COMA BLACK
(Marilyn Manson)
"Não existem crianças na Guerra."
por Ck-Chrr
a) EDEN EYE pt. III
This was never my world
you took the angel away
I'd kill myself to make everybody pay
This was never my world
you took the angel away
I'd kill myself to make everybody pay
Assim que ele entrou, ela soube que alguma coisa estava errada. Talvez fosse seu passo apressado e o modo ligeiramente angustiado e desesperado como ele a beijou assim que chegou perto o suficiente para tocá-la. Talvez fossem apenas seus olhos.
Quando seus lábios se separaram, ele estava ligeiramente ofegante e ela percebeu a leve umidade nas raízes de seus cabelos, e uma gota solitária de suor que escorria por sua testa, passando pelas duas rugas quase invisíveis.
Pela primeira vez ela se deu conta de como ele era velho.
Não no sentido depreciativo da palavra, mas com a antiguidade reluzente e a simples sabedoria que só os velhos podiam ter. Ela poderia quase tocar as tristezas acumuladas e os anos vividos que apenas poderia sonhar nas vibrações deliciosas de sua voz quando ele sussurou, de encontro a seus cabelos:
-- Preciso de você, Ginevra. Preciso de você, agora, agora... -- e era lindo o modo como seu sotaque francês quase imperceptível conseguia dar ao nome dela uma entonação que poderia fazer com que ela se esquecesse de como o detestava. Saindo dos lábios dele, qualquer palavra poderia ressoar ao refinamento de vinhos e sedas caras.
Ela permitiu que as mãos dele deslizassem pela sua pele lisa e absolutamente jovem, que seus dedos percorressem as trilhas marcadas a sangue por Tom... E se quando Tom a tocava ela poderia sentir a tensão de uma corda de violino esticando-se ao limite, Lucius tinha as mãos de um pianista.
Sim, meu querido, meu amor... Cante nossa música, toque o meu réquiem...
Ela sentia cada centímetro de seu corpo que antes fora ferido, arranhado e tomado a força render-se à suavidade e derreter-se em meio à delicadeza respeitosa. E conforme ele a beijava desesperadamente ela sentia-se afogar nele, ela queria afogar-se nele...
Mas não podia deixar de sentir a escuridão sorrateira dizendo-lhe que seus beijos tinham o amargo gosto de despedida.
-- Você vai me deixar.
Ele não respondeu, e não havia resposta melhor.
A estação estava mortalmente silenciosa, mas o som de seu próprio coração batendo acelerado em seus ouvidos fez com que Lucius ignorasse.
Sentiu que suas pernas estavam caminhando quase que automaticamente até a plataforma onde Draco estava parado de costas, sozinho.
Nenhum trem, ninguém além dos dois na estação inteira.
Conforme foi se aproximando, Draco virou-se para encará-lo e Lucius precisou reprimir uma exclamação ao ver o rosto angustiado e a profunda dor nos olhos do garoto.
E tudo estava se movendo tão... devagar.
-- Você veio. -- disseram os lábios de Draco, e o som se perdeu em algum lugar no meio do caminho. Ele estava vestindo preto. Preto dos pés à cabeça, e Lucius não fazia idéia do que isso significava, e porqu ele sabia que significava alguma coisa.
Do meio do Inferno diretamente para a França dali a dez minutos. Seriam os únicos passageiros?
-- Eu vim. -- e ele não conseguia escutar as próprias palavras. -- O trem não está atrasado...? Ele já não... não deveria estar aqui? -- e olhar ao redor parecia tão difícil, porque sua cabeça estava tão pesada. Pressão baixa, talvez. Ou apenas uma terrível... vertigem.
Plataformas de embarque e desembarque abandonadas. Silêncio. Uma cidade fantasma, ou apenas uma cidade em guerra. Silêncio gritando em seus ouvidos.
-- E a Weasley? -- o tom de Draco era a neutralidade forçada à qual Lucius já se acostumara, mas seria apenas sua vista piscando ou haviam lágrimas escorrendo pelo seu rosto? Luz explodindo em pontos aleatórios no ar, constelações ganhando vida e desaparecendo quase instantaneamente.
