Capítulo 7 – Olhando em volta
– Um minuto de sua atenção, por favor – Dumbledore não precisava aumentar a voz magicamente para obter a atenção dos alunos. – É com grande alegria que faço dois anúncios como há anos não se via em Hogwarts. Alguns de vocês já devem ter notado a ausência do Prof. Snape ao jantar desta noite. No momento, ele está sob os cuidados de Madame Pomfrey, que vai tratar de sua condição pelos próximos meses. – Murmúrios. – O Prof. Snape está grávido, e a criança deve nascer no início da primavera – De repente, silêncio sepulcral. – O pai da criança é Harry Potter e os dois concordaram em se unir em matrimônio amanhã, numa cerimônia privada marcada para antes do almoço. Haverá um banquete comemorativo logo em seguida, aberto a todos. Convido a todos para se unirem a mim numa salva de palmas aos noivos e votos de muitas felicidades.
O Grande Salão veio abaixo, entre palmas, gritos e reações variadas. O barulho foi tamanho que pouca gente percebeu a saída sorrateira de Draco Malfoy por uma porta lateral, seguido por seus dois gorilas Crabbe e Goyle, além de Blaise Zabini. Aliás, tantas coisas aconteciam ao mesmo tempo naquele momento que ficava difícil alguém acompanhar tudo.
Na mesa dos professores, Remus Lupin, Minerva McGonagall e Rubeus Hagrid demonstraram choque e indignação, avançando para questionar o Prof. Dumbledore. Sybil Trelawney (que coincidentemente tinha escolhido aquela noite para comparecer ao jantar no salão) quase desmaiara, sendo socorrida por Pomona Sprout e Filius Flitwick. O charme de Dumbledore teria que trabalhar dobrado para acalmá-los.
Entre os alunos, porém, as reações foram bem mais diversas. Independente de casa, os alunos de famílias Muggle mal podiam acreditar que um homem pudesse estar esperando criança. Dentro das casas, porém, a coisa variava.
Hufflepuffs pareciam maravilhados com as notícias. Ravenclaws estavam, de um lado, calculando as probabilidades de a criança ter o nariz do Snape, e, de outro, quanto tempo levaria até Harry matar Snape. Ou vice-versa, o que era mais provável.
Slytherins estavam divididos e confusos. Filhos de Death Eaters achavam que aquilo só podia ser um plano que Snape estava executando a pedido do Lord das Trevas. Outros alunos reconheceram que – embora Harry fosse mestiço – a família Potter era antiga na bruxandade, e por isso a união com alguém de estirpe pura como Snape era aceitável, do ponto de vista de linhagem. Alguns estavam completamente chocados com o anúncio de que o chefe de sua casa estava grávido e ia se casar com o flagelo de sua existência. Havia ainda aqueles que não sabiam o que pensar porque Draco Malfoy não lhes dissera o que pensar. Muitos também consideravam Snape um pedófilo, um traidor da casa, do Lord das Trevas e da bruxandade em geral. Sem contar os que estavam espantados pelo fato de Potter ter concordado em se casar com Snape, e imaginavam que o rapaz não conhecesse o passado mais obscuro do Mestre de Poções.
Semelhante confusão – mas de proporções ainda maiores – percorria a mesa de Gryffindor. A surpresa estava estampada até mesmo no rosto dos amigos inseparáveis de Potter, Hermione Granger e Ron Weasley.
– Harry, por que você não contou isso para a gente?
– Eu não sabia da gravidez. Severus escondeu isso de mim.
– Harry – Neville estava com os olhos do tamanho de dois pires, de tão arregalados. – Você vai mesmo se casar com ele?
– Vou, Neville. E estou muito feliz.
Dean Thomas era outro que não escondia seu espanto:
– Mas... Harry, é o Snape! Pensei que vocês se odiassem.
– Bom, obviamente não nos odiamos tanto assim.
Lavender Brown sorriu para Harry:
– E ele está grávido, é? Acho tão romântico que um homem se disponha a carregar uma criança só por amor. Você tem muita sorte.
Nem todos concordavam com essa opinião, mas muitas meninas faziam olhares românticos e soltavam suspiros. Alguns alunos de outras casas vieram até a mesa de Gryffindor para dar sua opinião. Luna Lovegood trazia um sorriso exagerado e olhos arregalados quando se sentou ao lado de Neville e disse para Harry:
– Harry, você vai ser papai! Já sabe o nome do neném?
