Obrigada pelas reviews; acho mesmo que vou começar a avisar minhas leitoras de quando eu atualizo, por que o site não tá fazendo isso. Esse é o último episódio, não foi uma fic muito longa por que assunto de negociação não tem muito o que falar. Agradeço os comentários e fico feliz que estejam lendo.
"Você está negociando comigo, tem que me manter calmo, já esqueceu?" – Chad queria tirar Boscorelli do sério de qualquer maneira.
"Você sabe que nós somos treinados para não entregar as armas em hipótese alguma. Eu não vou fazer isso." – Boscorelli estava sério, parecia Ter retomado a concentração em pouco tempo. Sullivan se sentia mais aliviado.
O ar do lugar era tenso, a tarde já tinha acabado e a noite estava escura. De onde estava Sullivan podia ver as luzes das sirenes, azuis e vermelhas do lado de fora da janela, assim como um ou outro vizinho do prédio em frente, que vez ou outra punham as cabeças para fora para ver o que estava acontecendo.
"Elas vão morrer por sua causa." – Chad dizia isso com ironia e sua voz já denotava que ele não estava mais no controle de suas ações.
"De onde eu estou posso fazer um terceiro furo no meio dos seus olhos!" – Bosco retrucou sério.
"E por que não faz?"
"Não quero que isso termine assim. Você sabe. Eu sei, Sua irmã sabe, todo mundo sabe que não tem que ser assim. Me diz, Chad... o que você quer prá terminar com isso?" – Bosco estava suplicando.
"Sabe..." – começou Sullivan, levantando a cabeça e olhando para o céu que começava a ficar cada vez mais estrelado e escuro – "Naquela hora eu não sabia o que fazer... quando ele ameaçou o sujeito eu pensei que ele tinha ficado louco, mas não aconteceu nada."
Cristian observava como o outro evitava chegar logo ao desfecho daquela situação. Realmente não poderia ser muito bom.
"Eu olhei prá ele com um respeito novo, sabe. Tudo o que eu já tinha visto e ouvido sobre as atitudes dele faziam pleno sentido. Ele tinha quase uma neurose em treinar sempre com a mesma arma, limpar, lustrar, checar sempre... como a Faith sempre dizia, ele tratava a arma melhor do que tratava as namoradas dele."
Olhou para o enfermeiro que o acompanhava.
"Não está cansado de ouvir essa história?" – questionou como se esperasse um 'sim' como resposta, evitando que ele chegasse ao trágico desfecho.
"Não senhor." – respondeu o rapaz. Cristian sabia que ele não queria terminar, mas ficara realmente curioso sobre o fim de tudo. Sabia que o policial ia morrer, porque Sullivan tinha dito que foi parceiro dele no dia em que morreu, mas queria saber o que foi feito dos outros.
"Bom... Ele tinha essa atitude estranha, não era coisa de um policial normal. Muito menos aquele gosto pelo perigo, que só as forças armadas podem dar; a atitude durante as invasões e tiroteios, nada era motivo prá ele não participar. Me lembrava muito de mim, no começo. Acho que é por isso que nunca nos demos bem, ele se deu bem onde eu falhei. O sistema não derrubou ele." – Sullivan olhou com carinho para o marco, antes de continuar:
"Isso me lembra um dia em que tivemos um tiroteio entre uma gangue e os comparsas de um mafioso ucraniano, Schevchenko. O mesmo que matou minha esposa, Tatiana. Eu estava dentro do restaurante e não vi nada, só me lembro dos outros falando de como ele correu como um louco no meio do fogo cruzado, prá atrair a atenção dos caras e dar alguma chance de alguém fazer alguma coisa. Acho que ele fazia tudo isso por um pouco de culpa também. Durante as trocas de tiros ele era sempre o sujeito mais racional."
"Deve ser apavorante, quer dizer, todo aquele barulho. O trabalho da polícia não é fácil." – constatou Cristian. Era como se todas aquelas cenas de filmes de guerra viessem à sua mente, e ele sabia que o que elas pareciam ser, não eram um terço da realidade.
"Não, não é. Realmente, até os mais experientes ficavam moles quando tudo acabava. E então, quando acabava, muitas vezes eu o via sentado em algum canto, ou coisa assim, sempre sozinho. Sempre triste, mas acho que ninguém nunca se perguntou o porquê. Só naquele dia eu soube... ele tinha visto aquilo tudo e provavelmente estava se remoendo nas lembranças, sendo corroído pelo passado. Lá dentro... o tempo se arrastava. Cada minuto era uma eternidade."
