6. Observando as Estrelas
Claire murmurou os poucos palavrões que conhecia e libertou seu tornozelo dos arbustos novamente. As plantas pareciam estar brincando com ela e pegando seus pés, fazendo com que ela tropeçasse a cada dois passos. Não estava mais escuro, mas mesmo com a luz cinza do amanhecer, ela estava completamente perdida na floresta. Durante o dia o caminho era fácil de encontrar, mas quando ela fugira de casa ainda estava de noite. Apesar da lua estar quase cheia, ela havia ficado cega pelas lágrimas de raiva. Portanto ela não havia, na verdade, se perdido no caminho, ela não o havia encontrado desde o princípio. Tudo que ela havia feito na última hora - além de tropeçar e soluçar - fora tentar achar alguma coisa que lembrasse uma trilha que a levasse a Hogwarts ou, pelo menos, de volta a Hogsmeade.
Eventualmente ela se sentou em um tronco caído em uma clareira e deu uma boa olhada em seu tornozelo torcido. Não tinha sido uma boa idéia fugir de chinelos e pijama. Agora ela daria metade de sua fortuna por um par de botas e uma capa. Ou um mapa...
Um barulho na vegetação a assustou. Haviam coisas na Floresta Proibida, criaturas e animais, e ela não sabia se elas eram realmente perigosas. Afinal de contas seus pais tinham dito a ela que o mundo era horrivelmente perigoso e ela descobrira que ele era até amigável. Por outro lado, mesmo Sirius tinha avisado a ela que não andasse pela floresta...
Sirius. Ela piscou. Ela não começaria a chorar novamente como uma criança perdida. Ela era uma mulher adulta, respeitada no mundo dos negócios, seus gerentes de loja temiam sua inteligência e perspicácia. Então por que ela deveria chorar por alguma coisa tão estúpida como aquela maldita jóia que tinha encontrado debaixo do seu travesseiro?
Ela lembrou de acordar no meio da noite, se sentindo segura e aquecida nos braços de Sirius. Ela lembrou do ritmo do batimento cardíaco dele. E como sua mão, enterrada embaixo do travesseiro, havia, de repente, encontrado alguma coisa fria, como uma corrente fina. Cuidadosamente ela escorregou do braço de Sirius e puxou a coisa que encontrara para estudá-la à luz do luar que entrava através da janela. O coração dela afundou quando viu que era uma corrente de prata, com um berloque de cristal, tão pequeno quanto uma unha. Ele tinha feito novamente.
Lágrimas correram de seus olhos enquanto ela fechava os dedos em volta da corrente. Olhando para Sirius, que dormia, ela tentou se acalmar. Ele vinha colocando coisas embaixo de seu travesseiro durante toda a semana. Um livro. Uma pequena caixa de bombons. Todas as vezes que eles compartilhavam a cama, ela encontrava alguma coisa na manhã seguinte e todas as vezes isso fazia com que se sentisse miserável. Pagamento. Era como se ele a pagasse. Como se fossem parceiros de negócios. O que ela pretendia que fosse um presente, tinha obviamente um preço. Um soluço escapou, deixando-a confusa e novamente embaraçada, por saber tão pouco sobre relacionamentos.
Sua mãe nunca havia mencionado se seu pai lhe dava presentes todas as vezes que eles faziam... aquilo. Claire corou. Ela não podia acreditar que seus pais alguma vez tivessem se comportado como Sirius e ela faziam quase todas as noites. Mas eles deviam ter feito, pelo menos uma vez, ou ela não existiria. Mas ela tinha quase certeza de que seu pai nunca pagara sua mãe por aquilo.
Silenciosamente ela procurara por seus chinelos e saíra do quarto. Seu escritório estava calmo e iluminado pelo luar, ela viu o baú arquivo no canto. Ajoelhando-se em frente a ele, ela suavemente bateu na maçaneta. O baú abriu.
Claire pigarreou. Informação. Ela precisava de informação. Pela manhã ela pediria um conselho a Laurel. Não havia maneira dela falar com Sirius a respeito, a humilhação provavelmente a mataria. E o assunto não era alguma coisa que ela pudesse perguntar a Minerva. Mas Laurel era quase da sua idade, estava casada e, se pagamento entre marido e mulher fosse uma coisa comum, ela saberia.
