Curtindo a Vida Adoidado - Ano I - Mês Julho

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Capítulo anterior: No capítulo MM pediu ajuda a Milo para voltar à amizade com o sueco perante os dourados.O Escorpiniano contou a Kamus sobre sua horrível primeira vez e o francês não vê a hora de colocar as mãos em quem fez tamanha atrocidade. Milo recebe uma ligação e se entristece pois acha que o Aquariano quer terminar.

- Calma Milo. Não é nada disso. Ele quer apenas conversar. Você está com o lado emocional muito aflorado pelo pesadelo de hoje de manhã. É só isso. – tentou se convencer.

Mas não adiantou. Realmente lembrar o que fazia questão de esquecer, desestabilizara o grego e a tristeza se abateu sobre ele.

No templo de Aquário...

Kamus ainda estava com o telefone na mão. Estava nervoso. Suspirou profundamente.

- Chega de adiar. De hoje não passa. – disse a si mesmo.

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Curtindo a Vida Adoidado - Ano I - Mês Julho - Semana I – O presente

Segunda à noite. Templo de Escorpião.

O francês chegou na casa do Escorpiniano pontualmente às oito horas. Escondeu seu cosmo e foi silenciosamente até o quarto. Sorriu ao sentir o cheiro do perfume no ar. Milo se arrumava na suíte.

Kamus saiu do quarto e foi até a sala. Sentou-se pegando uma revista qualquer.

Levantou os olhos da leitura quando sentiu a presença do outro no local. Sorriu ao ver a produção do amante.

O grego estava estonteante. Uma calça jeans em tom verde musgo, uma camiseta branca de linha com gola V, um suave detalhe em verde no peito e sapatos puxando para o bege completavam o conjunto. Seus belos cabelos azulados, ainda úmidos, conferiam-lhe um toque especial.

- Oi. Boa noite. - o Aquariano cumprimentou-o.

- Boa noite. - deu um sorriso leve e depois baixou o olhar.

Milo ainda estava muito melancólico.

O francês se levantou e lhe deu um beijo suave.

- Você está maravilhoso. - confessou ao ouvido do grego.

- Você também, Kâ, aliás, sempre está. – disse olhando-o de cima a baixo com um sorriso sedutor.

Apesar do outro estar sorrindo, o cavaleiro de Aquário percebeu que o amigo estava triste.

"Foi o pesadelo" pensou. "Melhor nem tocar neste assunto".

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- Aonde vamos Kâ ? – perguntou fechando a porta do carro.

- Que tal começarmos em um barzinho ? - sugeriu.

Conversaram um pouco sobre as crianças da Fundação e sobre o show no início de Agosto. Kamus estacionou o carro e desceram. Ao chegarem na porta, o Aquariano pediu mesa para três. Milo arregalou os olhos.

- Kamus, - chamou-o como costumava chamar quando não estavam sozinhos - Por que pediu mesa para três ? - perguntou curioso - Está esperando alguém ? - rapidamente veio à sua mente o que tinha falado ao amigo no dia da reconciliação. "Sanduíche". Será que era uma garota ? Se fosse a ruiva do cinema, Milo a estrangularia antes que ela SEQUER ousasse deitar o olhar no SEU francês.

- Ora Milo - falou baixinho - a gente sempre faz isso. Apenas casais pedem mesa para dois.

O grego fechou os olhos por instantes. Achou que desde o domingo o relacionamento ia melhorar, deixando estes "fingimentos" de lado. Ia falar alguma coisa, mas o garçom chegou.

O Aquariano sentou-se um pouco longe do amigo e virou sua cadeira um pouco para a entrada. Pediram as bebidas. O Escorpiniano esperou o garçom sair.

- E aí Kamus ? Quer que eu fique com alguma menina para disfarçar melhor ? - perguntou em tom de deboche - Posso tirar a roupa e ir me oferecer de mesa em mesa, se você quiser. – disse com os olhos brilhando de raiva.

- Milo, onde você quer chegar ?

- Em lugar nenhum – disse sarcasticamente – Eu não sou um homem objeto ? Não sou uma carne exposta na vitrine ? Então que se fxxx. Quem sabe desta vez eu não consigo uma graninha pelo serviço ? – perguntou olhando fixamente para o outro.

- Calma Milo. Tudo bem, desculpe pela mesa. – pediu ainda chocado com o comentário do outro – Prometo que a noite ainda vai ser boa.

- Ah é ? Por quê ? Vai me mandar para um motel, fxxxx com alguma vagabunda ? - perguntou em tom agressivo.

O Aquariano fechou os olhos e respirou fundo. O garçom retornou e trouxe as bebidas, saindo em seguida.

- Milo, por favor pare com isso. - pediu.

- Qual é, Kamus ? Não posso nem pensar em me divertir ? – disse com um sorriso sarcástico no rosto.

- Duvido que se eu te mandasse fazer isso você se divertiria. – respondeu seriamente para o grego.

- Humf ! – falou com desdém – Pois isso me divertiria MUITO MAIS que ficar aqui nesta mesa para TRÊS. - falou e virou-se para o outro lado.

O francês aproximou-se. Não queria gritar.

- Agora eu entendi. Eu pensei ter ouvido você dizer que estava cansado de ir ao motel. - deu uma pausa para continuar – Mas agora sei que o problema é a companhia. Vai ver que só cansou de ir comigo, não é, Milo ? Que pena. - observou visivelmente chateado.

O Escorpiniano engoliu seco. No final da tarde estava triste porque achava que Kamus ia desmanchar e agora fazia uma dessa ? Deixava o francês pensar que era ele quem não se interessava mais ? Não suportou. Estava muito fragilizado naquela noite. No mesmo instante os olhos do grego se encheram de água.

- Vou ao banheiro. - falou e saiu rapidamente.

Fechou a porta e deixou as lágrimas caírem. Respirou fundo, secou o rosto e voltou para a mesa.

- Kamus, desculpa pelo que falei agora a pouco, eu... - nem bem começou a falar e seus olhos ficaram enevoados novamente. Ficou olhando para o copo.

- Milo ?

- Por favor não fala comigo. Se eu tiver que falar ou olhar para você, vou ter que levantar e ir ao banheiro lavar o rosto.

- Ok. - o Aquariano falou e tomou sua bebida de uma vez - Vamos embora.

O grego olhou para o amigo. Ouvi-lo dizer que iam embora, arrasou-o. Não conseguiu evitar que as lágrimas corressem.

- Milo - o francês falou baixinho - não seque o rosto. Ninguém percebeu. Só passe a mão no seu queixo de leve. Vá ao banheiro enquanto vou pagar a conta. Nos encontramos lá fora. Apenas vamos para um lugar mais calmo, ok ?

O Escorpiniano assentiu com a cabeça.

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Encontraram-se do lado de fora e entraram no carro.

- Aonde você quer ir ? – Kamus perguntou.

- Não quero ir para lugar nenhum. – falou irritado e virou para o outro lado.

