– Duo... – Tentei manter o sorriso, mas não consegui. Aqueles olhos azuis cobalto pareciam ler minha alma, não adiantaria colocar minha falsa máscara de felicidade. – Quer passar a noite aqui?

(¯·..·¯·..·¯)

Sua expressão já não estava mais sorridente quando fiz aquela pergunta, então eu pude realmente perceber o quão arrasado ele estava com aquela situação.

Ele não fez nenhum gesto, parecendo pensar sobre a minha proposta. Eu baixei meus olhos para o jornal, que havia pegado de volta, mas não conseguia ler nada, apenas a parte que se referia a ele.

Ele foi o único sobrevivente, havia voltado um pouco para pegar a bola de seu irmão mais novo, que havia rolado pra longe.

Uma bola...por causa de uma bola aquele rapaz sobreviveu. Era...terrível.

"O rapaz só teve um corte na cabeça e uma torção leve no tornozelo, segundo o boletim médico divulgado..."

– Você fugiu? – Perguntei de repente.

Ele pareceu envergonhado, mas afirmou. Eu me aproximei e baguncei sua franja, sorrindo. Ele não merecia aquele destino tão cruel.

Eu merecia.

– Você pode dormir aqui no sofa, tá bem? Amanhã cuidaremos desses machucados e de tudo. – Ele arregalou os olhos. – Fique tranqüilo, aqui ninguém vai te fazer mal. – Levantei, mas voltei em seguida, com lençóis e cobertores.

Ele me sorria de forma cansada, mas verdadeira. Eu me permiti retribuir o gesto, enquanto arrumava o sofa. Minha cabeça doía e meu coração parecia se partir cada vez que eu o olhava, agora despido de sua máscara.

A dor era clara em seu rosto.

– Pode deitar, Duo. – Ele se sentou no sofa, me olhando de forma estranha. – O que foi?

Ele abriu e fechou a boca diversas vezes, querendo falar. Seu olhar se entristeceu ainda mais e uma lágrima solitária escorreu.

Eu me desesperei e correria para buscar um papel e uma caneta se não sentisse sua mão me segurar. O encarei, confuso, mas ele se ergueu ligeiramente e me deu um beijo no rosto, deitando sob as cobertas em seguida.

Toquei minha bochecha com a ponta dos dedos e sorri de forma verdadeira, me ajoelhando ao seu lado. Nos olhamos durante alguns minutos e então depositei um beijo em sua testa.

– De nada, Duo. – Ele pareceu feliz por eu compreender seu gesto. – Durma com os anjos. – Ele afirmou e piscou seus olhos violetas, parecendo uma criança.

Meu peito doía insuportavelmente quando me deitei. Jamais havia sentido algo parecido.

Ele não podia sofrer desse jeito.

Ele não devia.

Tudo culpa do maldito motorista que atropelou sua família.

(¯·..·¯·..·¯)

Não entendi aquele último olhar que ele me lançou.

Parecia culpado.

Mas aquilo era normal. Nos poucos dias que eu vivi nas ruas notei que as pessoas me olhavam com medo, com nojo, mas principalmente com culpa. Sentiam culpa por quererem ajudar, mas não terem coragem para isso.

Mas Heero estava me ajudando.

Abandonei a dúvida e tentei esquecer um pouco a dor que queimava em meu peito. Pelo menos ali era quentinho. Não era a cama do hospital das duas primeiras noites, nem a calçada fria que eu dormia nos últimos dias, sempre com medo de ser morto ou espancado.

Era a casa de Heero.

Toquei com a ponta dos dedos o local onde ele havia depositado o beijo, sentindo meu coração disparar. Sorri e decidi dormir, seria o melhor a fazer.

Dormi razoavelmente bem.

Sem sonhos ou pesadelos.

(¯·..·¯·..·¯)

Eu deveria ter me matado no instante que pousei a cabeça no maldito travesseiro.

Teria sido menos doloroso.

A noite foi um verdadeiro tormento, a imagem de Duo ficava indo e vindo de minha mente, me torturando com aquela maldita verdade silenciosa.

Quando amanheceu me sentia pior ainda. Não havia dormido e simplesmente não conseguia tirar aquele garoto da cabeça. Ele tinha tantos problemas...sem família, sem lugar onde ficar, talvez eu devesse...

