Disclaimer: Esta songfic está baseada na criação de J.K. Rowling da série Harry Potter, fazendo uso de seus personagens, sem contudo objetivar lucro ou algum outro resultado que não o entretenimento de fãs da série. Ela contém spoilers de Harry Potter e a Ordem da Fênix. Para este capítulo, a inspiração foi a canção "Caçador de Mim", de 14-Bis.

Capítulo 5 – A inesperada fênix

A sua vontade era a de não ir ao Três Vassouras. Porque, depois de muito confabular, de enviar dezenas de convites e de tentar racionalizar o que estava fazendo, ainda não conseguira chegar a um consenso sobre como, afinal, se sentia a respeito daqueles dias em sua vida. Tinha de confessar que nem mesmo quando tivera de enfrentar Voldemort ele se sentira acuado como agora, justamente quando nada podia fazer para evitar o que estava para acontecer.

Ainda se lembrava do dia em que recebera a notícia que mudaria completamente o destino de sua vida. Não se podia ver nada além das paredes do Ministério, que preconizavam uma tempestade lá fora, em pleno mês de setembro. Uma coruja branca saíra do elevador, em meio a tantas correspondências internas de cor púrpura, carregando consigo um pergaminho cuidadosamente amarrado com uma fita branca. "Meu amor, chegue mais cedo hoje, pois temos de conversar. Tenho uma notícia maravilhosa para te dar. Mande resposta pela Hedgwig, querido. Beijos da sua Parvati", era o que dizia o bilhete. Não era incomum receber aqueles bilhetinhos embaraçosos dela durante o expediente, e teve de interromper a carta que em anos evitara escrever a Ginny, ainda em sua primeira linha, para dizer que chegaria por volta das oito horas da noite.

Mais tarde foi surpreendido com a casa envolvida em penumbra, as velas acesas sobre a mesa posta para dois na sala de jantar, com uma mulher muito bem arrumada e maquiada em uma das extremidades. O suspense jamais fora suficiente para chegar perto do susto que tomou quando Parvati lhe contou de uma gravidez de três semanas. Sentiu seu estômago afundar, os óculos embaçarem, os pés pregarem no chão, as mãos agarrarem o assento da cadeira em que estava sentado até que os nós de seus dedos estivessem brancos. Não poderia, porém, duvidar da palavra daquela com quem estava há anos, ainda que fosse numa relação instável de idas e vindas constantes, entremeadas por interlúdios de paixão. Sabia que sempre fora atração física e que nunca passaria disso, porque dos anos que se seguiram após Hogwarts, era pela linda irmã de seu melhor amigo que sua respiração se acelerava e o peito sentia um impacto somente ao pensar em sua figura. Nada naquele mundo se comparava a ela: nem a beleza exuberante e elegante de Parvati e de Padma, nem a genialidade e a compaixão de Mione, nem a alegria incansável de Ron, nem a serenidade invariável de Luna eram páreo para o modo como ele a via. Ela era uma pessoa como outra qualquer; trabalhava para sobreviver, e sabia que ela se esforçava muito para ser independente. Não conseguia, no entanto, vê-la sem deixar de notar o rosto corado ficar vermelho ante sua presença, ou de sentir-se magoado com seu pretenso desprezo. A incrível força demonstrada quando ela terminava o quarto ano, e as impressões físicas ( seu perfume de rosas, seu hálito morno e adocicado, seus cílios longos e finos, seus olhos de um castanho profundo, sua pele macia, seu corpo pequeno e perfeito, seus lábios convidativos num rosto simétrico que transparecia seus sentimentos ( eram simplesmente inesquecíveis. O conjunto fazia de Ginny Weasley a mulher de seus sonhos. Mas, uma vez rejeitado por ela e ainda sentindo a dor de vê-la abraçada pelo traste do Malfoy, que a beijara longa e possessivamente no Baile de Formatura, restara-lhe o consolo dos braços da morena encantadora e voluntariosa que era a grifinória Patil. E agora ela lhe contava de um filho a caminho.

Harry mais uma vez olhava vagamente para o fogo na lareira, o álbum de fotografia abandonado sobre o colo, aberto na foto em que ele se via como um bebê, entre seus pais, que lhe acenavam alegremente.