O francês respirou fundo e contou até três, mas não conseguiu se conter. Naquela noite o amante o estava tirando do sério.

- O que é que você quer Milo ? – perguntou enquanto dirigia – Quer se divertir ? Quer que eu te deixe em algum motel ? – questionou sarcasticamente.

O Escorpiniano estava realmente muito frágil. A simples menção da palavra motel, depois da cena que tinha feito no bar, fez com que o grego colocasse a mão no rosto e começasse a chorar. Kamus parou o carro, tirou seu cinto e o cinto do cavaleiro de Escorpião e o abraçou.

- Oh, Mon Ange, me desculpa, eu estava bravo, falei sem pensar. Não precisa chorar. Nós vamos onde você quiser ir.

- Me leva para casa. Hoje eu não sou boa companhia para ninguém. - disse choroso.

- E se a gente for ver estrelas ? – sugeriu.

- Ver estrelas ? - perguntou se soltando e ainda fungando.

- É. Só eu e você. - falou enquanto acariciava o cabelo do amigo.

- Só eu e você ?

- É em um lugar bem calmo.

- O melhor lugar para ver estrelas é da rampa de salto de asa-delta. - falou secando as lágrimas.

- Não Milo. Não quero ir até lá com você. Acho melhor...

É claro que o francês se referia ao fato de ter sido lá que o grego tentara suicídio (1) e por isso não era um bom lugar, mas Milo estava completamente desestabilizado emocionalmente depois de ter que reviver aquele horror no pesadelo e não foi assim que interpretou. Achou que Kamus não queria ir COM ELE, mas se fosse com outra pessoa, iria. Voltou a colocar as mãos no rosto.

- Mon Ange. – voltou a abraçá-lo - Não fica assim. Se é o que você quer, a gente vai até lá. Só não quero que te ver desse jeito, tudo bem ?

O Escorpiniano se soltou e enxugou as lágrimas. Assentiu positivamente. No caminho Kamus entrou no drive thru de uma lanchonete.

- O que você quer ? - perguntou ao grego.

Milo ficou chateado. Agora achava que o francês não queria mais entrar nos lugares com ele.

- Nada. - respondeu virando-se para o outro lado.

Já estavam perto do caixa e o Aquariano não quis chamar atenção. O comportamento do outro o estava irritando, porém achou melhor ficar quieto. O grego não estava em seu estado normal.

Kamus pediu um shake de chocolate, um sanduíche e uma batata-frita grande para cada. Entregou o pacote ao amigo que apenas colocou-o no chão, sem abrir.

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O lugar onde saltavam de asa delta costumava ficar vazio à noite. A estrada que levava até o monte não era nada segura e não tinha proteção que impedisse que algum carro despencasse caso o motorista de aproximasse muito da borda. Aliás, vários acidentes com vítimas já haviam ocorrido, com carros caindo lá embaixo durante a noite. Quem ia, normalmente ia de moto, mas mesmo o local em volta da rampa era cheio de pedras pontiagudas e escorregadias e por isso os namorados não eram profundos admiradores do lugar.

Mas Kamus era um bom motorista.

Naquela noite, o lugar estava vazio. O cavaleiro de Aquário parou o carro e desligou o farol.

- Eu quero conversar com você, Milo. Será que podemos passar para o banco de trás para termos mais espaço ? - perguntou.

O grego gelou. Não esperava que o outro fosse tão direto. Começou a tremer.

O Aquariano saiu e puxou o banco para frente. Deu a volta no carro e abriu a porta.

- Me dá sua mão. - pediu oferecendo a mão ao Escorpiniano.

"Ele está me oferecendo a mão. Será que já vai me levar até a borda ? Não. Pediu para conversarmos lá trás. Vai querer falar comigo primeiro. Só depois vai deixar eu me jogar lá embaixo" refletia enquanto pegava a mão do Aquariano.

Kamus retirou-o suavemente do carro e puxou o banco para frente. Depois, pegou novamente na mão do amigo e conduziu-o ao banco de trás. Milo portou-se obedientemente, como uma ovelha levada ao matadouro.

O Aquariano deixou a porta da frente aberta para ficar claro e não embaçar os vidros. A noite estava muito agradável e não era necessário ligar o ar condicionado. A brisa marinha refrescava o ambiente.

- Milo. - chamou a atenção do outro - Você reclamou recentemente do nosso relacionamento, dizendo indiretamente que não sou romântico e nem te levo para passear, você lembra ?

O grego estava encostado na porta que ficava atrás do banco do passageiro, para ficar de frente para o Mestre do Gelo e da Água.

- Eu ia te dizer isso antes, mas depois da nossa reconciliação e do que você me contou hoje pela manhã, está realmente difícil adiar mais para te falar. - o francês completou.

Ouvir isso fez com que recomeçasse a chorar.

- Desculpa, Kâ – pediu entre lágrimas - eu juro que não estou fazendo isso para você ficar com pena de mim e não terminar, mas... Desculpa... - disse com a voz sumida - ...eu não consigo...

O grego recolocou a mão no rosto.

- Mon Ange, - o francês se aproximou e pegou as mãos do outro entre as suas - eu não vou terminar com você, - disse secando suas lágrimas - que idéia absurda é essa ?

- Não vai ? - perguntou choroso.

- Claro que não.

O grego jogou-se nos ombros do outro e chorou mais ainda. O Aquariano ficou entristecido. Milo não era uma pessoa que tipicamente chorava. Pelo jeito o pesadelo tinha arrasado o amigo e afetado completamente seu controle emocional.

- Oh, Mon Ange. - disse abraçando o outro - Você está muito fragilizado pelo pesadelo que você teve. Esqueça essa lembrança ruim, por favor. Já acabou e eu não vou deixar que nada aconteça com você. - acariciou os cabelos cacheados do amante - Vou colocar uma música para você se acalmar, tudo bem ?

Kamus foi até a frente do carro e colocou um CD. Voltou com um pacotinho de lenços de papel e abriu, entregando um ao Escorpiniano. A música lenta enchia o ambiente a acalmava o grego.

O francês deixou o controle remoto do CD player no banco do motorista. Encostou-se na porta e fez sinal com a mão para o Escorpiniano se aproximar.

- Vem cá. Põe as pernas no banco e deita aqui no meu peito.

O Escorpiniano obedeceu, deitando-se de costas para Kamus. Os dois ficaram de frente para o outro lado. O Aquariano ofereceu outro lenço de papel ao amigo e ficou acariciando seus braços. O grego foi se acalmando. O francês deslizou os dedos pelo braço do outro cavaleiro e enlaçou sua mão.

- Mon Ange, me desculpa se não tenho te tratado bem. - pediu beijando de leve o rosto do cavaleiro de Escorpião - Tenho sido muito frio e nem um pouco romântico. Você não merece isso.

Milo fungava de vez em quando e passava de leve os dedos sobre a mão do Aquariano.

- Realmente me desculpe meu Escorpiãozinho, mas eu nunca me relacionei com um homem antes. Não sabia como agir. – explicou.

