Capítulo 20 – Circo do céu
– Lupin disse que ia trazer alguém para ficar com você enquanto estivéssemos no Ministério.
– Isso é um exagero – garantiu Severus. – Eu posso me cuidar durante duas horas. Não preciso de babá.
– Ora, faça sala e tudo estará bem. O Prof. Dumbledore também achou uma boa idéia. – Houve uma batida à porta. – Devem ser eles agora. Pode atender enquanto eu pego meu casaco?
Severus grunhiu e abriu a porta. Seus olhos imediatamente se estreitaram, e ele avisou, numa voz perigosa:
– Está forçando sua sorte, lobisomem.
– A culpa não é minha – Lupin olhou para a pessoa que o acompanhava e abanou a cabeça. – Eu não pude dizer não.
Molly Weasley adiantou-se:
– Remus diz a verdade. Fui eu quem o forçou a me trazer. Preciso falar com Harry.
– Eu não sei se ele vai querer falar com você.
– Falar com quem? – Harry olhou para os recém-chegados e sua expressão mudou. – Mrs. Weasley?
– Harry, querido, como vai? – Ela sorriu, mas estava agitada. – Posso lhe falar um instante, por favor?
Harry ficou do lado de Severus, dizendo:
– Não sei o que temos a conversar, Mrs. Weasley. Sua última correspondência parece ter deixado bem claro tudo o que pensa a respeito de meu marido.
– Harry, eu vim pedir desculpas.
– Você destratou Severus – ele lembrou, ríspido. – Tem que pedir desculpas a ele.
– Claro que eu pedirei desculpas a ele. Vim para cá ajudá-lo. Nem meus filhos sabem que estou aqui em Hogwarts. Eu me ofereci para ficar com Severus enquanto você estiver fora, Harry. Queria falar com os dois. Por favor, me desculpem por aquele Howler. Eu exagerei, só isso. – A mãe de sete Weasleys se virou para o rapaz. – Queria apenas proteger você, Harry. Eu gosto de você como se fosse meu próprio filho, acho que você sabe disso.
– Então fez o que qualquer mãe faria e tentou me proteger de uma pessoa como Severus, não é? – Ele foi ríspido.
– Desculpe, Harry – Ela realmente parecia arrependida e mortificada. – Por favor, não pense que tenho alguma coisa contra Severus. Não tenho mesmo.
– Eu sei. É só o preconceito. Mas deve saber. Ele foi obrigado a se prostituir. Não foi voluntário.
– E estou mortificada com isso, acredite. Dumbledore me explicou as circunstâncias. Severus – ela se dirigiu diretamente a ele –, eu sinto muito, muito mesmo. Eu disse coisas horríveis a você e não deveria ter feito isso.
Severus a encarou, a expressão indecifrável.
– E veio aqui ficar comigo?
– Eu me ofereci para ficar e ajudar a arrumar o quarto do bebê. Remus me disse que está ficando muito bonito, mas ficarei muito feliz em ajudar você com dicas sobre o bebê e o que deve esperar. Você sabe, depois de sete bebês, eu espero ter aprendido alguma coisa.
Severus não pôde deixar de pensar que Molly Weasley realmente poderia ser muito útil, especialmente agora, que o bebê estava prestes a chegar. Ele olhou para Harry significativamente. O rapaz disse, dando de ombros:
– Você é quem sabe, Severus. Se você não quiser a ajuda dela, eu vou entender. É seu direito. E vou apoiar sua decisão.
Molly estremeceu, e Severus, também, mas por razões diferentes. Nunca ninguém tinha o defendido antes com tanta veemência. Severus sabia que Molly era a coisa mais próxima que Harry tinha de uma figura materna, e ele estava disposto a cortar relações com ela só por sua causa. Mas Severus entendia perfeitamente as motivações de Molly, e não a condenava, nem se sentia magoado. Sua vida inteira ele tinha sido discriminado, e tinha se acostumado a isso. Mas Harry exigia que todos o tratassem com respeito, e reagia violentamente a quem o destratasse.
Severus não estava acostumado a ser tão cuidado. Ele tinha sentimentos fortes cada vez que Harry demonstrava esse carinho e essa dedicação. Durante toda a sua vida ele se sentira indigno, sujo, imprestável. Harry parecia achá-lo digno de afeição, e isso aquecia sua alma em níveis que ele acha difícil racionalizar.
Ele também gostava de proteger Harry. E sabia que Molly era sincera, que não tivera má intenção. Por isso ele se virou para o seu marido:
– Harry... Ela é mãe de seu amigo. De seu melhor amigo. Você deve perdoá-la.
Harry pegou as mãos de Severus entre as suas:
– Se você está pedindo... Então eu acato.
– Obrigada – disse ela, parecendo aliviada. – Muito obrigada. Aos dois.
Lupin sorriu:
– Que ótimo que tudo se resolveu satisfatoriamente. Agora é melhor irmos, Harry. Quanto antes formos, mais cedo voltamos.
