Eu acariciei sua trança, tentando acalma-lo. Sim...eu seria a família dele e ele a minha.
Ter um filho adotivo não deveria ser tão ruim, certo?
(¯·..·¯·..·¯)
Meu peito explodiria de felicidade se continuasse naquele abraço tão reconfortante. Ele queria ser minha família. Por um motivo obscuro e talvez absurdo ele queria ser a família de um garoto que nem conhecia direito.
Mas...quem disse que eu me importava? Se ele queria ser meu pai, irmão ou o diabo que fosse, eu seria o que ele quisesse. Já não tinha o que perder mesmo.
Me afastei do abraço, mirando seus impressionantes olhos azuis, que pareciam mais brilhantes. Sorri, tendo certeza que os meus olhos estavam como os dele.
– Você aceita, Duo? – Eu pisquei confuso. – Aceita ser minha família? – Eu assenti, mas mantive a expressão confusa no rosto. – Eu...não sei o porquê disso tudo, mas sinto que é o certo. – Eu sorri, me impedindo de pensar naquilo, apenas aceitando silenciosamente aquela oferta tão generosa.
Nos encaramos por minutos que pareceram intermináveis, apenas sorrindo e apreciando aquela nova realidade. Éramos uma família.
Às vezes as formas que os acontecimentos se desenvolvem podem ser bizarras.
– Daqui a pouco eles devem estar aqui, então tenho que te prevenir sobre certas coisas. – Ergui as sobrancelhas, curioso. – Primeiro Quatre e Trowa são namorados. – Eu assenti, um pouco confuso. – E Wufei ele tem uma tendência a... – Ele não pode completar a frase porque a campainha tocou.
Com um suspiro resignado ele se levantou e caminhou até a porta, parecendo nem um pouco satisfeito com aquela reunião.
Eu torci o forro da almofada, subitamente nervoso com o aparecimento dos amigos de Heero. Não sabia porque, mas queria que eles gostassem de mim.
(¯·..·¯·..·¯)
Havia uma coisa que eu odiava mais que pedir desculpas: receber pessoas em meu apartamento. Isso era, pra se dizer o mínimo, insuportável. Sim, eu era anti-social, mal-humorado e similares e como tal não gostava nem um pouco de ver meu espaço sendo invadido por outras pessoas, mesma que fossem amigos de longa data.
Sem contar que eu estava sentindo que algo definitivamente não correria bem naquele encontro.
Abri a porta e imediatamente me deparei com o enorme sorriso de Quatre. Murmurei algo incompreensível e dei passagem para meus amigos.
– E aí, Heero, ainda estressado? – Lancei um olhar mortal a Wufei, mas notei que tanto ele quanto Trowa pareciam procurar algo. – A gente já te perdoou, mas cadê o... – No mesmo instante Duo surgiu no campo de visão de todos.
Notei que o americano sorria nervosamente, parecendo ansioso. Dei um meio sorriso e me aproximei dele, passando um braço por seus ombros, deixando bem claro para que Wufei não tentasse encostar nele.
Hn. Poucos segundos foram o suficiente para notar o olhar cobiçoso daquele chinês sem vergonha.
– Duo, esses são Trowa Barton e Chang Wufei. – O americano hesitou por um momento, mas apertou a mão de meus amigos, voltando rapidamente pro abrigo dos meus braços, me lançando um sorriso.
Eu derreteria com o calor daquele sorriso se não tivesse três pares de olhos curiosos direcionados diretamente para mim. Delicadamente me afastei de Duo e tentei assumir, da melhor forma possível, meu papel de anfitrião.
– Vamos sentar? – Perguntei educadamente. Todos me olharam de forma estranha e em seguida riram.
– Pra que tanta formalidade? – Trowa disse e se jogou no sofá.
– Só tentei ser...gentil. – Cocei o pescoço em um gesto nervoso, me sentando no outro sofá, com Duo ao me lado.
Quatre se sentou do outro lado de Duo e começou um pequeno monólogo, entretendo o americano que hora ou outra sorria de forma mais ampla.
Suspirei de forma cansada e até consegui conversar de forma civilizada com Trowa e Wufei, que pareciam ter esquecido das minhas grosserias anteriores. Mas mesmo assim não deixei de reparar nos olhares longos que aquele chinês lançava na direção de Duo.
Merda! Se Wufei estava pensando que...
– Estamos com fome, Heero! Não é, Duo? – Olhei para Quatre e em seguida para Duo vendo o americano afirmar efusivamente.
Assenti, mas já prevendo uma grande batalha pela frente.
