COMA BLACK
(Marilyn Manson)
"Não existem crianças na Guerra."
por Ck-Chrr
a) EDEN EYE pt II
This was never my world
you took the angel away
I'd kill myself to make everybody pay
This was never my world
you took the angel away
I'd kill myself to make everybody pay
Este não era o seu mundo.
E ao mesmo tempo... que outro mundo poderia ser seu, Lucius, que outro mundo além da sujeira, imundície, imoralidade... Você, que dizia ser o refinado senhor (senhor! que piada...) das altas rodas, saindo em cruzeiros pelos países tropicais quase desconhecidos durante a depressão da guerra enquanto todo mundo se matava por aqui. Você, que sabia fugir tão facilmente, agora não conseguia sequer mover-se para tocar a garota (porque toda a arte de seu mundo convergia para a garota, e isso não poderia ser diferente) e, admita, isso porque ela o enoja...
Mesmo assim, agora você não poderia mais fugir, não é? Porque você sabe que quando ela levantar os olhos, isso, exatamente como está fazendo agora, você vai ser obrigado a esquecer tudo que há de trevas nessa masmorra empoeirada, de forma que tudo o que restará será a luz dela, e então seu amor ofusca todo e qualquer sentimento baixo e nocivo que possa passar pela sua mente, mas eles passam...
Ele sentia as mãos tremendo convulsivamente, e colocava-as no bolso, como se isso fosse mudar alguma coisa.
Calem a boca, seus merdinhas, porque ela é minha e nada mais importa.
E então ele caminhava lentamente, como sempre fazia, e pegava as mãos dela nas suas, e novamente o ritual começava, novamente ele era o bruxo, o mago, e ela era sua princesa para ser encantada.
As suas palavras mágicas que na verdade não possuíam magia alguma seriam sussurradas nos ouvidos dela, até que ela se acalmasse, e agora não importava mais que às vezes os olhos dela estivessem perdidos por algum feitiço da memória (que agora era aplicado sem padrão algum) e aí ele sabia que ela não fazia idéia de quem ele era, ou porque ele a tratava com tamanha ternura. Não fazia mais diferença distinguir os momentos de cortante lucidez da loucura do esquecimento, porque ela mesma aprendera a confiar. E mesmo quando o rosto dele era apenas mais um rosto irreconhecível, assim que suas mãos tocassem a pele fria, ela se entregaria completamente, e ele não era um desconhecido, ele era.. ele era aquele que a amava, mesmo que ela não conseguisse se lembrar que o amava também.
-- Amo você, amo você, amo você... -- ele sussurraria em seus cabelos, até que não conseguisse ouvir mais a própria voz, e apenas a corrente elétrica passando dele para ela embalasse o pequeno corpo quase adormecido contra o seu. -- Amo voc...
E perdoe-me por às vezes desejar que estivesse morta. I would have told her then
she was the only thing
I could love in this dying world
but the simple word "love" itself
already died and went away
-- Como você me ama?
-- Perdão?
Aquela fora a primeira vez que ela lhe dirigira uma pergunta direta, ele se lembrava. Ele estivera segurando-a nos braços, como sempre, achando que ela estava adormecida há tempos, e a pergunta repentina, sem o ínfimo traço de sono na voz, surpreendeu-o mais do que ele imaginava que poderia.
-- Como você me ama.
A lucidez nas palavras era cortante, e por algum motivo ele sentiu-se intimidado, como se a frágil flor de estufa que estivera cultivando há meses de repente voltasse a ser a rosa selvagem que ele encontrara no primeiro dia. Porém, o modo como os dedos dela continuavam brincando distraidamente com a mão que ele tinha pousada em seu ventre, apesar dos olhos parados e inexpressivos, fez com que ele pensasse na pergunta.
É claro que poderia dissertar sobre todas as maneiras já catalogadas de se amar alguém, ou pelo menos grande parte delas, conhecimento adquirido pelo grande número de romances que lera em sua adolescência (alguns deles até mesmo livros trouxas, o que ele não admitiria nem em seu túmulo), pelas conquistas que fizera, pelas vezes que se deixara apanhar e por todos os seus acertos e por todos os erros que cometera.
