Ainda e Sempre

Disclaimer: Esta história está baseada no enredo criado pela autora J.K. Rowling para a série Harry Potter, e a maioria das personagens são originárias dela. Não há, porém, qualquer lucro ou proveito comercial com esta atividade, que visa somente ao entretenimento entre fãs e internautas. Aviso, ainda, que esta songfic contém spoilers de Harry Potter e a Ordem da Fênix. Para este capítulo, o que me inspirou foi a canção popular "Greensleeves", que data da Inglaterra do século XIII, de autoria anônima, embora ela seja creditada ao Rei Henrique VIII. Aproveito, finalmente, para dizer que apresento uma tradução livre da canção, mantendo seu sentido original, para que possam aproveitá-la melhor.

Capítulo 4 – Vestindo veludo verde

O dia amanheceu nublado e frio, e a garoa que caía era fina a ponto de penetrar imperceptível e irremediavelmente nas vestes dos transeuntes que Ginny sabia estarem lá embaixo, cuidando de suas vidas. Para completar, o vento era cortante. Tinha certeza de que já passava das dez, mas ainda estava sob as cobertas, que a protegiam do ar frio que penetrava sob as frestas da porta, as venezianas e as telhas fora do lugar. Nada poderia ser mais animador do que aquilo para que a fizesse se levantar e pensar em se arrumar para sair. Afinal, suspirou silenciosamente, é sábado. O grande dia.
Decidida a não permanecer inerte o dia todo, jogou a roupa de cama para o lado, gemendo de frio em seguida, e rapidamente vestiu o roupão. Nada de pão. Esqueci de fazer. Pelo menos, tinha café. Ou pensava que tivesse, antes de abrir o pote que tirou da prateleira, sopesando-o com a cara suspeita. O mal-humor se instalou logo em seguida. Sem pão, sem café. Que droga! Vou ter de sair nesse dia terrível pra comp...AAARRRE!
Um estalido a assustou, e Fred e George surgiram à sua frente. – Ainda de pijama, maninha? Tsc, tsc... Pensei que você fosse como o nosso querido Percy, sempre madrugador e tão perfeito!
-- Ah, não enche, Fred! O que é que vocês estão fazendo aqui?
-- Bom dia pra você também, Ginny! – Zzombou George. – A mamãe pediu pra vir aqui pra ver se você precisa de alguma coisa. Mandou umas tortinhas de frutas secas e um empadão de costela de porco. – ela olhou desconfiada. – Pode comer, eu juro que não fizemos nada com a comida! – ele retrucou, inocentemente.
– Ah, ela também mandou suco de abóbora! – Completou Fred. -- Disse que sentia que você estava passando fome, já que Mione contou que você está magra... Quero dizer, mais magra do que de costume. Vamos, toma aí o seu café. A gente te faz companhia.
-- Nossa, quanta gentileza, rapazes! – Sentou-se na beirada da cama, enquanto os gêmeos se apoiavam na parede oposta, perto da janela.
O primeiro pedaço de empadão que abocanhou caiu em seu estômago como uma bênção, forrando-o completamente. Nada como a comida maravilhosa da sua mãe para fazê-la se sentir em casa, e estar com seus divertidos irmãos em sua casa era muito legal, também.
-- Nossa, Ginny, que lugar maneiro! Mas a Hermione não exagerou quando disse que aqui é pequeno. – George olhava para ela fixamente, e continuou a falar, depois de estender um copo para que ela tomasse o suco. – Bom, nós também começamos modestamente, lá no Beco Diagonal. Quero dizer, eu e o Fred tivemos de dormir no nosso depósito-laboratório!
De repente, tudo o que Ginny via ficou rosado, e ela começou a flutuar e a rodopiar lentamente. Engasgada, conseguiu apenas gritar: -- Socorro! –, enquanto eles riam, olhando-a acima de suas cabeças.
-- Gostou, Ginny? Diga-nos, como está aí em cima?
-- Fred, me faça descer já daqui! E devolva a minha visão normal!
-- Quer dizer que deu certo? Está mesmo vendo a vida diferente, Ginny? Está de que cor? -- a voz de George era ansiosa.
-- Está tudo cor-de-rosa! Me desçam daqui já, já! Ou eu vou contar pra mamãe!
Os sorrisos esmoreceram, enquanto Fred a puxava pelo pé e lhe estendia um pedaço de chiclete azul. – Toma, é o antídoto. – Mais uma vez, ela desconfiou. – Pode pegar.
A sensação de flutuar foi aos poucos diminuindo, assim como a visão voltou ao normal, não sem antes passar pelo lilás. – Afinal, o que foi isso, rapazes? Vocês juraram que a comida não estava alterada!
-- É verdade. Mas você não pode dizer o mesmo com relação ao suco. Esta é a mais nova sensação da nossa loja de logros e brincadeiras, Rosa- rodopia! Faz você vez o mundo cor-de-rosa! Três gotas na sua bebida são o suficiente para o efeito durar uma hora! Somente cinco sicles o vidrinho, uma pechincha! --, informou George. – Bom, é isso aí, mana. Nós vamos indo. A loja não pode ficar fechada de fim de semana, e o prejuízo vai ser grande se não formos agora, porque vamos fechar às quatro para irmos ao Três Vassouras. Ouvi Hermione contar ao Ron que você vai, é verdade?
