Disclaimer: História baseada na série Harry Potter, de J.K. Rowling. A ela e a Warner Bros. pertencem o direito sobre a obra e os personagens, aqui utilizados como base para esta fic que não gera lucro, mas o entretenimento de fãs da série e de internautas. Personagens inventadas também fazem parte deste capítulo.

Capítulo 7 – In Terra Brasilis

Então, aquele seria o dia da viagem com ela. Há quanto tempo vinha contando os dias? Provavelmente, desde quando ela cedera ao seu pedido para acompanhá-la. Afinal, nada mais justo, uma vez que ele é quem fora o responsável pela sua contratação na Academia de Magia e Bruxaria. Só gostaria que não fosse num país tão atrasado e tão cheio de miséria. Nada é perfeito, mesmo. Pelo menos, ela estava empregada e saíra daquele moquifo que ela insistira durante anos em chamar de casa. Outra obra sua, é claro.

Sem que percebesse, ele acabava por se tornar essencial em sua vida, invadindo-lhe os espaços cada vez mais privados. E, agora, iria viajar com ela. Sozinho. Por isso, precisava dormir pelo menos um pouco. Dali a algumas horas, estariam viajando. O problema seria conseguir fazer isso. Duas e meia da manhã, e ele de plantão, um silêncio mortal naquele lugar tedioso. Nada a relatar. Tinha certeza de que, se resolvesse sair dali, nada aconteceria. Mesmo assim, não podia arriscar. O jeito seria se distrair um pouco, enquanto as horas passavam. O que fazer? Já havia providenciado o transporte para ambos. Ele se resolvera pela Chave de Portal, pois sabia da falta de prática dela em aparatação e, portanto, da probabilidade de ela se separar dele no processo. Como distância era a última coisa que ele desejava, a chave se mostrava um instrumento mais seguro. E leve, também: uma echarpe de seda que poderia facilmente ser acomodada a um canto da mala, depois de utilizada. Agora, encontrava-se no bolso interno da capa.

Estava sonolento, e nada havia a fazer. Droga de tempo que não passava. Seu pensamento flutuou até sua imagem, e lembrou-se dos fios vermelhos que caíam sobre sua testa quando ela estava compenetrada, escrevendo na biblioteca, nos dias de escola, quando ela sequer imaginava que ele a perscrutava. O som de seu sorriso, ao lado de Luna e do panaca do irmão dela, veio novamente a seus ouvidos. Era cristalino e tímido, às vezes, ou bastante espontâneos, em outras. Geralmente, quando não se encontrava na presença daquele idiota do Potter. Uma pontada de dor surgiu quando relembrou o dia em que tentara prendêejulho, pelo que me contaram...um dos meus grandes amigos. guardar. trair... a ja esposa. -la, sob as ordens de Umbridge. Ela fora bastante eficiente, conjurando aqueles papões sobre ele. Mas dor maior foi lembrar-se de que não fora capaz de sanar a dor dela, o olhar de derrota e de profunda tristeza quando vira Parvati beijando Potter. Poderia ter dito que eles não estavam juntos na verdade, e que aquele retardado ainda não fora capaz de convidar pessoa alguma para o baile. Mas fora a única maneira de se aproximar dela e de tê-la como companhia para o Baile de Formatura.

Quando se apaixonara por aquela ruiva teimosa e franzina? Talvez, isso tivesse acontecido porque ele não aceitara o fato de alguém achar Harry Potter melhor e mais bonito do que ele, ainda que fosse uma pobretona Weasley. Sim, havia sido por orgulho, mas a situação toda se invertera, e desde então, passara a jogar o jogo duplo, desprezando-a, mas amando-a e vigiando-a, espreitando-a, como lhe havia avisado que faria. Havia assistido, de longe, ao isolamento dela, incluindo da própria famípria famistido, de longe, ao isolamento dela, incluindo da prlia, todo o sacrifício que fizera para se tornar financeiramente independente, embora ele não considerasse aquilo grande coisa, dada a condição monetária da família Weasley.