Por tanto amor, por tanta emoção

A vida me fez assim Doce ou atroz, manso ou feroz, Eu caçador de mim

Seria capaz de amar aquela criança como fora amado por seus pais, por sua mãe, que dera a vida para salvá-lo? Apesar de toda a sua coragem para enfrentar as dificuldades que enfrentara, e depois de tanta dor e de tantas perdas na guerra que objetivara matar seu pior inimigo, sentia-se encurralado.

Descobria, pouco a pouco, que seu maior inimigo não era Voldemort, mas ele mesmo. Porque somente isso justificava a sua covardia para não deixar Parvati e correr em busca da sua felicidade com aquela garota. Somente isso justificava as noites que passara em claro envolto nos dosséis vermelhos de sua cama, no dormitório da Grifinória, ou as detenções que sofrera com Snape no último ano por tantas poções perdidas devido aos pensamentos que devaneavam, sempre às voltas com Ginny, ou as diversas vezes em que, ao se imaginar com ela, correra para uma banheira repleta de água gelada. Talvez fosse isso que tivesse de fazer quando, pela primeira vez, resolvera se deitar com Parvati.

Ainda se lembrava dos olhares furiosos que Hermione lhe lançava sempre que o via junto dela, e as conversas não eram mais consoladoras do que aquilo: "Larga a mão de ser bobo, Harry! Você não vê que ela está te usando pra aparecer?", era a frase piloto de Mione, sempre seguida pelo chacoalho negativo de cabeça, de um bufar e de pés pisando duro ao sair da sala comunal ou do salão principal. "Eu te falei, Harry, que ela ia conseguir. Não diga que eu não avisei!", havia sido a resposta dela quando ele lhe contara da gravidez. Ron o encarava desconsolado e dizia: "Bom, amigo, agora já era...".

O tilintar dos sinos à porta o chamou para o presente. Parvati surgiu alegre no topo das escadas, gritando: "Dobby, atenda à porta!", ao que o elfo respondeu que somente a Harry, seu senhor, obedeceria, e não a ela. "Maldito elfo teimoso! Harry, será que você poderia...", e a voz cansada do moço já dizia "Dobby, pode abrir a porta? Devem ser Ron e Mione." "Aquela intragável sabe-tudo e o tonto do namorado. Não sei porquê vieram", ouviu-a sussurrar para si mesma. Às vezes, não entendia como ela havia ido parar na Grifinória.

-- Harry! Já está pronto? – ouviu Mione perguntar ao beijar seu rosto. Ron fechava a porta, deixando um dia branco e frio atrás de si.

-- Boa tarde para você também, Mione.

-- Tudo bem? – perguntou ela.

-- Na medida do possível... – sussurrou como resposta. – Parvati já está descendo. Eu estava... – mas o álbum de fotografia, agora virado na foto de Ginny com ele, Mione, Ron, Luna e Neville o denunciava.

O olhar de Mione era sério quando ela se dirigiu a ele. – Harry, eu quero dois minutos com você a sós.

-- Bom, já estamos atrasados, a Parvati deve estar descendo.

-- Dois minutos. É tudo o que peço, Harry. – As feições dela eram bastante sérias, suas sobrancelhas franzidas e seus lábios comprimidos.

-- Tá bom. Mas onde podemos... – Ela o interrompeu: -- Segure a ponta deste meu lenço quando eu contar três.

-- Uma chave de portal! – exclamou Harry.

-- Bom, é uma chave programada... Voltaremos antes que ela dê conta do seu sumiço. Ron irá despistá-la. Agora vamos... Um, dois... três! – Sentiram como se um gancho os laçasse pelo umbigo, os ombros batendo e o vento correndo à sua volta. Caíram nas bordas da Floresta Negra, o frio cortando a pele.

Hermione se recompôs, alisando seu sobretudo e puxando seus cabelos para baixo. Olhando para ele, disse: -- Bom, Harry, andei pensando e sei que você pode achar estranho justo eu dizer isso, mas eu acho que ainda dá tempo.

-- Tempo pra quê, Hermione? Não tô entendendo!

A moça bufou: -- Ah, Harry, sem essa! Eu sei que você e o Ron não são um primor de entender as coisas tão rápido assim, mas não é óbvio? Larga a mão de ser palhaço daquela aproveitadora. Desista dessa idéia maluca de anunciar o noivado hoje!