Mas agora, quando Lucius Malfoy pensava em amor, tudo o que vinha em sua mente era o nome dela.
Ginny.
O amor se resumia em uma única palavra, e ele nunca seria capaz de explicar a alguém como a amava, uma vez que não poderia imaginar outro modo de se amar alguém além da falta desesperada, das entranhas se revirando quando ouviu a voz dela, do sonho acordado que às vezes figia-se pesadelo.
Nunca poderia fazer ninguém entender. Nunca poderia colocar em palavras o que sentia, o modo como o leve roçar das pontas dos dedos dela nas costas de sua mão era o suficiente para o mundo parecer perfeito, e a explosão louca que sentia a cada vez que a beijava, ainda que pudesse passar horas apenas observando o cachinho que se formava naquela mecha que sempre insistia em escapar de seus cabelos até o rosto salpicado de sardas adoráveis.
Ninguém nunca iria saber o que era amar Ginny.
Se ele perguntasse a ela, por sua vez, o que entendia por amor, ela diria que não sabia. E então ficaria silenciosa por um bom tempo, e ele iria achar que ela estava partindo para longe de seu alcance novamente, mas ela apenas estaria pensando que não sabia mesmo dizer o que era amor, mas sabia que quando ele dizia que tudo iria ficar bem, e era a única pessoa que conseguia fazê-la acreditar que realmente iria...
Amar alguém deveria ser algo muito próximo disso.
Ele era um marinheiro em alto mar observando a tempestade iminente que iria destruir seu pequeno barco.
Ele observara os sinais, ele olhara para as águas e para o céu, mas recusara-se a acreditar que seu oceano deveria ser perturbado tão cedo. Ele sabia que a tempestade estava chegando, e tudo o que pedia era um pouco mais de tempo, apenas um pouco mais de tempo para despedir-se da brisa salgada que acariciava seu rosto tão suavemente.
A tempestade nunca veio, e todos os seus castelos de areia foram demolidos por um furacão.
-- Por quanto tempo que você achou que isso poderia continuar? -- e ele ouviu nas palavras quase cuspidas o tom de desprezo que ele próprio ensinara.
-- Eu não sei do que você está falando.
-- Não sabe do que eu estou falando? Não sabe? Pois bem, eu vou explicar, uma vez que você parece ser tão inocente, não é? O Lorde das Trevas fez um certo comentário durante a reunião há cinco minutos atrás. Oh, não se preocupe, mais ninguém conseguiu entender o que ele quis dizer.A reunião, é claro, a qual você não compareceu, ocupado com os seus importantíssimos compromissos que até agora não renderam o menor resultado para a nossa causa...
-- Eu nunca pensei que de todas as pessoas você pudesse ser iludido dessa maneira pelo poder. Pelo falso poder.
-- O poder nunca é falso, e você é o responsável por isso! Ou devo lembrar-lhe quais eram os meus planos antes de toda essa palhaçada de "voc vai juntar-se à nossa causa!"? Eu não queria nada disso. Mas, bem, papai, agora é a nossa causa.
-- Nunca foi nossa, Draco. Nós temos realidades muito diferentes. E eu me sinto desapontado ao afirmar que a idéia que eu fazia da sua parece totalmente equivocada, agora.
-- As pessoas mudam. Às vezes elas são obrigadas a mudar.
-- Você não pode me culpar pelas suas escolhas erradas. E muito menos exigir de mim que siga o mesmo caminho.
-- Mas a culpa é sua!!! A culpa é sua, e você sabe! E agora você está contaminado com os ideais boêmios pelos quais você tanto me acusava, e você se acha no direito de me dar alguma lição!?
Lucius abaixou a cabeça, massageando as têmporas, e quando levantou os olhos encontrou os do filho impassíves, cintilando por trás da máscara de ódio.
-- O que você espera de mim? -- perguntou, mal movendo os lábios.
-- Você sabia que mamãe foi para a França? Faz quase um mês, agora, e você nem ao menos notou.
-- Nós estamos em guerra. Faz muito mais de um mês que eu não piso em casa.
-- Hipócrita.