Enfim, lá estava ele, sozinho, de madrugada, mais uma vez pensando nela, e assim ficou até que o dia amanhecesse. Aparatou em seu quarto e, ainda vestido, deitou-se e dormiu por algumas horas. Teve sonhos tumultuados, pensou que fosse perder a hora de estar na casa dela – finalmente, uma casa, e não aquele moquifo que durante anos ela insistira em chamar de apartamento --, mas acordou a tempo de tomar um banho, pegar a mala que já estava pronta há duas semanas, e desaparatar rumo ao vilarejo rural em que ela habitava, a echarpe rosa em seu bolso.

Já passava das dez horas da manhã quando Draco apareceu em sua casa. Andando de um lado para o outro, Ginny se preocupava. "Ele nunca foi de se atrasar", pensou. Talvez fosse exagero, mas o fato é que o três minutos era um atraso para o sonserino. Se fosse honesta consigo mesma, saberia que não era o "atraso" que a deixava ansiosa, e tampouco a viagem. Bom, não daquele jeito. Mas a perspectiva de passar dias e dias com ele numa viagem a um lugar que, pelo que diziam, era paradisíaco. Localizada nos confins de uma praia deserta, ao norte do Brasil, a Escola de Magia e Bruxaria contava com uma vista privilegiada de ilhas e de um mar cristalino, de onde retirava muitos dos animais e plantas para suas poções e feitiços, que ela pretendia pesquisar. Fernanda havia garantido a ela que a viagem seria inesquecível, e tomara também a providência de recomendar à sua prima Helena, dona da estalagem do lugarejo bruxo – a Vila Merlinda Meyer --, que reservasse o melhor quarto para Ginny, e outro tão bom quanto para Draco Malfoy.

-- Se ficar divagando muito, vai se atrasar para a reunião, chérie. – A voz pastosa dele a sobressaltara. De onde surgira? Estava esperando na sala e não ouvira o estalido de aparatação.

-- Vamos, então? Só preciso pegar minha mala lá em cima. – Ela reparou que o olhar dele se dirigira para a lareira e tentou chamar sua atenção: -- Espera um pouco que eu já v...

-- Queimou os diários também, Virginia? Não, acho que não. Não duvido de sua coragem, digamos, "grifinória", mas meninas costumam resistir à idéia de se desligar desse tipo de besteira. Mas reconheço que sua atitude me surpreende, moça. Um pouco de dignidade, ao menos. Emprego novo, viagem nova, vida nova...

Ela respirou alto e descansou o olhar no belo semblante de Draco:

-- Assim espero, Malfoy. E é só o que posso falar, por enquanto. – Foi ao quarto.

Na sala, retirando a echarpe do bolso, Draco via uma luz finalmente se acender no fim do túnel. Maldita esperança que nascia! Queimar telas era uma coisa, esquecer Potter era outra. E aquilo o irritava. Até quando teria que jogar aquele jogo? – Vamos, Weasley!

-- Tem certeza de que é esse o lugar, Ginny?

-- Bom, Draco, essas foram as indicações que a Fernanda me deu. Três palmeiras, uma barca perto dela. – Ela se sentava em sua mala, depositada na areia. – Agora, é esperar.

Ele não se conformava:

-- Veja bem, eu programei a Chave de Portal de acordo com o que você pediu, mas acho que essa sua amiga é meio confusa. Ou esses brasileiros não têm senso de ridículo. Onde já se viu, mandar a gente aparatar no meio do nada, ainda de madrugada? E, ainda por cima, está ventando!

-- Não se preocupe com suas lindas madeixas, Draco Malfoy. E eu já te expliquei que as instruções estão exatas. Você foi quem fez questão de vir meia hora mais cedo. Se tivéssemos chegado ao nascer do sol, eles provavelmente á estariam nos esperando. – Olhou para as roupas dele: -- Será que não dava pra você ter vestido alguma coisa menos formal?

-- Era só o que faltava, um Inominável renomado como eu aparecer vestindo andrajos! – Deus, tinha de arranjar motivos para discutir com ela, ou a agarraria ali mesmo, e rolaria com ela por aquela areia branca e fina, na qual seus pés se afundavam.