– O que vamos pedir? – Impressionante como 4 pessoas podem discordar completamente. Wufei, Trowa e Quatre conseguiram querer cada um, um tipo de comida, eu particularmente também discordei dos três então...
– Acho que podemos deixar Duo decidir, né? – Olhei de esguelha para Wufei, vendo o sorriso predador em seus lábios.
Concordei novamente e entreguei o bloco e uma caneta para o americano, que pareceu um tanto quanto acuado com todos os olhares voltados para ele. Só então eu reparei o que estávamos fazendo.
Céus! Duo nem os conhecia direito! E todos o olhavam com aquele quê de pena! Sorri de forma doce pra ele e baguncei sua franja, vendo-o suspirar aliviado.
Duo escreveu rapidamente e me entregou o bloco. Eu li e o olhei de forma...confusa. Ele tomou meu gesto como algo opressivo, pois se encolheu contra o encosto do sofá. Rapidamente tentei desfazer essa impressão sorrindo.
– Bem...então comeremos pizza! – Quatre bateu palmas, Trowa apenas sorriu e Wufei negou com a cabeça.
– Você vai mimar esse garoto, Yuy. – Eu o olhei de forma nada agradável.
– Eu e Duo vamos até a cozinha separar as coisas. – Quatre se ergueu, sendo seguido pelo americano, que já não mancava tanto.
Assim que eles passaram pelo portal que dava acesso a cozinha eu encarei Wufei abertamente. Não estava gostando da forma que ele olhava o americano, não estava gostando do tom da sua voz e menos ainda da forma que ele retribuiu meu olhar.
– Mantenha-se longe dele, Chang, ou eu juro que termino nossa amizade de uma forma bem dolorosa. – Ele arregalou os olhos e eu fiz os pedidos pelo telefone, não dando tempo de qualquer retalhe.
Eu podia jurar que vi um sorriso nos lábios de Trowa, mas não pude ter certeza. Qual era a graça afinal?
– Você parece um pai superprotetor. – Ergui as sobrancelhas, encarando o latino.
– Ou um amante ciumento. Mas fique tranqüilo, Heero, não vou atacar seu menino! – O sorriso que ele deu foi genuíno e eu me senti um babaca agindo daquela forma tão exagerada.
– É que ele parece tão...frágil. – Confessei. – Tenho que protegê-lo.
– Você não tem que protegê-lo, Heero, você quer, é diferente. – Trowa deu um daqueles sorrisos enviesados e eu tive que concordar. – Não se culpe tanto, nem assuma tantas responsabilidades dessa forma. – Eu suspirei.
Por que tudo tinha que ser tão malditamente complicado?
(¯·..·¯·..·¯)
Quatre era uma companhia formidável! Tinha sempre uma palavra doce ou algo engraçado na ponta da língua!
– Não foi simples, mas...estamos juntos afinal! – Eu sorri, gostando do brilho nos olhos do árabe quando ele falava de Trowa.
Ao mesmo tempo em que achava ótima toda aquela felicidade, eu me sentia estranho, talvez querendo um pouco daquilo para mim.
Abandonei esses pensamentos estranhos e ajudei Quatre a pegar alguns copos no armário. Quando fiquei na ponta dos pés, não pude evitar uma careta de dor com a pontada que senti no tornozelo.
– Ah, céus! Duo, eu acho melhor você ir sentar! – Tentei negar. – Sim, sim e sim! Como eu pude me esquecer do seu tornozelo? Que tipo de médico eu sou? – Eu ri, com aquele pequeno surto e Quatre sorriu também. – Vá logo! Deixa que eu arrumo as coisas! Pede pro Trowa vir me ajudar! – Ele piscou marotamente e eu senti minhas bochechas corarem.
Caminhei da melhor forma possível, tentando não colocar meu peso em meu tornozelo dolorido, mas algo que ouviu me fez parar.
– Vai me dizer que você não gostaria que ele retribuísse tudo que você está fazendo por ele, Yuy? – Identifiquei a voz de Wufei e rapidamente calculei que estavam falando de mim.
– Chega disso, Chang! Por que você quer tanto me provocar? – Heero parecia bem irritado.
– Você não imaginou como seria ter aquele corpo para si, Heero? Por Deus! Duo é simplesmente perfeito! E seria uma forma bem...prazerosa dele te pagar por tudo isso, afinal daqui pra frente, se você realmente pretende fazer o que diz, ele só te dará despesas e dor de cabeça...seria a melhor forma de ele te pagar todos esses favores. – Senti minhas bochechas pegarem fogo, entendo claramente sobre o que falavam.