-- E você quer que eu faça o quê? Ela está grávida!

Hermione atirou: -- E quem garante que o filho é teu?

-- Mione!

-- É o que eu penso. Pronto! Falei! Ela é bem capaz de fazer de tudo pra ficar com você. A gente pensa nas piores loucuras pra manter quem a gente ama, Harry – isso, é claro, apostando que ela te ama tanto assim. Mas eu acho que, nessas idas e vindas, ela acabou ficando com outra pessoa.

-- Duvido. Acho que ela não mentiria assim, Mione. Isso é muito sério e, além disso, eu tenho estado com ela nos últimos quatro meses.

A voz de Hermione contestava veementemente:

-- E por acaso ela foi com você quando você viajou para a Romênia, hein? Quem garante que ela não recebeu nenhuma visita? Quem garante que ela não tenha procurado o Seamus, ou o Dean, ou até mesmo o Malfoy...

-- Enlouqueceu de vez! Só pode ser! Acha que ela seria capaz de ficar com aquele idiota? – havia raiva na voz de Harry.

-- Harry, vamos voltar em um minuto... Escuta o que eu digo pelo menos dessa vez... Não pague o preço que ela lhe pede, não faça Ginny pagar, como Dumbledore pagou... – Ela sabia que estava jogando baixo, atirando sobre as costas de seu melhor amigo a culpa da morte do diretor.

Os ombros de Harry caíram, e ela o segurou pelos ombros, encarando-o: -- Harry, há modos de a gente saber o que houve de verdade... Não se precipite... – Os olhos da amiga estavam rasos d'água. – Só pense no que eu falei, sim? Estamos voltando... – e a zoeira nos ouvidos, o vendaval e o gancho retornaram.

Bateram com os pés em frente à poltrona em que ele estivera sentado no momento em que Parvati descia as escadas, falando entusiasticamente sobre a festa que se seguiria. Ron olhava de esguelha para o amigo enquanto sorria para a moça, e Mione lhe dizia um olá muito polido. – Vamos, então, amor? Já está ficando tarde. – A voz dela às vezes o irritava.

-- Muito bem. Vamos, então. – Harry se concentrou, e o forte estalo sinalizava sua desaparatação, seguida das que transportavam as três pessoas restantes da casa, enquanto Dobby usava o Pó de Flu.

Apesar de estar sempre cheio dos professores e estudantes de Hogwarts, o Três Vassouras nunca estivera tão apinhado de gente. Madame Rosmerta fora obrigada a aplicar um feitiço de ampliação interna do pub, bem como menear a varinha sobre o bolo de caldeirão e murmurar Engorgio! para fazê-lo render o suficiente para todos. Seu estoque de cervejas amanteigadas certamente seria um problema, e teria de ser obrigada a comprar e lavar todo o estoque de garrafas da bebida do Cabeça de Javali para poder servir a todos. Todos queriam cumprimentar o casal mais comentado do ano, e o /i não perdia uma oportunidade sequer de fotografá-los, capturando sempre a figura alegre de Parvati e o humor sisudo de Harry.

Rita Skeeter não perdeu sua chance: -- Como está se sentindo, Harry? Acha que será bom se casar agora? Por que Parvati foi a escolhida? Não queria entrar para a família Weasley? Onde está Ginny Weasley? --, enquanto sua pena de repetição rápida estava a postos, correndo incessante sobre o pergaminho. Hermione lançava um olhar matreiro a ela, e algo dizia a Harry que ela era a responsável pelas idéias que se passavam na cabeça da repórter. Parvati interveio, eficiente como sempre, com um sorriso congelado no rosto: -- Ginny também foi convidada e aceitou o convite. Deve estar circulando por aí, com seu par. Harry e eu nos amamos, e por isso vamos nos casar. – Seu braço se estreitou em torno do braço do rapaz, enviando-lhe a clara mensagem para que sorrisse.

Ao invés de dar um sorriso amarelo a Skeeter, Harry voltou sua cabeça para onde todas as outras se dirigiam: a entrada do Três Vassouras, de onde surgia uma figura alva e resplandecente, usando um longo vestido de veludo verde, os cabelos cuidadosamente presos no alto, com fios escapando nas têmporas, os lábios rubros e o pescoço ornado por um delicado camafeu.

