Retratação: CDZ não me pertence. Mas a tia Irina sim!


Roda-viva
Por Lola Spixii

Capítulo 3 – Sem despedidas

– O Grande Mestre está meditando, Cavaleiro – lhe dizia a voz melodiosa e límpida.

– Eu preciso falar com ele, é urgente...

– Nada posso fazer para impedi-lo de entrar, seu poder lhe foi conferido por Athena, que à mim apenas entregou o conhecimento das ervas e dos ungüentos. – a sacerdotisa de longos cabelos castanhos apontou com os olhos para a bandeja de prata que trazia, recoberta de folhas e pétalas das mais variadas flores, com as quais prepararia os chás que o Mestre deveria tomar durante o transe.

Impetuoso como era, Aioros logo se precipitou em direção à entrada do Salão de Meditação de Shion. Porém, antes que conseguisse atravessar o arco de mármore que delimitava a área proibida, foi abordado por Mu, que apareceu misteriosamente na sua frente.

– Aioros, o que está pensando em fazer?

– Mu, eu tenho que falar com o Mestre.

– Não pode interrompe-lo.

– Não tente me impedir, eu não quero machucar você.

– Eu também não.

Mu falava em um tom firme, mas longe de ser ameaçador. Apesar disso conseguiu fazer com que Aioros retomasse, um pouco que fosse, a razão. Era uma loucura, verdadeiro suicídio, atrapalhar a concentração de Shion.

– Saga... – disse por fim, diminuindo um pouco a tensão da face.

– O que tem Saga?

– Desapareceu, Mu.

– Desapareceu?

– Sim, desapareceu, sumiu... – Aioros demonstrava impaciência frente à aparente calma de Mu – Há mais de uma semana...

– Você já o pr...

– Em todos os lugares.

– E a armadura?

– Também não...

Mu ficou em silêncio avaliando a situação. Em hipótese alguma permitiria que Aioros entrasse na sala. Não devia ser à toa que seu Mestre precisava ficar totalmente isolado dos demais Cavaleiros, sendo alimentado, banhado e cuidado por uma meia dúzia de sacerdotisas durante o transe. Certa vez Shion lhe disse que o acúmulo de energia ao redor dele durante a meditação era tão intenso que qualquer mínima perda de concentração nesses momentos poderia causar uma explosão devastadora.

– Sabe que entrar nessa sala agora pode significar a morte de todos nós.

– Eu sei, Mu – Aioros respondeu, derrotado pelo bom-senso do jovem ariano.

– Então não faça besteiras.

– Desculpe... Mas, o que faremos quanto ao Saga?

Mu ficou novamente pensativo, sumir com a armadura só poderia ter um único significado, Saga era um desertor. Mas não seria capaz de dizer isso para Aioros. Ele certamente perderia o fio de controle que o mantinha do lado de fora da sala onde Shion meditava e logo o Santuário iria pelos ares. Além disso também lhe soava muitíssimo estranha a deserção de Saga, justo dele, sempre tão correto, sempre tão dedicado.

– Vamos procura-lo.

– Eu já o procurei, Mu, em todos os lugares.

– Vamos procurar novamente.

– Talvez o Mestre Shion o tenha enviado para alguma missão... Você não sabe de nada? – havia uma pontinha de esperança naquela voz, e Mu sentiu-se um tirano por ter de dissipa-la.

Óbvio que Shion não enviaria um dos mais poderosos Cavaleiros de Ouro para uma missão fora do Santuário justamente durante a sua meditação, o momento em que o Santuário ficava mais desprotegido.

– Não, não sei de nada... Vamos, eu vou tentar descobrir algo aqui nas 12 Casas e você vai para a parte baixa – conscientemente enviou Aioros para longe do Templo do Grande Mestre.

– E se nós não o encontrarmos...?

– Depois pensamos nisso.

Enquanto Aioros desceu rapidamente por um atalho em direção à Vila, Mu se encaminhou com passos curtos em direção ao 12o Templo.

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Entrou em Peixes receoso, Afrodite nunca chegou a ser um desafeto, mas também passava longe, muito longe de se darem bem, principalmente depois do incidente com Camus. Como intuitivamente esperava, o sueco não estava sozinho. Antes que Mu efetivamente entrasse no Templo, Afrodite se dirigiu à ele.

– Boa tarde, Mu.

O ariano não conseguiu responder, avistou Miro que, do outro lado do grande salão, imediatamente abaixou a cabeça, encolhendo-se mais em seu canto.

– Você viu o Saga recentemente?

– Saga? – Afrodite tentava demonstrar naturalidade – A última vez que eu o vi... – ele falava pausadamente, como querendo fazer aquele momento de desconforto durar o máximo de tempo possível.

Mu o encarava com desdém, o sadismo dele era tão evidente, aquela situação o divertia, não tinha dúvida.

– Quando foi? – perdeu a paciência.

– Você se lembra, Miro? Acho que faz mais de uma semana, nós o vimos descendo com o Camus... – exibiu um petulante olhar de vitória quando tocou no nome do aquariano.