Nunca fui tão ingênuo a ponto de não entender certas coisas. Não é porque nunca havia sido tocado que não entenderia quando diziam que eu deveria...me deitar com Heero.
– Você é um pervertido, Chang, e só não te expulso porque...
– Porque você sabe que o deseja! – Arregalei meus olhos, incerto de continuar ou não escutando aquela conversa.
Esperei que Heero retrucasse, dissesse que não me desejava, que era absurdo, mas o silêncio imperou por vários momentos, enquanto eu sentia meu estômago afundar.
– Ele...é apenas uma criança. – A voz de Heero deixava bem clara sua raiva contida. – E chega desse assunto, não quero criar brigas hoje. O que sinto por Duo é um sentimento paternal, apenas isso. – Sem que eu percebesse um profundo sentimento de desapontamento surgiu em meu peito ao ouvir aquelas palavras, mas rapidamente empurrei isso para longe.
Deliberadamente deixei que percebessem meus passos. Heero se virou me encarando, parecendo assustado. Eu sorri, tentando não demonstrar que havia ouvido aquilo tudo.
Mas certas coisas começavam a maquinar na minha mente.
– Você ainda está mancando, Duo, sente-se aqui. – Eu assenti, me sentando novamente ao lado de Heero.
Notei que o silêncio era quase constrangedor e eu nada podia fazer pra melhorar aquela situação. Olhei para o japonês tentando lhe mostrar que não estava gostando nada daquele clima.
Ele apenas deitou a mão em minha bochecha e sorriu de forma contida. Meu peito se aqueceu com o gesto e sem que eu percebesse já me aconchegava perto dele, encostando a cabeça em seu ombro.
Os olhares espantados pareceram não incomodar Heero, pois quando eu tentei me afastar, ele me manteve firme junto a seu corpo.
– Duo... – Meu corpo se arrepiou com aquele sussurro em minha orelha. – Não precisa ficar assim, essa é sua casa. – Eu assenti, vendo que Wufei e Trowa tinham umas expressões engraçadas nos rostos. – Você pode ficar assim se desejar, eles não tem nada a ver com isso. – Sorri, afundando o rosto em seu pescoço.
Era diferente daquela vez...as palavras de Wufei criaram uma pequena confusão em minha mente, me fazendo crer que estar tão próximo a Heero era errado. Bem...mas nem por isso deixava de ser bom!
(¯·..·¯·..·¯)
Aquelas caras...oh, merda! Qual era o problema? Sim, eu queria ficar perto de Duo! Eu queria ter aquela sensação gostosa de ter uma família! E ao contrário do que Wufei disse, eu não desejava o americano. Céus! Eu o queria como a um irmão mais novo ou até como a um filho!
Aquele chinês tinha uma mente doentia se pensava que eu teria algo com Duo. Ele era apenas uma...criança.
– Já está tudo arrumado na sala de jantar! – Quatre apareceu, sorrindo como sempre e não pareceu nem um pouco chocado com minha proximidade com Duo. – Heero você trocou o curativo dele? – Assenti. – Hum...ele está mancando muito, acho que seria prudente engessa-lo. – O americano se sobressaltou e negou veementemente com a cabeça.
– Mas, Duo... – Tentei.
– Bem, então você terá que permanecer quieto! – A voz de Quatre soou autoritária. – Nada de ficar passeando pela casa! – O americano assentiu. – Bom, melhor assim!
Alguns minutos depois nossa janta chegou. Conversamos de forma até animada e pude notar que Duo já estava um pouco mais à vontade. Vendo-o sorrindo daquele jeito, com os olhos tão brilhantes, ninguém imaginaria tudo que havia acontecido com ele.
Mas graças a Deus terminou rápido. Não sei se agüentaria ver os olhares de Wufei por mais tempo. Eu não estava com ciúmes! Eu só não queria que Duo se magoasse!
– Quatre, posso falar com você um instante? – O árabe assentiu, se levantando junto comigo.
Eu havia tomado uma decisão e não voltaria atrás.
Após incontáveis protestos, perguntas e questionamentos o árabe resolveu me ajudar, mas deixou bem claro que não aprovava minha idéia.
Hn. Como se eu precisasse de aprovação para tomar minhas decisões.
– Se é realmente isso que você quer, vou ver o que posso fazer, mas não posso prometer. – Eu assenti.
– Eu realmente quero isso, Quatre, sinto que devo isso a ele. – O árabe apenas negou com a cabeça.