-- Bom, se prefere passar calor, o problema é seu. Sabe que estamos em pleno verão por aqui. E veja se não vai ser grosso e nem metido com as pessoas do lugar. Voc quis me acompanhar, lembra?

– Começo a me arrepender. Ficar isolado num lugar desses, sem ter nada o que fazer... -- Draco também resolvera se sentar. Jogou-se sobre a mala, apoiando seus cotovelos nos joelhos, olhando o horizonte. Podia pensar em várias coisas a fazer num lugar isolado. E tinha de admitir que o local era lindo e bastante longe de tudo. Burros aqueles tupiniquins não eram, ao menos. Trouxas era o que ele menos queria ver naquela terra.

Na linha do horizonte, o sol começava a despontar. Aos poucos, o céu azul e estrelado deu lugar a um tom violáceo, que se transformou em vermelho, laranja e, finalmente, o glorioso dourado, tingido pelos raios fortes e vibrantes que emanavam do astro. A maré começava a baixar, e o azul profundo cedia ao tom mais claro, tendendo ao verde, na orla da praia. Agora, era possível enxergar o quão a areia era branca e brilhante. Para os dois lados que olhavam, Ginny e Draco enxergavam somente a praia deserta e as palmeiras, que se balançavam à brisa que soprava. Atrás deles, as dunas iam dar no mangue, que os separava do vilarejo.

No início, nem sentiram a diferença, mas, à medida que a brisa foi se intensificando, perceberam que ela se transformava em uma pequena tempestade de areia, um pouco distante deles. Onde era uma duna, via-se um redemoinho de areia, agitado rapidamente. O barulho era um assovio discreto, e enchia o ar. No mar, as ondas encrespavam-se mais furiosas e um pouco mais altas, quebrando mais além da orla. Ginny não sabia que havia furacões no Brasil. Aliás, estava quase certa da improbabilidade de existirem por lá.

Tão logo começou, a tempestade acabou. O ventou voltou a se acalmar. Olharam à volta: tudo continuava calmo como antes. Ou quase. Por detrás das dunas, vinha surgindo uma figura magra e alta, vestida com uma longa saia de cor clara e algo que se parecia com um chapéu. Aproximou-se rapidamente e, então, estancou em frente a ambos os viajantes. Mirou atentamente Draco, acenou com a cabeça e virou-se para ela. A primeira frase que disse foi certamente inusitada:

-- Mas você é mesmo uma criança! – Seu olhar ainda mostrava espanto, enquanto não se acanhava em aproximar-se e pegá-la pelos ombros. – Ora, ora, quem diria? Alguém tão jovem como você escrever aqueles artigos todos!

Draco raspou a garganta, dando sinal de sua presença. Ela se afastou de chofre e disse:

-- Ah, sim, é claro... Esqueci de me apresentar: Sou a Professora de Poções, Marina Murtinho. Você é Ginevra Virginia, e o senhor deve ser Draco.

-- Sr. Malfoy, se não se importa. – Ginny se envergonhou por um momento. Não houve tempo para olhares de desagrado ou qualquer outra reação. Logo, Marina já dizia:

-- Vamos, vamos, devem estar cansados! Helena deve estar esperando desde o raiar do dia. Suponho que queiram descansar e se refrescar antes de comparecerem à escola. -- Olhou para as malas de ambos, pediu licença sem esperar pela resposta, murmurou "Locomotor!" e saiu andando apressadamente. – Por aqui!

Draco olhou para Ginny. Onde aquela maluca os estava levando, no meio do nada? Fez um meneio com a cabeça, balançou os ombros e resolveu segui-la, afundando os pés na areia fina. Ginny os seguia, rindo de Draco. Ele não sabia, então, como os bruxos brasileiros se transportavam por ali. Não iria estragar a surpresa dele, afinal. Se não contara até ali, fora porque o imaginava sabedor disso. Provavelmente, não se interessava por aquele "fim de mundo", pensou, e riu-se, silenciosamente.