Miro saiu imediatamente do Salão onde estavam, fincando os calcanhares com tanta força no chão que parecia querer quebra-lo, ou o calcanhar ou o piso de Peixes. Mu também saiu logo em seguida, sem dizer mais nada.

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– Camus?

– Mu. – o aquariano estava debruçado sobre uma pilha de cadernos e pareceu se assustar levemente com a entrada do outro, fechando rapidamente um livro, como se quisesse esconder algo.

– Como está?

Camus achou a pergunta um tanto incômoda, mas respondeu, educada e desinteressadamente.

– Bem.

– Não o tenho visto...

– Ando muito ocupado com algumas leituras. – aproveitou para fechar e esconder mais alguns livros – Aliás...

Conhecia bem o aquariano, os dois foram criados praticamente como irmãos por Shion e isso lhes rendeu um afastamento quase completo dos demais aprendizes. Apesar disso, sabia que não fora a falta de opção que fizera com que Camus se tornasse seu amigo. Era inusitado que alguém como ele tivesse um lema de vida tão de quinta categoria, mas o aquariano aplicava o "antes só que mal acompanhado" com absoluta devoção. Isso dava um grande valor à cada momento que ele se fazia acessível, à cada pessoa desse seleto grupo...

E Mu sabia que aquela não era uma das reclusões voluntárias a que ele se submetia regularmente, não era fruto das suas tão freqüentes oscilações de humor, nem tampouco aquela apatia profunda podia ser comparada às horas que ele costumava perder olhando para o nada quando, por motivos desconhecidos, um brilho de melancolia lhe iluminava o olhar... Será que algum dia teriam Camus de Aquário de volta?

Miro fora, realmente, muito infeliz em sua barganha...

– Não quero te atrapalhar, – disse Mu passando os olhos sobre a mesa apinhada de papéis – vim até aqui apenas para te perguntar se você esteve com Saga recentemente.

Ele apenas arqueou as sobrancelhas, devolvendo, com aquele silêncio arredio outra pergunta: "por que quer saber?".

– Parece que já faz mais de uma semana que ele não é visto no Santuário...

Camus desviou um pouco o olhar de Mu, vasculhando mentalmente os seus últimos dias, logo encontrando Saga.

– Sim, estivemos juntos semana passada.

Estava deitado no sofá, os cadernos que Shion lhe entregara há cerca de 15 dias haviam sido abertos e vasculhados sem a atenção necessária, mas suficiente para perceber que realmente se tratavam de cadernos de anotações sobre a bendita carta. Culpava-se por cada dia que havia passado sem se concentrar naqueles manuscritos mas, estranhamente, essa culpa não se convertia em uma mudança de atitude. Percebeu a aproximação de Saga, do alto do seu orgulho não queria que ele percebesse seu abatimento. Levantou e esperou sentado a entrada do Cavaleiro.

– Olá, Camus.

– Boa tarde, Saga.

Levantou-se definitivamente, indo em direção à cozinha, tentando, ao mesmo tempo, demonstrar-se ativo e afastar o outro de si. Foi em vão, Saga o seguiu.

– Eu estou indo até a cidade...

– Eu não quero conversar, Saga – foi direto.

– Tudo bem... Não precisa... Mas... Na verdade, eu queria pedir a sua ajuda... – o aquariano era prestativo, pedir a ajuda dele era uma boa forma de conseguir a sua atenção e isso era tudo o que Saga realmente queria.

– Pra quê? – como esperado, ele se interessou.

– Tomei conhecimento de uma relíquia nossa que está sendo vendida em um antiquário no centro de Atenas. Uma adaga dourada que, ao que parece, foi roubada daqui no século passado.

Saga nascera no Santuário, tinha verdadeiro amor por tudo naquele lugar, recuperar objetos perdidos ou roubados era um tipo de hobbie a que ele se dedicava com paixão.

– É uma relíquia valiosíssima, eu andei pesquisando em alguns volumes da biblioteca. Estivera nas mãos de Athena durante a última Guerra Santa.

– E para quê precisa de mim?

– Está sendo vendida por uma pequena fortuna, Camus. Terei mais confiança para tomar qualquer decisão se tiver com quem trocar impressões. Sei que é observador e detalhista, e que tem conhecimento teórico para me ajudar.

Camus ficou pensativo, Saga sempre se incumbia desses resgates, tinha muito mais experiência do que ele com as relíquias do Santuário. Além disso tinha os manuscritos de Aurus, precisava afundar-se naqueles cadernos o quanto antes...

– Está certo, vamos.

– Concluímos que não era uma cópia e ele a comprou, realmente belíssima... e muito cara, toda em ouro, com pedras incrustadas... Eu fiquei aqui em Aquário e ele continuou, disse que a levaria direto para o Mestre Shion.

– A armadura dele também desapareceu, Camus.

– Saga não desertaria.

– Eu também acho que não, mas...

– Mas...?

– Não sei... – Mu suspirou profundamente – Vou continuar descendo, talvez tudo não passe de um mal-entendido.

– Quando termina a meditação do Mestre Shion?

– Daqui há uns 3 ou 4 dias.