Ginny tentou ser casual: -- É sim, o Harry me convidou, e como é amigo da família, eu vou. – Arrumando os lençóis, ouviu-os perguntar se não queria que eles a acompanhassem. – Não, já tenho companhia.
-- Quem? Alguém que conhecemos? – Iinquiriu Fred.
-- Sim, e não. Bom, não tão bem quanto poderiam... – Não seria louca de contar que Malfoy a buscaria dali a algumas horas. – Mas esperem e verão. Agora podem ir, que já estão atrasados.
-- Não enquanto não soubermos quem é, maninha.
-- Pode fazer essa pose de irmão mais velho se quiser, Fred, mas vai perder um dinheirão da loja, porque eu não vou contar e acabou. – Ela sabia ser eficiente com eles, e imediatamente ouviu dois estalidos, enquanto o quarto ficava maior.
Ginny guardou a comida coberta na prateleira, jogou o suco fora e se sentou em frente à escrivaninha. Ainda não acreditava que havia recebido aquela carta. Ah, quando sua mãe soubesse! Apostou que a veria chorar de felicidade. Leu-a mais duas vezes, para se certificar de que não era sonho, e voltou seus olhos para o céu cinzento. Tinha aberto a janela mesmo com frio, na esperança de ver Penny e poder despachar a carta. Afinal, aquele era o sexto dia desde que ela viajara com o artigo. Na verdade, tinha dó de mandá-la naquele tempo de volta a uma viagem tão longa, mas era um caso de urgência, e a coruja era jovem e resistente. Sua cabeça pendia, apoiada pela mão direita, enquanto olhava para o nada lá fora.
O tempo se fez ausente, e ela não percebeu quando a garoa parou e o tempo ficou mais frio. Sentia um torpor estranho, um medo incomparável de fazer uma besteira, de se arriscar como queria. Tantas coisas novas acontecendo! Teria de alugar um novo apartamento, num lugar melhor, ou mesmo uma casa que tivesse uma lareira, pelo menos. Não queria dar o braço a torcer, mas Draco tinha razão. Como habitar uma casa de trouxas sem ao menos uma lareira que facilitasse o seu transporte para o Ministério, para Hogwarts e para a Toca? Ela não era amiga de aparatações; seu teste tinha sido lastimável e havia obtido aprovação por pouco. Preferia estar montada em uma boa vassoura de corrida a qualquer outro meio de transporte. Era confortável, e podia sentir o vento nos cabelos. A única vantagem da lareira era o sopro morno, quando era inverno. Sim, deveria alugar uma boa casa com lareira, cozinha para poder cozinhar, um ambiente para montar uma biblioteca modesta, em que pudesse colocar seus livros e sua escrivaninha, e estava tudo bem. É verdade que queria um quarto maior, uma cômoda com espelho, um tapete no chão, poltronas confortáveis na sala, e um quintal onde pudesse deixar as crianças brincarem... Mas o que estava pensando? Sequer teria a chance de se casar um dia, quanto mais ter crianças! Bom, não custava sonhar. Bobamente, listou o que queria numa casa, numa letra descuidada, mas inconfundivelmente sua, num pedaço de pergaminho que jazia sobre a escrivaninha, solto. Ah, essa mania de escrever diários! Escrever tudo o que pensava, tudo o que desse na telha... Vou jogar essa porcaria fora! Chegou a murmurar Lacarnum infl..., mas desistiu, impelida por uma súbita vontade de guardar o papel. Deixou-o a um canto, abandonado, como se tivesse vergonha de ter imaginado uma casa para si, com lugar para uma família.
Família. Ah, como sentia saudade da sua! Crescer rodeada de irmãos barulhentos e de uma mãe eriçada e muito amorosa fazia com que se sentisse solitária. E agora, que veria seu sonho ir-se embora para sempre com outra que não fosse ela, sentia-se ainda pior. Recusou-se a sentir pena de si mesma pela enésima vez. Se era pra mudar, que fosse tudo!
Ela já havia pensado isso várias vezes naquela semana. Por isso, nada daqueles tons marrons, azuis, rosas ou vermelhos que usava. E nada daqueles cabelos escorridos e sem vida. Queria surpreender a todos, não só pela companhia provocadora de Draco Malfoy, mas por estar diferente. Talvez, aquilo fosse crescer. Fosse o que fosse, fez com que ela escolhesse roupas completamente diferentes das que usava.
Levantando-se, foi até o guarda-roupa e abriu a porta, retirando dele o vestido e os saltos que havia comprado numa butique cara de trouxas, algo como Harrod's, ou algo que o valha... Colocou o vestido em frente do corpo e olhou-se no espelho da porta, que havia sido presente de sua mãe. Está faltando o cabelo! Arrume essa palha queimada! Foi o que ele gritou, mas ela respondeu com um aceno de desdém e uma careta com a língua de fora. Virou-se para a cama e depositou a roupa sobre o edredon estendido. Tão diferente do que era. E tão lindo. Como Malfoy, que era o oposto e se prestava a ajudá-la uma última vez. Se ao menos pudesse gostar dele! Mas amava Harry mais do que tudo, mesmo com toda a dor, com todas as lágrimas, com todo o tempo que haviam passado juntos sem que pudesse dizer. Se ele ao menos soubesse, se ao menos compreendesse...