Mas por enquanto, o baú serviria.
"Sexo. Pagamento. Tarifas. Condições."
O baú cuspiu uma dúzia de papéis, e o que ela leu foi o suficiente para fazer com que fugisse da casa com apenas seus chinelos e pijamas e corresse para Hogwarts.
E agora ela estava perdida, com frio e apavorada. Ela empurrou a lembrança para o fundo de sua mente. O mais importante agora era sair da floresta, e então ela lidaria com seu marido.
O barulho nos arbustos fez o coração dela bater mais depressa. Alguma coisa vinha pelos arbustos e ela teve que colocar a mão sobre a boca para não gritar de pavor.
A criatura era metade cavalo, marrom claro e gracioso, metade homem, com cabelo cacheado castanho e barba. Claire tinha visto fotos de centauros, mas pensado que estavam extintos. As histórias que ela lera sobre eles diziam que eles não eram amigáveis. Supostamente eles eram arrogantes, até agressivos quando irritados e protegiam seu território. Mas este centauro tinha olhos calorosos, quase dourados, e não parecia que ele iria... fazer seja lá o que os centauros fazem com seus inimigos.
"Bom dia " Ele disse com uma voz simpática, como se eles estivessem na rua principal de Hogwarts.
"Bom dia." Claire respondeu educadamente. Ela ainda não sabia como devia se comportar. Ele esperava que ela falasse com ele como se fosse uma pessoa, ou afagado?
O centauro se aproximou e cruzou os braços sobre o peito. "O que você está procurando?"
"Nada. Eu estou..." ela suspirou. Não podia fingir que simplesmente saíra para um passeio. "Não, na verdade, estou tentando sair da floresta."
O centauro jogou a cabeça para trás e olhou para o céu acima das árvores. "As estrelas vão nos mostrar o caminho."
"Não entendi." Claire lembrou que os centauros gostavam muito de astrologia. Mas a última coisa que ela precisava agora era de alguma adivinhação obscura.
"A estrela do norte." Ele apontou para uma estrela baixa no oeste do firmamento. "Ela está sempre lá, e vai dizer a você onde você está e para onde quer ir."
"Oh. Eu vou lembrar disso." Ela olhou para a estrela e tentou gravar sua posição. "Mas nesse momento, você pode me mostrar a saída?
Ele levantou as sobrancelhas. "Qual é o seu nome, mulher? Por que alguém entraria na Floresta Proibida sem saber aonde ir?"
"Eu sou Claire Winterstorm." Ela corou um pouco, chateada por ele obviamente pensar que ela estava fora de si ou apenas era muito estúpida.
"Meu nome é Dareius." O centauro curvou a cabeça, e novamente Claire lutou contra a vontade de afagá-lo. "Seu tornozelo está machucado."
"Está apenas torcido." Ela olhou para baixo, para seus pés. A bainha de sua camisola estava enlameada e suas pernas também, já que ela havia pisado em uma poça de lama acidentalmente.
"Então você não chorou por estar machucada." Dareius observou.
"Como você sabe que eu..."
"As estrelas me disseram." Então ele sorriu zombateiramente e seus olhos brilharam. "Não, eu ouvi você chorar por um tempo. Eu estou seguindo você desde que você tropeçou naquela pedra há uma hora atrás."
Claire afastou o cabelo molhado do rosto. "Você podia ter me ajudado antes."
O centauro deu de ombros, um gesto que parecia muito estranho já que ele tinha dois pares de ombros, um na parte animal e o outro na parte humana de seu corpo. "Eu estou oferecendo minha ajuda agora. Por que você estava chorando?"
Ela suspirou. "Eu estava... zangada."
"Ah." Ele olhava para ela sem piscar.
"Eu não sou muito boa em discussões, e eu precisei fugir antes de uma começar."
"Ah."
"É só o que você tem a dizer?"
"Até você me dizer o que realmente a está incomodando. Você está fugindo. De...?"
"Sirius." O nome saiu antes que ela pudesse morder a língua. Não era da conta de Dareius, mas ele não deveria conhecê-lo de qualquer maneira...