Um barulho na porta me tirou do meu estado e me levantei rapidamente, encontrando Duo encostado a parede.

– Bom dia, Duo. – Tentei sorrir, mas falhei miseravelmente. Estava incerto de como as coisas ficariam dali para frente.

Ele abaixou a cabeça, parecendo imensamente triste e percebi que ele tinha as mesmas dúvidas que eu.

– Vou ligar para um amigo, que é médico, para poder cuidar desse corte. – Ergui seu rosto, vendo-o dar um sorriso tímido. – Vá deitar mais um pouco, sim? – Duo assentiu e caminhou até o sofa, ainda mancando.

Passei a mão pelos cabelos, suspirando. Aonde eu estava me envolvendo afinal?

Eu nunca fui sentimental, nunca me importei com ninguém, mas com Duo era tão diferente! Ele parecia realmente uma criança desamparada.

Ora, eu não podia ser tão frio a ponto de manda-lo embora com o tornozelo daquele jeito!

Engolindo todo o meu orgulho idiota, liguei para Quatre.

Oh, aquela foi a parte mais difícil! Foi fácil pegar um menino de rua e colocar debaixo do meu teto, mas foi extremamente complicado ligar para Quatre. Levei pelo menos 10 minutos com o telefone nas mãos.

O loiro sequer protestou quando eu contei a situação e apenas disse que logo estaria em meu apartamento. Uma das coisas que sempre admirei em Quatre era sua capacidade de perceber as coisas.

Tomei um banho rápido e passei para a cozinha, me recusando a olhar para o sofa onde Duo dormia. Doía demais.

– Bom dia, Quatre. – Abri a porta calmamente, tentando ignorar tudo que havia dito para o árabe na noite anterior.

– Apesar de dizer que sou um fraco, inútil e coisas parecidas... – Arregalei os olhos. – Sei que você é assim mesmo! – O árabe me abraçou apertado e eu suspirei, completamente aliviado. – Onde está meu paciente? – Eu iria apontar o sofa, quando me assustei com um par de ametistas me olhando intensamente.

– Duo, esse é Quatre. – O americano deu um pequeno sorriso.

– Oh, então foi você quem fez o nosso bloco de gelo derreter? – Senti meu rosto esquentar. – Sente-se aí no sofa que eu vou verificar esse corte. – Duo ficou parado e Quatre lhe sorriu, passando o braço por seus ombros. – Vamos logo! Estou com fome e tenho certeza que Heero estava indo comprar algo saboroso para nós!

Eu tentei, mas não consegui me impedir de rir.

(¯·..·¯·..·¯)

Quando Heero deixou o apartamento me senti acuado diante dos olhos daquele loiro. Ele parecia querer ler minha alma!

– Olha, Duo, o Heero me contou mais ou menos sobre você. – Há...lá vinha os "sinto muito", "eu lamento" e blá blá blá. – Mas isso não importa agora, certo? – Arregalei meus olhos. – Vamos cuidar desse corte e depois vamos ver esse tornozelo inchado.

Sorri verdadeiramente e logo simpatizei com aquele loiro.

Ele cuidou do corte em minha testa e de meu tornozelo com tanta delicadeza que quase nem senti nada. E a conversa dele era extremamente agradável, mesmo eu não podendo responder.

– Viu? Foi rápido. – Eu sorri. – Seu tornozelo não está torcido, não se preocupe. Tome esse remédio pra dor e pronto! E esse curativo tem que ser trocado duas vezes ao dia, certo? – Eu assenti.

Ele abriu a boca para falar algo quando Heero voltou com várias sacolas na mão. Quatre lhe sorriu e foi ajuda-lo.

Enquanto os dois estavam na cozinha eu arrumei a pequena bagunça no sofa e me deitei novamente, com milhões de pensamentos em minha cabeça.

Por quanto tempo eu ficaria ali?

– Mas, Heero, isso é exagero! – Ouvi a risada abafada de Quatre e fui até a cozinha.

– Ora! Eu não sabia do que ele gostava! – Arregalei os olhos quando notei a quantidade de guloseimas sobre a mesa. – Como eu podia adivinhar?