Alas, my love, you do me wrong [Ah, meu amor, você se engana a meu respeito] To cast me off discourteously [A ponto de me dispensar de modo tão grosseiro] And I have loved you oh!, so long [Eu, que te amei tanto, oh!, por tanto tempo] Delighting me in your company [Deliciando-me em sua companhia]

Ela já estava enchendo a banheira quando a coruja chegou. – Penny! Tudo bem com você, querida? --, demandou com a voz preocupada. Apontou a gaiola de cobre e disse: -- Lá, aproveite para descansar. Coloquei água e comida pra você. Sinto muito, mas não poderei dar muito tempo para você se recompor... Preciso que você volte até lá e que saia ainda hoje... Não me olhe desse jeito, eu não tenho escolha. Olha só o que você trouxe na perna... eEles estão pedindo minha resposta, Penny! Aproveita enquanto eu tomo o meu banho e me visto.
Olhou para o relógio na parede e se preocupou: duas horas da tarde. Draco não ficaria nem um pouco contente se ela se atrasasse. Jogou os sais de banho na água morna e mergulho rapidamente, enquanto mexia a água para que o produto se dissolvesse por completo. A bucha era macia como um carinho sobre o corpo molhado. Era feita de pele de ganso, coberta com um feitiço para fazê-la durar. Com pressa e eficácia, lavou seus cabelos da cor do sol poente, e então se levantou e jogou a água sem sabão sobre o corpo. Saindo da banheira, enxugou-se prontamente e passou seu de óleo rosas sobre o corpo, demorando-se no colo e nas pernas. Queria estar mais do que perfeita naquela tarde. Também não custava pingar uma gota de seu perfume secreto entre os seios, para se sentir mais feminina ainda.
Voltando-se para o espelho, já vestida com a lingérie branca de seda e renda guipire. Pegou a varinha, mirou-se no vidro e apontou para os cabelos que, diante de feitiços para encaracolar e de sustentação, arranjaram-se num lindo penteado que prendia tudo num rabo sobre a cabeça e fazia uma espécie de coque volumoso e completamente cacheado. Alguns fios escapavam na nuca e nas orelhas. Assim está bem melhor, menina, foi o que ouviu o espelho responder. Sentou-se na cama e calçou os longos saltos finos dos sapatos prateados e, em seguida, pegou o vestido longo de veludo verde escuro e o colocou. As mangas eram compridas e justas nos braços, terminando em filetes de prata nos pulsos, o colo estava completamente à mostra, denunciando que mais para dentro havia um vale sedutor, o corpete era justo e valorizava a cintura, terminando numa saia era ampla e rodada, cobriando-lhe os pés. Somente então se voltou ao espelho.

Greensleeves was my delight, [A mulher de verdes vestes era o meu deleite,] Greensleeves, my heart of gold [A mulher de verdes vestes, meu coração de ouro] Greensleeves was my heart of joy [A mulher de verdes vestes era o centro da minha alegria] And who but my Lady in Greensleeves? [E quem se não minha Senhora de verdes vestes?]

