COMA BLACK
(Marilyn Manson)
"Não existem crianças na Guerra."
por Ck-Chrr
b) APPLE OF DISCORD
Her heart's bloodstained egg
we didn't handle with care
it's broken and bleeding
Ela estava deitada de bruços no chão.
O vestido amarelo mal conseguia cobrí-la, e seus cabelos estavam espalhados ao redor do rosto sem expressão. Parecia que ela nem ao menos tinha consciência das lágrimas escorrendo-lhe pelas bochechas.
Tom-que-não-era-Tom estava deitado ao seu lado, com um dos braços em sua cintura e encarando os olhos castanhos desfocados.
De fato, ele próprio estava tão perdido que não ouviu a porta se abrindo, e a figura negra aproximar-se sorrateira de suas costas e cortar seu pescoço sem piedade.
Em silêncio, sem violência, sem palavras, sem perda de tempo.
Apenas a dor espalhando-se como néctar carmesim pelo chão, o homem-cobra sem qualquer vestígio do garoto contorcendo-se enquanto o sangue tingia as pedras frias ao redor.
Mesmo quando sentiu o líquido quente tocar seu rosto e impregnar-se em seus cabelos, Ginny não se mexeu.
Seus olhos continuaram perdidos, e ela mal prestou atenção ao Tom-de-Mentira desfalecendo ao seu lado. Em seus dedos de mármore, pousados displicentemente à frente dos olhos, ela via as manchas rubras se formando, cada vez maiores, lentamente... E era quase como uma canção.
Alguma coisa estava acontecendo ao redor. Algo como luzes e mágica, mas observar o vermelho corrompendo o branco de suas mãos era muito mais interessante.
Sem que ela percebesse, alguém estava fazendo com que se sentasse, e ela só levantou os olhos quando suas mãos foram tocadas delicadamente, sendo abrigadas nas de seu companheiro.
E quando os olhos castanhos encontraram as esmeraldas à sua frente, finalmente conseguiram entrar em foco e ela murmurou, com a voz de sua Eu-de-Sonhos:
-- Seus olhos... -- ela ficou em silêncio por um longo tempo, e os lábios à sua frente se mecheram, mas ela não ouvia nada além dos gritos de terror em sua mente. -- Eles não estão mais vermelhos. -- ela piscou algumas vezes, a verdade penetrando em sua mente, e com um sorriso radiante, sentindo-se leve pela primeira vez em anos, ela abraçou-se a ele. -- Eu sabia que você voltaria. Eu sabia, eu sabia, eu sabia...
-- Ginny, é claro que...
-- Eu amo você. Oh, Tom, eu amo você!
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-- Ginny?
-- Não me toque.
Ela afastou os dedos hesitantes dele, que se aproximavam de seu ombro, sem desviar os olhos da parede.
Ele suspirou e deixou a mão cair sobre os próprios joelhos, olhando-a nos olhos, e ela sabia que ele a encarava sem precisar olhá-lo de volta.
-- Nós não podemos ir.
Ela não disse nada. Os raios tímidos do sol de inverno entravam pela janela; ela sempre sonhara com uma tempestade em seu funeral.
-- Eu sei o quanto isso provavelmente significa para você, mas...
Um pássaro atravessou o caminho da luz brevemente, e Ginny acompanhou sua sombra no assoalho de madeira. Apenas pelo formato de suas asas em movimento, ela talvez nunca conseguisse adivinhar que aquela sombra pertencia a um pássaro, não soubesse ela previamente.
-- Mas entenda que não depende de nós.
Ela se perguntava se havia algum padrão nas formas criadas pelas deformações das sombras pelo Sol. Os raiosatravessando cortinas de seda-quase-transparente lembravam-na dos cabelos dele, às vezes.
-- Fale comigo.
Ela desviou os olhos do contorno da janela no assoalho, formado pela luz, até que encontrou seus próprios olhos refletidos no chão. Há tanto tempo aquele reflexo não era mais o seu...