Atrás das dunas, A Professora Murtinho estancou. Olhou furtivamente para os lados, largou as malas no chão e, então, fechou os olhos e levantou os braços. Agitou a varinha acima das cabeças, em sentido horário, murmurando o feitiço, e o redemoinho de arei surgiu de repente. A diferença era uma só: agora, eles estavam dentro da roda, que se movia, sem no entanto fazer com que eles sentissem o menor movimento. Diante de uma parede de areia, os bruxos se viram transportados instantaneamente para uma vila. Quando o redemoinho cessou, o zunido ainda nos ouvidos, ouviram uma voz jovial atrás de si: -- Bem-vindos à Merlinda Meyer! Vamos entrando, vamos entrando... Francisco, vem pegar a bagagem dos hóspedes, sim? – e apontou a entrada de uma ampla casa branca de teto baixo, com uma varanda que a circundava. Do caramanchão, surgiu um adolescente com um andar despreocupado. "Sim, Dona Helena?"

-- As malas dos Professores, Francisco. Leve-as para dentro, por favor. – E virando-se para os três recém-chegados: -- Marina, querida, como vão as coisas? Ouvi dizer que Iara esteve doente.

-- Sim, é verdade; teve um probleminha nas escamas, que apodreceram em alguns pontos. Nada que um bom tratamento não resolvesse. – e virando-se para Draco e Ginny. – a nossa Professora de Encantamentos, sabem.

Havia um ponto de interrogação nos olhos de Ginny. Obviamente, vira o programa da Escola, mas gostaria de entender mais como era essa matéria, ou quem era realmente o Pagé da tribo Makuxi que ensinava Feitiços. Como seria fazer chover para alguém como ela, que crescera num lugar onde a chuva era uma constante? Que tipo de língua aquela sereia falava? Seria o serêiaco que ouvira durante o Torneio Tribruxo, em seu terceiro ano em Hogwarts? O cansaço e a enorme vontade de colocar os pés naquela água límpida e salgada tão logo se visse trocada e alimentada, no entanto, fez com que se calasse e, junto ao rapaz loiro, cuja expressão era de monotonia, seguisse Helena através do caramanchão, adentrando uma sala de teto baixo e amplas janelas com folhas retangulares de vidro. O sol radiante as atravessava, fazendo as partículas de poeira dançantes do ar aparecerem sobre o encosto dos móveis antigos de palha que, juntos a um tapete de crochê, decoravam o ambiente.

Subindo uma escada de madeira que rangia, chegaram ao segundo piso, onde encontraram um amplo quarto de paredes cor de areia, decorado com artesanato em palha, barbante, conchas e estrelas-do-mar. – Que encantador! – O sorriso dela valia a pena para o sacrifício de estar longe de sua mansão. Se fosse honesto, Draco admitiria a si mesmo que a perspectiva de passar dias com ela era fascinante. A chance perfeita para...

-- Estas são suas acomodações. Lamentamos o fato de não termos outro quarto disponível, Sr. Malfoy, mas o pedido de reserva extra chegou quando já estávamos lotados. A época das festividades costuma ser a mais cheia para nossas hospedarias, mesmo para o turismo trouxa, em outras localidades. – Draco fingiu estar aborrecido, suspirando algo parecido com "fazer o quê?", olhando de esguelha para ela, que permanecia atenta às explicações de Helena. -- De qualquer modo, a Professora Marina reiterou várias vezes o convite para a hospedagem na Academia, embora seja uma pena perder a companhia de tão ilustres pessoas. Por favor, não hesitem em me chamar ou mesmo a Francisco, caso desejem qualquer coisa que seja. O café da manhã será servido daqui a vinte minutos no salão do restaurante, no térreo, e o almoço às 11 horas. Com licença. – E, com um sorriso, retirou-se e fechou as portas.

-- Ai, que é que vamos fazer agora, Draco? Achei que fosse conseguir uma vaga extra! Não contava com isso.

-- Bom, é simples, não é mesmo? Ficamos os dois aqui. – Ele se esparramava na cama. – Até que este colchão não é dos piores. Melhor do que aquela coisa que você tinha, com certeza.

-- Só se eu pedir pra ficar na Academia e você ficar aqui.