-- Nós somos Malfoys, Draco. Malfoys não caem golpeados por Weasleys.
Seria o barulho das rodas contra os trilhos? Diabos, Lucius, controle-se.
-- Malfoys não caem.
Caindo no vazio.
-- Pai... -- e dessa vez ele tinha certeza, as lágrimas estavam lá. Trilhando córregos nas bochechas de mármore de Draco. Olhos brilhando, braços envolvendo seu corpo e de repente ele estava sentindo as lágrimas molhando sua capa.
Lucius ainda era mais alto, afinal.
E o rosto quente de Draco contra seu ombro, o apito frenético em sua mente dizendo que alguma coisa estava terrivelmente errada, e havia tanto a ser dito, e as palavras eram tão pequenas e tão inúteis.
-- Pai.. -- Lucius ouviu a voz embargada em seu pescoço mais uma vez, e agora estava achando difícil manter-se de pé.
O apito do trem e a estação rodando, rodando.
Braços envolvendo-o mais forte, e ele não sabia mais se Draco tinha dez anos ou vinte, ele era novamente o pai modelo, ele poderia tentar ser o herói mais uma vez e ele... ele sabia que falharia miseravelmente como falhara anos atrás, ele iria falhar como falhara com Ginny, ele iria falhar como falhara em esconder cada uma de suas fraquezas quando elas estavam bem diante dos olhos de todos. Só que ninguém queria ver.
O ato de amar se dá através dos defeitos mais nojentos. Regar rosas é mais fácil que enfrentar demônios.
Vento enfunando sua capa conforme o trem se aproximava.
Veludo negro agitando-se na estação, eles eram tão parecidos e estavam tão perto agora, ainda que Lucius sentisse o abismo separando-os bem diante de seus pés.
-- Você... -- Draco afastou-se apenas o suficiente para poder olhá-lo nos olhos. Olhos cinzentos, seus próprios olhos cinzentos no espelho, e as lágrimas os deixavam tão bonitos. Ele estava chorando também? -- Você...
O trem estava parando.
-- Draco, está tudo bem. -- portas abrindo-se do seu lado, mas ninguém estava ligando. -- Nós vamos conseguir chegar em um acordo.
-- Não, Lucius. O acordo já foi feito. -- em uma voz desconhecida e vinte varinhas apontadas para seu peito.
Nesse momento, alguém deveria ter acelerado seu filme, porque de repente tudo estava tão rápido. Feitiços para prenderem suas mãos, declarações formais, você está sob custódia do Ministério da Magia, Lucius Malfoy.
Mãos agarrando seus braços e arrastando-o para algum lugar, mas ele não podia ir agora, agora não...
Porque Malfoys não abandonam um filho soluçando no chão.
I burned all the good things in The Eden Eye
we were too dumb to run too dead to die
I burned all the good things in The Eden Eye
we were too dumb to run too dead to die
Ela estava esperando alguém, mas não sabia quem era.
Essa pessoa deveria estar ali. Essa pessoa já deveria ter vindo, e quando ela pensava que talvez nunca mais viesse, sentia seu coração saltar uma batida, e seu peito ficava tão, tão apertado que ela tentava parar de respirar para não sufocar. O ar era ácido clorídrico invadindo seus pulmões, sua garganta estava fechada e as lágrimas escorriam livres pelo seu rosto, e o que mais doía...
O que mais doía era que ela não conseguia nem ao menos se lembrar.
Ela estava usando um vestido amarelo quase novo. A barra e a parte de trás estavam sujas, uma vez que ela estava sentada no chão imundo, e ela estava descalça. Isso estava errado, assim como os botões nas costas do vestido amarelo completamente destroçados, e uma parte na frente brutalmente rasgada. Ela gostava do vestido, gostava de verdade. Lembrava levemente contos de fadas, e fazia com que ela parecesse uma quase-princesa, e quando ela fechava os olhos, via um anjo vindo até ela, todo luz e calor.