"Você não vai fugir, Maurice. Vai Ter que decidir quem vive e quem morre agora, assim como todo dia. Ou vai me dizer que você nunca mais matou ninguém desde então?" – Chad estava retomando a compostura também. Aquilo era como um mortal jogo de xadrez, cada movimento podia custar uma partida, mas o preço do descuido era caro."Agora é deferente, Chad." – O policial tentava mudar de assunto outra vez. Tinha que dar corda para ele, e foi quando percebeu, finalmente que o tático não estava em ação, quando Sullivan fez um pequeno sinal, visto pelo canto do olho.
"Não é, não! Pessoas morrem do mesmo jeito. Eu sei que você não pensa duas vezes antes de puxar o gatilho..."
"Agora eu tenho tempo de me certificar de que estou atirando em quem realmente merece." – Lá se ia a paciência novamente.
" Claro! Como o caso daquela mulher? Você a abateu como se ela fosse um animal!" – Chad tentava fazê-lo se descontrolar outra vez.
"Não vou ficar me justificando prá você! Já disse que eu não tive escolha!" – Novamente aquele assunto, era demais prá ele aguentar a pior lembrança de sua vida.
Sullivan observava o outro começar a perder o controle da situação. A conversa estava despertando lembranças que qualquer um tentaria esquecer. Olhou para o parceiro mais uma vez.
Sullivan estava arcado sobre as costas, enquanto deslizava os dedos sobre a grama. Era como se anos de sofrimento caíssem como pedras sobre seus ombros. Cristian o observou respirar fundo.
"Sabe, Cristian, a vida não é como nos filmes, onde o bandido se ferra e os mocinhos ganham beijo da donzela, e coisas assim. Na verdade ela se parece mais com um pesadelo, onde as coisas ruins sempre parecem acontecer comas as pessoas boas." – sussurrou o senhor, antes de continuar:
"Na hora em que eu olhei para ele eu tive a sensação de que sabia tudo sobre ele... tudo o que havia para saber, mas que ele jamais contaria. Passei muitos anos da minha vida pensando no porque dele Ter escondido tudo isso, o porque de não aceitar um cargo superior, ou ficado no antigo posto de capitão. A resposta eu tive anos mais tarde, quando assumi, eu mesmo, um posto de comando. Não é fácil Ter de tomar decisões que envolvem a vida alheia... eu tinha medo de fazer algo de errado e alguém pagar caro por isso. Então eu entendi que a tristeza que eu vi nos olhos dele naquela noite, o modo como ele sempre parecia sozinho, mesmo quando estava com todo o departamento por perto. Sempre sozinho. Você não depende de ninguém, mas todos dependem de você... não só quem você comanda, mas as pessoas das ruas também." – Sullivan constatava com resignação, que o outro tinha provado o pior da vida durante a juventude e que isso o tinha marcado para sempre.
Sullivan retomava a história:
"Os dois continuavam se encarando, enquanto eu estava perdido em pensamentos, porque estava fora de ação. Alguma coisa foi dita que fez com que a garotinha saísse de onde estava e fosse para fora do apartamento, passando por mim. Uma graça mesmo. Pensei até que aquilo fosse terminar bem, quando ela saiu o clima ficou mais suave dentro do apartamento. Talvez tudo ficasse bem, afinal, menos para a velha senhora, que foi alvejada no início de tudo."A voz do coronel vinha pelo alto-falante do lado de fora, naquele instante. Mas o agressor não estava disposto a conversar com ele, atenção estava focada no policial à sua frente. Quanto tempo havia se passado desde que chegaram lá? Era meio da tarde quando atenderam a chamada... já era quase madrugada. Todo o tempo passado entre intervalos de longo silêncio interrompidos por gritos. Já era praticamente dia 21.
"Foi então que eu pensei: 'será que vou ganhar hora extra por isso? Dá prá acreditar, que foi nisso que eu pensei em meio a tudo aquilo? Eu ainda estava no chão no mesmo lugar onde eu tinha caído, o tal sujeito não falava comigo, cada vez que eu tentava ele ficava histérico, o Bosco na mesma posição... era tudo um grande exercício de paciência e persistência. Eu fazia de tudo para não me mexer, sei lá... ele podia se desconcentrar e..."
"Mas ele não disse que podia acertar o sujeito dalí? Já que a garota estava fora e ele tinha como, porque ele não fez isso?" – Cristian estava curioso em saber o motivo de tamanha hesitação.