-- Você não tem idéia do quanto vocês dois são parecidos, não é? -- ela ouviu a própria voz baixa e delicada deixando seus lábios, e quis derrubar a terra do vaso em cima do rosto de boneca encarando-a do chão.
-- Por favor, não me faça passar por isso de novo. Nós já tivemos essa conversa.
Ela fechou os olhos e pensou em dizer-lhe que o que elarealmente queria que ele etendesse era que ela não se referia aos cabelos negros, nem aos olhos que pareciam tão vivos... Ela se referia a ele, a ele como um todo e à sua alma refletida em suas palavras impensadas; ele nunca saberia, nunca saberia o quanto ela amara Tom Riddle ao ver Harry Potter dentro dele, e ele nunca saberia o quanto ela padecera ao perceber que Harry era nada mais que um pálido reflexo de Tom.
Ela se lembrava de ter apenas doze anos, mas como ela ansiara pelo toque macio das mãos de Tom novamente acariciando seus obros nus, e oh, como lhe doera ao ver que mãos pequenas de apanhador de quadribol nunca lhe satisfariam.
Ah, ela poderia contar-lhe tanta coisa... Mas de repente ela estava cansada demais para falar.
-- Estou com frio.
-- Ginny...
-- Traga um cobertor.
-- Ginny, ouça...
-- Harry... -- ela olhou-o nos olhos, o mais fundo que conseguiu. -- Por favor.
Ele pareceu assustado por um momento ao encontro dos olhos dela com os seus, mas encarou-a de volta com a mesma persistência.
-- Traga um cobertor para mim.
Harry levantou-se sem dizer palavra e rumou até o guarda-roupas. A porta velha soltou um rangido típido de tudo o mais na Toca, e ela não o olhou ao receber o cobertor de suas mãos.
-- Não me faça.. Não nos faça perder você.
Ela abriu o cobertor flanelado e jogou-o sobre os ombros, abraçando-se e sentindo o calor bem-vindo.
-- Conte o que aconteceu entre vocês. Eu... eu perguntei a Draco, mas ele não me diz nada, e.. Ginny, eu...
-- Eu deveria estar lá.
--Eu deveria estar lá. Eu deveria...
-- Não podem julgá-lo e acusá-lo e condená-lo por crimes infligidos a mim sem o meu testemunho.
-- O que ele fez a você?
-- Eu deveria estar lá.
-- Por que você não...
Ela voltou-se para ele novamente, e ele calou-se com o peso que sua expressão carregava. Pelo modo como seus olhos brilhavam, ela diria que ele já ouvira as palavras antes mesmo de elas deixarem seus lábios.
-- Você já me perdeu há tempos.
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and we can never repair
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Lucius Malfoy. Lucius M-a-l-f-o-y. Temido mais que respeitado, odiado por muitos, amado por poucos. Tudo porcaria sem valor, agora. A ele era oferecida a mesma sala que a um qualquer, e os lábios que haviam se selar-se aos seus dentro de uma hora, sessenta minutos, três mil e seicentos segundos não seriam mais doces que aqueles tocados por um assassino qualquer de quinta categoria.
Lucius Malfoy. Devia-se admitir que de uma maneira ou de outra fizera-se conhecido e poderia agora partir para o mais completo esquecimento como alguém notável. Oh, Lucius Malfoy e seus últimos Três Mil Quinhentos e Vinte e Três Segundos de Consciência a serem passados sozinho.
Supunha que deveria sentir algo de antecipação e nervosismo dado o futuro incerto a desdobrar-se a cada tique do relógio, mas, sinceramente, de que valiam análises profundas da imúndicie na parede e do colchão de má qualidade em que se sentava? Uma vez que seconsidera toda e qualquer escapatória como nula, os problemas convertem-se todos em equações cuja resposta aponta sempre pra o mesmo beco sem saída, onde o palhaço que é seu destino sorri-lhe ironicamente: "Teu futuro a ti há de ser roubado por mãos tão indignas quanto as tuas e depois de tudo, perdeste mais do que ganhaste e ela é tão tua quanto nunca".