-- Nem pensar, dona Virginia. Não viajei tudo isso pra ficar sozinho nesta terra de tupiniquins. Ou ficamos os dois, ou eu me vou e você se vira. – Vendo que ela responderia à altura, mudou rapidamente de tática: -- Ou você prefere fazer desfeita para esta hospedeira e a sua amiguinha do Gringots?

Ginny sentou-se na beirada da cama e deixou-se ficar. Num muxoxo, suspirou: -- Acho que você tem razão, Draco.

-- Eu sempre tenho razão, Ginny. Acho que já mencionei este fato para você em outras ocasiões, chérie. Não, nem se dê ao trabalho de responder...

-- E nem vou mesmo, Sr. Draco Malfoy. Não vim para esta terra maravilhosa para discutirmos. – "Além do mais", pensou ela, "vim decidida a mudar a minha vida de vez". -- Vamos tomar café, que estou faminta.

-- E então...?

-- Então, trocaremos de roupa e nos apresentaremos na Academia Brasileira de Magia e Bruxaria pontualmente às nove horas. – Por um momento, sentiu um leve tremor na voz. "Só espero estar à altura..."

-- Fique tranqüila, Ginny, você não é assim tão criança como aquela morcega velha falou. Vai dar conta do recado. Ao café, então. – Parecia que lia a mente dela, de fato. Viu-a acenar positivamente com a cabeça e, abraçando-a pelas costas, caminharam para o andar térreo.

Contra todas as expectativas de Draco, as coisas correram melhor do que ele tinha esperado. Nada dera mais prazer a ele do que ver o quão prestigiada ela havia sido naquela escola para aprendizes de aprendizes de feiticeiros. Bem, talvez nem tão amadores assim; quase caíra na voz encantada e doce de Iara d'Água. Ela realmente sabia o que fazia e decerto quisera quebrar sua pose empertigada de superior. Quase conseguira, quase.

Ele sabia que somente por Ginny se perderia. Vê-la longe daqueles sobretudos e saias compridas e roupas escuras, tentando se bronzear, nadando pela manhã, ou mesmo durante as horas de leitura, concentrada, era algo que raramente imaginaria que acontecesse tão cedo e com tanta eficiência naquele lugar. Parecia que o sol daquela terra aquecia o coração amargurado da garota, fazendo-a esquecer de sua dor. Valera a pena cada centavo que enviara à escola como uma generosa contribuição juntamente com o salário equivalente de um ano a ser pago a ela, quando fosse contratada. Pelo menos isso aprendera com seu pai que, se estivesse vivo, se orgulharia daquele ato.

-- Recebi uma coruja da mamãe agora há pouco, Draco. – Ela se sentava ao seu lado, na areia, as gostas dos cabelos salgados brilhando como se fossem cristais transparentes. – Perguntou se vamos para lá para comemorar o Réveillon.

-- E? O que você decidiu, afinal?

-- Bom, eu despachei a Penny dizendo que vamos ficar por aqui mais uns dias. Não sei se vou agüentar, eu nunca fiquei o Natal longe deles. Mas aqui é tão maravilhoso! Além disso, a reunião definitiva para a programação do trimestre acontece hoje à tarde, e caso eu precise apresentar mais algum material, eu fico por aqui para consultar a biblioteca deles e levar minhas anotações pra casa. Daí, eu trabalho por lá.

Draco bufou:

-- Trabalho, trabalho, trabalho! Não consegue pensar em outra coisa? Não pedi licença pra te ouvir falar disso.

-- Ora, Sr. Malfoy, eu não posso descuidar! Estou muito preocupada em manter a boa impressão que causei.

-- Você causa boa impressão a qualquer momento, chérie. – Segurou uma mecha molhada dos cabelos dela e sorriu: -- Sabia que está linda assim, ao sol?

-- Bem que eu queria pegar um corzinha, mas o sol em mim só faz sardas... Olha como meu rosto está! Quando eu voltar, terei de dar um jeito nisso! – apontou para as próprias bochechas e para o seu nariz.