– Só espero que não se arrependa depois, meu amigo. – Controlei minha fúria e apenas lhe dei as costas, voltando para a mesa, encontrando Duo rindo descontroladamente de algo que Trowa dissera.
– Qual a graça, heim? – Quando notou minha presença o americano rapidamente tentou suprimir o riso. – Trowa? Wufei?
– Estávamos contando detalhes da sua vida sórdida pra ele. – Ergui uma sobrancelha. – Não se preocupe. – Alguns minutos depois meus amigos se despediram e, abençoadamente, foram embora.
Mas se eu soubesse o que aconteceria com certeza não deixaria Wufei sair vivo pela porta.
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No momento que ouvi a porta sendo fechada senti meu estômago afundar, enquanto aqueles pensamentos iam e vinham da minha mente.
– Então, Duo, o que achou? Gostou deles? – Praticamente pulei do sofá ao ouvir aquela voz grossa. – O que foi? – Heero se aproximou e tocou em meu ombro, mas eu me encolhi. – Céus! O que há? – O tom preocupado me fez enxergar o quão estúpido estava sendo.
Heero não iria me agarrar.
Me virei, sorrindo, abandonando por hora aqueles pensamentos esquisitos. Mas algumas frases que Wufei disse ainda ficaram vagando na minha mente.
– Pensei que tivesse acontecido algo. – Seu sorriso sincero fez meu coração bater mais rápido. – Você fica tão mais bonito sorrindo. – Corei, adorando quando sua mão descansou em minha bochecha. – Ainda está com fome? Tem ainda aquela pizza que você gostou. – Fechei os olhos, tentando imaginar porque ele era tão doce comigo se eu jamais poderia retribuir tudo aquilo.
As palavras de Wufei assaltaram minha mente e no instante seguinte tomei minha decisão.
– Eu estava pensando em... – Ele me encarou abertamente, profundamente chocado quando me sentei em colo, uma perna de cada lado de seu corpo. – Duo...o que... – Novamente suas palavras morreram quando deixei meus lábios alcançarem seu pescoço.
Era a única forma que eu podia retribuir tudo aquilo.
(¯·..·¯·..·¯)
Deus do céu! O que estava acontecendo? Os toques na minha pele, aquela língua...
Tentei afastar aquele americano louco de meu colo, mas quando seus dentes roçaram minha pele, tudo que pude fazer foi gemer puxando-o mais para mim.
Seu corpo todo tremeu e então me dei conta da real extensão dos fatos.
Duo...estava tentando...tentando...me seduzir? Dormir comigo? O quão bizarro era aquilo?
Com um gesto nada delicado o joguei no sofá, encarando-o num misto de fúria e confusão. Seu olhar amedrontado me deu noção que ele não tinha a menor idéia do que estava tentando fazer. Bem, talvez tivesse, mas nem tanto a ponto de saber que eu estava completamente chocado com aquilo.
Em momento algum, desde que eu o havia conhecido, eu tinha pensado em algo do tipo! A afeição que surgiu por ele era como um carinho de pai, de irmão mais velho e ele pareceu retribuir esse sentimento. Então porque aquilo?
Minha cabeça deu um verdadeiro nó, enquanto minha mente corria em círculos tentando achar uma resposta lógica para aquilo tudo. Duo não me desejava, isso estava explícito em seus olhos temerosos, mas algo o estava impulsionando e...
Segurei seu pulso, quando ele tentou abrir minha blusa, de forma bruta, machucando-o no processo. O vi se encolher e tentar puxar o braço, mas eu não permiti.
Um turbilhão de imagens invadiu minha mente e sem que eu percebesse toda minha confusão foi pro espaço e só o que sobrou foi a raiva por aquilo ter acontecido, raiva por ele tentar me tocar, por tentar destruir algo que eu queria construir com ele.
– O que pensa que está fazendo? – Gritei soltando seu pulso. – Seu idiota! Por que quer isso? Por que quer me tocar? Logo a mim? – Me levantei, andando furiosamente de um lado para outro. – Como você consegue ser tão cego? Tão burro? – Ele se encolheu, lágrimas rolando por seu rosto de forma abundante.
Ele estava...chorando. Por minha causa, por minha culpa! Novamente a culpa da sua dor era minha!
Num momento de extrema fúria, não sei se comigo mesmo ou com toda a situação, eu o ergui pelos ombros, fazendo-o me encarar. Ele tentou se afastar, mas eu não permiti.
O que vi em seus olhos foi medo, mágoa...solidão. E a merda da culpa era toda minha!
