Obrigada pelas reviews. Então vejamos:

Nicolle – Fique calma, Ni, que muitas de suas perguntas serão respondidas. Bom, quanto a final feliz, você vai ter que esperar para ver, não? beijinhos

DarkAngelAngst – O pai do Severus realmente é uma peça, não? Sim, agora espero que suas dúvidas sejam todas esclarecidas. E as de Harry também:- )

Deborah DBD – Tento atualizar tudo o mais rápido que posso ! Espero que goste desses novos capítulos.

Capítulo 9 – Nós temos o paraíso

Por mais que Harry tentasse se concentrar no fato de que a ameaça representada por Sevinus estava afastada, ele não podia ignorar a tensão ao chegar às masmorras. Severus o guiou silenciosamente para uma parte escondida na parede de pedra. Harry o seguiu para dentro de uma sala de estar confortável e sóbria, com uma mesa de madeira num canto oposto ao um sofá e duas poltronas em frente à lareira. Então ele percebeu que aqueles eram os aposentos particulares de Severus, aos quais até o momento ele jamais tivera acesso.

Como sua cabana particular, a decoração dos aposentos era simples e espartana. Harry se permitiu rapidamente passar os olhos nas fileiras de livros e no certificado de Maestria em Poções pendurado na parede, antes que Severus atraísse sua atenção:

– Venha comigo, por favor.

Harry o seguiu até o quarto de dormir, outro aposento austero, com uma cama de casal de quatro postes nus. Severus se dirigiu ao closet embutido na parede e de lá tirou uma tigela de pedra, com runas gravadas: um Pensieve, reconheceu Harry, um pouco maior do que aquele que ele vira no gabinete de Dumbledore em seu quarto ano.

Severus levou o objeto até a sala de estar e sentou-se à mesa de madeira, colocando o Pensieve à frente de Harry. Sua voz era baixa e submissa quando finalmente rompeu o silêncio:

– Há muitos anos comprei esse Pensieve com todo o dinheiro que consegui economizar. Nele coloquei essas memórias e nunca mais as vi. Você precisa vê-las. Sei que você tentou vê-las através da Legilimência no verão, mas como elas tinham sido retiradas de minha mente, você não conseguiu. Mas eu me recuso a deixar que você tome uma decisão tão importante quanto o casamento sem ver o que está contido nesse Pensieve.

– Severus, eu não sei o que tem aí, mas não há nada que me faça desistir de você. Nada.

– Não diga isso até ver o Pensieve. Por favor, Harry, escute apenas isso: eu sei que não tenho direito, mas amo você. Agora ainda mais, já que sou obrigado. Quando voltar dessas memórias, não importa o que sinta, acredite nisso.

– Você não vem comigo? Não quer olhar o Pensieve?

Severus empalideceu e abaixou a cabeça:

– Não, eu... não posso. Agora vá, por favor.

Harry obedeceu, apreensivo. Mergulhou no Pensieve, olhando a fumaça prateada ondulando, imaginando que segredo poderia ser tão terrível que Severus não podia sequer encarar...

Sua mente estava à espera de algo tão sombrio que ele até se assustou ao aterrissar em Diagon Alley, num dia de sol e calor, a multidão animada fazendo a rua fervilhar com o movimento. Ele localizou Sevinus e Severus na entrada de Knockturn Alley, ambos com roupas gastas e remendadas. O garoto de 13 anos, mas com tamanho de um de 10, olhava com desejo para os sorvetes de Florean Fortescue, mas foi empurrado com força pelo pai.

– Mais coisas para comprar para a maldita escola! – vociferava Sevinus. – Você só me dá despesa! Vai começar a trabalhar no verão que vem, está ouvindo?

– Sim, pai – disse o garoto entre revoltado e temeroso. Harry podia ver que ele experimentava maus-tratos com regularidade.

Pai e filho entraram mais fundo no beco mais mal-afamado do mundo bruxo, e a freqüência começou a mudar. Tipos sombrios e mal-encarados faziam Harry se encolher, mesmo que ele estivesse apenas vendo uma memória, com a qual sequer podia interagir.

– Aqui eu posso encontrar essas coisas mais barato, de segunda mão – resmungava Sevinus. – Isso se não formos assaltados ou coisa pior.

Talvez fosse esse o caso, pensou Harry, ao observar dois homens mal-encarados olhando com muito interesse para pai e filho. Eles os seguiram pelo beco adentro, e Sevinus entrou numa loja, deixando Severus do lado de fora. O garoto ficou olhando a vitrine, e os dois sujeitos o observaram de longe por uns minutos, depois se aproximaram. Severus olhou para eles. Nesse momento, Sevinus saiu da loja e olhou para os três.

– O que está acontecendo? Quem são vocês?

– Nada, só admirávamos o seu garoto. Um belo rapaz. Tem o quê, uns 11, 12 anos?

Severus fechou a cara:

– Já completei 13 anos.