Aquela não era a Ginny que conhecia, sempre de cabelos escorridos e murchos, de rosto branco e sem vida, de sardas feias e de olhar apagado. Não. Era uma mulher que finalmente saía de si mesma, escondida ali há anos, esperando a oportunidade certa. Uma verdadeira grifinória que desafiava a todos vestida de sonserina; uma mulher deslumbrante que emergia de saltos e acabava num rosto de pele alva e aveludada, de lábios vermelhos e brilhantes, de rosto corado e olhar penetrante. Era uma mulher em todos os sentidos. Não sabia quando aquilo tinha acontecido, porque passara tantos anos se lamentando pelo que não podia ter, que não reparara no que realmente era.
O choque foi interrompido por um estalido e pela voz lânguida, já esperada: -- Eu disse, não disse, que você é uma jóia rara? – A imagem de Malfoy surgiu por detrás da sua no reflexo do espelho. Ele estava simplesmente lindo em túnica e capa negra com detalhes em prata, os cabelos lisos cuidadosamente penteados para o lado. Ele continuou: – Você surpreendeu até a mim quando não apareceu na Madame Malkin nesta semana para comprar sua roupa. Deu um certo trabalho pra descobrir o que você ia vestir.
-- Era pra ser surpresa, Draco! – Eesbravejou.
-- Bobagem, Virginia. Do contrário, como é que eu poderia lhe dar isso? – Ee pousou em seu pescoço uma fina tira de veludo preto que circundava seu pescoço e se fechava atrás. Na frente, ela mirava no reflexo um pequeno camafeu no centro do pescoço. Uma peça delicada e valiosa, que acariciava seu pescoço. – Seu colo exageradamente exposto pedia alguma coisa para completar o quadro. E também isso – Draco estendeu-lhe uma caixa quadrada e alta de veludo preto. – Vamos, abra. Não vai te morder.
-- Malfoy, eu já lhe disse...
-- Sim, sim, eu sei. Pare com o blá-blá-blá da recusa de presentes. Se quiser realmente surpreender a todos, tem de deixar de ser por completo a pobretona Weasley. Abra logo.
O gritinho de surpresa de Ginny já era previsto por Draco. Ao abrir a caixinha, ela encontrou um anel de ouro branco, com duas pedras engastadas uma ao lado da outra: o rubi e a esmeralda. Ao lado do rubi, um leão dourado acenava ameaçadoramente para uma serpente prateada que circundava o lado oposto da esmeralda. – Nem pensar nisso, Draco. Eu não posso aceitar mesmo, é ... Seria um abuso. Não posso fazer isso.
-- Então nós não vamos, Virgiínia. Porque não vou fazer papel de palhaço na frente dos outros. Se é para quebrar com tudo, então vamos arrebentar de vez. Diga que aceitou ir comigo e que usa o anel porque está noiva e vai se casar comigo. Não, não proteste. Eu não me iludo, Virgíinia, nós já conversamos uma vez a esse respeito. Mas quero que aquele idiota se arrependa até o fundo da alma por não te dar a oportunidade que você tanto procurou a vida toda. Se bem que pra isso ele não precisa afundar muito... – Sabia que ele era sincero. E sentia-se mal mais uma vez por dispor de sua boa-vontade e daquele amor acumulado em favor de parecer bonita aos olhos de Harry. Tudo seria tão simples se fosse Draco e não o melhor amigo de seu irmão! Mas era Draco que estava ali, olhando para ela, o sorriso triste de pierrô nos lábios finos, o queixo pontudo apoiando-se levemente em seu ombro esquerdo, enquanto seu olhar cansado a mirava no reflexo. Então, escorregou o anel pelo anular fino e comprido dela, e mirou a jóia refulgir na mão que se apoiava na sua. – Que bela ironia, Weasley...