Definitivamente, nada o havia preparado para o baque daquela visão estonteante de Virginia Weasley, vestida para arrebatar todos os corações. O próprio salão parecia ofuscado pela sua luz, e somente mais tarde compreendeu que o que lhe ofuscara a visão fora de fato o flash da máquina do fotógrafo do Prophet. Não bastasse isso, a pose era de rainha, o porte era altivo e o queixo se pronunciava como marca de seu orgulho, a cabeça erguida perante todos os olhares estupefatos. Deus, que mulher era aquela?! Nem mesmo Parvati se furtou a um momento de pura contemplação da beleza da outra.

Preso a canções, entregue a paixões Que nunca tiveram fim Vou me encontrar longe do meu lugar Eu caçador de mim

Harry, no entanto, boquiabriu-se completamente quando o braço de Ginny terminou de surgir pelo batente da porta, a mão pequena segurando e trazendo à visão de todos aquele que ele mais detestava: Draco Malfoy, sorrindo e acenando a todos como um patético político ou como o playboy que acreditavam que fosse. Vestia o negro usual, e o sorriso que dirigia a ele dizia claramente, Você perdeu, Potter. O tempo congelou à sua volta; aquilo não poderia estar acontecendo. Quando aquele prepotente havia convencido Ginny a usar as cores da Sonserina? Quando haviam estado juntos? Não, nem pensar naquilo! Sua raiva era tanta, que queria mesmo partir para cima do sonserino. A dor aguda do cutucão de Parvati em sua costela o chamava de volta a seus deveres: -- Nem pensar em escândalo, Harry, ou conto agora mesmo que estou grávida, -- ela murmurou, entre sorrisos e olhos fixos no casal recém-chegado. Não precisou, entretanto, fazer nada: uma tropa de cabelos flamejantes saiu gritando e abrindo espaço a cotoveladas na multidão, um vozerio irado que sobremontava todo o burburinho. Os Weasleys se dirigiam em massa para a entrada do pub.

A atitude da ruiva, porém, surpreendeu a todos: -- Nem pensar! Chega desta palhaçada de querer quebrar a cara do Draco a cada vez que o vêem! – sua expressão era de fúria perante os irmãos, e um de seus braços escondia Draco atrás de si, enquanto o outro jazia esticado sobre o peito de Fred. – E podem ir se acostumando com a idéia, rapazes, que é assim que vai ser daqui para diante. Eu e Draco estamos noivos e vamos nos casar.

Ouviu-se um baque no meio do salão. A Sra. Weasley desmaiara, escorregando da cadeira para o chão, e o Sr. Weasley a segurava, enquanto Madame Pomfrey a acudia. A comoção foi geral. Minerva McGonagall olhava para o casal estupefata; Snape, de braços cruzados sobre o peito, inflava- se de orgulho de Malfoy, espreitando os olhos do sonserino e sabendo muito bem de toda a história, porquanto não era tolo; Skeeter corria de um lado para o outro com seu fotógrafo, a fim de registrar o acontecimento.

-- Vamos, Harry. Temos de recepcionar nossos convidados. Todos os convidados – foi o que sua noiva soprou em seu ouvido.

Ele ainda não acreditava no que acontecia. A raiva e a mágoa, a dor e o ultraje eram enormes, insuportáveis. Respirou diversas vezes, os olhos fixos nos de Ginny, que se negava a olhar para os seus, até que tomou sua decisão: -- Parabéns, Malfoy – ouviu-se dizer mecanicamente, ao estender- lhe a mão. Nunca na vida se imaginara apertando a mão daquele cretino, mas tinha de reconhecer que era um jogador esperto. Sim, o pomo de ouro cravejado de rubis estava em suas mãos, agora, e para o bem de Parvati, não poderia fazer realmente o que desejava: tomar Ginny nos braços para sempre, fugir dali, aparatar alhures, sozinho com sua fênix, que ressurgia poderosa de anos de reclusão. Queria poder lutar por ela, dizer o quanto a amara por todos aqueles anos, o quanto a desejara, o quanto imaginara filhos correndo no quintal e brigando pela posse de sua Firebolt. Um filho que não havia sido gerado na ruiva e que estava a caminho era, porém, o maior dos obstáculos que já enfrentara na vida.