– Então está tentando agrada-lo, senhor Yuy? – Vi as bochechas de Heero adquirirem um tom avermelhado, notando que meu próprio rosto esquentava.

– Ora, Quatre eu só... – Nesse momento ele me viu e me lançou um sorriso contido, que eu retribui prontamente. – Venha, Duo, sente-se aqui conosco. – Eu obedeci e, como uma criança, fiquei olhando todo aquele monte de besteiras, atentamente, tentando escolher o que comer.

Notei o olhar divertido de Quatre sobre mim, enquanto Heero parecia ansioso por alguma coisa. Desistindo de ponderar sobre o que parecia ser mais saboroso, peguei um pedaço de bolo de chocolate, ouvindo Heero suspirar.

– Pensei que não gostaria de nada. – Ele confessou e eu sorri, oferecendo-lhe uma bomba de chocolate.

– Impossível, Heero! – Quatre debochou. – Você trouxe todas as guloseimas que tinham na loja!

– Ora! Assim amanhã eu não preciso sair cedo, né? – Arregalei os olhos, gesto que foi imitado pelo árabe. – Sim, Duo, Quatre me disse que você precisa ficar um tempo sem forçar muito esse tornozelo, então você vai ficar aqui. – Neguei com a cabeça. – Não aceito "não" como resposta. Agora coma. – Apenas assenti, tentando esconder um sorriso satisfeito.

Mas não consegui.

(¯·..·¯·..·¯)

Não sentia vontade alguma de comer. Observar Duo já me era o suficiente.

Ele comia com vontade, se lambuzando com tantos doces. E ficava ainda mais adorável com o rosto sujo de chocolate.

Nunca fui preconceituoso, achar um homem bonito jamais foi problema para mim. E Duo era demasiadamente atraente. Não que eu ficasse pensando nisso a cada segundo. Apenas quando olhava para ele.

– Bem, Heero, estava tudo ótimo, mas eu preciso trabalhar, mesmo hoje sendo sábado. – Vi Duo erguer seus olhos, encarando Quatre. – Mas tenho uma idéia... – Suspirei, já esperando pelo pior, enquanto o americano piscava, curioso.

– Diga, Quatre.

– Hum...eu queria dar um jantar, sabe? – Hum...não era tão ruim. – Mas como Duo não pode ficar andando muito... – Oh! Não! – Por que você não nos convida?

– Porque você sabe que odeio esse tipo de coisa. – Respondi, seco. Duo tocou meus dedos de forma hesitante, me olhando como um filhote de cachorro.

– Acho que ele quer conhecer seus amigos, Heero. – Fuzilei Quatre com os olhos. – Vamos...só Trowa e Wufei! Não seja mal, Heero... – Sua voz tornou-se insuportavelmente doce.

– Hum...Duo...você gostaria? – O americano assentiu, de forma entusiasmada. – Tudo bem, loiro, você venceu, mas não vou cozinhar.

– Pedimos pelo telefone! – Quatre se levantou. – Hoje às oito, está bom? – Respirei fundo, assentindo. – Até mais, Duo! – O árabe depositou um beijo na testa do americano.

Quatre se foi, mas Duo permaneceu sentado a mesa, brincando com os farelos do bolo de chocolate. Ele parecia tão perdido, tão sozinho...tudo culpa daquele maldito acidente.

Sem que minha mente pudesse fazer alguma coisa contra, me ajoelhei ao seu lado, acariciando seu rosto com a ponta dos dedos. Ele sorriu, fechando os olhos para sentir o carinho.

– Vai ficar tudo bem, Duo, eu prometo. – Ele assentiu e se virou, passando os braços por meu pescoço.

Me assustei, mas não protestei e deixei-o ficar ali, chorando em meu ombro o quanto quisesse, talvez extravasando pela primeira vez a dor que sentia desde o acidente.

Quando ele se acalmou, fomos até a sala e nos sentamos lado a lado. Sequei suas lágrimas e ele me beijou a bochecha.

– De nada, moleque. – Ele ergueu a sobrancelha. – Moleque sim! – Uma almofada saiu rapidamente do sofa e encontrou minha cabeça. – Duo! – Me fingi sério, mas ele sorriu, me desarmando.

Ficamos assim, sorrindo um para o outro, como dois babacas sentimentais que acabaram de descobrir algo muito precioso.

