Capítulo 2 – Perto do limiar
– Não, não – Severus corrigiu o jeito como Harry mexia a poção. – A instrução é específica: apenas 35 mexidas circulares no sentido anti-horário. Isso tem que ser seguido à risca.
– Não é o que estou fazendo?
– Obviamente não, ou eu não estaria corrigindo – ele colocou a mão sobre a de Harry, mexendo. – Veja a diferença.
– Hum.
A proximidade dos dois corpos teve efeito imediato em ambos. Harry se virou para olhar Severus, os rostos bem próximos, olhos negros flamejantes encontrando-se com verdes de igual intensidade. Milhões de mensagens foram passadas entre os dois, o tempo ficou suspenso. Sem se darem conta, eles se aproximaram ainda mais, e seus lábios se encontraram. Instantaneamente, surgiu um gemido de satisfação do fundo da garganta de Harry. O som suave tirou Severus do transe e ele deu um passo para trás.
– Harry...
O rapaz suspirou, frustrado com o fim do contato.
– Não podemos, Harry – Severus desligou o fogo e desviou o olhar. – Já discutimos sobre isso. O verão passou, e em Hogwarts, tudo precisa ser diferente. Temos que nos separar. Não quero me repetir. Não quero passar o ano inteiro evitando você.
– Não quero brigar, Severus. Mas está claro que talvez não dê para ficarmos separados.
– Vamos ter que conseguir. Pense em tudo que está em jogo.
– Isso pode ser mais forte do que nós dois. Pense nessa possibilidade, pelo menos.
Severus não respondeu.
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Longbottom. Mais uma vez, e sempre, Longbottom.
Severus examinou com desprezo o tubo cheio de um líquido opaco verde brilhante, no qual deveria estar um azul-claro transparente. Uma análise preliminar revelara que o garoto tinha conseguido a façanha de reunir ingredientes em quantidades compatíveis com uma antiga receita, hoje quase esquecida. Por acidente, Longbottom muito provavelmente tinha criado uma alternativa capaz de aperfeiçoar a antiga poção, dando um novo sentido à expressão "atirar no que vê e matar o que não vê". Snape pôs a poção novamente no fogo para quebrar seus componentes.
De qualquer forma, o zero estava garantido, uma vez que o inepto rapaz não tinha conseguido preparar a poção a que se propusera. Por que, indagou-se Severus pela enésima vez, aceitara o garoto em sua classe, estava além de sua compreensão.
Severus olhou para o lado: Harry continuava a trabalhar na Poção de Clareamento, mas ele podia notar que os olhos do rapaz se desviavam para sua direção sempre que ele imaginava não estar sendo observado. Severus sorriu para si mesmo, colocando a poção de Longbottom em fogo baixo. Ele ouviu Harry se mexendo perto dele, indo ao armário pegar um ingrediente enquanto sua poção borbulhava suavemente.
De repente, num movimento rápido, os dois estavam próximos: os rostos quase se encostando, os olhos devorando-se, como se seus corpos respondessem a uma atração física irresistível e eles obedecessem unicamente a leis da natureza, não a suas vontades. Severus sentiu o cheiro de Harry entrando-lhe pelas narinas, aguçando-lhe um tipo especial de apetite, minando-lhe as defesas, corroendo-lhe o controle. Os lábios se encontraram naturalmente, sem intenção, apenas instinto, e o fogo só aumentou, cegando a ambos.
Harry apertou Severus contra si, mexendo os quadris, aprofundando o beijo. Severus passou a beijar-lhe o pescoço, mas o rapaz abriu as próprias calças e levou a mão elegante até sua ereção, quente e pulsante.
O cérebro de Severus parara de funcionar e ele se pôs de joelhos, as mãos nas nádegas expostas de Harry, a boca abrigando-lhe a masculinidade rígida. Harry arqueou, apoiando-se na bancada, a boca aberta, o ar escasso.
A temperatura elevava-se e Harry gemia diante dos talentos daquela boca, movendo-se naquela fonte de umidade e calor que o enlouquecia. Até que ele não agüentou mais e puxou Severus de pé, sussurrando, rouco:
– Quarto... Agora...
– Não!... – O homem arrancava as roupas de seu corpo, expondo-lhe a pele jovem – Não posso esperar!... Quero você agora!...