– Fui eu, Duo! – Gritei, vendo-o fechar os olhos. – Era eu o maldito motorista! Era eu naquele maldito carro que matou a sua família! – Seu corpo enrijeceu e eu suspirei em parte aliviado por finalmente confessar minha culpa e em parte arrependido, porque a expressão em seu rosto eu jamais iria esquecer.
Era como se eu o tivesse traído, era como se ele tivesse perdido o único apoio que o mantinha erguido.
Com passos cambaleantes ele andou até a parede, se encostando a ela, escorregando até se sentar, abraçando os joelhos e escondendo o rosto entre eles.
Céus! O que eu havia feito? Havia jogado toda aquela verdade horrível em momento de fúria sem motivos! Eu não tinha o direito de magoa-lo desse jeito.
– Duo... – Chamei com voz rouca, me aproximando devagar. Ele ergueu os olhos e tentou se encolher, deixando claro que eu não deveria chegar mais perto. – Me perdoe, eu não tinha que te contar assim...eu...você precisa saber de tudo, mas...eu não entendi porque você fez aquilo...eu... – Seu corpo tremeu levemente, chamando minha atenção e me aproximei, tentando abraça-lo, mas ele apenas se debateu, me empurrando para longe.
Sentei em sua frente, chocado com todos os sentimentos que refletiam em seus olhos. O mais forte, mais pungente, me fez ver o quão estúpido eu havia sido em falar tudo da forma que falei. Seu olhar me acusava, mas ao mesmo tempo parecia magoado.
– Duo, eu...o que aconteceu foi que... – Ele virou o rosto, em um gesto infantil. – Não foi bem eu...por favor, me deixe explicar! – Implorei, vendo que as lágrimas não cessavam.
Ele me encarou, deixando que seus olhos tentassem desvendar os meus. Não sei o que ele encontrou, mas sei que foi o suficiente para ele fazer um gesto afirmativo com a cabeça.
– Eu estava parado em um sinal...estava indo trabalhar então...outro carro ultrapassou o sinal na hora que o da onde eu estava abriu...ele bateu diretamente em mim...eu perdi o controle da direção e quando vi...sua família naquela esquina... – Sem que eu percebesse algumas lágrimas escaparam de seu confinamento, enquanto meu peito parecia mais leve por contar tudo. – Eu...não fui eu, mas...se eu tivesse controlado o carro, se não tivesse... – Me calei ao sentir o calor de seus braços em volta do meu corpo.
(¯·..·¯·..·¯)
Não...eu não consegui controlar o impulso que me moveu. Quando o vi chorando e tremendo, como se fosse ele quem tivesse perdido a família, tudo o que pude fazer foi abraça-lo, deixando que ele próprio procurasse sua rendição em meus braços.
Seus soluços se misturaram com os meus. Meu coração doía tanto...a única pessoa que me ajudou, me acolheu...foi justamente a que matou tudo o que eu tinha.
– Me perdoa...por favor...me perdoa, Duo...eu não...eu não... – Sorri levemente, me afastando e secando suas lágrimas.
Ele não teve culpa, foi tão vítima quanto eu. A culpa foi do maldito que bateu no carro de Heero...aquele japonês, apesar da pose de durão, jamais faria aquilo..jamais mataria a minha família.
Não sei se sempre fui capaz de perdoar fácil, de esquecer, mas com Heero...eu preferia apagar aquilo tudo. Não seria fácil...mesmo indiretamente havia sido o seu carro...era ele quem estava dirigindo, mas...eu sabia, minha mente sabia que a culpa não era dele. Mas meu coração...
– Por favor...eu... – Pousei um dedo em seus lábios, mas ele retirou minha mão. – Eu não deveria ter contado assim, mas você tentou... – Senti meu rosto esquentar e me afastei, indo encostar novamente na parede. – Você...pode me perdoar? Pode...continuar aqui? Me deixando ser a família que te tirei? – Agarrei o pequeno cinzeiro que estava na mesinha ao lado e taquei nele.
Ele arregalou os olhos, mas em seguida sorriu suavemente em meio às lágrimas.
– Você...acha que...a culpa não é minha? – Assenti, tentando ignorar minha vontade de sair correndo da frente dele e chorar até minhas lágrimas secarem. O sorriso que ele me deu, deixou claro o seu alívio. – Eu...não queria, mas tudo aconteceu tão de repente que... – Abaixei a cabeça e ele se calou. Eu não queria mais tocar no assunto, já seria difícil demais conviver com aquilo.