-- Eu não vou correr para a França atrás da sua mãe, Draco. As coisas não funcionam assim. E você não é mais uma criança mimada, então pare de se comportar como uma!
-- Não existem crianças na guerra.
-- Esta discussão não levará a lugar algum. Saia.
Lucius observou o filho estreitar os olhos e cruzar os braços desafiadoramente. Quando levantou-se, pronto para indicar a porta para o garoto, ele falou.
-- Eu estou indo, também.
Passou os dedos pelos cabelos longos e virou-se para encarar o filho.
-- Indo para onde? -- perguntou, quase em um sussurro, e poderia jurar que viu o antigo medo transparecer nos olhos de Draco. Mas o garoto aprendera que era estupidez ter medo do pai desde os cinco anos.
-- França. Falar com mamãe. Ela vai processar você por adultério, e eu creio que somado às acusações de pedofilia que o Ministério vai mover contra você, a fortuna passa inteira para nós. Você vai ser um velho abandonado e sem dinheiro, e eu vou fugir dessa loucura e freqüentar todo tipo de praia paradisíaca enquanto você apodrece numa cela gelada. E tudo porque você é um velho tarado que não pôde conter sua luxúria!!!
Lucius sentiu todo o sangue subindo-lhe à cabeça, e com uma voz quase inaudível, murmurou:
-- Cale a sua maldita boca...
Mas Draco não estava ouvindo.
-- Ah, mas eu entendo, papai. Ela estudou em Hogwarts na minha época, você sabe, é claro. Ela tem idade para seu minha irmã mais nova! Mas eu a vi na escola, e eu até mesmo cheguei a conhecê-la, sabia? Sim, eu a conheci muito bem. É, papai, a sua bonequinha, isso mesmo. E você está disposto a jogar toda a sua família fora por uma putinha maltrapilha!!!
O garoto levou a mão instintivamente ao rosto quando sentiu o impacto do tapa, mas levou alguns minutos para processar o que estava acontecendo. Em seus dedos frios, a marca das costas da mão de Lucius latejava, e mais do que tudo a humilhação queimava sua alma. Olhou para cima e o pai estava totalmente descomposto, a fúria tomando conta de cada célula de seu corpo, os olhos brilhando como os de uma fera insandecida.
-- E agora você levanta a mão para o seu próprio filho. Eu estou indo para a França. Você pode vir comigo, e depois nós voltamos para cá, ou você pode trocar tudo pela garota, que você sabe que nunca, nunca será sua. Ela irá morrer antes de Voldemort libertá-la, e Voldemort irá matá-lo antes de cedê-la a você.
Lucius parecia confuso, mas Draco não dava a mínima. Foi em direção à porta, pronto para abandonar o quarto e cuidar dos preparativos da viagem, e antes de sair, de costas para o pai, murmurou:
-- Sabe, pai. Eu amo você. -- ele virou-se para encontrar o olhar assombrado e totalmente descomposto de Lucius, e disse, enquanto saía: -- Mas eu não poderia lamentar menos se você estivesse morto.
N/A: Perdão pela demora do capítulo!!! Perdão, perdão! A vida anda atribulada ultimamente, não vou prometer que não vai acontecer de novo porque eu não tenho certeza se vou poder cumprir, mas vou fazer o possível! Rosas e chocolate para Claire R. Black (adoro reviews enormes, não se acanhe em escrever outras!! E eu fiquei... ahn... OO lendo sua review!! Obrigada, querida! Obrigada MESMO! Você gosta de Marylin Manson? E Tom/Ginny É O QUE HÁ, ainda vou escrever uma... ou quem sabe enfiar na minha fic-autobiografia-do-Voldie... ), Cecilia, Hannah Hyde Malfoy (você tem uma Gin/Lucius, moça? Quero ler! ) e Vivian Malfoy (obrigada! Abracadabra! anda meio morrida, mas não abandonei, não!! Pretendo atualizar no domingo, no máximo até o fim dessa semana! Não esqueça dela! ). Acho que a fic vai ter mais dois ou três capítulos... Já estou escrevendo os últimos! Obrigada pra todo mundo, reviews são muitíssimo bem vindas!