I have been ready at your hands [Eu estive à sua disposição] To grant whatever thou wouldns't crave [Para receber o que fosse que você desprezasse] I have waged both, life and land [Perambulei pela vida e pelo mundo] You love and goodwill for to have [Para que eu pudesse ter o seu amor e a sua boa-vontade]

O olhar de Draco estava perdido. Ele estava perdido. Em seus cabelos, em seu perfume inebriante, em sua cintura de libélula que era macia ao toque, em seu olhar intempestivo, em seu semblante delicado e ao mesmo tempo provocante. Ah, Deus! Por que fazer aquilo, humilhar-se, fazer-se de recusado, se sabia que aquele babaca com a testa fendida no final iria ficar com ela? Porque nem aquele mestiço, sendo trouxa do jeito que era, se recusaria a enxergar uma beldade e uma gema tão cristalina, tão forte e tão límpida como esta. Ele a estava perdendo para sempre. Apoiou a testa no veludo.
-- O que foi, Draco? – Aa voz dela denunciava uma preocupação.
-- Nada, nada. Coloque o anel. Vamos, a farsa estará perfeita, Weasley. – Sabia que a magoava chamando-a pelo sobrenome, mas era o único jeito de se proteger dela. Virou-se para trás para não olhá-la mais uma vez. Não resistiria. – Você, Pennelope. Vem aqui. Estou vendo outro pergaminho pra Academia sobre a mesa. Não a comprei pra vê-la vagabundeando por aí! Vamos, leve isso agora mesmo!
-- Draco, larga a mão de ser assim! A coitada acabou de voltar!
Pronto, conseguira voltar a mostrar a imagem que ela considerava detestável. Melhor assim. Para ambos. – Não interessa. Ela pode muito bem ir para lá de novo. O que é isso, Weasley? Outro artigo? Ganhando um troquinho extra? – caçoou, enquanto prendia a carta na perna de Penny. Sabia muito bem que aquela era a resposta ao convite, e não via a hora de vê-la respondendo. Só assim poderia ter certeza de que ela sairia daquele pardieiro que ela chamava de apartamento. Soltou a coruja ao vento, enfeitiçando-a com um encantamento de velocidade, e voltou-se para a ruiva. – E então, vamos? Três e meia, estamos atrasados. Só poderia esperar isso mesmo de uma mulher.
-- E eu não podia esperar nada além de comentários machistas vindos de você – retrucou.
-- E do resto da sua família. Seus irmãos não são nenhum exemplo a respeito disso, Virginia. – Retirou a varinha da capa e apontou para ela. – Pronta? Ótimo! Impervius!
-- Para que isso, Malfoy? Não vamos aparatar?
-- Não, Virgíinia, até parece que não me conhece. Chegaremos em grande estilo. Comprei um caríssimo tapete voador na Travessa do Tranco, que já vem com canapé para você descansar e protegido contra variações de temperatura.
-- Malfoy, você sabe muito bem que isso é proibido! Os trouxas verão a gente! Ademais, meu pai vai te prender!
-- Primeiro, eu desiludi tudo, só falta a gente. Quando estivermos sobre o vilarejo, eu nos desencantarei. Isso impede esses trouxas intrometidos de acharem que viram coisas demais. Segundo, eu achei que fosse o seu pai que tivesse alguma coisa a ver com um certo Ford Anglia voador. Vamos, mulher, que já é hora de mostrar essa linda rosa vermelha que você se tornou, envolvida em verde e prata. Vamos matar aquele idiota de inveja e arrependimento ao vê-la vestida assim. Pena que não posso ver o que há por debaixo do vestido, -- provocou-a.
-- Draco! – Mas já estava trancando a porta e apagando a luz, seguindo- o para perto da janela.