"Você não pode fugir de Sirius. Ele é como a Estrela do Norte. Ele vai sempre estar lá."
Claire olhou para ele com suspeita. Era papo de centauro ou o que ele falava fazia sentido?
"Não, ele vai embora assim que..."
"Ele não pode deixar a órbita a que está destinado."
"Eu sinto muito, mas nós devemos estar falando de pessoas diferentes." Ela sacudiu a cabeça e estremeceu involuntariamente de frio.
"Ele é muito peculiar, nosso Sirius." Disse Dareius, não se impressionando pelo protesto dela. Os seus olhos dourados mantinham os dela cativos e sua voz baixa parecia falar dentro da mente dela agora. "Você sabia que ele é realmente dois?"
"Dois?" Ela suspirou e desistiu. Fosse lá o que fosse que ele estava falando, mais cedo ou mais tarde ele teria que encerrar o assunto e talvez então fosse gentil o suficiente para mostrar a ela um jeito de sair da floresta.
"Fraqueza e força. Elas precisam uma da outra e juntas elas são Sirius. A fraqueza sempre está escondida, nós apenas vemos a luz brilhante de sua força. Mas se você tirar a fraqueza a luz vai se extinguir."
Claire estudou o rosto dele. Ele parecia completamente sério e sincero "O Sirius de quem estou falando é força apenas." Ela respondeu suavemente.
"É disso que você está fugindo? Da força dele?"
"Eu não sei. Não. Eu fugi da... Verdade."
"E você quer ficar sozinha, sem ele?"
Ela abraçou os joelhos e deixou a cabeça afundar em desespero. "Não." Ela sussurrou. "Eu não quero ficar sozinha. Eu quero que ele venha até mim. Eu quero que ele venha me resgatar. Patético, não é?"
"Algumas vezes todos nós queremos ser resgatados." O olhar de Dareius era caloroso e cheio de simpatia.
"Mas ele não virá. Ele provavelmente ainda nem notou que eu saí."
"Ele é Sirius. Ele virá, você pode confiar nele."
Ela sacudiu a cabeça.
O centauro a cutucou suavemente com sua coxa. Quando ela seguiu o olhar dele, viu um grande cachorro preto sentado embaixo das árvores, olhando-a com seus olhos escuros.
"Eu acho que ele já está aqui."
Dareius emitiu um som que era ao mesmo tempo um zurro e uma gargalhada."Foi um prazer discutir as estrelas com você, Claire Winterstorm." Então ele foi embora, graciosamente e quase sem fazer barulho, desapareceu na floresta.
Claire engoliu em seco. O cachorro não se moveu. Ela lembrava de Sirius quando transformado, mas não sabia se ele a entenderia enquanto estivesse na forma de um cachorro.
Ele tirou a decisão das mãos dela e se transformou em bruxo bem diante dos olhos dela. Mas ainda mantinha distância, forçando-a dar o primeiro passo.
"Sirius." De repente o cérebro dela virou geléia, e tudo o que ela conseguiu falar foi o nome dele.
"São seis horas da manhã, Claire." Os olhos de Sirius mergulharam nos dela e a raiva fria que ela viu neles a fez tremer. "O que você está fazendo aqui, completamente sozinha e sem sapatos?"
"Eu me perdi." Ela disse suavemente.
"A próxima vez que você decidir fugir de mim, você deve fazê-lo de dia."
"Eu não... Fugi." Claro que sim, ela pensou. Claro que ela havia tentado colocar uma grande distância entre ela e esse homem.
"Seus elfos domésticos me acusaram de fazer você chorar." A voz de Sirius estava tensa e traía apenas metade do medo que seu coração tinha sentido enquanto seguia seu rastro pela floresta.
"Eu não quero falar sobre isso agora."
"Bem, você vai ter que falar." Ele segurou o pulso dela, com cuidado para não machucá-la, mas deixando bem claro que não a deixaria ir sem responder. "Você fugiu da sua própria casa, no meio da noite, tão perturbada que Koko me acusou de abusar de você..."
Claire ofegou. "Ela não fez isso!"