– Ainda nem sabemos o que é, Luna, se menino ou menina.
Justin Finch-Fletchley estava de olhos arregalados:
– Eu nunca vi um homem grávido antes. Cara, isso deve doer. Como é o que o Snape concordou com isso?
Parvati Patil deu um suspiro alto:
– Ora, ele fez isso por amor, não está vendo?
Ginny Weasley perguntou a Harry:
– E onde está o Snape? Ele está bem?
– Está bem, mas Madame Pomfrey quer que ele fique na enfermaria essa noite, só por garantia. Ele desmaiou esta tarde, por isso.
– Oh, não. Espero que tudo esteja bem.
Ron meneou a cabeça:
– Você vai se casar com o sebosão, Harry... É difícil de aceitar.
Hermione perguntou:
– Você quer isso mesmo, Harry? Você está feliz?
Ali, na frente de todos, Harry não podia dizer a Ron e Hermione o verdadeiro motivo de toda aquela pressa no casamento. Mas ele podia responder à pergunta de Hermione com total sinceridade:
– Sim, 'Mione. É isso mesmo que eu quero. E eu estou muito feliz.
Colin Creevey quis saber:
– Harry, posso bater umas fotos suas com o Prof. Snape antes do casamento?
– Claro, Colin, sempre que quiser. Eu vou querer também umas da barriga de Severus, quando ela começar a crescer.
– E você prefere menino ou menina, Harry?
– Vocês vão morar aqui em Hogwarts depois que você se formar?
– Ele já falou com os Slytherins?
– Tá na cara que não. Olha lá as caras deles!
As conversas continuaram, animadas, e Harry levou Ron e Hermione para um canto.
– Vocês podem me ajudar numa coisa? Vou ter que dar uma escapulida essa noite.
– Não precisa mais escapulir – lembrou Ron. – Snape é seu noivo, agora.
– Não, eu vou sair de Hogwarts e ver o pai dele.
– O pai dele? Eu pensei que ele não tinha pai. E você não disse que eles se odiavam?
– Mas isso foi há tanto tempo. Quem sabe agora eles não conseguem fazer as pazes e viver como uma família? Ainda mais agora, com o bebê chegando.
– Sabe, Harry, eu acho isso muito lindo e tudo mais – disse Hermione, cética. – Só não sei se vai dar certo. Afinal, Snape pode guardar rancor por muitos anos. Lembre-se de como ele se sentiu em relação a seu pai, Harry e transferiu isso tudo para você. Não acho muito provável que ele vá perdoar o pai.
– Hermione tem razão – opinou Ron. – Além do mais, se Snape é rancoroso, ele deve ter aprendido com alguém em casa.
– Mas eu tenho que tentar – disse Harry. – Eles só têm um ao outro, e não se viram nos últimos 20 anos. Quem sabe só do que precisam é um empurrãozinho? Eu acho que vale a pena tentar. O máximo que pode acontecer é ele me expulsar.
– E você tem algum plano em mente ou quer só aparecer lá e pedir para eles serem amigos?
– Eu sei que o pai de Severus valoriza as tradições. Ron, você sabe de algum ritual tradicional de casamento entre os bruxos?
– Eu só sei que o pai da noiva é quem paga a festa. Mamãe já está economizado há anos para o casamento de Ginny.
– E não tem um lance de pedir a mão da noiva?
– Eu acho que sim, Harry – Hermione disse. – Acho que antigamente tinha até um dote a ser pago, mas isso não se faz mais hoje em dia.
– O pai de Severus segue tradições antigas, talvez ele siga essa também – ele sorriu. – Obrigado pela dica, 'Mione. Agora se puderem cobrir a minha ausência...
– Harry, tome cuidado. Pelo que você disse, esse homem pode ser violento.
– Tudo bem. Eu vou tomar.
– Olha só. Seamus, aquele irlandês, está preparando uma despedida de solteiro para você no salão comunal, com muita Butterbeer.
– Ótimo! Vou fingir que caio bêbado e aí sumo com a Capa da Invisibilidade.
– Mas Harry, bêbado com Butterbeer? Você não é um elfo doméstico!
– Ron, a gente tem que convencer todo mundo que o Harry é fraco para bebida! E você tem que fingir tomar um monte de Butterbeer. Um monte mesmo!