Thy petticoat of sendle white [Seu corpete de seda macia] With gold embroidered gorgeously [Esplendidamente bordado a ouro] Thy petticoat of silk and white [Seu corpete de seda branca] And these I bought gladly. [Que tão satisfeito comprei]

-- Fique quieta, agora, enquanto eu a desiludo. – Apontou a varinha sobre sua cabeça e a sensação de ovo quebrando voltou. – O frio é momentâneo. Pise aqui.
-- Mas eu não estou vendo nada! – ela devolveu. Esta apavorada, com medo de colocar o pé no vazio e cair do terceiro andar.
-- Confie em mim, Virgíinia. O tapete está estacionado aqui. Vamos. – Pegou-a pela mão, pulou a janela primeiro e puxou-a, para então desaparecer também com o feitiço. – Aqui, sente-se aqui. E agora vamos embora. – Fechou a janela com um meneio da varinha e se sentou ao lado dela. – Daqui a pouco, pode cair uma tempestade, e não será bom estarmos longe daquela espelunca que chamam de Três Vassouras.
O tapete começou a deslizar invisível pelo céu escuro e ameaçador. Todavia, aquilo não se comparava com a sensação de medo, apreensão, susto, ou qualquer coisa que fizesse com que Ginny quisesse voltar pra casa e se afundar sob os travesseiros. Mas agora estava feito. Não dava para voltar atrás. Eles iam a toda velocidade e, antes que pudesse imaginar o que dizer para tentar manter uma conversa amena, Draco gritou contra o vento que só fazia força e em nada a cortava: -- Estamos chegando. Mais alguns quilômetros e você verá o seu querido Potter, Weasley-vestindo-veludo-verde.

Greensleeves was my delight, [A mulher de verdes vestes era o meu deleite,] Greensleeves, my heart of gold [A mulher de verdes vestes, meu coração de ouro] Greensleeves was my heart of joy [A mulher de verdes vestes era o centro da minha alegria] And who but my Lady in Greensleeves? [E quem senão minha Senhora de verdes vestes?]

Sim, ela certamente o veria. Só não saberia o que dizer.

***** Nota da autora: Vejam só, parece que a deusa Minerva fez pousar Hermes sobre meu travesseiro, dando-me a inspiração que Morfeu ultimamente tem me negado. Escrevi outro capítulo antes mesmo de publicar o anterior, de forma que eles vão juntos! Mais uma vez, agradeço à equipe do 3V pelo site e à minha beta, Diana, que vai gastar um tempo lendo isso antes pra consertar os deslizes. Então é isso. Se quiserem, deixem o review! Abraços a todos e muito obrigada!