Lucius Malfoy. Três Mil Quinhentos e Treze Segundos para o fatídico gran finale de sua epopéia.
Oh, sim, ele com certeza desejaria que pudesse ser agora.
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Uma lufada do vento, as cortinas enfunando-se, um copo caindo no chão e o mundo silenciou antes que ela pudesse ouvir seus cacos se partindo. O vidro comum espalhava-se por toda parte aos seus pés, misturando-se com a água cristalina que infiltrava-se lentamente pelo assoalho de madeira esfregada. Seus joelhos cederam e ela viu-se estendendo a mão para se firmar no chão e o vermelho de seu sangue lentamente colorindo as gotículas de água.
As vozes ao redor eram todas um zunido indistinguível. Piscou, e ao abrir os olhos o zunido tornara-se o perfurante som das asas de diversos besouros negros contra seus ouvidos, ela sentia a brisa vinda de dezenas de árvores banhadas pela lua ao seu redor, e por toda parte o calor pegajoso do petróleo escorrendo por seus braços, entrando em suas narinas, cegando-lhe e tudo o que via eram os minúsculos cortes abrindo-se na palma de sua mão, o vermelho e o translúcido misturando-se sem nunca chegarem a ser um só.
-- Eu estou me afogando...
-- Ginny? Ginny, o que você disse? Ginny, olhe para mim!
Sua floresta de meia-noite foi derretendo como gelo tornando-se plasma, engolfando-a em uma nova lufada -- a janela aberta e as cortinas cantando com o vento --, e ela agora via-se deitada imóvel, a noite sussurrando em seus ouvidos e os raios de sol entrando pela janela, vermes rastejando por sua pele encerada e a mão de Harry levantando a sua e estancando o sangue com um pano velho.
-- Eu não consigo respirar...
-- Ginny, OLHE PARA MIM!
Sentiu uma pontada aguda na nuca quando seu corpo tombou para trás, batendo na escrivaninha e atingindo o chão pesadamente. Estava em uma caverna agora, e as asas dos morcegos misturadas aos estalos dos insetos e larvas colidindo sobre seu corpo eram sua doce sinfonia. Os vermes cobriam-na quase que por inteiro agora, e apenas seu rosto estava livre, olhando para o céu pela estreita abertura caverna, e a Lua sorrindo lá de cima confundia-se com o rosto dele debruçado sobre o seu.
-- Ginny! Ginny!
Ela fechou os olhos lentamente, deixando-se ser consumida pela podridão, sentindo a pele decomposta em seus braços e torço começar a ser devorada implacavelmente, com um sorriso sereno enquanto sentia sua cabeça rodar, rodar rodar... Sua mão agarrou a nuca dele, içando seu corpo repentinamente para cima, a Lua havia sumido e ela não conseguia mais enxergar com as pálpebras placidamente fechadas, tudo o que ele viu foram suas enormes pupilas perdidas em sonho, os vermes invadiam sua boca e desciam por sua garganta agora, e os olhos dele estavam lá, ela gritou mas as larvas engoliram o grito que só ele ouviu -- "Tom!"--, e a última coisa que sentiu foram seus lábios indo de encontro aos dele, que se confundiam com o rastejar das minúsculas aranhas, antes que tudo silenciasse.
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"Queria que você estivesse aqui. Queria que você estivesse aqui. Eu preciso de você aqui. Queria que você estivesse a..."
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Oh, apenas um pouco de flashback da pior classe antes que todas as memórias lhe sejam roubadas. Ele gostava de se perder em pensamento e imaginar o que seria de si mesmo depois. Iria desaparecer sem deixar resquícios, tornando-se de fato uma concha vazia? Ou apenas as funções motoras lhe seriam privadas, estando para sempre confinado na pior das prisões, que seria sua própria mente?