Depois de um tempo notei que ele tentava dizer algo, mas o som não saía. Passei o braço por seus ombros, o acalmando.

– Tudo bem, Duo. – Afirmei. – Você não fala há muito tempo? – Ele negou e eu ergui a sobrancelha. – Alguns anos? – Negativa. – Meses? – Outra negativa. – Hum...semanas? – Ele fez uma cara engraçada. – Desde o...acidente? – Ele afirmou, de forma triste.

Mais que merda de vida! Não bastasse ter perdido toda a família ele também havia perdido a fala? O que mais o destino havia reservado para ele?

– Vai ficar tudo bem. – Disse de forma suave. – Logo isso passa...deve ser só um pequeno trauma. – Ele assentiu, tentando sorrir. – Sem máscaras, Duo, não precisa fingir estar feliz...eu sei como é não ter motivos para sorrir. – Ele negou veementemente com a cabeça e eu fiquei confuso. – Que foi? Você tem motivos para sorrir? – Ele assentiu e beijou minha bochecha, encaixando a cabeça em meu pescoço, se aconchegando mais a mim.

Eu era o motivo de seu sorriso?

(¯·..·¯·..·¯)

Oh...sim! Heero era o único motivo do meu sorriso.

Era gostoso estar tão perto dele. Me fazia sentir...em casa. Afundei mais o rosto em seu pescoço, suspirando satisfeito.

Não sei quanto tempo ficamos apenas daquele jeito. Eu me sentia leve perto dele, como se todas as minhas dores fossem para algum lugar bem longe, onde não podiam me atingir. E Heero...não sei em que Heero ficou pensando, mas se que ele suspirava vez ou outra, parecendo satisfeito com algo.

Acho que fizemos um pacto silencioso sobre não pensar no quanto toda aquela situação era estranha.

– Duo? – Sua voz grave fez todos os meus pêlos se arrepiarem.

Me recusei a abrir os olhos, estava tão bom ali. Mas ele se afastou delicadamente, me deitando no sofa. Imediatamente me enrosquei como um gato, tentando buscar o calor que havia perdido com a falta de contato com seu corpo.

– Manhoso. – O ouvi murmurar, enquanto se afastava.

Sorri, afundando o rosto no travesseiro. Gostava de estar com ele, e estava extremamente feliz por poder ficar ali mais tempo.

Acabei realmente pegando no sono e quando acordei já era hora do almoço. Comemos em silêncio, eu fiquei calado por motivos óbvios e Heero...parecia distante.

– Você pode tomar um banho, certo? Deixei algumas roupas separadas no banheiro. – Eu neguei. – Que foi? Não quer tomar banho? – Eu ri e me levantei, arrumando a louça na pia. – Não precisa, Duo! – Ele ficou atrás do meu corpo, tentando tomar um prato das minhas mãos.

Eu me esquivei, mas ele pressionou o corpo contra o meu, tentando pegar o objeto. Eu me mexi, tentando fugir, feliz por ouvir o som da sua risada.

– Me dê, Duo! Você não pode ficar em pé muito tempo! – Eu me virei para ele, segurando o prato nas suas costas, abraçando-o no processo.

Eu continuaria rindo se não tivesse percebido a posição que estávamos. O corpo dele estava colado ao meu, eu olhava para cima como se fosse beija-lo. Céus!

– Vá...vá tomar um banho, Duo. – Eu assenti rapidamente, me afastando em seguida.

O que foram aqueles arrepios que eu senti quando estava tão próximo dele?

Me tranquei no banheiro, ainda sentindo meu coração disparado. Que idiotice! Por que eu pensei em...beijar ele? Aquela posição que ficamos...o corpo dele tão perto...a boca...ah não! Absurdo!

Terminei o banho e saí cautelosamente do banheiro, tentando fugir dele. O motivo? Nem eu mesmo sei. Quando o encontrei jogado no sofa da sala, respirei fundo, tentando não deixar meu rosto me trair, mostrando todo o meu nervosismo.