– E estaria interessado em ganhar algum dinheiro, rapaz?

Ao ouvir falar em dinheiro, Sevinus se adiantou:

– Se querem propor alguma coisa, é comigo que têm que falar. Sou o pai dele.

– Claro, claro. Queremos lhe propor um negócio – O homem sorriu, e ficou ainda mais assustador, pensou Harry. – Um negócio bem vantajoso.

Sevinus olhou para o homem, depois olhou o amigo dele e disse a Severus:

– Vá olhar vitrines enquanto eu converso com o cavalheiro. E não suma por aí!

Severus obedeceu, distraindo-se enquanto o pai conversava com os homens. Harry ficou tentado a ir ouvir a conversa, mas eles entraram numa loja, e o rapaz achou melhor ficar com Severus. Depois de se demorarem dentro da loja, Severus começou a ficar entediado. Mas Sevinus saiu da loja com um dos homens logo depois.

– Quero que você vá com o moço e faça tudo que ele mandar.

– O que vou fazer?

– Você vai trabalhar, garoto – O pai o olhou, feroz. – E não me faça passar vergonha, senão vou enchê-lo de pancada em casa, ouviu?

Sevinus parecia particularmente nervoso, então Severus achou melhor não discutir. Seguiu o homem para dentro da loja, e de lá para um quarto no andar de cima, onde o outro homem estava esperando. Severus olhou o quarto: tinha uma cama e um armário pequeno. Não havia janelas, só um cheiro de mofo.

– Como é seu nome, garoto?

– Severus.

– Tire a roupa e fique de joelhos.

– Como é? – ele não entendeu.

– É surdo? Tire a roupa e fique de joelhos.

– Mas por quê?

Os dois homens riram. O mais alto tirou o casaco, dizendo:

– Quando seu pai (se é que ele mesmo é seu pai) disse que você era virgem, não estava brincando. Valeu a pena ter pagado tanto. Agora tire a roupa e venha para cá. De joelhos.

Os olhos negros do menino se arregalaram quando ele finalmente percebeu o que estava acontecendo. Num impulso, ele correu até a porta, mas ela estava trancada. O altão agarrou-o pelos pulsos, sacudindo-o:

– Eu não quero nada disso! Seu pai exigiu um bom dinheiro pela sua bundinha virgem, e eu quero o que paguei, sem choro nem escândalo, entendeu, sua putinha? – Ele o jogou no chão. – Agora vai tirando a roupa, ou eu mesmo faço isso por você!

O outro tirava as calças, reclamando:

– A gente não devia ter concordado em não bater! Umas porradas e esse garoto afinava na hora.

Severus constatou, horrorizado e enojado, que ele não tinha escapatória. Com o estômago revirado, Harry viu duas grossas lágrimas escorrerem pelo rosto do menino quando ele começou a desabotoar a camisa. Nos olhos negros, ele viu ódio, revolta, traição e humilhação.

As cenas que se seguiram fizeram Harry chorar, o peito constrito, o estômago revoltado. Ele não sabia dizer o que o fez ficar e assistir a tamanho espetáculo de degradação. O que ele mais queria era pegar o garoto no colo, o seu Severus, e fazer aquilo tudo desaparecer, sumir. Harry ouviu os gritos e as súplicas do menino, e os sons marcaram sua alma. Viu o sangue no corpo franzino, o rosto jovem em estado permanente de choque, nojo e dor.

Quando tudo terminou, Harry se sentia exausto e drenado emocionalmente. Ele queria deixar o Pensieve e aninhar-se com Severus um bom tempo, para tentar ajudá-lo a lidar com aquilo.

Só que não tinha acabado. Outras memórias vieram. E outras. E ainda mais. Outros homens, outras humilhações. O horror não parou. Na verdade, ele se prolongou por anos a fio. Harry mal podia acreditar no que estava vendo.

Severus passava as férias trancado no quartinho infame, onde estava por um acordo feito entre seu pai e o dono da loja. O rapaz era escravizado para servir aos clientes do pai, preso sem ver a luz do dia ou da noite. Uma vez por dia, ele tinha permissão para descer até os fundos da loja, onde recebia um jantar miserável como única refeição. Ele tinha que permanecer magro para agradar aos clientes.

Ele tinha também "clientes especiais", homens que pagavam extra pela permissão de usar nele chicotes e amarras, deixando-o tão sangrento e dolorido que às vezes ele passava dois dias para se recuperar. Nenhum deles se incomodava em evitar cicatrizes. Mas sua fama logo cresceu. Em pouco tempo ele ficou conhecido como uma puta exclusiva, que só trabalhava no verão.

No resto do ano, Severus tinha Hogwarts.

A princípio, ele imaginou que na escola ele pudesse esconder dos colegas as atividades que seu pai o forçava a fazer durante o verão. Claro que isso não tinha sido possível. As conseqüências não demoraram a surgir.