-- Saiba que gosto de você assim. Ou do outro jeito. Ou de qualquer jeito, Virginia. – aproximou-se e deu um beijo na ponta do nariz dela. Então, olhou em seus olhos.

Em plena manhã ensolarada, sentiu-se congelar. De medo? De expectativa? Não sabia o que sentir. Mas sabia que precisava, afinal, dar uma chance a ele. E a si mesma. Aquele clima, aquele céu azul, aquele mar imenso e de um azul eterno a faziam entender definitivamente que tinha direito a ser feliz e a aproveitar cada minuto de sua vida. Sua juventude estava em franco progresso e até o momento não a desfrutava como deveria ter feito. Olhou para ele. De sunga preta, pele levemente avermelhada (e não um pimentão como ela), os cabelos inacreditavelmente alinhados, Draco continuava ali, os olhos provocativos a encarando, claros como a prata lustrada. Como não reconhecer o apoio oferecido, a preocupação, a sensualidade inegável e o forte poder de atração dele? Garotas como Pansy Parkinson dariam tudo para estar ali com ele. Era uma ingrata. Era tola, também. Não seria mais assim. Molhou os lábios salgados e deu-lhe um beijo discreto e bastante rápido no canto da boca dele, deixando um rapaz admirado e feliz na areia da praia, enquanto corria para dentro da pousada de Helena.

O Réveillon no Brasil, costumava-se dizer, era muito bonito, repleto de alegria e de cores. Ao contrário do que acontecia onde moravam ou na escola, era repleto de gente passeando alegre elas ruas sem neve, secas e frescas, dançando, cantando, gritando e pulando juntas, saudando o ano. Fosse para trouxas, fosse para bruxos, o ano significava o renascer das expectativas que se esvaíam pouco a pouco através dos meses.

Em homenagem à visita de Ginny e de Draco, a Academia Brasileira de Magia e Bruxaria preparara uma ceia especial de Ano Novo, com direito a sarau e a performances dos alunos que moravam perto, bem como dos professores que se aventurassem a fazê-lo.

-- Não vejo a graça que as pessoas façam papel de palhaça. – Draco estava no quarto, se vestindo para a ceia, o espelho mostrando a figura máscula de um homem jovem loiro de porte altivo, cabelos com gel, trajando, muito a contragosto e a pedido de Ginny, uma camiseta branca e uma bermuda de linho cru, finalizando com sandálias de couro. – Ainda bem que estamos longe de casa. Com certeza, os idiotas dos teus irmãos ririam muito se me vissem as...

Não pôde continuar: o ar para terminar a frase fora repentinamente roubado pela visão de uma sereia levemente bronzeada, saída do banheiro, cheirando a banho de colônia de ervas e flores. – Jura que você vai assim? Nua?

Ginny corou e se ofendeu: -- Ora, não exagere, Draco! Este vestido/

-- MICRO-vestido, você quer dizer, Weasley. – Nos últimos dois dias, depois do breve beijo na praia, as conversas tinham sido tensas. – Um transparente micro-vestido, eu diria. Mas, se você quer se expor desse jeito para os seus colegas de trabalho...

-- Primeiro, Malfoy, este vestido está no meio das coxas e é rodado; segundo, ele é de tecido e de renda branca, e não transparente. E, terceiro, os meus colegas de trabalho são brasileiros bastante acostumados ao uso de roupas que os deixem à vontade, e não ao smoking ridículo que você queria usar.

-- Muito melhor do que estes trapos!

-- Pois eu não acho. Acho que você está bastante bem assim. Na verdade, está mesmo muito bonito.

Draco provocou:

-- Mais do que o Potter? – Ele a olhava nos olhos, e ela desviou o olhar, ao que ele a segurou pelo pulso e perguntou novamente: -- Diga-me, Weasley, mais do que o seu amado Potter?

Os olhos de Ginny começaram a arder, o pulso doía ante a compressão exagerada, mas ela não daria o braço a torcer: -- Tudo estava bem demais pra você não estragar, não é mesmo, Malfoy? – Num puxão, desvencilhou-se dele e ajeitou um xale de crochê nos ombros, a flor de hibisco amarela nos cabelos.