"Não com palavras, mas com os olhos. Você não fala comigo. Não me dá a oportunidade de explicar, se é que existe alguma coisa a ser explicada, ou fazer alguma coisa que você ache que eu deveria fazer. Ou não deveria. Não outra vez."
Ela manteve a cabeça erguida e levantou a outra mão, palma aberta, mostrando a corrente de prata.
"Isto."
Ele franziu a testa e olhou para a jóia. "Mas eu libertei a borboleta. Eu pensei que você ia gostar disso."
Claire corou. Ela tinha estado tão zangada e magoada, que nem tinha olhado de perto o suficiente para perceber que era uma das prisões de borboletas que eles haviam visto na feira. De alguma forma Sirius havia conseguido libertar a pequena prisioneira sem quebrar o cristal.
Ela pigarreou.
"Eu não sou uma prostituta, Sirius!"
Os olhos dele se arregalaram e ele deu um passo atrás. "O que?"
"Eu posso não saber muito sobre mágica ou do mundo fora de Hogsmeade, mas eu sei uma coisa. Você me paga para fazer sexo com você, o que me torna uma prostituta."
"Eu nunca paguei..." Ele olhou para ela sem acreditar. "Você está falando da pulseira?"
Claire piscou desesperadamente para não chorar. Ela ainda segurava a corrente na mão, havia fechado os dedos com tanta força que o cristal machucava sua palma.
Sirius esfregou a testa, tentando encontrar as palavras certas.
"Era um presente. Para mostrar a você como eu valorizo o que você me dá."
"O que eu dou a você?" A voz dela tremeu.
Ele olhou diretamente para ela, mergulhado em um mundo que apenas ele podia ver, algum lugar além das árvores.
"A proximidade. O contato físico. E... pelo menos até essa manhã... confiança."
Claire sentiu o sangue subir ao seu rosto.
"Eu sei muito bem que sou eu quem ganha nesse relacionamento." Ele continuou. "Você tolera meu toque e eu sou grato por isso. Merlin sabe, eu gostaria que fosse diferente, mas não estou em posição de escolher, eu preciso de você, Claire."
"Mas eu... Eu não apenas tolero quando você... Quando nós..."
"Quando nós transamos?"
Ela estremeceu. Mas então ela teve que admitir que as pessoas que não estavam apaixonadas umas pelas outras, não podiam fazer amor, podiam? Então ele provavelmente estava certo, e eles transavam.
"Sim. Eu... eu gosto disso."
"Você não precisa mentir para me agradar, Claire. Você nunca fez um movimento para me seduzir. Sempre sou eu que instigo você, exceto a nossa primeira vez. Eu sinto muito se eu desapontei você, mas não sou nobre o suficiente para desistir de você. Eu gostaria de ser, mas não sou. Tudo o que eu aprendi em Azkaban foi como sobreviver, e é isso que eu vou fazer."
Claire pigarreou. "Eu nunca fiz um movimento." Ela disse suavemente. "Isso é verdade."
"Mas você nunca negou quando eu a desejei. E eu não agradeci o suficiente por isso."
Ela nunca tinha visto ele sendo humilde, e não tinha certeza se queria ver agora. Sua raiva tinha evaporado. Uma dor muito doce encheu seu coração. Será que ele podia ser tão estúpido? Podia ser que Serene estivesse certa e todos os bruxos eram cegos e precisavam ser empurrados na direção certa? Mas como ela ia dizer a ele? Novamente o rosto dela ficou vermelho. Ela não ousava olhar para ele, então ela olhou para os sapatos enlameados dele com mais interesse do que eles mereciam.
"Eu simplesmente não consigo, Sirius."
Ele franziu a testa. "Você não consegue... o quê?"
"Eu não encontro as palavras para... pedir a você... para dizer a você... Oh Morgana, me ajude!" Ela sacudiu a cabeça. "Tudo o que eu podia fazer era esperar até você querer... o que eu queria o tempo todo."
Sirius pegou seu rosto e a fez olhar para ele. "Você não sabia como me dizer que queria fazer sexo comigo?"
Ela estremeceu e fechou os olhos, embaraçada.
"Mas você me queria?"