Mas, filosofias baratas à parte, ele apenas queria lembrar-se dela por mais alguns instantes.
Um de seus momentos favoritos acontecera apenas alguns dias antes da fatal separação. Este era um daqueles que ela nunca se lembraria depois, com ou sem feitiços envolvidos.
Ele havia limpado tudo e deixado tudo perfeito e arrumado para ela, e até mesmo conjurara um vaso do cristal mais límpido com dois crisântemos solitários a observá-los.
Ela dormia em seu peito, com os dedos apertando levemente os botões de seu colete, como ela sempre fazia. Apesar de tudo, quando dormia ela parecia apenas uma garotinha, e ele divertia-se transfigurando suas vestes deploráveis em vestidos delicados que lhe fizessem jus. Naquele dia em especial, ela trajava um rodado amarelo, até os joelhos, e os cabelos caíam-lhe livres pelas costas, misturando-se com o tom do tecido.
"Eu vou tirar você daqui.", ele disse, mais para si mesmo do que para ela. "Nós poderemos fugir, eu tenho dinheiro suficiente para que nós possamos desaparecer, e tudo ficará para trás e seremos apenas você e eu, você e eu."
E era aí que vinha sua memória mais especial: ela abrira os olhos sonolentos e levantara-se preguiçosamente, estendendo uma das mãos para acariciar seu rosto e murmurando: "Só você e eu.", e selara seus lábios em um beijo casto, com os crisântemos ao fundo e uma doçura nunca antes por ele experimentada.
O que se desenrolara em seguida fora a única vez que se lembrava de ter perdido o controle completamente. Os olhos dela se arregalaram e ela afastou-se assustada, recuando desajeitada e derrubando o vaso no caminho, fazendo o cristal despedaçar-se e espirrando gotas de água no vestido novo.
Ele levantou-se resignado, pronto para realizar o feitiço para desaparecer com as flores e o cristal quebrado, ignorando a dor latente que sentia a cada vez que mais um dos Estupendos Feitiços da Memória de Lorde Voldemort se faziam notar.
Mas a voz dela foi mais rápida: "Eu odeio você."
Ele fechou os olhos e deu-lhe as costas, caminhando lentamente para a parede.
"Você me odeia." ele murmurou, e em seguida bateu o punho fechado contra a parede. "Você me odeia!"
Caminhou em passos largos na direção dela, que se encolheu contra a parede, mas abaixou-se no lugar onde o cristal quebrado jazia no chão epegou as duas flores, não se importando com os cacos perfurando a palma de sua mão.
"Eu trouxe flores!", ele jogou-as em cima dela, as gotas de água criando mais manchas escuras no vestido. "Mas você me odeia!"
Ela apertou as flores de encontro ao peito, abaixando a cabeça e ele não percebeu, ou preferiu não perceber, que ela estava chorando.
"Acredito que eu deva apenas agradecer, afinal você é a única coisa com a qual tenho ocupado minha existência medíocre nos últimos meses, e devo dizer que tenho certeza que a atitude de odiar-me é a mais acertada possível, uma vez que todos sabemos o quão abominável eu sou! Oh, é claro! A senhorita está absolumente correta, Senhorita Weasley, e devemos ambos ser gratos por isso: a senhorita pela sua sanidade mental e eu por achar um modo de perder a minha!"
Ele só percebeu que ela havia levantado ao sentí-la chocando-se contra seu peito, apertando os crisântemos cujas pétalas lhe tocavam o rosto e afundando-o em suas vestes.
"Pare! Desculpe, eu..."
Ele fechou os olhos em muda aceitação, e levantou as mãos para acariciar-lhe os braços.
"Você não se lembra."
Mil Setecentos e Oitenta e Dois Segundos.
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A respeito de como saíra de casa, ela não fazia idéia. Mas agora, parada em frente à porta do Ministério, não havia como negar que estava ali por uma razão: ele seria tomado pelos dementadores e ela precisava vê-lo antes que acontecesse. Precisava.