Desajeitados, eles se livraram também das roupas de Severus, que se dobrou de bruços na bancada, oferecendo-se a Harry, alucinado de desejo. Tudo parecia ser tão irreal, tão deliciosamente insano. Ele ergueu a mão:
– Accio lubrificante!
Um frasco veio para sua mão e ele o passou a Harry, que não hesitou numa preparação rápida e recorde antes de se afundar em Severus, lentamente, a sensação familiar que ele tanto sentia falta agindo como uma dose de droga agia num viciado, espalhando-lhe prazer e calor por todo o corpo. Só Severus o fazia se sentir assim, e ele mais uma vez teve a sensação de estar em casa, no lugar onde mais estava à vontade e onde era aceito incondicionalmente. Aquilo, pensou, era a definição de amor verdadeiro.
Severus usou seus músculos para apertar Harry dentro de si, senti-lo ainda mais. O rapaz gemeu, e começou a se movimentar com ardor, fazendo Severus enlouquecer ainda mais. Como ele sentira falta de Harry, de tê-lo dentro de si, de sentir seu aroma, de tocar sua pele, de poder ser seu e somente seu...
E o controle que se danasse, pensou, sem ter idéia do quanto se arrependeria dessas palavras.
Harry esticou-se para agarrar a ereção de Severus, sorrindo para si mesmo quando o sisudo Mestre de Poções soltou um gemido alto e totalmente diferente do que seus alunos costumavam ouvir. Ah, o som que ele amava... Harry adorava provocar essas reações em Severus, e fez a mão deslizar para cima e para baixo ao longo do seu pênis firme e latejante. Nossa, o homem estava tão excitado que contagiava Harry.
Logo os dois estavam prestes a explodir, e a reação foi em cadeia: primeiro Severus, que arqueou o corpo para trás e despejou seu sêmen na mão de Harry, com um som inarticulado gutural. O rapaz não parara de estocar, promovendo ataque impiedoso à próstata de Severus, e sentiu-o fechando em torno de si, apertando-se todo em sua volta. Harry não agüentou e explodiu em seguida, gritando o nome de Severus e esvaziando-se em seu corpo.
Eles se abraçaram, ofegantes. Em pouco tempo, porém, a temperatura das masmorras à noite os fez se mexerem, em busca de roupas para seus corpos que rapidamente esfriavam. Harry esperou Severus colocar algumas roupas antes de beijá-lo:
– Como eu amo você...
O Mestre de Poções retribuiu o sorriso:
– Vista-se antes que pegue um resfriado. Preciso verificar as poções.
Harry meneou a cabeça, satisfeito, e foi até o canto da sala, onde seu sapato tinha ido parar, dando as costas para Severus. Mais tarde, ele se lembraria de que aquela tinha sido uma atitude infeliz, mas inevitável.
Ele mal ouviu Severus gritar seu nome quando uma explosão soou, seguida de outra, que o jogou contra a parede. Ele não viu exatamente o que tinha acontecido, mas num relance pôde ver a poção de Neville dar um espirro tão grande que atingira a chama, provocando a primeira explosão, esparramando o líquido em Severus e até dentro da poção inacabada de Harry. Foi justamente o contato com a segunda poção que causou nova explosão e novo banho em Severus, que foi ao chão, encharcado e imóvel. Harry gritou:
– Severus!
As duas poções misturadas não pararam de reagir, e borbulharam furiosamente, mesmo fora do caldeirão. Assustado, Harry atravessou a sala, venceu a poça espessa e ameaçadora no chão e puxou o homem que amava para um lugar seco e seguro. Tentou limpá-lo, chamando:
– Severus!... Severus, pode me ouvir?
Nada. As poções borbulharam mais uma vez, espirrando para os lados, como se estivessem iradas. Harry correu até a lareira:
– Madame Pomfrey! Madame Pomfrey, por favor, é uma emergência!
– Mr. Potter? O que houve?
– Um acidente com poções. O Prof. Snape está ferido! Ele não quer acordar!
– Fique calmo, Mr. Potter, eu já estou indo. Recolha uma amostra das poções que causaram todo esse dano, por favor. E fique calmo!
Harry obedeceu, tentando se acalmar, o coração acelerado, imaginando o que não daria para ver aqueles olhos negros e profundos se abrindo de novo.