– Vou trocar seu curativo, venha. – Seu tom tão normal me tranqüilizou e eu me sentei ao seu lado, sorrindo. – Você não tem mais ninguém, Duo? Tios, tias? – Eu neguei, sentindo seus dedos longos tirando a curativo. – Nenhuma casa que possa ir? – Neguei novamente. – Hum...depois teremos que pensar no que fazer, certo? – Sorri, assentindo.

Eu não queria pensar...só queria ficar ali, onde estava protegido daquele mundo que só havia me dado dor.

Ele terminou o curativo e esboçou um sorriso. Eu franzi as sobrancelhas e ele deu um sorriso de verdade.

– Não estou acostumado a sorrir com tanta freqüência. – Ele bagunçou minha franja. – Acho que você está me fazendo bem. – Senti minhas bochechas esquentarem.

Ele apenas deu um sorriso sincero e saiu, me deixando com o peito aquecido por causa daquelas palavras.

(¯·..·¯·..·¯)

Duo era um anjo.

O sorriso infantil, o jeito tão encantador...até mesmo quando quase nos beijamos não senti malícia nenhuma de sua parte.

Na verdade não houve malícia nem da minha parte. Não sei...ele era lindo, mas eu só conseguia vê-lo com uma criança, um irmão...ou até mesmo um filho.

Filho...hum...não era um idéia tão absurda.

O toque do telefone me tirou de meus devaneios.

– Heero Yuy.

Hey, Heero, Quatre pediu para eu confirmar o jantar, tudo certo mesmo? – Eu quase sorri com a voz incrédula de Trowa.

– Sim, tudo certo sim.

Hum... – Algo me dizia que aquela conversa não acabava ali. – Heero... – Bingo! – Esse rapaz...é aquele rapaz mesmo?

– Sim, Trowa, pode deixar a curiosidade de lado. – Ele ameaçou protestar, mas eu continuar. – Eu sei que você está curioso, mas vai conhecê-lo hoje.

Ok, Yuy, até mais tarde. – Dei um meio sorriso, imaginando o rosto de meu amigo corado.

Por que tanta curiosidade sobre Duo? Eu podia até imaginar o alarde que Quatre fizera em volta do americano.

Hn.

Quando me virei me deparei com um par de olhos violetas. Levei uma mão ao peito, tentando acalmar meu coração por causa do susto. Duo, além de mudo, também era bem silencioso em suas aproximações.

– O que foi, Duo? – Afaguei sua franja. – Quer alguma coisa? – Ele apontou pro sofa. – Quer que eu me sente com você? – Recebi uma resposta afirmativa e fiz o que ele me pedia.

Duo me olhou pro alguns instantes, parecendo incerto, mas logo se aconchegou a mim e apoiou a cabeça e meu ombro. Me assustei de início, mas depois sorri, passando o braço por seus ombros.

– Sente falta desse carinho, né? – Ele assentiu, suspirando. – Tudo bem, sempre que quiser pode vir até mim. – Ele se afastou e me olhou espantado. – É verdade, Duo, eu vou estar aqui...e você vai estar comigo, certo? – Sua afirmação foi extremamente veemente e seu sorriso quase me cegou. – Eu não sei o que é...mas me sinto meio...pai perto de você. – Ele encostou a cabeça novamente em meu ombro. – Você não precisa ir embora...nunca.

Ok...ok...eu provavelmente estava surtando, mas quem pode me condenar? Duo exercia uma atração magnética...seus sorrisos simplesmente me conquistaram e eu não me permiti pensar mais sobre aquilo. Ele ficaria e ponto final.

Claro que eu tomaria todas as providências legais para isso.

Notei que ele cochilava e o peguei no colo, deitando-o em minha cama.

– Pode dormir, Duo. – Ele assentiu, manhosamente. – Talvez você esteja com anemia, tenho que tomar providências. – Murmurei, enquanto saía do quarto.

É...era a decisão certa! Eu deveria cuidar dele e lhe dar o futuro que aquele acidente tirou.

Não era um cara emotivo, como já disse, mas sempre tive a péssima mania de tomar decisões rápido demais. Mas nunca voltava atrás.

E daquela vez não seria exceção.

(¯·..·¯·..·¯)

Aquela preocupação era simplesmente adorável! Heero era imensamente adorável.

Menos quando ele me acordava!