Nada era muito claro.
Ele fora julgado por centenas de assassinatos, traição, torturas, tanta, tanta coisa... Mas ela sabia que o que tornara impossível sua salvação fora o estupro e abuso de Ginevra Weasley -- pedofilia e desrespeito a seu corpo, os crimes mais imundos que excluíam qualquer possibilidade de redenção, a despeito de quem era e de todo o peso de sua reputação.
Ao tentar se lembrar dos meses que passara aprisionada nas masmorras do tão chamado "lado das Trevas" daquela guerra, ela tinha a certeza fria e alucinante de que fora violada e corrompida sim, mas ao sentir a ânsia e o nojo de sua própria pele, em momento algum era a imagem de Lucius que estava imprimida em suas pálpebras.
Lucius era conforto e segurança, e há muito Lucius deixara de ser Lucius Malfoy.
Ela não saberia dizer o que ele era para ela, agora. Sabia que precisava vê-lo, sabia que precisava olhá-lo nos olhos uma última vez antes que ele partisse para sempre.
Para sempre lhe era tão vago. De fato, conforme caminhava pelos corredores do Ministério, procurando a sala em que ele estaria sem nenhum padrão lógico justificável, via as paredes brancas como que encarando-a e fazendo a dúvida surgir no fundo de sua consciência...
...Quem era Lucius?
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Mil Quinhentos e Noventa e Oito.
Mil Quinhentos e Noventa e Sete.
Mil Quinhentos e Noventa e Seis.
Quando não há mais esperança, a morte não parece nem de longe tão terrível assim.
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Quem era Lucius?
Comensal da Morte, servo de Voldemort, aquele que lhe alimentara durante seu cativeiro, mas... até onde seus sonhos estavam contaminando a realidade? Até que ponto poderia-se acreditar em seus delírios, e até que ponto eram eles, de fato, delírio?
Quantos dos toques das mãos de Lucius Malfoy sobre sua pele haviam deixado como impressão mais do que um vago devaneio?
Quando Lucius Malfoy iria sequer querer... tocá-la?
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Mil Duzentos e Trinta e Três Segundos.
Em meio à neblina, ela era o único farol, e partira.
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-- O que você está fazendo aqui?
-- ...Desculpe, eu só..
-- Oh, meu Deus! Ginevra Weasley?
-- Não, eu..
-- Você não deveria estar em casa? Oh, tudo o que fizeram a você, querida, aquele imundo, sujo, sujo, Malfoy...
Aquele imundo Lucius Malfoy.
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Mil Cento e Noventa e Sete, porta rangendo, alguém errou nas contas.
-- Ginevra Weasley? Ginny Weasley está aqui?-- Sim, bem aqui.
-- O que você faz aqui, menina?
-- Nada, eu já estava...
-- Devemos chamar o pai?
-- Não, por favor, eu...
-- Absolutamente, se ao menos...
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A mão decrépita apertava sua nuca, e ele podia sentir o hálito podre e frio lambendo sua boca.
Fechou os olhos e preparou-se para o tão adiado término de seu história. Em suas pálpebras viu seus próprios olhos nebulosos espelhados, mas é claro que não eram seus.
Draco sorriu como raramente sorrira em seus quase vinte anos, e Narcissa abraçava-o, apoiando o queixo em seu ombro e sorrindo também. Seus lábios formaram as palavras "Vinte e cinco anos, Lucius.", mas ele não ouviu som algum. Seu corpo todo congelava, e a boca rasgada do dementador sem nunca realmente tocar a sua sugava todo o ar de seus pulmões e algo muito mais profundo.
Narcissa fechou os olhos e soprou-lhe um beijo, que saiu voando com uma rajada de vento misturado à magnólias tão brancas quanto sua pele. Draco pegou uma das mãos da mãe, pousada em seu ombro, e beijou suas costas; seus lábios sopraram "amo você, papai", e Lucius sentia-se tentar gritar, mas o dementador debruçado sobre ele tornava o mero pensamento inconcebível, e ele queria correr para o filho e tomar ambos nos braços, "amo vocês também, Deus, eu os amo tanto, tanto..."