Mas aquele rasgo e os botões e seus pés descalços estavam errados. E disso ela não queria se lembrar, porque à menor tentativa, sentia o ar ficando mais denso de novo e sua pele ficava fria e morta, como que a sensação de uma cobra gelada deslizando ameaçadoramente por cada centímetro de sua pele.
Ela gostava de cobras, quando era menor.
Ela achava as cobras engraçadas, e sempre ficava encantada com os olhos profundos e as pupilas verticais, até Ron lhe ensinar que cobras eram ruins. Cobras eram demônios venenosos, e ela iria crescer para ser uma leoa, como todos eles.
Tinha algum significado maior nisso tudo, mas, de novo, ela não conseguia se lembrar.
...Tinha alguma coisa de errado com ela.
Ela sabia que tinha alguma coisa terrivelmente errada com tudo aquilo, que garotinhas como ela (e ela não se lembrava desde quando voltara a pensar em si mesma como "garotinha") não deveriam ficar em masmorras frias e imundas, e serem obrigadas a comer no mesmo lugar onde defecavam, e alguém deveria limpar tudo aquilo, alguém deveria trazer comida, alguém deveria vir e dizer que iria ficar tudo bem, porque ela precisava ouvir essas palavrinhas tão desesperadamente, e ela estava com tanta fome e alguém deveria trazer...
E era aí que vinha a realização.
Ela estava esperando por ele. Seu anjo de cabelos platinados que a tornara princesa e prometera que um dia derrotaria o dragão. E então ela percebia que estava chorando desesperadamente, e ela não se importava se ao se jogar de bruços no chão o cheiro das fezes e a imundície aderindo ao seu rosto eram quase insuportáveis, ela estava totalmente quebrada, e não aguentava mais ter seu coração colado com falsa-segurança-memória-apagada para logo em seguida cair em um abismo ainda mais fundo que o anterior.
Ela achava que não fazia diferença, antes. Achava que estava tudo bem se ela não se lembrava, porque a segurança quente e protetora de que ele viria estava sempre ali.
Mas agora ela conseguia se lembrar porque o ar era mais denso e porque o ácido clorídrico impregnava suas narinas.
Ele não iria nunca mais voltar.
E quando a porta de madeira velha e podre abriu-se lentamente, ela também se lembrou com uma pontada dolorosa bem no meio do coração porque vestidos rasgados e botões arrebentados eram errados.
Era errado garotinhas de cabelo vermelho servirem de prostitutas para o Lorde das Trevas.
Ela sentiu o ar ficar mais pesado quando ele entrou, e nem ao menos se deu ao trabalho de levantar os olhos.
-- Não vai ver a surpresa que eu arrumei para você hoje? -- ela ouviu as palavras sussurradas no tom frio que ela já conhecia de todos os seus pesadelos, mas por algum motivo ele conseguiu arrepiá-la mais do que deveria.
...Aquela era a voz dos pesadelos. A voz dos pesadelos não era a voz real. A voz dos pesadelos não era Lorde Voldemort.
Virou a cabeça mal se atrevendo a focalizar os olhos na figura encostada displicentemente na porta fechada.
-- O que um feitiço bem feito não faz. -- e o garoto passou os dedos pelos cabelos escuros desalinhados e começou a andar até ela, com alguma coisa levemente felina em seu andar.
Ela sentou-se desajeitadamente e encolheu-se o mais que pôde no canto da parede.
-- Lucius e eu tivémos conversas interessantíssimas. -- ele sorriu e abaixou-se para olhá-la nos olhos. -- E então, Ginny? O que você achou quando conheceu meu antigo eu? -- ele abriu um sorriso ainda maior e segurou firmemente seu queixo para que ela não pudesse desviar o olhar.
Ron queria que ela fosse uma Leoa, mas ela não conseguiu impedir-se de fechar os olhos o mais apertado que pôde. E no instante seguinte sentiu os lábios macios cobrindo os seus, e por mais que estivesse apertando os olhos, as lágrimas escorriam por toda parte.
