Meus olhos se encheram d'água e o pensamento que cortou minha mente me fez derramar incontáveis lágrimas.
Estava arrependido.
(¯·..·¯·..·´¯)
Ele estava arrependido.
Eu pude ver. A todo o momento, quando nos deitamos, enquanto fazíamos amor...aquele fiozinho ainda o ligava ao ontem, ainda o fazia lembrar do que nos tornaríamos caso eu não descobrisse aqueles sentimentos.
Doeu muito ao perceber tudo aquilo, mas eu havia começado com a aquela história e eu iria termina-la. O prazer de ter Heero comigo valia qualquer sofrimento. Eu sabia que nas horas mais escuras eu podia me agarrar àquelas lembranças e então...poderia suportar.
– Oh, Hee...eu realmente lhe amo. – Me movi na cama, atento em não acorda-lo.
Meus dedos deslizaram por seu rosto e um calor gostoso me invadiu. Eu era dele, ele havia me marcado como seu e nada me tiraria aquilo.
Notei que já amanhecia e me levantei, depositando um beijo leve em seus lábios. Senti o líquido quente escorrer por minhas coxas e não me impedi de sorrir. Era doentio, mas eu me sentia feliz, mesmo sabendo que em alguns minutos eu nunca mais veria Heero.
Eu havia voltado para construir lembranças e foi o que eu fiz, não havia mais razão para expor Heero a uma situação desagradável. Eu sabia que ele não me expulsaria, mas a história da adoção era impossível, e nem eu queria obviamente, e então? Como ficaríamos?
Eu já podia prever olhares constrangidos e sorrisos nervosos e então...então tudo que construímos nos últimos meses ruiria diante dos meus olhos e essa dor seria ainda maior do que a de nunca mais vê-lo.
Partir era a melhor solução.
Tomei um banho e me vesti o mais rápido que pude. Na mochila, iam apenas pequenas lembranças, porta-retratos, livros...coisas que me lembravam Heero.
Peguei o casaco perto da porta, mas hesitei antes de.sair.
Apenas mais uma lembrança...só mais uma.
Cautelosamente, caminhei até o quarto, encontrando-o ainda em uma doce penumbra. Ainda era bem cedo e Heero tinha mais umas duas horas até se levantar para trabalhar.
E eu não estaria mais lá.
Sem despedidas, nem bilhetes. Para Heero...ficariam apenas as lembranças, as mesmas que eu levava comigo.
Me inclinei sobre a cama, tentando não fazer barulho algum.
Tantas lembranças, tantas horas juntos, tantos carinhos...tantos momentos só nossos. Tudo perdido por um sentimento maior que isso tudo. Sem mais passeios no parque, sem desenhos animados, sem jantares com suco de laranja.
Meus lábios pousaram sobre os dele, delicadamente. Fechei os olhos saboreando aquela doce e última sensação. Heero sempre me lembraria da palavra lar...e agora eu o abandonava, para que ele pudesse ser livre, sem precisar pensar nos sentimentos estúpidos de um adolescente.
Ele iria sofrer, chorar...talvez até mesmo entrar em depressão, mas teria amigos ao seu lado e então ele iria superar e quem sabe até se casasse com Relena e tivesse lindos filhos.
Claro que a idéia não me agradava, mas eu só queria que ele fosse feliz. A sensação não era como nos filmes, em que o personagem deixa o amado para que ele possa ser feliz e tudo acabava bem. Não era assim...doía, doía muito. Eu já podia sentir minha garganta se fechando e meus olhos se enchendo d'água, mas era o certo.
Não...eu não estava sendo nenhum santo. Eu queria sim poupar o sofrimento dele, mas também queria poupar o meu. Evitar ver seu olhar arrependido a cada vez que me olhasse. Melhor seria viver com as lembranças de seus olhares calorosos.
– Oh, amor...vai ser difícil, mas eu vou conseguir. – Sussurrei me afastando. – Adeus. – Lancei um último olhar e me virei, fechando a porta do quarto em minhas costas.
As lágrimas escorreram fartas por meu rosto, mas eu não me importei, apenas me preocupei em sufocar os soluços.