Nada a temer senão o correr da luta Nada a fazer senão esquecer o medo Abrir o peito à força numa procura Fugir às armadilhas da mata escura

Aquela tinha sido, com certeza, a maior das peças que a vida lhe havia pregado até então. Perdia-a duas vezes: por não ficar com ela e por entregá- la a Malfoy. Poderia ter sido Neville, se este não estivesse casado com Luna; poderia ter sido Seamus, se este não estivesse noivo de Padma; poderia ter sido até mesmo Colin, se este não estivesse aparentemente sozinho e sem se interessar por garota alguma. Mas vê-la com Malfoy era a pior punição que ela poderia lhe infligir. Acreditou que estivesse dizendo isso a ela quando murmurou em seu ouvido, ao depositar um beijo em seu rosto: -- Eu... espero que seja feliz, Virginia.

Ela o encarou com seu porte altivo e um sorriso no rosto, mas seus olhos brilhavam muito, o rosto fortemente corado. Nada conseguira responder. Olharam juntos para a Sra. Weasley, que se aproximava, apoiando- se em Arthur. – Eu... eu... ah, filha! Eu te amo tanto! – e a senhora atirou-se aos braços da filha, soluçando, esta afagando suas costas e murmurando que ficasse calma.

O rosto de Arthur Weasley era sério e o tom de sua voz era claramente ameaçador: -- Um escorregão, Malfoy, um arranhão que eu veja nela, um olhar triste de minha filha, e eu te mato sem pensar duas vezes. E desta vez não são meus filhos falando, está me entendendo?

Por respeito aos sentimentos de Ginny, Draco apenas assentiu com a cabeça, sem no entanto abaixar o olhar. Surpreendia-se até mesmo consigo, que conseguia manter a pose, diante da felicidade imensa de ver que ela optara por manter a farsa e o fazia esplendidamente. Sentira-a fraquejar durante a viagem, e tivera medo de vê-la fazendo a mesma coisa diante daquele retardado do Potter, mas suas pernas não haviam fraquejado, embora tivesse sentido o braço dela pesar sobre o seu, e sua mão pequenina apertar demasiadamente a sua, suando frio quando Patil e Potter vieram cumprimentá- los.

Estava claro que o mal-estar havia se instalado por conta dos Weasleys, que a duras penas conseguiam se conter. As palavras de Arthur a seus filhos havia sido decisiva: -- Deixem-na. Ela escolheu o seu caminho. É irmã de vocês e nenhum dos meus filhos vai virar as costas a ela jamais... embora eu não os obrigue a fazer o mesmo com relação ao homem que ela escolheu.

Mas somente Mione, astuta como de costume, conseguiu segurar Ron: -- Pára de ser infantil, Ron. Sabe que ela está fazendo isso pra testar todo mundo. Logo, essa história toda vai virar um rebuliço só. Deixa a barriga de Parvati começar a crescer, e veremos o que acontece. Tudo tem o seu tempo, Ron. E pára de ficar se debatendo, que meu braço já tá doendo!

-- Ele que a maltrate, ele que ouse, aquele filho da... – afundava o rosto no punho fechado, o cotovelo apoiado no espaldar da cadeira, o olhar parado em Ginny. – Harry foi um idiota, isso é o que ele foi. Agora, tá tudo indo pro brejo! Ah, se eu pego aquele canalha...!

-- Sem essa, Ron! Vamos lá – mas ele não mexeu um músculo em direção a Draco e à sua irmã. – O.K. Se não quiser cumprimentá-los, tudo bem, pode ficar, mas eu vou. Quero que ela ainda veja uma amiga em mim. – e foi em direção ao casal.

-- Parabéns, Malfoy. Quem diria, hein? Sorrateiro, como sempre. Olha lá como vai tratá-la. E Ginny --, sussurrou em seu ouvido, abraçando-a: -- nunca é tarde, sabe disso. Estou sempre à disposição, amiga. – Soltando-a, disse: -- Bom, é isso; vou lá ficar com o Ron... Ele está uma fera. Disse que não virá aqui.

-- Eu só poderia esperar isso mesmo daquele panaca – foi a resposta de Draco.