"Disse mas... várias coisas podiam Ter acontecido: o sujeito mudar de lugar, não Ter passado de um blefe – embora isso eu ache difícil – o fato dele conhecer o cara e ser amigo dele e da família dele. Dava prá ver que ele estava sofrendo com tudo aquilo e que não queria que terminasse em tragédia. É difícil você atirar sabendo que vai matar alguém, que por uma ação sua alguém morre. Quando se tem consciência disso, você sempre hesita. Foi aí que o Bosco começou a conversar com ele sobre ele voltar para a clínica, prá se tratar. O sujeito ficou furioso, disse que não era louco e outras coisas que eu não entendi, por causa da gritaria da refém, do Bosco e dele ao mesmo tempo. Foi quando, de repente, foram dados dois tiros."
Sullivan abaixava a cabeça, tentando conter as lágrimas que brotavam de seus olhos.
"Eu... eu vi a arma dele disparar, num clarão junto com outro disparo. Tudo estava em câmera lenta. O Bosco disparou, o sujeito diparou, a mulher gritou, e eu o vi cair."
Sullivan rapidamente se levantava empunhando a arma sobre o balcão, olhando depressa por sobre ele, vendo o agressor caído. Chamou socorro pelo rádio.
"55 Charlie para central, 10-13, meu parceiro está ferido. Situação sob controle."
A refém estava bem, tinha apenas um arranhão no rosto, então correu para o parceiro caído. Havia sangue sobre a farda e ele não parecia respirar, nem se movia. Sullivan se aproximou, abrindo a camisa e encontrando um pequeno orifício de entrada no colete, por onde o sangue saía. Seu coração se apertou quando viu por onde a bala tinha caminhado, embaixo dele. Muito próximo do coração. A arma de grosso calibre perfurou a proteção sem qualquer dificuldade. Sullivan se deseperava:
"Bosco! Bosco, acorda! Fala comigo! Os paramédicos estão chegando, calma..." – dizia enquanto pressionava o ferimento.
O policial mais jovem abria os olhos como se o menor movimento exigisse um grande esforço, o qual ele não podia suportar, parecendo buscar por alguma coisa. Sullivan segurou sua mão com força. Estava fria. O rapaz tossia freneticamente, o sangue empoçado na garganta o sufocava. Aquele foi o minuto mais longo da história. O oficial ferido parecia ainda mais jovem, pequeno, frágil, indefeso. Mas não havia medo em seus olhos, ele estava em paz. Os olhos dele brilharam por um instante, por causa das lágrimas que se acumulavam alí. Ele suspirou levemente mais uma vez e fechou os olhos, para nunca mais abrí-los.
"Eu me senti a criatura mais miserável da face da Terra. Eu olhei em volta e vi os paramédicos entrando correndo. A refém foi tratada. Ela gritava alguma coisa que eu não me lembro sequer de Ter ouvido, levaram ela prá fora. Eu sabia que ele estava morto, mas eu não queria que estivesse... eu preferia que tivesse sido eu, alí." – Sullivan não conseguia mais conter as lágrimas que o sufocavam.
"Me lembro da Faith, que era a parceira habitual dele, e eu conversando com a mãe dele, o funeral. Não fazia idéia de que ele tinha tantos amigos tanto fora, quanto dentro da polícia... eu me senti mal lá. O pai dele apareceu mas era como se não fosse o próprio filho que estivesse alí, sendo sepultado, ele parecia, simplesmente desconhecer os fatos. Eu tive raiva dele, sabe. Quis dar uma surra nele alí mesmo. Me senti mais pai do Bosco do que qualquer um alí dentro. Eu me senti mais pai dele do que o próprio jamais foi. No fundo acho que eu sempre me senti assim, até mesmo com o Davis... eu... eu sinto falta dele. Ele não devia... ter... ter partido assim!"
Sullivan começava a chorar, a expressão da dor se apossava se sua fisionomia senil. Tocou silenciosamente o marco, deslizando os dedos sobre as letras do nome. Ficaram mais algum tempo lá, até que o senhor se levantou acompanhado do outro e saíram. Mas não sem que antes Sullivan desse uma última olhada no lugar e sorrisse carinhosamente.
Ambos os homens partiram, deixando o local silencioso e tranqüilo novamente, sob a luz da lua que o iluminava.
Fim.
Até que enfim! Ufa!
Lembrem-me de nunca mais fazer outra narrativa que mescle passado e presente e primeira pessoa do singular. Ô trabalheira da gôta sô!
- 10-13, só para quem não lembra é o código que eles usam para tiroteios.
No mais. Agradeço a vocês que acompanharam esta fic até aqui.
Beijos da Kika-sama.
PS: já tenho outro texto sobre a série. Gostaria muito que vocês acompanhassem este também. Já está escrito e digitado até o fim e será postado semana que vem.