Fiquei alguns minutos encarando a porta da rua, com a mão na maçaneta. Era tão difícil abandonar tudo. Abandonar Heero. Eu podia sentir meu coração se partindo em vários pedaços.
Suspirei e então consegui juntar o pouco de coragem que me restava.
(¯·..·¯·..·¯)
Eu sempre tive um sono extremamente leve quando ficava tenso. E a noite anterior havia enviado bastante de tensão para meu corpo.
Eu ouvi Duo sair, o senti se aproximar...suas palavras e seus lábios. Eu não entendia sobre o que ele falava, mas havia um certo tom...dolorido em sua voz.
Mas então ele disse aquela palavra.
Adeus.
Meu sangue pareceu congelar e eu entrei em pânico. Duo...iria embora? Iria fugir depois de tudo? Não...ele não podia!
Mas...talvez fosse a solução mais fácil.
Ainda bem que o caminho mais fácil dificilmente era o certo.
Eu ouvi seus soluços e suspiros na porta do quarto. Hesitei pro alguns instantes quando ouvi seus passos se afastarem. O que eu diria? O que faria? Que motivos eu tinha para impedi-lo de partir?
Uma confusão absurda invadiu minha mente nos segundos que tomei minha decisão. Duo não podia partir porque ainda haviam coisas a serem descobertas e também...eu queria tentar.
– Onde pensa que vai? – Ele se virou, seus olhos pareciam que iam saltar das órbitas.
– Hee...Hee...eu... – Me aproximei calmamente, parando a poucos centímetros dele.
Deslizei minha mão por seu braço, deixando a mochila cair. O encarei por vários minutos, até que senti meu corpo protestar.
Ele não podia ir. Eu não queria perdê-lo.
– Responda, Duo! – Exigi e ele se encolheu. – Por que ia embora? Depois de ontem, depois de...
– Depois de que? Depois de eu ter me confessado completamente apaixonado por você, enquanto você me olhava como se eu fosse um...irmão? Um filho? Eu não quero isso, Heero! Eu não vou suportar o peso do seu olhar! Por favor, me deixe ir. – Seu tom era suplicante e eu pisquei confuso. – As lembranças... – Ele soluçou. – Elas não vão se perder...vão me ajudar...por favor, Hee...por favor, me deixe ir... – Eu escondi o rosto entre minhas mãos. – Você...me deu tudo, me deu motivos pra sorrir, graças a você eu posso falar de novo...eu fui feliz...imensamente feliz, então...me deixe ir...eu não quero destruir nossas lembranças tão preciosas.
– Cala a boca! – Gritei, no auge do descontrole.
Era confuso demais...Deus! Eu precisava fazer com que minha mente parasse de rodar! Ele falava a verdade, mas eu não queria abrir mão de tudo! Eu...precisava de Duo comigo! Ao meu lado! Não importava como...eu só o queria comigo.
– Hee...por favor... – Ergui os olhos, encontrando os seus encharcados. – Por tudo que vivemos aqui...eu preciso partir.
– Não! Não! Nunca! – O abracei forte. – Por favor, meu anjo...não vá...fique comigo, vamos...vamos tentar.
– Tentar o que, Heero? Eu nunca vou passar de uma criança pra você. – O segurei pelos ombros, vendo seus olhos mergulhados em uma tristeza tão profunda que temi me afogar neles.
– Vamos tentar ficar aqui, Duo...eu quero...quero ficar com você...tentar...esquecer esse sentimento quase paternal...eu quero lhe amar da forma que você me ama...me ensina, Duo...não...não me deixa aqui sozinho...sem você. – Ele vacilou e eu joguei minha última carta. – Vamos construir mais lembranças. – E então com um longo soluço ele se rendeu, afundando o rosto em meu pescoço.
– Eu te amo...tanto, Heero...tanto...faço qualquer coisa que você me pedir. – O abracei mais forte.
– Me perdoe se te fiz sentir algo ruim, se te magoei...eu só quero ter você perto de mim. – E juntos choramos até nossas forças se esvaírem.
Era...forte demais. Tê-lo perto despertava sentimentos fortes e intensos além dos limites aceitáveis, mas só o que eu queria era mergulhar naquelas sensações e tentar...tentar com todas as minhas forças retribuir aquele amor que ele me dedicava quase com devoção.