Mas seu corpo estava preso, e sua alma lentamento indo embora, ele nada pôde fazer mesmo quando lágrimas sangrentas começaram a escorrer dos olhos dos dois, e dos cantos de suas bocas, de seus pescoços e de toda parte... Narcissa chorava descontroladamente agora, segurando o corpo agonizante de Draco em seus braços, e a mente de Lucius gritava a plenos pulmões conforme as figuras explodiam em chamas, e não havia mais nada a olhar a não ser a caveira de Narcissa abraçada a uma figura disforme, as labaredas engolindo os dois...
-- PARE AGORA MESMO! -- era quase a voz de Draco.
E uma explosão de luz juntou-se às chamas em seus sonhos...
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-- Se ao menos o desgraçado fosse ter o que merece.
-- O que você quer dizer? Ele será beijado, já deve ter acontecido...
-- Oh, você ainda não ficou sabendo? A sentença foi revista! Acho um absurdo, dizem que tem alguma coisa a ver com testemunhas recém ouvidas, Draco Malfoy entre elas, oh, poupe-me, é tão obviamente apenas mais um dos subornos ridículos da famíli..
Mas Ginny já estava correndo para longe dali.
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Ele caminhava sem se dar conta dos próprios passos, o braço em torno dos ombros de Draco.
-- Mamãe está mais adiante.
-- Draco... por quê?
O filho parou e olhou-o nos olhos, Lucius espelhando o olhar como sempre fazia.
-- Estou arriscando.
Os dois continuaram a andar, e conforme os corredores intermináveis iam passando, as vozes iam crescendo e o movimento aumentando, Lucius percebeu a sala principal fazendo-se visível logo a frente, e Narcissa esperando ao lado da ridícula fonte restaurada.
Adentrou a sala com Draco, e enquanto rumavam para Narcissa, seu olhar foi atraído para uma das portas laterais, por onde Ginny passava. De princípio achou que fosse apenas mais alguma de suas alucinações, mas o modo como seus olhares se encontraram por não mais que um breve instante, e ela deteve seus passos para encará-lo de maneira a dar-lhe a certeza de que era ela, realmente ela, foi o suficiente para convencê-lo do contrário.
Ginny.
Nos anos que se seguiram, ele nunca seria capaz de afirmar com certeza quem dos dois desviou os olhos primeiro.
:.fim
Agradecimentos genéricos:
Engely-Dark: Bem, Draco e Lucius e eles sempre foram meus preferidos XD Não sei se era isso que você esperava, maaas...
Anita: Não sei porque tive a impressão que você não leu a fic XDD Mas eu não abandonei Abracadabra, apenas digamos que andei meio problemática esses tempos, mas o próximo capítulo já está quase pronto. Férias, enfim.
Vivian Malfoy: Bom, acho que não tinha como a Ginny gostar do beijo do Voldie, né? Que legal que tanta gente gostou da idéia de Lucius/Ginny, eu estava prevendo o contrário XD Escreva sua fic sim, e me mande depois!
CeLaH: Olha, vou falar pra você que eu filosofei no comentário dos pães de queijo por um BOM tempo e AINDA não entendi!
EngelyMalfoy: Você é a mesma Engely ali de cima? Fiquei em dúvida então coloquei de novo XD Demorei mesmo, sem desculpas esfarrapadas pra oferecer, desculpe!
Nika-chan: ...Obrigada! Eu acho... O.o
N/A: Bem, estou pensando em postar uma versão da história inteira como uma one-shot, que era o projeto inicial, mas caso a coisa não se concretize, já fica aqui meu agradecimento pra todo mundo que leu, vai ler, me incentivou, vocês pessoas que eu amo e sabem quem são, enfim, toda aquela babaquice que todo mundo já está cansado de ler. XD