-- Pois é, Weasley, a gente não pode viver sempre de ilusões. Eu, ao contrário de você, não me iludo.

-- Se você chama de ilusão todos esses dias maravilhosos que temos passado aqui, então eu não sei o que você chama de realidade, Draco.

-- Você sabe do que eu estou falando, Virginia. Voltamos amanhã pra Ottery St. Catchpole, e você vai pra sua casa ver sua querida família, e via dar de cara com ele e a nojentinha da Patil, além, é claro, daquela intragável sabe-tudo. Então, esses "dias maravilhosos" terão ido embora, e lá estará um frio cortante, os dias estarão cinzas, a noite chegará cedo demais – talvez, a única coisa útil para esconder sua frustração. E, talvez, você se sinta inspirada para tentar novos tons de amarelo e de vermelho nos seus quadros, pra preencher as paredes vazias do seu sobradinho úmido... – Droga, o que estava fazendo, estragando tudo? Não conseguia controlar completamente a respiração. Raios!, que merda estava fazendo?

Ginny respirou fundo, piscou várias vezes, tocando os lados externos dos cílios, secando indícios de lágrimas, e respondeu: -- Sem pinturas, Malfoy. Não essas pinturas. Nunca mais. Estamos atrasados. – E, saindo do quarto: -- Estamos atrasados.

Uma faísca de esperança voltou a nascer, tímida, no peito dele. Será...?

-- Ginny! Hei, Ginny! – Corria atrás dela, as sandálias ecoando nas escadas de madeira. Ela já estava abrindo a porta da sala em direção à orla, onde a festa aconteceria.

-- Que é, Draco?

-- Você não me respondeu!

-- O que?

-- Estou mesmo atraente? Mais do que ele?

Ela se virou, olhou para o moço parado no meio das escadas, sorriu com ar cansado e respondeu:

-- Esquece. – E fechou a porta.

Bom, depois de toda aquela besteira, já era um começo.

-- Até que a noite não foi de todo má, não é mesmo? Quero dizer, aquela morcega velha vestida de estrela cadente, voando em volta de todos e declamando poemas de cumprimentos ao ano era algo a não se perder, hahaha! Até mesmo a comida estava boa, embora, é claro, não se compare aos bufês que Hogwarts oferece a seus convidados – isso aquele velho caduco sempre soube fazer...

Caminhavam pela orla da praia, os pés pisando na areia molhada, os sapatos de Ginny em suas mãos. – Era a Professora Sprout quem ficava responsável pelos cardápios, junto com a McGonagall. – Olhou para o céu e suspirou.

-- Que foi? Cansada?

-- Um pouco. Os dias têm sido agitados.

-- Vai sentir falta daqui, eu sei. – Draco olhou para o mar, ouvindo o barulho suave das ondas quebrando na praia. Também estava descalço e, surpreendentemente, gostava da sensação de frescor da areia gelada sob seus pés. – Eu também. Mas não vá dizer isso aos outros.

Aparentemente, ela não prestava muita atenção à conversa de Draco. Olhando para o céu estrelado e sentindo a brisa, murmurou mais para si mesma do que para ser ouvida -- Esse lugar é realmente mágico...

-- É, Ginny, tenho de concordar com você. Apesar desses tupiniquins, dessa chata da helena, querendo agradar tanto que acaba incomodando, daquele lerdo do Francisco, daquela metida à modelo da Iara, dos alunos rindo feito bobos perto de você, a terra é realmente abençoada. Por Merlin, esse lugar deixa a gente diferente!

Ginny sorriu para ele, percebendo que havia dito seus pensamentos em voz alta. Em seguida, sentiu-se tremer levemente. O vento às vezes soprava um pouco mais forte.

-- Frio, chérie? Deixe-me ajudá-la. – Aproximou-se para abraçá-la. Ela se afastava. – que foi? Ah, já sei, já sei... – A cara dela dizia tudo – É a questão de antes da festa, não é, Virginia?

Ela não se virou para responder, apenas continuou andando. Ele parou, segurou-a pelo braço e a encarou. Apontando para o rosto, disse:

-- Aqui. Pode bater aqui. Eu sou um idiota. Um estúpido. Eu mereço.