Mas eu teria que fazê-lo, não queria sair de perto de Heero. Era uma contradição, mas...eu não pude evitar. A forma que ele me tratou, antes mesmo de saber quem eu era, me livrando daqueles homens na rua, seu sorriso reconfortante...teria que valer a pena o sacrifício de conviver com a verdade de que fora ele quem matara meus pais e meu irmão.
– Você deve estar me achando um babaca aqui sentado chorando como uma mocinha, quando na verdade deveria estar te consolando. – Eu ri de forma sincera e ele se aproximou, me abraçando.
Retribuí o abraço, admitindo para mim mesmo que não poderia viver sem aquele calor tão...certo. Ele...era a minha família a partir daquele momento.
– Duo, eu conversei com Quatre e...eu sei que não é o melhor momento, mas ele pode me ajudar no que eu quero...e eu queria que você soubesse que...quero adotar você. – Me afastei, olhando-o com meus olhos arregalados. – Se você quiser claro! Eu jamais...hey... – Ele tocou meu queixo. – Não quero fazer isso porque me sinto culpado, antes mesmo de saber quem você era eu gostei de você...eu quero te adotar porque...gosto de você, quero ser sua família. – Meu peito se partiu em dois, mas eu o abracei de volta, fazendo sinal afirmativo com a cabeça.
O melhor seria tentar esquecer e começar uma vida nova. Jamais esqueceria minha família verdadeira, mas não relegaria a chance de ser feliz, de ter alguém para cuidar de mim...para me amar.
(¯·..·¯·..·¯)
Duo era...Duo. Nada poderia descrevê-lo melhor.
Eu havia jogado tudo em sua cara, feito ele encarar todo aquele sofrimento de frente, sem chance de defesas ou de contra ataque. E ainda sim ele me perdoava. Ainda sim ele achava que eu não tinha culpa.
Mais do que nunca desejei que ele falasse, queria ouvir de sua própria boca ele dizendo que me perdoava, que ficaria ali comigo e me deixaria reparar meu erro. Por mais que ele achasse que a culpa não era minha.
Mas ele não falaria, não que fosse necessário. O calor de seus braços e a doçura dos seus olhos me mostravam tudo o que eu queria ver. Ele...gostava de mim, me daria aquela chance tão peculiar de cuidar dele, de lhe dar um lar, uma família.
Não que meu coração estivesse livre de tudo. Eu achava que tinha culpa naquele maldito acidente, achava que poderia ter controlado a direção, que podia ter pegado outro caminho naquela manhã...que podia ter morrido no acidente também.
Mas ao invés disso eu estava sentado no chão do meu apartamento, com a maior vítima daquilo tudo nos braços, que soluçava, me dando a rendição que eu procurava.
– Eu vou cuidar de você...vou te dar tudo que você precisa...que você merece. – Sussurrei, o embalando naquele abraço apertado.
Era uma nova etapa que começava. De uma forma estranha, mas mesmo assim era um começo. Em menos de 48 horas minha vida virou de ponta a cabeça e eu não me importava com isso.
Eu tinha um motivo pra viver a partir daquele momento.
Duo estaria lá e me faria sorrir como havia feito, eu estaria lá para ele quando ele se sentisse sozinho...nos apoiaríamos. Ficaríamos juntos e curaríamos juntos.
Minha culpa jamais passaria e, seguramente, sua mágoa também não, mas tentaríamos começar algo novo. E quem sabe tudo mudasse para melhor.
Não conseguia compreender quando tudo aquilo se desenvolveu, mas desde o momento que o vi na rua, sujo e tremendo, senti que algo aconteceu comigo, algo que não conseguia explicar e que não procuraria explicação.
Pela primeira vez em toda a minha vida miserável eu não procuraria um porquê, um motivo para o que estava acontecendo na minha vida.
– Duo, será que...você pode responder uma pergunta? – Indaguei docemente. Ele assentiu. – Por que aquilo...por que você tentou... – Ele abaixou a cabeça, com as faces coradas e algo estalou em minha mente.
Wufei! Duo havia ouvido aquela maldita conversa e...pelos céus!
– Você ouviu, Duo? Minha conversa com o Wufei? – Timidamente ele assentiu. – Oh, seu idiota! – Ele me olhou de forma confusa. – Nunca, nunca mesmo pense algo assim! Eu nunca vou te ver dessa forma! Não há nada desse tipo entre nós...Wufei que é um pervertido...não existe desejo da minha parte...eu jamais te tocaria da forma que ele insinuou. – Agora as minhas bochechas que estavam quentes. – Você entende? E você não tem que me pagar por nada, Duo...só você estando aqui e eu tendo a certeza que fui perdoado...eu...é tudo eu preciso pra seguir em frente. – Notei uma pontada de decepção em seus olhos violetas, mas imaginei ser apenas impressão.