– Acha que ele poderá esclarecer algo?

– Espero que sim.

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Era mais uma tarde que a tia Irina passava na máquina, e Natássia fazia de tudo para que aquelas 4 horas corressem o mais rápido possível. Era uma rotina terrível mas só a diálise poderia prolongar a vida dela. Lia um conto de Tolstoi, "A tortura da carne", empregando dramaticidade exagerada à voz, o que divertia a tia.

"Lembrou-se de que tinha lido algures a história dum velho que, para fugir à sedução duma mulher sobre a qual devia colocar a mão direita, a fim de a curar, punha, no entanto, a esquerda por cima de uma fogueira. «Sim, estou disposto a queimar a mão, mas não quero sucumbir». Olhando à volta de si e vendo que se encontrava só no quarto, acendeu um fósforo e chegou-o aos dedos. Bem, agora pensa nela, disse com ironia. Mas, sentindo queimar-se, retirou os dedos e atirou para o chão o fósforo, acabando por se rir de si mesmo.(...)"

– Coitado! – a tia disse, com certo pesar na voz.

– Sim, o pior cobrador que se pode ter é si mesmo...

A conversa teria continuado à partir dali caso tia Irina não tivesse emitido um gemido de dor, levando a mão às costas, o que imediatamente mobilizou a sobrinha em ajudar a reconfortar-se.

Ela muito pouco reclamava das dores nos rins, apesar de ter se tornado uma constante durante a semana que antecedeu o início do tratamento com diálise. Natássia às vezes reparava em como o rosto dela se contorcia e só começou a imaginar que era por causa de dores mal-disfarçadas quando algumas pontadas acabavam sendo verbalizadas em ais. E foi com grande custo que conseguiu arrancar dela o motivo de tais ais.

Comentou com Serge e resolveram ligar para o médico. Já era esperado que a infecção nos olhos se espalhasse para outros órgãos, mas ir direto para os rins era o que de pior poderia acontecer, promessa de uma morte dolorosa e lenta.

O médico, depois de passar curtos 15 minutos sozinho com a paciente no quarto, informou à Natássia suas conclusões. Além das dores que sentia nos rins e a ardência ao urinar, a senhora apresentava uma coloração amarelada na pele, típica de disfunção renal. Precisaria realizar uma bateria de exames para definir o quanto o funcionamento dos rins estava comprometido e se a causa era realmente a Síndrome.

Se Irina fosse uma paciente normal, a encaminharia direto para a fila de transplantes, que andava relativamente rápido, mas ela jamais resistiria à uma cirurgia daquele porte. Tentaria minimizar os efeitos do não funcionamento dos rins com a adoção de uma dieta rígida e da administração de medicamentos. Porém, foi categórico ao afirmar que tudo isso, certamente, não resolveria o problema e que, nesse caso, apenas a diálise poderia prolongar um pouco a vida dela.

Natássia, apesar de ter tentado manter o otimismo frente às palavras duras do médico, sabia que não devia encarar a doença da tia como um mal passageiro, ela morreria em breve. Dois dias depois da consulta foram ao hospital para que ela fizesse os exames, e levou mais dois dias para que saíssem os resultados, confirmando os prognósticos menos animadores.

Aquela era terceira sessão que Irina fazia, ainda na primeira semana. Ambas faziam um esforço, quase sobre-humano, para não demonstrar abatimento. Ambas tinham certeza que logo toda aquela angústia chegaria ao fim.


Olá!

Mas que bando de leitoras volúveis eu tenho! Primeiro todo mundo ficou do lado do Camyu, depois todas correram para o Milucho. Não posso confiar em vocês! ;-)

Bem, vamos às reviews:

Luly, sim, unamo-nos todas! Futuramente eu pretendo explorar melhor o relacionamento (ou a falta de) que o Camus teve com o pai e com a mãe. Espero que continue acompanhando!

Carola, não acredito que esse blefe barato do Afrodite te convenceu! Já disse e repito, sem medo de ser feliz, o Camyu AMA o Milucho! Quanto àquele lance que estávamos conversando outro dia sobre a questão Shion-Saga-Ares, tenho certeza que vou te convencer de que a minha versão é infinitamente melhor que a original! Hehehe.

Calíope, realmente, teria sido a maior coincidência do mundo se o Kurumada não tivesse se inspirado no Albert Camus para compor o Camyu, e como coincidências não existem... E pode ficar tranquila que, em breve, o mistério acerca da carta será desvendado, ou parcialmente desvendado! Ah, e a Natássia é a mama do Hyoga, sim.

Sini, obrigadíssima pelos elogios! A minha idéia é fazer da fic um quebra-cabeças, uma roda-viva mesmo, bom que esteja gostando! Quanto ao meu presente de aniversário Lola é a mais cara-de-pau do mundo, só faz aniversário em janeiro e já está mendigando presente, ainda estou pensando... hehehe.

E quanto à você, Renata Verlaine, só te perdôo por que me emprestou a Saga de Hades! Aliás, Shion e Dohko forever!

Bjinhos!

(Maio de 2005)