NA: Pra compensar a longa espera… presentinho! Dois capítulos postados juntos… Uma nota maiorzinha ao final do capítulo 13… Boa leitura!
12. O Conto do Prisioneiro
Claire teria apreciado muito mais as viagens regulares a Londres se o objetivo não fosse entregar a Malfoy consideráveis quantias em dinheiro do seu cofre em Gringotes. Ela guardava a lembrança do dia em que havia passeado despreocupada com Sirius pelo mundo Trouxa como um tesouro em seu coração e mergulhava nela quando as coisas se tornavam entediantes.
Nesse momento ela estava de pé em seu escritório no Beco Diagonal, olhando pela janela para a rua movimentada embaixo, para ver se conseguia encontrar Sirius no meio da multidão. Eles haviam combinado que Sirius iria encontrar o Sr. Olivander a pedido de Dumbledore, enquanto Claire encontrava seu editor-chefe na loja. Harry estava fazendo compras com os Weasleys e Arthur Weasley havia prometido levar o menino de volta a Hogsmeade à tarde. As aulas iam começar dali a poucos dias e Claire apenas lamentava que não pudesse fazer compras com Harry para as roupas da escola e seus livros, como os outros pais faziam. Mas, então, ela não era mãe dele e era melhor para ele não ser visto em companhia dela por Malfoy ou seus companheiros de conspiração. Isso colocaria a missão em perigo, mas primeiramente, arriscaria a vida do menino que sobreviveu.
Saindo de perto do editor, que não parava de falar sobre contratos de publicações e números de vendas, ela colocou a mão sobre o estômago. Não dava para notar… ainda. E mesmo assim ela se sentia muito protetora em relação ao pequeno ser que crescia dentro dela. Apenas agora ela podia entender o que Lilly Potter devia ter sentido naquela noite terrível quando Voldemort entrou na casa dela em Godric's Hollow.
"E então há a questão dos pergaminhos." Sr. Inkers continuou. "A qualidade diminui continuamente. Nós devemos realmente encontrar outro fornecedor."
Claire sorriu para ele. "Eu confio em você com relação a isso, Inkers, e estou certa de que você não apenas vai encontrar os melhores, mas também os pergaminhos mais baratos, não vai?"
O bruxo de aparência frágil sorriu para ela. Ele havia sido o braço direito do pai dela, e embora ele pudesse ser mais maçante do que qualquer pessoa que ela conhecia, ninguém era mais eficiente do que ele quando tratando de negócios.
"E antes que eu me esqueça," ele checou o último ponto de sua longa lista de assuntos, o que fez Claire suspirar suavemente de alívio, "aqui está uma cópia do último best-seller da Winterstorm para a sua biblioteca pessoal. Como sempre você mostrou um gosto impecável na escolha de novos autores." Ele passou a ela um pequeno livro com capa de couro. "Eu tomei a liberdade de mudar um pouco o título. 'Síndrome de Prisioneiro' pareceu um termo médico em minha opinião."
Claire olhou para o livro. Quando compreendeu o que acontecera, seu coração afundou. Eram as histórias de Sirius… "Eu enviei isso para você?" ela perguntou fracamente. "Eu enviei esse manuscrito?"
"No último minuto, mas nós paramos os feitiços de impressão e demos a esse um tratamento especial. Ele merecia. As pessoas estão comprando como loucas. Você pode me dizer alguma coisa sobre o autor?"
Claire fechou os dedos em volta do livro. "Eu sinto muito, mas ele quer permanecer anônimo, pelo menos por enquanto." A mente dela trabalhava rapidamente. Como o manuscrito tinha ido parar no seu correio de negócios? Ela havia separado os pergaminhos e os colocado na prateleira… então Sirius tinha entrado no escritório e ela havia esquecido o assunto… e tinha dito a Kiki para enviar a correspondência para o Sr. Inkers naquela mesma tarde, porque ela também tinha estado ocupada com a festa de aniversário de Harry…
Sacudindo a cabeça diante da própria incompetência ela enterrou o livro no fundo da bolsa e saiu da Winterstorm para encontrar Sirius antes que ele entrasse na livraria. Ela não estava certa de como ele reagiria ao saber que as histórias haviam sido impressas. Remus não havia dito a ela que Sirius tinha sido um escritor aspirante antes de ir para Azkaban? Talvez ele ficasse feliz com o resultado da negligência dela?
De qualquer forma era melhor dizer a ele antes que ele visse o livro em exibição em alguma vitrine - S. Padfoot - em letras douradas que dançavam quando os compradores pegavam o livro da prateleira.