Fiquei por mais alguns momentos ali com ele, deixando-o derramar mais algumas lágrimas, mas uma dor em minhas costas me fez ver que aquela posição não era nada confortável.
– Vamos dormir, sim? Amanhã é domingo e teremos um dia inteiro para planejar as coisas! – Eu estava empolgado com aquela mudança...seria tudo novo. – Será tudo da forma que você desejar. – Ele sorriu e se levantou, me ajudando em seguida. – Pode dormir na minha cama, Duo, eu me ajeito aqui no sofá. – Ele negou, mas eu insisti.
Ele continuou negando e me puxou pela mão até o quarto. O olhei de forma confusa, mas em seguida compreendi.
– Eu não acho que... – Seu olhar de cachorro sem dono me convenceu.
Já com roupas apropriadas nos deitamos na cama, cada um virado para um lado, jamais nos encostando, mas só de saber que ele estava do meu lado já me fazia me sentir bem.
(¯·..·¯·..·¯)
Resisti ao impulso de virar e me aconchegar naqueles braços fortes.
Ainda doía muito.
Acho que doeria para sempre, nada apagaria o que ele me disse, nada apagaria a verdade. Nada traria minha família de volta. Eu sabia, eu sentia que a culpa não era de Heero, mas cada vez que fechava meus olhos eu o imaginava dentro daquele maldito carro, tirando as únicas pessoas eu amava.
Mamãe, papai...Solo. Cedo demais. Era cedo demais pra me deixarem.
Me remexi, tentando pegar no sono, mas não adiantou. As palavras duras e os gestos brutos de Heero ficavam rondando em minha mente, fazendo meu peito doer enquanto minhas bochechas coravam.
Por que diabos eu havia tentando...seduzi-lo?
Abandonando os pensamentos mais tristes, concentrei minha mente nessa questão. Bem, o que eu havia ouvido de Wufei havia sido chocante, mexeu com minha mente, me fez realmente pensar que era uma forma de pagar por tudo que Heero havia me dado. Mas...ele não me cobrou nada! Por que infernos aquela minha reação?
Eu...havia sentado em seu colo...e...e...Céus! Meu rosto pegou fogo, enquanto afundava a cabeça no travesseiro.
Havia algo de muito errado acontecendo comigo e o responsável era Heero, sem sombra de dúvida. Talvez o fato de ninguém nunca ter me ajudado daquela forma, estava mexendo com minha cabeça e...meu coração.
Em um movimento mais brusco me virei, me deparando com aqueles impressionantes olhos azuis, que me fitavam intensamente. Desviei o olhar, mas ele segurou meu queixo, me mantendo firme no lugar.
– Você...realmente me perdoa? Me perdoa de verdade? – Arregalei os olhos, confuso com todos os sentimentos que ficaram explícitos em seu rosto.
Havia angústia, dor e principalmente medo. Medo que eu fosse embora, que eu não o perdoasse de verdade. Tolo. Quando eu poderia não perdoa-lo? Impossível! Ainda mais vendo seu olhar baixo, medroso.
Eu era precioso pra ele, talvez fosse seu motivo para viver dali por diante, estava tudo escrito em seu rosto. Eu podia lê-lo perfeitamente, talvez melhor que ninguém.
O encarei profundamente, vendo-o praticamente se afundar no colchão com uma expressão que daria pena em qualquer um. Quando eu havia me tornado tão importante assim, a ponto de faze-lo ficar com aquele ar tão baixo e deprimido?
Timidamente toquei sua bochecha com a ponta dos dedos e sorri, vendo-o arregalar os olhos. Mais do que nunca quis falar, dizer que meu perdão era total, que tentaria esquecer tudo aquilo e viver dali pra frente algo novo. Mas minha voz não saiu e tudo que pude fazer foi continuar sorrindo.
– Você é...incrível! – Senti minhas bochechas corarem. – Obrigado, Duo...obrigado por me dar esse chance, por me dar essa rendição...meu coração está...mais leve. – Meu sorriso aumentou e eu o abracei, pouco me importando em como aquela cena parecia aos olhos dos outros. – Obrigado...obrigado. – Embalado por aquela palavra, que Heero repetia como um mantra, dormi.
Confortavelmente no calor dos seus braços.
Continua...
Hey hey...não me matem ainda!