-- Você é esperto, Malfoy. Não mexa mais ainda no vespeiro, e não será picado, -- foi a réplica de Hermione, ao se voltar para Harry e Parvati. Dirigindo-se a ambos, cumprimentou-os, murmurando felicidades no tom mais alegremente falso que conseguiu entoar e com a melhor expressão de paisagem que conseguiu imprimir ao seu rosto.

O relógio percorria lentamente o tempo, e cada minuto era uma gota de sangue para Harry. Nunca pensara que um dia tivesse de passar por aquela terrível experiência. Ao contrário daquilo, os longos anos de incerteza haviam sido também de sonho.

Longe se vai, sonhando demais Mas onde se chega assim Vou descobrir o que me faz sentir Eu caçador de mim

Ele não via mais a menor possibilidade de manter o sonho – ou ilusão, melhor seria nomear as coisas corretamente. Porque aquela estava se esvaindo, enquanto o frio o arrepiava e a noite se adensava através dos vidros das janelas do Três Vassouras. O sorriso de Parvati não poderia ser mais radiante, e sabia que agora ela finalmente se sentia tranqüila. A luta estava ganha, para ela, embora seu senso de honra e lealdade sequer houvesse cogitado a possibilidade de não assumir um compromisso mais sério com a moça.

No outro canto do salão, Ginny cochichou para Draco: -- Vamos, Draco... Estou cansada... Não agüento mais tanta exposição... Não estou acostumada...

-- Não está acostumada, ou não quer fraquejar, chérie? – devolveu-lhe o sonserino, olhando para os convidados entre sorrisos.

-- Que seja; eu não quero permanecer aqui. Estou cansada. Quero ir para casa... Leve-me daqui. – A voz de Ginny falhava, e os olhos brilhavam ante as lágrimas que ele sabia que queriam tombar. – Vamos, Draco, pelo amor de Deus, me leva daqui...

Não podia arriscar tudo agora. A vitória da noite havia sido muito mais do que esperara e, assim, despediu-se rapidamente de algumas pessoas e conduziu-a pela mão em direção à porta. Perto da saída, sentiu uma mão segurá-lo pela capa. Encarou um homem sério, cansado e derrotado: -- Uma gracinha com ela, Malfoy, e não sofrerá as conseqüências somente de Arthur.

Draco riu e desdenhou: -- como se eu tivesse medo de você, Potter. Mas eu sei reconhecer as melhores gemas e, com certeza, sei cuidar delas melhor do que você, que nunca faz as coisas direito por medo.

Harry retrucou, ameaçadoramente: -- Nunca fale daquilo que não sabe, Malfoy. Sabe muito bem que tenho obrigações a cumprir. E, agora, você também. – E com um olhar à ruiva: -- Até mais, Ginny. – E se virou para voltar a seu lugar, o aroma de rosas ainda impregnado em suas narinas. Mas sabia, que no fundo, Draco sabia que tinha razão. Os inimigos sempre se conhecem o suficiente para saber de suas forças e de suas fraquezas.

Nada a temer senão o correr da luta Nada a fazer senão esquecer o medo Abrir o peito à força numa procura Fugir às armadilhas da mata escura

Vou descobrir o que me faz sentir Eu caçador de mim.

E, se Malfoy sabia, era porque ele também a amava. Esse pensamento, ao menos, consolava-o. Era um alento que servia de anestésico para o conflito que vivia, que fazia com que se sentisse presa e caçador ao mesmo tempo. Se pelo menos ele não podia cuidar dela, que fosse alguém que verdadeiramente a amava – ainda que fosse aquele verme. /i de se agarrar a essa idéia. Para o bem de sua sanidade.

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Nota da autora: Desta vez, consegui não demorar tanto para postar. Sentei- me à frente do computador e o capítulo fluiu – na verdade, exauriu-me, por hora. Mais uma vez, agradeço pelas reviews e pela betagem da querida Diana Prallon*, que tão cuidadosamente lê esta songfic. Às pessoas mais novas do que eu, recomendo fortemente que procurem e ouçam a canção que inspirou este capítulo, porque ela realmente vale a pena e muda o nosso estado de espírito.

*Di, eu republico este capítulo assim que sua betagem chegar! ;-p