"Eu queria você. Eu ainda. . . eu ainda quero você."
O bruxo alto passou as duas mãos pelo cabelo escuro. "Bom. Bom. Nós vamos encontrar uma solução, tenho certeza." Os olhos dele se acenderam e ele pegou a pulseira da mão dela. "Agora que você sabe que não é um pagamento, mas um presente, você usaria isso?"
Ela concordou.
"Mantenha essa pulseira dentro de suas roupas. Mas se você... precisar me dizer alguma coisa... use-a de modo que eu possa vê-la."
"Um código secreto?" Ela olhou para ele com tanto alívio que ele sentiu a garganta se apertar.
"Um código secreto. Ninguém vai saber além de nós dois."
"Concordo. Mas qual vai ser o seu sinal para mim?"
Agora ele sorriu e a suspendeu até chegar à altura para se beijarem. Sussurrando em seu ouvido ele disse, e riu quando ela corou ainda mais.
Claire correspondeu ao beijo, com toda a paixão, nascida do alívio e felicidade. Mas quando ele não mostrou intenção de largá-la, ela bateu com as duas mãos no peito dele até ele soltá-la.
Sentando a mulher no tronco, Sirius se ajoelhou e olhou para os chinelos arruinados dela e seus arranhões. "Eu acho que vou ter que carregar você para casa."
"Você é meu guarda costas. Não é isso que os guarda costas fazem?" Ela sorriu. "Ygor me carregava muito por aí."
"Ygor era um troll. E você era uma princesa naquela época."
Ela fez uma cara feia em falsa chateação. "E agora eu não sou mais uma princesa?"
"Agora você é a Sra. Black, que só é carregada pelo seu marido em casos de emergência. Ou quando seus sapatos estão completamente arruinados e ele não pode deixá-la andando descalça por cima de espinhos e pedras.
Claire sorriu indulgente para ele e tocou seu cabelo com as pontas dos dedos. "Sirius, eu realmente desejo..."
"Ok, eu carrego você. Eu até mesmo chamo você de princesa, se é o que você deseja." Ele a provocou.
"Não. Eu desejo que nós tenhamos o que Laurel e Severus têm."
O sorriso dele desmoronou e ele se levantou devagar. Indeciso, ele evitou os olhos dela e olhou para as árvores onde Dareius havia desaparecido.
"O que eles têm?"
Claire engoliu em seco. De repente ela entendeu que estava como que dançando sobre uma camada fina de gelo. "Eu sei que o nosso casamento é apenas no nome. E eu concordei com isso, eu não quero que seja de outra forma. Apenas agora... quando eu os vejo... eles parecem tão felizes. Eu nunca imaginei que um casamento podia ser desse jeito. E então eu algumas vezes desejo... que nós tenhamos o mesmo." Ela levantou as duas mãos para silenciá-lo. "Apenas pelo tempo que estivermos juntos. Não para sempre."
"Laurel e Snape não são casados." A voz de Sirius estava controlada com desespero para manter suas emoções sob controle. Ela não sabia do que ela estava falando. Ela não sabia nada sobre o amor, como ele deixa você sem defesas, completamente vulnerável. E ela não sabia como ele desejava aquilo, como um viciado, quase como uma fome física, e como ele negava isso a si próprio. Porque ele sabia. Merlin, ele sabia...
"Eles não são?"
Ele sacudiu a cabeça.
"Ainda assim, eles são tão felizes."
"Eles dois sofreram muito para chegar onde estão hoje." Sirius pensou sobre o vôo desesperado de Laurel para Londres, sobre o olhar do Mestre de Porções quando ele a viu partir. "Mas você está certa, eles têm alguma coisa muito especial. Alguma coisa preciosa."
"Eles se importam um com o outro. E eu... me importo com você."
"Não se apaixone por mim Claire. Por favor, não se apaixone por mim." Ele sussurrou tão suavemente que ela não tinha certeza se tinha ouvido direito.
"Isso não obriga você a nada, Sirius. Não posso ser apenas eu a me apaixonar até esse casamento acabar?"
"Você não pode ligar e desligar o amor quando desejar, querida. Então prometa que não vai se apaixonar por mim."