Ela o olhava estupefata. "timo!, conseguira a atenção dela.

-- Vamos. Pode descontar. Eu não presto mesmo, eu sou um canalha.

Ela riu:

-- Deixa de ser bobo, Draco. Reconheço que você tem razão. Os dias não serão nada melhores depois que a gente voltar...

-- Bom, não é bem assim, Virginia. Lembre-se: não abaixe sua cabeça, moça. Nem para mim, está me entendendo? – Ele segurava o queixo dela. – Hein? Cadê aquele sorriso luminoso que andou dançando nos seus lábios esses dias?

Ela sorriu.

-- Só você mesmo pra me agüentar todos esses dias, Draco Malfoy.

Agora, ele a encarava seriamente:

-- A questão não é te agüentar, moça; é agüentar, como Iara me disse hoje à noite, enquanto você dançava, esse monstro de olhos verdes que me corrói – e não estou falando daquele idiota. Mas eu vim aqui pra isso. Não vou repetir, disse que não o faria. Esquece a pergunta. Eu fui um retardado. – Recomeçou a caminhar.

Aquele era o momento da decisão, e ela sabia disso muito bem. Os pensamentos se atropelaram uns aos outros, acorrendo-lhe à mente ao mesmo tempo: réveillon, Ano Novo, vida nova, emprego novo, amor novo, novas chances, novas tentativas. Era a hora de se dar uma chance. O que teria a perder? Pelo contrário, estava prestes a experimentar aquilo pelo que pessoas viviam e morriam: o amor correspondido. Fosse Draco Malfoy, então, que a amava desde que era uma adolescente boba e apaixonada pelo cara mais popular da escola. Fosse aquele que lhe dedicara os mesmos anos de amor reprimido e que a tratava com desvelo, mesmo querendo disfarçar a todo momento, segurando-se para não retribuir o beijo que ela lhe dera e que tornara a situação tensa entre ambos desde o antepenúltimo dia do ano. Por que não ali, naquele momento? Não havia ninguém. A lua estava alta, brilhante, o tapete aveludado recoberto por estrelas diamantinas, as folhas das palmeiras balançando suavemente à brisa fresca da noite, o mar cantando para eles, somente a natureza como testemunha. Sem dúvida, a hora era aquela.

Respirou fundo, correu atrás dele e, colocando-se à sua frente, disse:

-- Muito mais.

-- Enigmas a esta hora da madrugada, Ginny? Não entend/

-- Atraente. Muito mais atraente do que o Harry. – Beijou-lhe de leve no mesmo lugar de dois dias antes. – Mais bonito. Mais... sexy.

Ele a olhava estupefato.

-- Que foi, bebeu demais? – Mas ela não parecia bêbada.

-- Fica quieto, Draco, se for pra falar besteira. E me beija.

Draco nunca havia reparado o quão espesso eram os cílios dela, ou o quanto era suave e quente o calor do corpo daquela mulher maravilhosa. Ou, ainda, o quanto um coração podia bater forte e rapidamente, sem arrebentar, mesmo fazendo de tudo para que isso acontecesse. Mas, ali, naquele lugar paradisíaco, beijando-a, trocando carícias com ela, descobriu tudo isso e muito mais. Porque jamais em seus sonhos, em noites de vigília e de insônia, naqueles anos todos, pudera imaginar ou sentir o que era realmente amar alguém ou sentir medo de perder a pessoa amada, como naquela noite em que finalmente a tivera para si.

Longe, bem longe dali, numa noite de inverno, um rapaz acordava sobressaltado.

N/A: O.K., O.K., não me matem por este final, após um capítulo longo como esse! Vejam, eu classifiquei a songfic como PG-13. Não vou além, aqui. Mas, separadamente, vou publicar o "grande evento" em versão full [R/ NC-17]. E ali eu colocarei a canção que me inspirou para este capítulo. R&R, folks! Beijos!

ndar tde fato. Viu-a acenar positivamente com a cabeça e, abraçando-a pelas costas, caminharam c