– Vamos, Duo! Daqui a pouco eles vão estar aqui! – Me virei, vendo-o de forma ainda embaçada. – Comprei essas peças de roupa pra você, acho que são do seu tamanho. – Me sentei esfregando os olhos, sorrindo de forma agradecida. – De nada, mas ande logo! – Completamente sonolento, me levantei, sendo arrastado para o banheiro em seguida.

Ele nem ao menos respeitou meu tornozelo machucado!

Enquanto tomava banho me permiti pensar sobre toda a situação.

Ele disse que eu ficaria, e eu, com toda certeza, não contestaria essa decisão. Ora! Eu queria ficar com ali, onde estaria protegido de tudo.

E eu também queria ficar com Heero.

Certos sentimentos se desenvolvem rápido demais. Eu me sentia bem perto dele, era bom, era...gostoso. A sensação era...indescritível. Era como se ele fosse minha família. Eu não sentia medo ou nada parecido, era como se fosse o certo, mesmo sendo extremamente confuso.

Oh sim! Era muito, mais muito confuso. Afinal eu estava na casa de um estranho, que parecia gostar de mim como um pai gosta de um filho e...o mais estranho era que eu não conseguia achar tudo estranho! Merda de confusão dos diabos!

Heero era um louco...ele havia saído de casa e me deixado lá, enquanto comprava roupas para mim. Bem eu poderia tê-lo roubado, mas ele não se importou e isso me fez sentir muito muito bem! E ainda me deu um presente! Ele era tão gentil, tão carinhoso, tão quentinho...parecia um irmão mais velho...ou um pai.

Hum...Heero...pai...hum...estranho.

– Duo? Morreu aí dentro? Você não pode ficar em pé tanto tempo! – Eu sorri com o tom zangado e terminei de tirar o xampu do cabelo, atentando para o fato que ele havia comprado outro.

Terminei de lavar meus cabelos e me sequei rapidamente, mas molhei todo o chão do banheiro no processo. Quando abri a porta, reparei que ele estava encostado a parede, com uma expressão nada boa no rosto.

– Acho que você vai ficar sem banho por uma semana, né? – Abaixei os olhos, fazendo minha melhor cara de "cachorro sem dono". – Ah, céus! Não faz assim! – Ele tomou uma das toalhas e secou meu cabelo. – As roupas estão na cama, eu vou tomar um banho. – Eu me virei e sorri amplamente.

Caminhei calmamente pelo corredor, tentando não mancar muito, mas um barulho alto seguido de um coro de palavrões me fez correr rapidamente até a porta do banheiro, para, em seguida, praticamente voar até o quarto.

– Duo! Era pra tomar banho, não pra transformar meu banheiro em um lago! – Eu sorri, trancando a porta do quarto, ouvindo-o bater do outro lado. – Eu caí naquela merda de chão molhado! – Se eu tivesse voz, com certeza, minha gargalhada soaria extremamente alta. – Seu moleque mimado, não sabe nem enxugar um banheiro e... – E ele seguiu resmungando até que ouvi o barulho da porta do banheiro ser fechada.

Cautelosamente coloquei a cabeça para fora e olhei em direção ao banheiro, recebendo uma toalha encharcada em meu rosto.

– Nunca mais molhe meu banheiro desse jeito! – Ouvi o som de sua gargalhada e sorri junto.

De forma alguma seria ruim morar ali com ele.

(¯·..·¯·..·¯)

Sequei o banheiro pacientemente, ainda com um sorriso nos lábios. Era divertido até. Claro que tirando a dor nas costas por causa do tombo.

Tomei um banho rápido, me vestindo em seguida, indo encontra-lo na sala. Duo me olhou, tentando esconder o sorriso e falhando miseravelmente.

– Então você acha divertido que eu caia por causa de você não é, moleque? – Ele se encolheu no sofa, ainda rindo. – Ora...vamos ver quem leva a melhor agora! – Sem aviso avancei sobre ele, castigando-o com cócegas.

Senti até pena do pobre americano que se contorcia e tentava me empurrar, mas não conseguia por causa do riso compulsivo.

– E agora, heim? Heim? – Ele continuava a rir e eu sorria junto, adorando aqueles momentos tão simples e que há tanto eu não compartilhava.

Eu estava me divertindo.

Há quanto tempo aquilo não acontecia? Hum...acho que desde de nunca.