Não sei quem tomou a iniciativa, mas quando percebi estávamos nus, sobre os lençóis da cama, nos amando de forma desesperada.
Eu não podia perdê-lo.
Nunca.
(¯·..·¯·..·¯)
Os toques brutos me assustavam, mas eu não podia parar. Aquele ato demonstrava a intensidade de tudo que estávamos vivendo.
E tanto os toques quando aqueles sentimentos deixariam marcas. Marcas profundas.
Afundei os dedos em seus cabelos quando senti o calor úmido de sua boca em meu membro. Não...eu só queria sentir, não queria pensar que aquele era o primeiro passo para a destruição de tudo que havíamos construído.
Um, dois, três dedos dançaram em meu interior, sem que eu sequer notasse. Minhas pernas foram mais amplamente abertas, mas não protestei. Heero precisava daquilo, precisava sentir que eu não mentira quando dissera que faria tudo que ele me pedisse.
– Oh, Duo... – Suprimi um gemido dolorido, mordendo os lábios, quando seu membro invadiu meu corpo.
Não me importava a dor ou as marcas. Eu só queria...esquecer o que viria depois.
Ele me amava. De uma forma bizarra, mas me amava e eu...eu o amava de todas as formas possíveis e impossíveis e o queria tanto que chegava a doer.
– Duo! – Me assustei com seu grito e só então senti o gosto de sangue na boca. Havia mordido tão fortemente assim meus lábios? – Por que... – Ele pareceu perdido. – Me...me perdoa...eu não sei como lidar com tudo isso...é forte demais, meu anjo...
– Eu sei, amor...mas não fale. Só me ame. – Pedi docemente.
Como um gatinho ele lambeu meus lábios sentindo o gosto das minhas lágrimas misturadas ao sangue. Mas isso pouco importava, tanto ele quanto eu sabíamos que elas seriam doces companheiras por um longo tempo.
Ele me amou calmamente, contradizendo toda a violência dos sentimentos que ardiam em nosso interior. Seus toques foram os mais gentis que eu já havia recebido e quando finalmente ele se esvaiu dentro de mim, eu me permiti compartilhar completamente aquele prazer, explodindo entre nossos corpos.
Exaustos e sujos, nos abraçamos como dois loucos. Seus braços me levaram para o mais perto que ele pode e eu me aconcheguei em seu corpo, suspirando...aliviado.
Uma alegria estupidamente me invadiu quando ele depositou um beijo em minha testa suada. Gargalhei, sentindo algumas lágrimas escorrerem por meus olhos. Sim...eu estava histérico.
– O que foi, anjinho?
– É um desafio, Hee...um grande desafio. – Ele ergueu uma sobrancelha. – Você vai se apaixonar por mim, Heero Yuy, ou não me chamo Duo Maxwell. – Ele sorriu, me beijando e eu senti minha histeria se esvair dando lugar a um sentimento gostoso.
– Sim, meu anjo...sim. – Seus dedos buscaram os meus. – Só...por favor...nunca mais pense em me abandonar. – Me assustei com o tom sério. – Eu não suportaria perder você.
– Oh, amor! Eu prometo nunca te abandonar. – Ele sorriu, satisfeito. – Nunca...nunca...nunca. – Me agarrei a ele, tentando acreditar em nossas palavras.
– Isso é bom...muito bom. – E com um sorriso mais amplo ele continuou. – Domingos eram só nossos, não é? Mas...agora os outros dias também serão. – Algo explodiu em meu peito e pela primeira vez acreditei que ter ficado com Heero era o certo.
– Podemos ter macarrão com almôndegas todos os dias? – Perguntei de forma divertida.
– Com suco de laranja. – Rimos e nos beijamos, começando a aceitar nossa nova situação.
Talvez não fosse tão ruim construir novas lembranças.
Continua...
Hey, pessoas!
Ficou curtinho, mas não...não acabou ainda...tem mais uns caps pela frente!
Muito obrigada pelos comentários no cap anterior!Me deixaram muito feliz!
Espero que tenham gostado desse tb!
Quanto mais coments, mais rápido vem o próximo cap!
Não se esqueçam!
Bjus!
