pelo qual estava ali.
— Alguém pode me explicar o motivo disso aqui? –disse, jogando o envelope azul com o brasão dos Winner em cima da mesa. Todos olharam para o pedaço de papel amassado e Trowa foi o primeiro a fitar Quatre.
— Você mandou uma carta a ele.
— O que esperava que eu fizesse? Ele não iria vir aqui conscientemente. –o loiro respondeu, na defensiva.
— Casalzinho, briguem depois. Qual o motivo da carta, me intimando a vir até aqui, justamente hoje, quando vocês sabem que eu...eu preferia estar em casa.
Os dois pararam de falar para me observar. Quatre estava visivelmente envergonhado pelo que havia feito, Trowa o observava e Wufei...bem, Wufei havia levantando da poltrona e caminhava na minha direção.
— Sentimos pelo seu dia, Heero. Mas Duo vai se casar hoje.
Temporariamente desprovido das minhas já conhecidas defesas, meu mundo ruiu.
Duo sempre fora meu melhor amigo, esteve ao meu lado durante todos os momentos mais importantes, ajudou a curar meus ferimentos, a ouvir meus lamentos silenciosos, a fazer piadas quando necessário. Ele foi o primeiro a saber do meu casamento com Relena, assim como sua morte. Ele foi o primeiro a segurar o caixão dela no dia do sepultamento.
Por que resolvera agir daquela maneira, traindo-me daquele jeito?
— Aonde ele está? – perguntei para nenhum dos presentes em especial e nenhum deles me respondeu. "Covardes...", pensei em um primeiro instante.
— Heero, nós queremos que você...
A voz suave de Quatre não refreou minha vontade de estapear Duo, muito pelo contrário, me fez sentir-se um animal enjaulado, o soldado que costumara ser, perfeito, frio, impetuoso.
— Aonde ele está? E não minta pra mim, Quatre.
O árabe suspirou profundamente, visivelmente receoso do que eu poderia fazer com seu melhor amigo. Queria poder dizer a ele para não se preocupar, que nunca faria nada de ruim a Duo, que não conseguiria encostar um dedo sequer no meu melhor amigo, mas já não tinha certeza daquilo.
— No segundo andar. –ele respondeu, fracamente. — Na última porta do corredor, à esquerda.
Não esperei que falassem qualquer coisa, rapidamente abri a porta e subi as escadas, quase derrubando uma mulher que atravessou meu caminho com uma enorme caixa que exalava um perfume conhecido. "Rosas...as preferidas de Duo...".
A porta indicada por Quatre estava entreaberta e eu entrei sem cerimônias, porém, silencioso. Duo estava de costas para a entrada, vestido apenas com uma bermuda verde musgo. Não pude deixar de notar a enorme cicatriz no meio das costas, resultado de uma briga estúpida que tivemos, onde eu o empurrei de encontro a um armário. O resultado havia sido pior do que a tal briga e nunca mais encostara a mão nele. Mas não estava ali para me lembrar do passado, aquilo só me trazia raiva e arrependimento.
Olhei para a cama, onde dezenas de camisas e um belo fraque preto estavam dispostos, como se a espera da escolha de Duo. Ele realmente iria fazer aquilo, trair-me daquela maneira vil, justamente no dia em que mais precisava, mesmo não admitindo, dos meus amigos perto de mim. Dele perto de mim.
Um patético soluço preso na minha garganta escapou pela minha falta de costume com as lágrimas. Depois da morte de Relena, nada mais conseguia me emocionar, me fazer entregar-me. Era tão injusto que justamente aquele que sempre me ajudara, estava me traindo. Quando percebi, os olhos violeta, tão expressivos, me fitavam de maneira curiosa. Ele não esperava a minha presença ali. Ótimo, pensei por um momento.
— Heero? O que faz aqui? –ele perguntou-me, procurando uma das camisas na cama e cobrindo o peito, como uma virgem tímida. Tive vontade de rir, Duo sempre fora encanado com seu corpo.
— Não me convidou para o casamento. O que aconteceu? –perguntei, irônico, querendo, na verdade, sacudi-lo pelos ombros e perguntar o motivo de toda aquela palhaçada.
Duo desviou dos meus olhos e voltou a fitar a janela. Os cabelos, presos em um rabo de cavalo, estavam mais brilhantes que de costume e eu tive uma vontade súbita de passar a mão por eles, mas controlei-me. Esperava explicações e quando ele não as fez, comecei a me irritar.
— O sempre tão falante Duo Maxwell resolve se calar diante de uma pergunta tão simples?
O silêncio dele me tirava do sério, o que havia acontecido com ele? O Duo que conhecia daria tudo para ter a última palavra, empinar o nariz arrebitado como o dono da verdade.
— Não é tão simples quanto parece, Heero. –a voz dele saiu estranhamente baixa e controlada e aquilo fez com que me aproximasse.
— Parece estupidamente simples para mim, Maxwell. Um casamento. No dia em que Relena morreu. Isso é bem simples para mim. Qual o propósito? Me ferir? Conseguiu. Missão concluída. –disse, secamente, esperando que ele negasse tudo, que dissesse que havia sido um engano. Qualquer coisa que me fizesse deslanchar o veneno que tinha dentro de mim.
— O mundo não gira em torno de você, Heero. –ele continuava a falar baixo e aquilo me irritou profundamente, a ponto de segura-lo pelos ombros, fazendo-o me olhar.
— Explique-se, Maxwell.
Subitamente, o brilho violeta já conhecido apareceu nos olhos de Duo e eu tive uma ponta de esperança em encontrar respostas. Mas ele simplesmente balançou os braços, desgrudando minhas mãos deles.