O francês afastou os cabelos perfumados do outro e beijou-o novamente no rosto. Recomeçou a acariciar seu braço e falava-lhe bem próximo do ouvido.

- Com mulheres é diferente, Milo. – deu uma pausa - A gente pode chamar uma menina de minha gatinha, minha florzinha que tudo fica numa boa. Ela não vai achar ruim e nem estranho, mas eu NÃO SABIA como te tratar.

O grego ouvia o que o outro falava e meditava suas palavras.

- Pôxa Milo, me dá um desconto ! – suplicou - Eu NÃO SABIA se podia te chamar de Mon Ange ou o que você pensaria se eu te chamasse de Escorpiãozinho. Lembre-se que eu NÃO SABIA que você gostava de mim. - se justificou - Na minha cabeça o nosso relacionamento era mais carnal e... eu tive vergonha de falar com você deste jeito e você...

- Ficou com medo de quê, Ka ? Deu te chamar de viado ? - perguntou ainda choroso.

- Mon Ange, me perdoa. – pediu abraçando o outro ainda na posição que estavam - Eu realmente não sabia se podia te tratar como uma menina e nem sabia como me comportar com você. - suspirou - Era um desafio à minha masculinidade. Não é uma adaptabilidade fácil. - deu uma pausa - Não dá para saber exatamente o que fazer, assim, de um dia para o outro. Você está me entendendo ?

- Claro, me desculpa por ficar te exigindo. - pediu tristemente.

- Não, Mon Ange. - disse apertando o outro amorosamente no abraço e beijando-lhe o rosto - Não é culpa sua. EU estou me declarando culpado. EU não sabia ao certo como me portar. Você tinha carências que EU não percebi. Teve até que chamar minha atenção para eu enxergar que EU estava deixando a desejar.

- Kâ, você nunca deixou a desejar. - disse respirando profundamente e bem mais controlado - Quando a gente brincava (2) você sempre foi carinhoso, me abraçava, me beijava. O único problema é que às vezes não era sexo que eu queria. Antes que você fale qualquer coisa... - disse se virando de frente para o amigo - ...eu ADORO brincar com você. É sempre muito bom e você é muito gostoso, mas realmente tem vezes que não é sexo que eu quero. Sei que parece estranho ouvir isso da minha boca, mas é verdade. Tem dia que um simples abraço, um simples sorriso ou só ouvir a sua voz, resolve. A gente nem precisa dormir juntos. - explicou.

- Eu sei que errei muito, Mon Ange, - baixou por instantes o olhar - mas ainda estou aprendendo. Fiquei muito tempo em conflito comigo mesmo para saber o que eu sentia por você. - deu uma pausa – Eu nunca senti isso por ninguém, Milo. - disse sinceramente – Oh, Mon Ange, eu tenho TANTO medo de te perder. - falou apertando a mão do grego.

O cavaleiro de Escorpião sorriu.

- Não vai me perder.

A música lenta que rolava de fundo deixava o clima mais romântico. Kamus sorriu e recebeu um novo sorriso em resposta. O francês aproximou-se mais do Escorpiniano.

-Mon Ange, você fica tão bonito de branco - disse passando de leve os dedos pelo ombro do grego – Eu nem acredito que tenho você e nem acredito que gosta de mim. Você é perfeito demais para ser de verdade. – Milo sorriu novamente - Eu queria te pedir uma coisa, mas... eu me acho um pouco infantil fazendo isso, mas... bem.

Parou de falar e virou-se para pegar no porta-treco atrás do banco do motorista, duas caixinhas. Abriu-as. Colocou o conteúdo nas mãos do grego.

- São duas correntinhas de prata. Cada uma tem uma aliança de prata como pingente. Eu pedi para gravar no interior de cada uma três de janeiro, a data do nosso primeiro beijo e a data que oficialmente começamos a "ficar" - olhou para o grego, que sorria – Eu também pedi para gravar a letra K em uma e M na outra.

De repente o Escorpiniano ficou sério.

- Uma aliança gravada ? Por acaso você está oferecendo uma aliança de compromisso ?

O francês gelou. Não conseguiu identificar o tom que o amigo imprimira na frase. Será que o outro estava achando que teria uma "coleira" no pescoço ? Milo já havia dito ao Aquariano, quando se reconciliaram, que de vez em quando beijava uma ou outra menina. Era óbvio que o grego ia querer continuar a TER liberdade e não PERDÊ-LA.

- Não se preocupe, Milo – apressou-se em dizer - não estou te oferecendo nenhuma coleira. Você pode ficar com quem você quiser, – deu uma pequena pausa – mas... se você pudesse... só me avisar antes, para eu saber. – fez um olhar suplicante.

- Kâ, - disse colocando a mão sobre a mão do amigo, ainda sério – mas se é uma aliança de compromisso, significa que estamos namorando ?

- NÃO. – disse rapidamente.

Desde o dia em que pegou Milo e Afrodite juntos (3), Kamus morria de medo de perder o grego. Era melhor dividi-lo com alguém a não tê-lo mais.

– Mon Ange, que bobagem – disse sorrindo e depois ficou sério – Não. Não é nenhum compromisso. – estava tenso - Você vai continuar a ser livre como era porque...

Milo sorriu e colocou a mão nos lábios do amigo impedindo que continuasse.

- Eu adorei o presente, Ka. QUERO a coleira. QUERO ser oficialmente SEU.

- Então acho que estamos namorando. – Kamus respondeu timidamente.

O grego abriu a porta do carro.

- EU ESTOU NAMORANDO ! – gritou com uma alegria infantil..

- MILO ! Seu doido ! – disse puxando-o de volta e fechando a porta.

Os dois ficaram rindo. Kamus parou de rir e ficou sério.

- A partir de hoje não vamos mais fingir que estamos procurando meninas quando sairmos só os dois, mas acho que não poderemos dizer aos outros que estamos namorando. Talvez tenhamos que continuar a fingir na frente deles também. - falou com um pouco de tristeza.

- Não tem problema. Um dia tudo vai ser diferente e não haverá preconceito sobre o nosso relacionamento e não teremos que esconder mais nada de ninguém. Acho até que a Saori vai até revogar aquela lei estúpida que não permite que os cavaleiros e as amazonas se casem. Aí eu vou casar com você. – disse sorrindo.

Kamus e Milo sorriam, mas sabiam que era um sonho impossível. Ainda que a deusa revogasse a lei, e os cavaleiros e amazonas se casassem com quem bem entendessem, eles continuariam sendo dois homens e isso, era socialmente incorreto.

Com a Fundação tendo um nome internacional a zelar, seria difícil Saori explicar aos acionistas internacionais, gente muito antiquada, que o gerente financeiro da matriz era CASADO com o professor de música.

Além disso, socialmente, era um péssimo exemplo para as crianças da Fundação. Poderiam até acusar a garota de apologia ao homossexualismo. Isso traria uma imagem muito negativa para a Fundação e as crianças até poderiam ser retiradas de lá.