Sobre a forma que as coisas estão se desenvolvendo, só uma coisa a dizer: calma! Esse foi o caminho que eu escolhi para o fic caminhar...mas não temam! O fic é um romance sim! Só que eu decidi que as coisas seriam diferentes! Mas a partir do próximo cap pode ser que as coisas comecem a caminhar um pouco mais rápido.
Ahh...esse cap veio rápido por causa das reviews, viu? Eu não disse que quanto mais reviews, mais rápido vinha o cap? Isso é pra vcs verem que eu não menti não!
Hum...então...obrigada a todos que mandaram seus recadinhos! Me deixaram absurdamente feliz!
Vamos a resposta deles, huh?
Ju: Não seja má se gabando dessa forma!uahuahauah...nem se empolgue tanto, heim? E se vc continuar dizendo que o fic é maravilhoso...bem...vou comprar um saco de papel e enfiar na cabeça, viu? Obrigada, lindinha!
Yukii: Eu tentei fazer uma cena mais leve...pq o fic em si é um pouco pesado, na minha opinião. Fico feliz que tenha conseguido arrancar alguns sorrisos! Missão cumprida, huh?
Athena Sagara: É o que todos querem: namorados e amantes, mas como eu já disse...calma...tudo tem seu tempo! E bem...sobre ser o Hee o culpado...aí ta sua resposta, né? Espero que tenha gostado!
Rei Owan: /vermelha/ Não me fale essas coisas...perfeito é uma palavra muito forte, sabe? E vc não está sendo exigente não, viu? Pode falar! É isso me incentiva! Muito obrigada pelo comentário tão fofo!
MaiMai: Fico feliz que vc tenha gostado do cap! Minha intenção foi deixar ele bem fofo mesmo...e o Quat? Aaaah...ele é muuito kawaii! Beeeeem...a principio o Hee realmente vê o Duo como um filho, mas como eu disse, o fic é um romance...então aguarde! Em resposta ao seu comentário e a de outras fofas com vc, o cap veio mais rápido...gostou?
Yoru no Yami: Ah, obrigada!Quando comecei a escrever a minha intenção foi que as pessoas achassem a história bonita mesmo...fico feliz que vc tenha achado isso! Muito obrigada pelo comentário, viu? Espero que tenha gostado desse cap!
Litha-chan: Ahhhh...me diz, lindinha...quem não quer um Hee-chan assim, huh? Ele é demais. /suspirando/ Bem...espero que tenha gostado desse cap!
Anna-Malfoy: Assim eu vou ter um ataque de fofisse! Essas brincadeiras...ahh...são meio que uma válvula de escape do que vem mais frente...toda essa doçura.../suspiro/ Bem, moça, obrigada pelo comentário e espero que vc tenha gostado desse cap agora!
Lili: Oh, minha linda/abraça/ Eu gosto da fase mela cueca, tá? Pq pra mim é um imenso presente ter amigucha como vc! Tão fofa! Fico feliz que tenha gostado do fic! E percebeu que tem um dom absurdo de me deixar vermelha? ahauahuahhau...Ah, moça...um super beijo pra vc!
Hinas/Ajuda a enxugar as lágrimas/ Que isso, moça? Chora não! E não não...o Hee não ira gostar se vc cuidasse do Duo no lugar dele...sabe como é né? Ele pode ameaçar te matar! D Siiiiiiiiim...eu prometo que as coisas vão se ajeitar...não se preocupe! Beijos, linda!
BelaYoukai: Eu lamento que vc ache que a história não é tão empolgante quando beijose abraços, mas como eu disse, foi o caminho que escolhi...quis fazer algo diferente. De kualker forma esse cap agora foi maior né? Sem dar margens pra reclamação! D
Karin Kamya: Ah, moça...seu comentário me deixou em estado meio...flutuante por assim dizer. E vc não sabe o tamanho da minha felicidade ao saber que vc achou que, mesmo sem os beijos normais, a fic está boa! Foi pra isso mesmo que escrevi...queria que as pessoas vissem que eles dois podem se relacionar de outra forma...longe dos lençóis! Mas claro que tem romance por aí...quem resiste, né? D E muito, muito, muito obrigada mesmo pelo comentário! Arrancou um sorriso de cabide de mim! Super beijos, linda! E espero que esse cap não tenha te decepcionado!
Bem pessoas...quero agradecer de novo todos eses comentários! Podem acreditar que a cada um que lia, meu dia ia melhorando! D
Super beijo e espero que quem leu esse cap não tenha se decepcionado!
Até mais!