Só parei quando seus chutes passaram a deixar as áreas, onde acertavam, doloridas. Me sentei, ofegando, notando que sua respiração não estava melhor. Ele me sorriu, ajeitando carinhosamente meu cabelo e minha blusa, que estava completamente amarrotada.

Fiz o mesmo com ele, tentando arrumar os fios que se soltavam da longa trança com a qual ele havia prendido o cabelo. Quando estávamos um pouco mais apresentáveis, ele se sentou ereto e deu a entender que queria escrever. Eu rapidamente peguei um bloco e uma caneta e os entreguei, esperando ansiosamente pelo que ele escreveria.

Era estranho, seria a primeira vez que ele se faria entender de forma mais objetiva. Tirando a vez que ele escreveu no vidro do carro.

Ele me devolveu o bloco e abaixou a cabeça, parecendo constrangido. Olhei atentamente o papel antes de começar a lê-lo. Merda! Do que eu estava com medo afinal? Que ele dissesse que queria ir embora?

"Eu me sinto feliz de estar aqui...e também quero agradecer por tudo que está fazendo por mim...muito obrigado, espero não causar transtornos, não quero incomodar e...gosto muito de você...muito mesmo. E gostaria de ficar aqui...estar aqui é como estar em casa."

Pisquei, relendo novamente. Eram palavras simples. Extremamente simples, mas havia tanta sinceridade...Quase não consegui conter as lágrimas.

Duo gostava de mim. Simplesmente gostava. Era tão...simples...tão assustadoramente simples. Ele não queria incomodar...incomodar? Há! Ele havia me feito sorrir...rir...gargalhar! Como ele poderia estar me atrapalhando?

Com calma, pousei o bloco sobre a mesinha ao lado do sofa e o encarei, fazendo-o me olhar. Ele tentou desviar, mas eu mantive seu queixo firme entre meus dedos.

– Você nunca será um transtorno. – Afirmei, secando as poucas lágrimas que escorriam por seu rosto. – Você me fez sorrir como eu nunca havia sorriso antes, Duo...eu me sinto leve perto de você...eu quero sentir isso, eu quero que esta seja a sua casa. – Ele esboçou um sorriso. – Quero ser sua família. – Ele apenas me abraçou forte, soluçando contra meu pescoço.

Eu acariciei sua trança, tentando acalma-lo. Sim...eu seria a família dele e ele a minha.

Ter um filho adotivo não deveria ser tão ruim, certo?

Continua...


Hey, pessoas! Esse cap veio bem rápido, huh?

O que estão achando, heim? Gostaram do cap maior? E...e...gostaram aí do finalzinho?

/Se escondendo/

Críticas, elogios e puxões de orelha são bem vindos!

Quero deixar meus agradecimentos as fofas que me deixaram reviews: Elfa Ju Bloom, Celly M, Anna-Malfoy, belle malfoy, Karin Kamya, MaiMai, Yuki e Hinas.

Ju, minha linda, você TEM que ser citada, viu? Só Deus sabe o quanto vc me ajudou! Beijos, fofa!

Ai Ai, Celly, mais um review desse e pode encomendar meu caixão, ok?

Anna-Malfoy...hum...vamos deixar o suspense no ar, né? Mas logo o acidente do Duo vai ser completamente revelado!

Belle-malfoy...quando eu começo a escrever algo é justamente nisso que penso: tem que ser diferente! E que bom que quem lê capta isso!

Ah...Karin...seu comentário me deixou feito um tomate, ta? Hum...eu realmente tento fazer coisas diferentes...pelo menos tento, né?

Ah...MaiMai...o que pode ser mais fofo que eles juntos? O Hee cuidando do Duo, huh? Acho que vc já teve a resposta pra sua torcida!

Bem, Yuki, esse tema surgiu do nada, viu? E fico feliz em ver que vcs gostam dessas coisas loucas que aparecem na minha mente.

Hinas, minha fofa! Acredite que vou tentar fazer vc não sentir mais saudades! E meus fics são isso tudo? Nyaaaaa /assemelhando-se a um tomate/

Bem...por hoje é só, pessoal! E desculpem a falta de acentos e outros errinhos similares!

Aguardo comentários!

Beijos!