Os cavaleiros ainda poderiam ser julgados por seus atos no tribunal do Santuário e se essa atitude fosse encarada como uma ameaça à deusa, seriam declarados traidores. A punição para os traidores era a pena de morte. Shura sabia muito bem disso pois teve que executar a pena em seu melhor amigo, Aioros.

Mesmo sabendo de tudo disso, os dois sorriram um para o outro, fingindo que o momento que estavam vivendo estava acima de qualquer lei ou preconceito humano.

- Coloca a minha "correntinha" de compromisso ? – Milo pediu ao amigo.

Kamus colocou o presente no pescoço do Escorpiniano e o grego aproximou-se para colocar no Aquariano também.

A música acabou e uma outra começou a tocar.

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- Mon Ange, - perguntou enquanto o outro terminava de prender a correntinha - você não está achando tudo isso muito... bobo ?

- Se eu fosse uma menina você estaria me perguntaria isso, Kâ ?

- Acho que não. – sorriu ao constatar esta verdade.

- Então esqueça este machismo tolo. Vamos apenas vamos ser felizes, sardentinho. – falou dando um selinho no amigo.

Kamus sorriu e depois ficou sério. Respirou profundamente. O Escorpiniano percebeu que a respiração do outro estava um pouco descontrolada. O francês estava ganhando coragem.

- Milo, - deu uma pausa - na verdade eu te trouxe aqui para falar uma coisa.

O cavaleiro olhou de relance para a mão do amigo. O Aquariano tremia um pouco. O grego ficou prestando atenção às palavras do outro.

- Mon Ange... meu anjo. - sorriu e deu outra pausa – Eu adoro esse seu jeitinho infantil e sedutor ao mesmo tempo. – sorriram um para o outro e Kamus se aproximou mais - Milo... eu não consigo mais guardar isso dentro de mim... - beijou suavemente a mão do Escorpiniano - Você roubou a minha vida, mudou a minha história, transformou meu coração. Tudo o que sou agora, sou por você. Não consigo mais andar, pensar, respirar... eu não consigo mais VIVER sem você. - respirou profundamente.

O grego sentiu seu coração falhar. Uma dor gostosa veio de dentro do seu peito. Teve um leve tremor e um calor subiu pelo seu corpo. Estava se sentindo ansioso, como se fosse experimentar seu primeiro beijo.

Os olhos azuis de Kamus pareciam mais azuis. O francês desceu um pouco o olhar pelo rosto do outro e encontrou os lábios entreabertos do cavaleiro de Escorpião, suplicantes por um beijo. Olhou novamente para os olhos atentos do grego.

O momento era tão intenso, que apesar da música de fundo tocar baixinho, parecia que o tempo havia parado. Podiam até ouvir a respiração um do outro.

- Milo – disse suavemente, olhando fixamente nos belos olhos azuis do outro - Eu te amo.

Aqueles instantes mágicos retardaram o movimento dos dois. Pareciam que estavam em câmera lenta. Um sorriso começou a se formar no rosto do Escorpiniano.

O grego ainda estava em estado letárgico. Esperou tantos anos para ouvir aquelas palavras e agora, simplesmente não reagia. Era perfeito demais para ser verdade.

Os olhos brilhantes do Aquariano tornaram-se suplicantes, pedindo qualquer reação do outro que comprovasse seu aceite.

Milo finalmente saiu do transe.

- Kâ, - disse baixinho - se isso é um sonho, por favor não me acorde.

O francês sorriu. Fechou lentamente os olhos e se aproximou suavemente da boca do cavaleiro de Escorpião. O hálito quente de Kamus causou um leve tremor no grego. Milo fechou os olhos. Suas bocas se tocaram suavemente e as línguas macias se acariciaram. O Aquariano aproximou-se ainda mais para prolongar o momento.

A música lenta que tocava ao fundo enchia-lhes os ouvidos e acentuava o sabor do beijo.

Terminaram de se beijar e se afastaram um pouco, ficando apenas se olhando. Milo esticou um pouco o pescoço e aproximou-se do francês, beijando-lhe o rosto. Kamus passou a mão no rosto do amigo.

- Eu também te amo Kâ. Muito.

O cavaleiro de Aquário sorriu. A música acabou e Milo pegou rapidamente o controle e voltou a música

- O que você está fazendo, Mon Ange ?

- Repetindo nossa música.

Kamus riu. O grego voltou a olhar para o amigo e sorrir. Olhava para a boca do Aquariano enquanto se aproximava. O francês sentia seus lábios formigarem de vontade de serem tomados pelo Seu Anjo.

- Pelos céus, Milo, como eu te amo.

E aproximou-se para se beijarem novamente. Aproveitaram o beijo como se fosse único. Depois de terminarem, o grego se aconchegou no peito do amigo.

- Kâ, o que você acha de comemorarmos nosso namoro andando de mãos dadas lá fora ?

Saíram do carro mas o grego fez questão de aumentar a música. Um doce vento beijava o cabelo dos cavaleiros. Os dois admiravam as estrelas enquanto enlaçavam suas mãos.

- Repete o que você me disse. - o Escorpiniano pediu.

- Eu te amo.

Milo abraçou o outro.

- Não é só você que é perfeito, Kâ. Esta noite também. Parece que foi feita só para nós dois. - e apontou para a enorme lua que os observava

A brisa suave passeava pelos cabelos dos amantes enquanto a lua gorda olhava sorridente para os novos namorados, como se os abençoasse.

Riram e andaram pelo lugar. Pareciam duas crianças se divertindo. Ficaram sentados em algumas pedras, abraçados, vendo o mar bater nas rochas.

- Kâ, se eu te pedir uma coisa você promete que não fica bravo ?

- O que é ? - perguntou fingindo irritação.

- É que eu lembrei que tem shake no carro e deve estar derretido. Você pode congelar ele um pouquinho para mim ?

- Milo !

- Ah, Kâ, faz isso pelo seu namorado, faz. - suplicou.

O francês riu do amigo antes de se levantar e oferecer-lhe a mão.

- Milo, você não existe.

Foram até o carro, ainda de mãos dadas. O Aquariano olhou para o belo rapaz ao seu lado e sorriu.

Realmente era uma noite perfeita.

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Fundação. Terça-feira pela manhã.

As crianças especiais chegariam às nove. Os professores foram logo cedo para a Fundação a fim de deixar tudo para recebê-las. Houve uma conversa geral com todos os alunos mais velhos e eles foram orientados a tratarem bem os novatos.

Os novos moradores começaram a chegar pouco depois das nove e tiveram uma recepção calorosa por parte dos internos da Fundação.

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Carola estava de mãos dadas com Cardosinha, mas saiu correndo para receber o segundo ônibus que chegava. A menina estava ansiosa para receber um dos novatos.

Quando uma menina magrinha, de olhar assustado, aparentando uns oito anos desceu com um ursinho na mão, Carola apressou-se em se apresentar.