— Pare de me chamar de Maxwell. Não estamos na maldita base, nem somos malditos soldados. Não lhe devo satisfações. Aliás, o que está fazendo aqui?
Espere um minuto. Desde quando ele simplesmente levanta a voz pra mim? Desde sempre, mecanicamente respondi a minha pergunta idiota. Aquele era Duo Maxwell, ele sempre me responderia, não importava o quanto eu o ameaçasse com meus olhares mais frios e sombrios.
— Quatre. –respondi, sabendo que ele entenderia.
Estava certo. Os olhos de Duo ficaram mais escuros, aproximando-se do tom negro que muitos temiam, a tonalidade que o aproximava de seu conhecido nome, o Deus da Morte.
— Ele não tinha esse direito.
— E você tinha?
A expressão confusa dele foi uma pequena vitória. Antes que ele fizesse perguntas, continuei minha linha de raciocínio.
— Você tinha direito de casar-se nesse dia?
O sorriso dele, amargo, me desconcertou por dois segundos, tempo o suficiente para que seus olhos fugissem dos meus novamente. De alguma maneira oculta aquilo me incomodava, não gostava quando Duo se fechava para mim.
— Não tenho culpa se sua mulher morreu nesse dia. –ele começou, frio como o aço e perguntei-me se ele estava a brincar comigo, tentando imitar-me. —Nem todas as coisas que acontecem são uma afronta a você, Heero. Gostaria que fosse embora, e deixasse meu casamento ocorrer em paz.
— Você não vai se casar hoje! Vai me dizer o motivo pelo qual quer fazer isso! O que eu te fiz? –por Deus, por que aquele americano me desafiava?
Ele voltou a olhar-me, predador, dessa vez, o violeta havia voltado, mais intenso, mais iluminado, mais...vivo? Sim, Duo estava vivo pela primeira vez desde que eu entrara no quarto. Ele caminhou em minha direção e inconscientemente, dei um passo para trás. Mal percebi e só o fiz quando estava preso entre o americano e a porta do quarto.
— Maxwell... –eu disse, em um sussurro, enquanto seus olhos ainda esquadrinhavam meu rosto.
— Por deus, me chame de Duo ou cale a boca de uma vez. –ele murmurou, não me deixando falar mais nada, tomando a atitude mais bizarra que alguém já havia tomado. Pelo menos na minha presença.
Duo Maxwell me beijou. Grudou os lábios nos meus, em um misto de vontade de calar-me com outra coisa que eu não queria saber o que era. As mãos dele prenderam meus pulsos de cada lado do meu corpo e eu não pude fazer nada. Pela primeira vez fui beijado por um homem, um amigo, alguém que devotava minha total confiança.
E estava gostando.
Poderia colocar a culpa na carência, na insanidade, na situação. Deus, poderia colocar a culpa em Quatre naquele momento, mas sabia que seria apenas enganar-me. Havia algo naquele beijo, tão sagrado e secreto, que me dizia que era o que eu queria, o que precisava.
Abri meus lábios, em um pedido mudo para que a boca de Duo aprofundasse o beijo, para que a língua dele tocasse a minha. Não me decepcionei, a carne morna massageando a minha como dedos em meus cabelos. Só então percebi que era isso o que ele fazia, desgrenhava meus fios marrons com suas mãos, que já haviam largado meus pulsos. Rapidamente, porém, timidamente, pousei minhas próprias mãos em seus quadris, aproximando o corpo esguio para perto do meu.
Aquilo pareceu acorda-lo de seu devaneio ou o que quer que ele quisesse colocar nome no que havia acontecido naqueles poucos minutos e ele soltou-se de mim, abruptamente. Senti-me frio, como há muito tempo não me sentia. Desde que Relena morrera, podia me lembrar. Mas por que diabos lembrava sempre dela naqueles momentos? Quando o que mais queria era sentir os lábios de Duo novamente? Deus, de onde saiu esse último pensamento? Acho que enlouqueci, por favor, me diga que enlouqueci.
— Vá embora. Isso foi um erro. Me perdoe.
A voz seca e atípica de Duo me chocou e me vi querendo aproximar-me do corpo que agora olhava pela janela, tão fechado, tão absorto de qualquer coisa que pudesse dizer.
— Maxw...Duo. –corrigi-me. —O que...
— Não importa, apenas vá. Melissa vai chegar em breve e ainda temos muito o que preparar para o casamento.
Casamento? Mas não haveria nenhum casamento ali, não mesmo. Ou eu não me chamava Heero Yuy. Pensei em questiona-lo novamente, mas a mesma voz firme continuou a falar. Só então percebi que ele se desculpava.
— Assim que ela chegar, eu irei comunica-la que nos casaremos amanhã. E você está convidado. Agora vá, por favor.
Catatônico, pela primeira vez, abri a porta e saí. Somente quando fechei a porta e ouvi a mesma ser trancada pelo lado de dentro por Duo, que respirei, tentando entender o que havia acabado de acontecer naquele curto espaço de tempo.
Duo iria casar-se no dia seguinte. E ele havia me beijado. E eu havia correspondido. E gostado. Desde quando havíamos ido parar em uma dimensão paralela e por que ninguém me avisou?
Continua...
Bom, pessoal, espero que gostem. Mais uma vez, agradecendo às meninas que me aturaram com essa fic nas últimas semanas, no MSN. E sim, comentários são tão bem vindos quanto ver os cabelos do Duo soltos ao vento e um sorriso satisfeito do Heero!