Ela colocou a cabeça na curva do pescoço dele e suspirou quando sua bochecha tocou a pele nua dele. "Eu tentarei." Ela murmurou. "Mas não entendo porque você se importa tanto com isso."
O rosto de Sirius se tornou uma máscara dura, seus olhos azuis vazios de repente e sem nenhuma emoção. "Porque todas as pessoas que me amam morrem." Ele sussurrou.
"Sirius..."
"Não. Isso é verdade. Thiago, Lílian, meus irmãos, minha mãe. A morte de todos eles está em minhas mãos." A voz dele tremeu. "Vamos para casa. Vamos para casa e apreciar o que nós temos."
"O que nós temos?"
Ela pareceu perdida, magoada e Sirius teve que lembrar a si mesmo que era melhor que ela sofresse um pouco agora, do que sofrer muito, mais tarde. Quando ele falhasse com ela...
"Amizade é o que nós temos. Paixão. Confiança. Uma missão." Ele a carregou novamente, sem esforço e rapidamente. "Isso é muito mais do que a maioria das pessoas possui, acredite em mim."
"Sirius?" Ela perguntou antes de dormir aquela noite.
"Hm?"
"Você conhece aquele centauro? Dareius?"
"Eu acho que não. Eu encontrei poucos Centauros, mas não aquele."
"Mas ele parece te conhecer."
"O que faz você pensar isso?"
"Ele disse que você nunca sairia do seu caminho, e que havia uma metade de você que era forte e a outra metade... "
Sirius riu suavemente e passou a mão pelo cabelo dela.
"Ele é um centauro, Claire!"
"E daí?"
"Ele estava falando de meu homônimo. Sirius. A Estrela Cachorro."
"A Estrela Cachorro." Ela pensou a respeito. "Claro, ela é uma estrela dupla, não é?"
"Mmh, até onde eu sei, apenas a brilhante é visível. Mas existe uma pequena contraparte que mantém a coisa toda se movendo."
"A metade forte não pode existir sem a metade fraca."
Ou alguma coisa parecida, sim."
Ela se lembrou da voz de Dareius em sua mente, tão intensamente. Ela havia estado tão certa de que ele estava falando do bruxo, não da estrela.
"Então Sirius é seu homônimo?"
Ele suspirou. "Minha mãe... ela era uma... Ela era um pouco como Serene. Fazia adivinhações e horóscopos e coisas assim. Ela amava as estrelas, então ela deu aos filhos os nomes delas."
"Seus... filhos?" Ele nunca havia falado de seus irmãos antes e ela dificilmente poderia dizer a ele que já sabia deles devido ao jornal que vira com a notícia a respeito do pai dele.
"Meus irmãos. Ela nos chamou de Sirius, Regulus, Castor e Polux." Ele se deitou de costas e a puxou mais para perto. "Reg bateria em qualquer um que ousasse chamá-lo de Regulus. E Castor era Cãs, desde onde posso me lembrar. Apenas Polux e eu mantivemos os nossos nomes."
"Castor e Polux, eles são gêmeos?"
A mão dele parou de acariciar o cabelo dela. "Eles... Polux está morto. Eles o mataram um ano antes de eu ir para Azkaban. O Ataque de Nottingham."
Claire se lembrava do terrível incidente. Comensais da Morte haviam atacado um bar em Nottingham onde bruxos e Trouxas se misturavam. O número de mortos havia alcançado vinte e cinco.
"Ele tinha uma namorada Trouxa. Os dois morreram aquele dia."
Claire não sabia o que dizer.
"Sinto muito."
As palavras saíram de forma estranha e ela não conseguia encontrar as palavras certas para expressar a tristeza por saber que aquele menino pequeno da fotografia estava morto.
"Reggie morreu um mês depois. Mas Cãs ainda está vivo." Ele soava muito distante, como se estivesse falando de um bando de estranhos.
"Ele deve ter ficado feliz por você ter escapado de Azkaban."
"Eu duvido disso." Sirius soltou a respiração devagar. "Ele era um dos Aurores que me prenderam. Ele nunca duvidou que eu fosse culpado. Ele me disse isso."
Continua...