- Oi. Eu sou a Carola. Tudo bem ? Como é que você chama ?

- Me chamo Giuliana Pisani. – falou temerosa a princípio, mas depois foi se soltando - Mas pode me chamar de Nana.

- Pisani ? Que nome é esse ?

A nova aluna sorriu. O rapaz que tinha trazido as crianças colocou a mala da garota ao seu lado e foi pegar a mala das demais crianças.

- Bem, minha mãe me disse que o nome Pisani vinha de Pisa. A cidade Italiana de Pisa, onde tem uma torre torta bem famosa. A Torre de Pisa. - explicou.

- Que legal, então você é italiana ?

A pergunta não passou despercebida por outra aluna que estava por perto.

- Sou. - respondeu.

- Então vem - Carola pegou a mão da menina - Vamos tomar café e você me conta como é a Itália.

- Deixa que eu levo sua mala. - Sinistra Negra se aproximou e falou para a novata.

- Ei, ela é MINHA amiga e EU vou levar a mala dela. - Carola falou desafiadora.

- Qual é pirralha ? Você não tem nem tamanho para levantar esta mala. - disse com o costumeiro tom agressivo. - EU levo. É muito pesada para você - falou levantando a bagagem de uma vez.

- Você consegue levantar ? - Nana perguntou surpresa.

- Claro.

- Se importaria de me ajudar ?

- Claro que não. - Sinistra mostrou a língua para Carola.

- Vem Carola - Nana convidou - vamos tomar café juntas.

A pequena mostrou a língua para Sinistra que ficou estática. A princípio menina se sentiu levemente triste por ter sido rejeitada pela novata, mas logo seu ar auto-suficiente voltou.

- Vou levar a mala lá em cima. – falou sem olhar para as outras duas.

- Não. Vem tomar café com a gente também. - Nana pediu.

- Oi meninas, deixa que eu levo a mala. – o rapaz que trouxe o segundo ônibus pegou a bagagem e saiu.

- Vão tomar café. – Sinistra Negra disse secamente para as outras duas – Eu tenho mais o que fazer.

- Desculpe, - a novata falou – mas ainda não sei seu nome.

- Me chamam Sinistra Negra. – respondeu em um tom arrogante.

- Bem, Sinistra Negra, eu sou a Nana. Tenho um pequeno problema de visão e como a Carola é pequena, se eu tropeçar e cair talvez ela não consiga me levantar sozinha.

A menina mais velha pensou um pouco antes de responder.

- Tudo bem. Se é assim, eu vou. Essa pivete não vai mesmo conseguir te levantar. Tem bracinhos de formiga.

Carola não respondeu, mas Nana sorriu. Já tinha marcado um ponto com a italianinha enfezada.

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As três tomavam café juntas e conversavam.

- Como é que você ficou cega, Nana ? – Carola perguntou sem meias palavras.

- O meu irmão brincava de laboratório de química e fiquei muito perto do tubo de ensaio. O líquido aqueceu e explodiu entrando dentro do meu olho junto com os cacos de vidro. Perdi mais de oitenta por cento da visão.

- Você deve odiar seu irmão. – Sinistra observou - Por que os homens têm que ser tão IDIOTAS ? – perguntou agressivamente.

- Não. Eu não o odiava. – explicou - Estávamos sozinhos em casa e foi ele quem me levou de bicicleta para o hospital. Se eu tivesse esperado a ambulância, teria perdido a visão completamente.

- Você disse que não odiava. – a garota mais nova das três perguntou - Por quê ? Agora você odeia ?

- Não Carola. Ele... – baixou um pouco o olhar antes de continuar - morreu no acidente de carro junto com meus pais. O médico me disse que a última coisa que ele falou... - a menina enxugou uma pequena lágrima - ...foi meu nome.

- É. – Sinistra Negra disse calmamente - Parece que nem todos os meninos são imprestáveis.

- NOSSA NANA ! – Carola gritou - Você conseguiu um milagre ! A Sini falando bem de um menino ? - e começou a rir.

- SINI ? Sinistra Negra para você. – apressou-se em dizer, mas depois acabou rindo também.

As três novas amigas ficaram conversando e dando risada sobre várias coisas.

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Milo chegou no refeitório junto do Pisciano, trazendo mais crianças para tomar café. Teffy, toda dengosa, colou no professor de música.

- Professor, esse mês você só vai dar aula para os alunos novos ? - perguntou visivelmente enciumada.

- Claro que não meu amor. - disse abraçando a aluna e abaixando para beijá-la na testa - Vou precisar de todos os alunos antigos para me ajudar, principalmente de você que é tão aplicada na aula.

A garota sorriu.

- Oi professor ! - Volpi chegou e abraçou a cintura do grego, que se abaixou para receber um beijo da menina.

- Volpi, você estava comendo doce ?

- Como você sabe, professor ?

O grego levou a mão até a bochecha melada. A menina entendeu e começaram a rir.

Afrodite desviou sua atenção para uma agitação que estava acontecendo na entrada do refeitório. A cena era cômica. Pipe, vinha com quatro crianças "penduradas" nela. Segurava um garotinho nos braços, trazia uma menina pela mão e duas garotinhas moreninhas se agarravam em sua roupa. O professor de Artes riu e foi ajudar a aluna.

Kitsune estava contando para os novos amiguinhos de cadeira de rodas sobre os desenhos que fazia e Cardosinha olhava maravilhada para duas irmãs surda-mudas que tentavam falar com a menina por meio de sinais e riam pois a garota não entendia nada.

Ia-Chan e Neme estavam lá fora recepcionando novas crianças e Fernando mostrava um inseto para um garoto novo.

Lady ajudava a organizar a fila para o café da manhã. Ilia abria espaço para a passagem das cadeiras de rodas e Anjo Setsuna corria, sem sucesso, atrás de uma garotinha loirinha surda-muda muito risonha.

- Alguém aí pegue a Shakinha. – Setsuna pedia enquanto tentava alcançar a menina.

Realmente a pequena era bem parecida com Shaka.

Outras crianças tomavam cafés juntas ou apenas conversavam. O Escorpiniano olhou tudo aquilo e sorriu.

Aquelas crianças eram a sua vida e agora que seu francesinho tinha dito que o amava, esperava conseguir adotar uma criança em pouco tempo. Logo seriam pais e teriam a mesma felicidade que sentia junto dos seus alunos, na sua própria casa.

Ainda sonhava acordado quando ouviu seu nome sendo chamado.

- Milo ! Milo ! - Dido chamava o amigo - me ajuda aqui !

O sueco estava no meio de um monte de crianças que falavam ao mesmo tempo, riam e corriam. O Pisciano tentando, junto da Lady, organizar a fila do café. O Escorpiniano sorriu antes de sair de onde estava para salvar o amigo e a aluna.

-o-

A manhã toda foi ocupada em receber e acomodar os novos internos. Na parte da tarde, eles já tiveram sua primeira aula de artes. O tempo era curto e Afrodite precisava correr.