-- Você é um assunto bem comum nas altas rodas dos Comensais, Ginevra. -- ele apoiou os braços na parede, envolvendo sua cintura e encarou-a enquanto ela mordia o lábio e tentava por tudo não começar a soluçar. Ela se lembrava o suficiente para saber que não queria vê-lo nervoso. -- Na verdade -- ele aproximou os lábios de seu ouvido. --, eu e Lucius andamos discutindo pontos que você iria adorar.
Ela enrijeceu e apoiou-se na parede, tentando empurrá-lo com os joelhos quando sentiu uma mão fria deslizando por sua pele, entrando pelo corte no vestido. Porém, ele segurou-se firmemente em sua cintura e ela sentiu logo em seguida os lábios frios no seu pescoço:
-- Não faça isso, Ginny... você sabe como nós dois podemos nos dar tão bem. -- ela estava soluçando incontrolavelmente agora, e murmurava palavras atropeladas sem sentido enquanto sentia os dedos longos tocando suas costas e a boca dele aproximando-se cada vez mais da sua.
-- Por favor... por favor, por favor... Ele...
-- Ele quem, Ginny? -- ela estava sendo empurrada para deitar no chão, e nem sequer estava tentando impedir.
-- Ele disse... -- ela estava soluçando tanto que era difícil pronunciar as palavras. -- Ele disse que..
-- Eu estou ouvindo. -- ele segurou firmemente o decote do vestido e destroçou completamente o que ainda restava dele.
Ela levantou os braços para cobrir-se, mas ele segurou seus pulsos apertados contra o chão e ocupou-se em beijar seu pescoço. Ela estava chorando tanto que quase não se dava conta do que estava acontecendo.
-- O que ele disse, Ginny? -- ele sussurrou, mas ela não estava conseguindo falar. Ele selou seus soluços com um longo beijo, do qual ela detestou cada segundo. -- O que ele disse?
-- Ele disse... -- serpentes percorrendo sua pele. -- Ele disse que eu era dele!!
E ela desabou em soluços ainda mais fortes, sentindo o corpo dele pesando dolorosamente contra o seu, e ouvindo sua voz doce entoando uma canção de ninar em seus ouvidos enquanto tornava seus piores pesadelos reais. Mais uma vez.
N/A: Hummm... e aí, povo? O que vocês acharam? Reviews? XDD Se eu continuar no mesmo ritmo, semana que vem deve sair o próximo capítulo, que, por acaso, é o último. .
N/A2: Serviço de agradecimentos XD: Hrosskel (hum... Draco é um garoto malvado.. Atualizações andam meio precárias, né? Mas eu faço o possível! XP), EngelyMalfoy (eu também -AMO- Draco e o Tio Lucius! Hum... coloquei eles de novo! O que você achou? XD), May Malfoy (MAY? O.o Acho que eu conheço você, hein, moça! Huauhauahuahua....), Vivian Malfoy (heya, mais uma manteiga deretida! Bem vinda ao clube..! XDD), Claire R. Black (Mais uma review! T-T XD Bom, eu acho que eu também estou com dó do Lucius u.u Meio insano isso, uh? Huahauahua... Nah, eu nunca li nada Fred/Ginny, posso ver sua fic? auhauauh XDD... Mas Ron/Ginny é lindo u.u Apesar do Ron ser um babaca ¬¬UUU E de novo obrigaaada, se você continuar com essas reviews vou acabar te respondendo por email, moça! XD), Shadow Maid (Huahuahuah... TIO LUCIUS YEAH! É, eu sei, matar ele é uma graaaande tentação... eu matei em uma outra fic minha! hauahuahaua E... hum....... -olhar desconfiado- o que você quer dizer com VENDER o Draco pra você? -abraçando Draco com ar possessivo-) e Dark Motoko Hell (Brigada, moça! . Affe, preciso ler a sua, né? u.u Esqueci, desculpa... Mas eu passo lá e te deixo uma eview, oks? XD)! Valeu poooovo! Garrafinhas de chocolate com licor pra todo mundo!! XDDD