Harry beijou Severus:
– Prometo não demorar.
– Não se preocupe – disse Molly. – Severus e eu temos muito o que conversar sobre o bebê. Dumbledore disse que um elfo também os ajudará, é verdade?
– Tibby – respondeu Harry. – Parece ser muito experiente.
– Que bom. Assim eu fico mais tranqüila. Vamos, Severus, Remus disse que o berço de Sirius combinou muito bem no quartinho que Hagrid fez. Quem sabe chamamos o seu elfo, também? Como é mesmo o nome, Tobby?
Lupin e Harry deixaram os dois envolvidos em coisas do bebê e subiram para o escritório do diretor, de onde iriam para Diagon Alley via Floo. Mas no caminho, Harry teve a atenção desviada por um animalzinho correndo escada acima. O bichinho passou rápido demais para Harry saber com certeza, mas parecia o mesmo esquilinho cinzento que ele vira outro dia saindo das masmorras. Ele ficou intrigado.
Quando eles chegaram ao escritório do diretor, Dumbledore os saudou com uma expressão sombria:
– Ah, Harry, Remus, que bom que chegaram. Eu ia mandar chamá-los.
– Aconteceu alguma coisa, Prof. Dumbledore? – Harry viu que o diretor não estava sozinho. – Zabini? O que você está fazendo aqui?
O rapaz de Slytherin ofegava e parecia agitado:
– Eu vim assim que pude, mas não podia deixar Malfoy com suspeita. Ele planeja atacar vocês hoje!
– Atacar? Do que está falando?
– Ele soube que você ia deixar o Prof. Snape sozinho por um tempo, e pretendia atacar os dois ao mesmo tempo: você em Diagon Alley e o Prof. Snape aqui em Hogwarts, enquanto todos estivessem em Hogsmeade. Eu tentei despistá-lo o quanto antes sem comprometer minha posição.
O Prof. Dumbledore esclareceu:
– Blaise tem sido nosso agente junto a Draco Malfoy.
– E você por um acaso usa um esquilo cinzento para levar esses recados?
– O esquilo sou eu. – Zabini sorriu. – Sou um animago há dois anos.
– E como ele pretende atacar?
– Há Death Eaters esperando em Diagon Alley por você, e ele pretende atacar pessoalmente o Prof. Snape. Draco pretende entregar vocês dois ao Lord das Trevas.
Harry não esperou pelo complemento e saiu correndo:
– Oh, não, Severus!...
Lupin foi atrás dele:
– Harry, calma!... Severus não está sozinho!
Aquilo pouco importava para Harry, que desceu as escadas a toda velocidade rumo às masmorras, seguido por Lupin. Ele atravessou corredores, voando o mais rápido que podia em duas pernas.
Entrou em seus aposentos batendo a porta e foi direto ao quarto do bebê. Quase teve um ataque com o que viu.
Tibby, a elfa doméstico estava paralisada, vítima de um Feitiço Petrificador, os olhos pretos muito arregalados. Do outro lado do quarto, jogada no chão, Mrs. Weasley estava desacordada e imóvel. Harry tirou a varinha e apontou para Tibby:
– Enervate!
A elfa tentou se erguer, trêmula, e Harry a amparou. Remus examinou rapidamente Mrs. Weasley e foi imediatamente à lareira chamar Madame Pomfrey.
– Tibby tentar impedir, Mestre Harry Potter! – A elfa passou a se desfazer em lágrimas. – E Mrs. Weasley também lutou contra invasor, Jovem Mestre Malfoy! Foi horrível, horrível!
Remus indagou:
– Como Malfoy levou Severus?
– Uma chave de portal, Mestre Lupin. Não sei para onde. Ele não disse. – Tibby se debulhou em lágrimas. – Oh, pobre Mestre Snape! Que será do bebê Snape-Potter?
Harry olhou para a elfa solenemente, sentindo o corpo tremer:
– Tibby, precisa dizer exatamente tudo o que aconteceu. Malfoy não disse nada para onde pretendia levá-lo? O que exatamente ele disse?
– Não, Mestre Harry Potter. "Você finalmente meu, Severus", isso o que ele disse! – A elfa parecia de repente ter muita raiva. – Jovem Mestre Malfoy é ainda pior do que Dobby disse! Se Tibby não fosse tão pequena...!
Lupin olhou Harry:
– Malfoy mentiu para Zabini. Ele não está atrás de você, Harry.
– Não – Harry fechou os olhos, estremecendo. – Ele não está sob as ordens de Voldemort. Ele está atrás de Severus e do bebê. – Ele tentou controlar sua fúria, mas alguns dos frasquinhos de poções de Severus tilintaram sozinhos, e a magia se espalhou no ar. – E Mrs. Weasley?
– Poppy está a caminho. Avisei Dumbledore e ele está reunindo a Ordem nesse exato momento.
– E Severus?
Harry não tinha como saber, mas naquele exato momento, Severus enfrentava seus captores, frente a frente.
Ao contrário do que Harry pensava, Voldemort era um deles.