No final do dia, o cavaleiro de Peixes veio falar com o grego.

- Mi, preciso da sua ajuda. Eu tive uma longa conversa com o Deba e o Shaka, que está me ajudando a escrever a peça e o Deba teve uma idéia maravilhosa para o terceiro ato. Vamos apresentar uma dança típica do país dele.

- Sempre achei que o Deba se daria bem no teatro. – o Escorpiniano comentou.

- Mi, preciso de uma menina que cante bem. Dou preferência para as mais velhas, pois também vai precisar dançar. Mas se alguma das novatas cantar bem, mesmo que seja cega ou use cadeiras de rodas, não tem problema, eu mudo um pouco a personagem da peça para ela. Só preciso disso amanhã SEM FALTA. A cena é complexa e temos que começar já.

- Pode deixar.

- Ah ! Vai sobrar para você também. Vou pedir para o Deba falar com você para saber se os instrumentos que tem dá para tocar aquele tipo de música.

- Ok.

O grego pediu para a secretária passar um comunicado no jantar que estavam selecionando meninas para cantar na peça. Podiam ser das internas antigas ou das novas.

-oOo-

Manhã de quarta-feira, na Fundação...

Com a proximidade da peça e do show, Milo havia conversado com Saori para não tirar sua folga nas manhãs de quarta. Disse para a menina que ainda queria uma manhã livre, mas entendia o momento que passavam e que toda ajuda era necessária. A garota aprovou a solicitação do cavaleiro e autorizou-o a fazer isso até a semana do show.

Logo cedo o Escorpiniano entrevistou dezoito alunas e fez uma prévia. Conforme Afrodite estava explicando em suas aulas, disse para as meninas que não ser escolhida para este papel não significava que não participariam da peça. Tinha muito trabalho a ser realizado. Eram figurinos de época, cenário, atuação, maquiagem, produção, som, apoio. Não faltaria o que fazer.

O grego separou sete meninas para um teste de público. Escolheu o terceiro anfiteatro, onde cabiam quarenta pessoas. Afrodite ensaiava as crianças no anfiteatro intermediário, ao lado do Escorpiniano. Assim que Milo conseguisse as três finalistas, chamaria o sueco.

Vários alunos se ofereceram para assistir e votar, além dos professores de História, Corte e Costura e Língua Estrangeira. A professora de Educação Artística substituiria Saori que estava muito ocupada pois acabara de confirmar a participação da banda Pearl Jam para fechar o II show beneficente.

O Escorpiniano achou que como era um teste de voz, não havia necessidade de visualizar a menina e além disso preservava a candidata. Um biombo foi colocado para guardar a identidade das candidatas e não interferir na votação. Duas, entre as garotas, eram novatas.

Quando só restaram três meninas, escolhidas por votação, o grego chamou o Pisciano. As três novamente se apresentaram e a segunda candidata recebeu quase a soma do voto das outras duas. Para ser mais justo, o Escorpiniano se absteve de votar todas as vezes.

Depois de escolherem a menina, Milo subiu no palco, tirou o biombo e declarou Nica, uma garota de cadeira de rodas, como a vencedora. Todos aplaudiram, exceto o professor de Línguas que se pronunciou aborrecido.

- Desculpe professor Afrodite, mas creio que este tipo de avaliação vocal deveria ter sido realizado às claras. Já há vários novatos atuando na peça, inclusive nesta cena da cantora. Não seria melhor dar oportunidade aos veteranos ?

- A oportunidade foi dada. – o sueco respondeu – Eram treze garotas veteranas e cinco novatas inscritas. A votação foi imparcial.

- Desculpe insistir professor Afrodite, mas está aqui no papel que recebi com as regras para o teste, que a garota precisaria cantar e dançar e que caso fosse uma garota deficiente, por exemplo na cadeira de rodas como a menina que ganhou, você teria que modificar a peça para encaixá-la. Será que isso não leva mais tempo ? Daqui a pouco é a peça e não podemos perder um minuto sequer.

O grego estava do lado da ganhadora e viu que a menina baixou os olhos. Até que tentou se controlar, respirando fundo, mas não conseguiu.

- Professor Nivalus, as crianças novatas NÃO SÃO crianças DEFICIENTES, são crianças ESPECIAIS ! E "esta menina que ganhou" tem nome. Chama-se Nica.

- Desculpe professor Milo, mas a minha conversa é com o professor de Artes. - virou-se para o Pisciano - Estou dizendo que você terá que mudar a peça apenas para encaixar a garota e dar uma oportunidade para os novatos. Mas isso não é demagogia ? Não há este mundo perfeito lá fora. Não há oportunidade para todos e PRINCIPALMENTE, lá fora as coisas não serão alteradas para encaixar estas crianças "ESPECIAIS" - olhou para Milo que espumava - Você não está criando uma falsa esperança para estas crianças ?

- Se o mundo lá fora não dá oportunidades, - o Escorpiniano respondeu - é por isso que elas estão aqui dentro, professor Nivalus, justamente para aprender a CRIAR oportunidades e enfrentar o PRECONCEITO - frisou bem esta palavra sem tirar os olhos do professor - de pessoas IGNORANTES e MAL PREPARADAS para a vida que a gente é OBRIGADO a conviver.

- Faço das palavras do Milo as minhas e ainda completo que demagogia é o que você está fazendo neste momento professor. - Afrodite terminou.

Todos alunos aplaudiram e assobiaram. O cavaleiro de Escorpião sorriu.

- Vocês dois não tem noção de nada. Ficam presos naquele mundinho que chamam de Santuário e se acham o máximo por serem cavaleiros e se portarem como idiotas em uma armadura.

O grego ficou irritadíssimo. Ia descer do palco e provavelmente socar aquele idiota, quando uma mão o segurou.

- Professor Milo ! Por favor não brigue com o professor Nivalus por minha causa. Todos têm o direito de se expressar. Mesmo que não seja o que quero ouvir, ele TEM este direito e... – deu uma pequena pausa - se a oportunidade é para crianças normais, eu me candidato a outra vaga. – disse e rapidamente baixou a cabeça, tentando esconder os olhos enevoados.

- Não se preocupe meu anjo. – o cavaleiro de Escorpião voltou a se aproximar da menina e abaixou-se para ficar mais próximo - A vaga é para uma menina que canta bem. Você é menina e canta bem. Ganhou o teste honestamente. Não há o que te desmereça. – falou colocando a mão sobre a mão da pequena.

A garota sorriu.

- E depois professor Milo – a professora de Educação Artística começou a falar – estou aqui representando a Senhorita Saori e o que vi aqui não me deixa outra saída a não ser encaminhar um pedido de repreensão para o professor Nivalus, cuja postura não foi adequada.

Novamente os alunos aplaudiram e assobiaram.

- Professor Milo, isso não vai ficar assim. – saiu irritado.

- Desculpem pela confusão. – a garota da cadeira de rodas pediu aos professores de Música e Arte.

- Só estará perdoada se fizer uma excelente apresentação na peça. – o Escorpiniano falou piscando para a menina.

Recebeu um sorriso em resposta.

Aquelas crianças eram SUA vida. SUA felicidade. E NINGUÉM que tentasse quebrar esta harmonia, sairia ileso.

-o-

Bateu na porta da diretoria e pediu permissão para entrar. Sentou-se na frente da deusa.

- Saori, não sei se você já soube o que aconteceu no anfiteatro, na escolha de uma candidata para o terceiro ato.

- A professora de Educação Artística acabou de sair daqui. O professor Nivalus pegará uma suspensão de três dias.

- Desculpe Saori, mas acho que você não está tomando a atitude que deve ser tomada.

- Como assim ?

- Seu avô era uma pessoa enérgica, fiquei sabendo, mas muito imparcial. Quando uma coisa é certa, é certa. A atitude do professor de Línguas só vem a mostrar que temos um preconceito crescendo aqui dentro. As crianças especiais são INCOMPATÍVEIS com este preconceito. Se você permitir que ele continue na Fundação, o preconceito ganhará, então é melhor que eu saia agora e organize as filas para as crianças voltarem para o ônibus, pois aqui não é o lugar delas.

- Milo, você está sendo muito radical.

- Saori, algumas vezes precisamos ser radicais. Como você acha que estas crianças vão se sentir sabendo que há um professor que não gosta delas ? Como vão render nas aulas ? Como vão vencer na vida ? Como conseguirão buscar motivação para construir sonhos, construir oportunidades, se o PRÓPRIO educador, as faz acreditarem que são inúteis e incapazes ?

- Milo ! Ele não disse isso.

- Desculpe Saori, mas não precisava dizer. Todos viram. E se você não quer acreditar, tudo bem. Nem vou dizer que ele atacou o Santuário e nos desrespeitou como cavaleiros, - o grego era ardiloso, falou que não ia dizer, mas disse – pois isso é o que menos importa. Acho que a preocupação maior é com o bem estar das crianças.

- Mas eu não posso demiti-lo. Não tenho outro para colocar no lugar...

- Estamos no mês de ensaio da peça e do show. Ele não fará falta. – o grego replicou.

- Milo, sinto muito, não posso fazer isso. É muito extremo.

O cavaleiro se levantou.

- Então sinto tomar seu tempo. Pensei que trabalhava em um lugar que acreditava nos seus moradores e era isso que nos fazia diferentes. Pensei que aqui construíamos cidadãos e não éramos apenas um DEPÓSITO de crianças. Pensei que aqui preparávamos pessoas para saírem de cabeça erguida pois as dificuldades lá fora não seriam NADA perante a formação e o carinho que tiveram.

O Escorpiniano tremia de raiva.

- Que pena, que eu estava enganado. - continuou - Só peço aos deuses que ao menos ALGUMA alma piedosa tenha PENA destas crianças MISERÁVEIS, destes INCAPAZES, destes DEFICIENTES, destes ALEIJADOS, destes INÚTEIS e os adote, nem que seja como ENFEITE para a casa, porque PENA é o único sentimento que posso ter por estas crianças, diante desta atitude INFANTIL que estou presenciando.

Saori tentou falar mas o grego não deixou.

- Sou uma pessoa responsável senhorita. Não vou abandoná-la agora. Mas o último dia que fico aqui será a última sexta-feira que antecede o show. Não sou o tipo de pessoa que consegue levantar todo dia de manhã e me preparar para vir em um lugar o qual tenho vergonha de dizer que trabalho. Tenha uma boa noite de sono. – e virou-se para sair.

- MILO ! Espera.

O grego sorriu. Não era só Afrodite que era bom de performance. Milo além de tudo, também era bom nas palavras.

- Sim ? – perguntou seriamente ao se virar.

- Sente-se por favor. Você tem toda razão. Eu estou sendo infantil e imatura. Preciso demiti-lo agora.

- Quer que eu chame a moça do R.H. ?

- Você me faz este favor ?

- Claro Senhorita.

Ia sair, mas voltou.

- Saori ?

- Sim, Milo ?

- Estas crianças estão bem servidas. Eu tenho orgulho de você.

- Obrigada. – disse com um sorriso. – Você sempre me ajuda a ser melhor.

Piscou para a deusa e saiu sorridente. Quando fechou a porta sua feição se transformou. Para certos assuntos, o Escorpiniano não era apenas vingativo. Quando mexiam com quem amava, era impiedoso.

-oOo-

Noite de quinta-feira. Em um dos salões do Santuário...

Os componentes da banda Sétimo Poder ensaiavam suas músicas quando receberam a visita de Saori.

- Olá rapazes. Tenho novidades. Vocês ficarão mais famosos.

- Por quê ? – Milo perguntou curioso.

- Vocês ganharam uma entrevista de QUATRO páginas em uma revista de abrangência nacional !

- OBA ! QUE DEMAIS ! VAMOS SAIR NA ENTREVISTA PRINCIPAL DA SANTUÁRIO TIMES (5) ! – o Leonino gritou eufórico.

- Não exatamente Aioria. – Saori corrigiu – Vocês vão sair na entrevista principal, mas da revista Ninfas.

- Ninfas ? – Kamus perguntou sem a menor noção de que revista era aquela.

- É uma revista voltada para o público adolescente. Mais propriamente, as meninas adolescentes. Preparem-se, a entrevista será feita na semana da peça, mas só será publicada na semana do show.

Saori saiu da sala.

- QUE DROGA ! NINGUÉM LEVA NOSSO TRABALHO A SÉRIO ! – Aioria se manifestou irado. – Eu NUNCA ouvi falar nesta PXXXX desta revista ! Por que a gente não pode sair na Allegra ou na Santuário Times ? – perguntou aborrecido.

Allegra também era uma revista voltada para as garotas adolescentes, mas já estava há anos no mercado e era muito conhecida.

- Larga de ser mané, gatinho. – Shura se manifestou – A Santuário Times tem mais o que fazer que entrevistar quatro babacas metidos a roqueiros.

- Ei, pode ficar com o título de babaca para VOCÊ. – Milo replicou.

- Claro. Porque de METIDO e de ROQUEIRO, posso deixar para você, não é Escorpião ? – respondeu.

Os dois começaram a discutir.

- Calma meninas. – Aioria tentou apartar.

Kamus gelou. Por que o Capricorniano tinha separado "metido a roqueiro" interpretando cada uma das palavras se era uma única expressão ? O que EXATAMENTE Shura queria dizer com METIDO ? Será que era uma palavra de duplo sentido ? Será que o espanhol estava levando para o lado pornográfico ? O que ele sabia sobre a primeira vez do Escorpiniano ?

O Aquariano estreitou os olhos. Ia descobrir tudo por trás deste pesadelo. TUDO.

E não importava como.

Próximo capítulo: Com a proximidade do fim do mês, o grego faz um tour para convidar seus amigos para o show. Milo aproveita para fazer uma visita para um francês muito especial e fica sabendo das últimas novidades.

Nota da autora – Dedicatória

Lê, como você comentou que havia pouco romantismo, fiz este capítulo pensando em você. Espero que goste.

Nota da autora – Errata

O palavrão italiano do último capítulo está escrito como se pronuncia. A grafia correta é cazzo (Calíope e Cardosinha)

Nota da autora: Explicações

( 1 ) História contada em Recordações - Fase: Cartas - Capítulo IV - A última carta

( 2 ) Palavra que os dois utilizam para substituir sexo e poderem conversar.

( 3 ) História em CVA - Ano I - Mês Junho - Semana IV - A vitória do Peixinho

( 4 ) No mesmo site tem a tradução. Vejam como combina com os momentos dos dois

( 5 ) Santuário Times é a revista utilizada na fic de mesmo nome da escritora Calíope Amphora, que gentilmente me deixou utilizar o nome da revista nesta fic.

Nota da autora - agradecimentos

Gostaria de agradecer a todos que acompanham, principalmente as que mandaram e-mail:

Volpi - Está quase surtando com um probleminha no micro, mas prometeu ler a fic assim que possível.

(B. Patty ) - Oi Volpi. Uma pena o que aconteceu com seu computador. Acho que vc vai gostar da sua personagem. Ela não DESGRUDA do Milucho ! rsrsrs.

Shakinha - Leu Recordações e gostou muito, principalmente das lembranças. Espera por mais Mu & Shaka. Gosta muito das histórias do Lual e do Dido como professor. Quer saber se o Kamus vai descobrir quem fez aquilo com o Mi.

(B. Patty) - Que paciência para ler tudo isso, hein ? rsrs. Em setembro tem Lual e o Mu & o Shaka vão aparecer mais. Sim, o Kamus VAI descobrir quem fez aquilo com o Mi, mas vou colocar pistas para todos seguirem também. .

Anjo Setsuna - Está inconformada com o que aconteceu com o Mi e espera que o Kâ tome providências ! Também achou engraçado o MM pedindo ajuda para o Mi, para ficar juntinho com o Dido .

(B. Patty) - Não se preocupe, o Kâ vai atrás de todas as pistas. Ah! Sim, estou preparando a noite com algemas para o Mi e o Ka e sai em breve também. Pronto. Não joguei ninguém no desfiladeiro. rsrsrs.

Lolita Calíope (Cale) - Que está lendo os outros caps até chegar no de Julho e ainda disse que ela é que é nova e não eu que sou velha.

(B. Patty) - Snif ! Mas também, ter metade da minha idade ? É sacanagem ! rsrsrs.

Calíope Amphora - Ficou angustiada com a primeira vez do Mi. Aposta no Shura, mas ainda acha que tudo pode mudar. Adorou o MM engolir o orgulho pelo Peixinho.

(B. Patty) - Obrigada pelas dicas, mais uma vez. Muito boas as suas deduções. Em breve o Kamus vai contar com dicas SUPER especiais e tudo será explicado, inclusive se o Shaka sabe ou não do relacionamento do Mi. Espero que tenha gostado do lado romântico dos dois. AH! Obrigada por deixar eu usar a Santuário Times !

Cardosinha - Já está imaginando o "fight" do Dido e do MM (na cama) ! Ficou muito triste com o pesadelo do Mi e espera providências. Não gosta deles terem que suportar o preconceito.

(B. Patty) - Ri até ao tentar visualizar o fight dos dois rsrs. O Kâ vai atrás sim. É o preconceito está complicado para estes dois. Vc tem razão, a Calíope também me alertou, o palavrão italiano é cazzo (tem uma errata nesta fic). Obrigada.

Carola - Está esperando a continuação da fic e quer ver sua versão mirim.

(B. Patty) - Aqui está. Espero que vc tenha gostado da sua versão mirim rsrsrs. E das suas amigas. rsrsrs

Nica–Bel - Está ansiosa por sua personagem e acompanhando a fic para saber as novidades.

(B. Patty) - Espero que tenha gostado da sua personagem. Mil obrigadas pelas ajudas. Em breve vem um lemon do Milo e do Kamus e com algemas !

Ilia-Chan - Achou que o Kâ ia convidar a ruiva do cinema para um programa a três na hora. Ficou com muita pena do Milucho. Semi-Aposta no Shura, mas acha que até o Shaka ou o Mu podem entrar nessa.

(B. Patty) – Obrigada pelo e-mail. Infelizmente não era pedido de casamento. Mas já valeu um pouquinho, não ? Em breve mais pistas...

Kitsune Youko - ADOROU ser pega no colo pelo Mi. Está apostando no Shura para ser o primeiro do Milucho. Também espera o Mu & Shaka.

(B. Patty) - O Mi não é fofo ? MM ou Shura ? Não perca as pistas. E como eu disse, o Mu e o Shaka vão começar a aparecer mais pois vão desempenhar um papel bem importante mais lá para frente.

Megara - Aposta no MM para o primeiro do Mi e está chocada. Não vê a hora do Kamus começar a agir e descobrir quem foi.

(B. Patty) - Acompanhe as pistas para ajudar o Sherlock Kamus nesta empreitadas. rsrs. Em breve uma pista muito reveladora vai ser postada... aguarde .

Giselle - Gostou muito de Recordações e CVA e gostou da forma de abordagem do tema homossexualidade. Está apostando no Shura.

(B. Patty) - Obrigada pela paciência e pelos elogios de incentivo. O Kamus não vai deixar barato não. Ele vai MESMO atrás de quem fez isso. MM ou Shura ? Só as pistas dirão.

Nana Pisani - Ficou chocada com a primeira vez do Mi e pensou que ele ia até ficar doente. Quer só ver se ele vai conseguir evitar que o Kamus ache quem fez isso.

(B. Patty) - Acho que aqui vc viu que o Mi ficou doente da alma. O Kamus tem armas que o Milo NEM desconfia. Vc vai ver em breve. rsrsrs. Vc gostou da sua personagem e das suas amigas ?

Neme Axiel - Ficou com muita peninha do Mi e se entristeceu pelo Shura estar na lista dos suspeitos.

(B. Patty) - Primeiramente, que negócio é esse de que "sou mais nova que a sua avó ?" rsrsrs. Pois é, o Shurinha está na lista sim. E o Kamus não vai poupar esforços. Mas aqui está um momento mais romântico dos dois.

Sinistra Negra - Ficou com MUITA peninha do Mi. Não aposta nem no Shura nem no MM. Quer só ver o que vai dar do MM no teatro.

(B. Patty) - MM ou Shura ? Em breve mais pistas. Aqui está, o Kâ não terminou e mais apaixonado, impossível. rsrsr. E em breve terá um francês muito especial na área. Vc gostou das suas amigas ?

Nota da autora: contato.

Façam uma novata feliz e escrevam para mim. Prometo que respondo todos os e-mails.

Para mandar comentários, críticas, dicas ou opiniões, podem me contatar no e-mail no erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com

- Jul/2005 -