Agora, três dias depois, as aulas haviam começado. Os corredores e escadarias de Hogwarts ecoavam com o riso de centenas de alunos, trocando novidades e renovando velhas amizades.
Claire estava de pé à porta de entrada, não muito certa se deveria ir até as masmorras sozinha. Da última vez, Peeves, tinha jogado parte de uma armadura atrás dela e somente quando Snape ameaçou denunciá-lo ao Barão Sangrento o fantasma se desculpou. Snape e Laurel haviam retornado das férias nos Alpes Austríacos dois dias antes do início das aulas, dez dias depois do que eles haviam planejado. Claire sorriu. Pobre Laurel, ela pensou se sentindo culpada, ele provavelmente ainda nem devia ter desfeito a bagagem quando Dumbledore entregou o frasco que Sirius havia trocado na casa de Malfoy.
Laurel devia se encontrar com Claire e levá-la ao laboratório, onde Snape estava há 48 horas analisando a poção vermelha. Cedo naquela mesma manhã, quando Sirius saiu de casa, o Mestre de Poções tinha mandado uma pequena mensagem para eles irem até lá saber o resultado.
Claire desejou que Sirius esperasse por ela no laboratório, uma vez que ela não se sentia à vontade na presença de Snape. Ele nunca mais a havia atacado verbalmente como naquela primeira vez, mas ele havia deixado bem claro que não mudaria de idéia sobre a loucura de enviar um aborto para o império de Voldemort.
"Claire, eu sinto muito. Eu me esqueci de você." Laurel deu um sorriso sem graça. "Eu apenas queria esperar até Neville voltar do escritório do Diretor."
"Ele está com algum problema?"
Laurel sacudiu a cabeça. "Neville raramente se envolve em problemas… exceto nas aulas de Poções, claro." Ela sorriu. "Embora ele e Severus vão se dar muito melhor agora já que Neville decidiu se afastar dos caldeirões e se concentrar em Herbologia. Mas, se Poções não fosse uma matéria eletiva no sexto e sétimo anos…"
"Mas por que ele teve que ir ver o Diretor?"
"Eu não sei. É por isso que eu decidi esperar. Eu contei a você sobre os pais de Neville, não contei?"
Claire concordou solenemente. "Eles são pacientes no St. Mungo's. Entre outros pacientes que sofrem da Síndrome de Prisioneiro."
"É assim que eles chamam agora? Um nome muito apropriado. Prisioneiros em seus próprios corpos, sem nenhuma esperança de se libertar."
"Você sabe como eles… como eles ficaram doentes?"
Laurel mordeu o lábio, como sempre quando ela estava nervosa ou preocupada. "Comensais da Morte os torturaram. Neville era apenas um bebê na época e foi criado por sua avó. Ele nunca conheceu os pais de forma diferente da que eles se encontram agora. Olhos vazios, respiração pesada, não tendo vontade própria."
"E agora você está preocupada, achando que Dumbledore tem más notícias para o menino." Claire concluiu.
Laurel suspirou. "Ele é um menino muito bom e tímido. Seria muito duro se ele perdesse os pais. Ele os visita uma vez por mês e lê para eles, você pode imaginar? Aqueles mortos vivos, e ele lê histórias para eles."
Um súbito estalar nas escadas giratórias anunciaram que a conversa de Neville com o Diretor tinha terminado. As escadas começaram a se mover.
Quando Laurel viu o rosto de Neville, seus piores temores se tornaram realidade. Se o menino fosse um Trouxa, ela diria que ele vira um fantasma. Mas eles estavam em Hogwarts e Neville via fantasmas o tempo todo, uma vez que Peeves o fazia de vítima.
"Neville, o que aconteceu?" ela perguntou suavemente. "Seus pais… aconteceu algo com eles..."
Os olhos cinzentos de Neville estavam arregalados de choque. "Sim." ele sussurrou como se estivesse com medo de falar alto. "Alguma coisa aconteceu a eles. Eles…" seu lábio inferior tremeu. "Eles acordaram esta manhã."
Claire e Laurel olharam para ele sem acreditar.
"É verdade." ele disse, sua voz ganhando segurança. "Dumbledore acabou de me contar. Meu pai queria ovos para o café da manhã. E Mamãe… ela pediu uma escova de cabelos…"
De repente ele começou a tremer violentamente e Laurel não pôde fazer nada além de abraçá-lo, enquanto ele chorava com alívio e alegria.
Claire sentou nas escadas e esperou pacientemente enquanto Neville se acalmava. Ela admirava profundamente Laurel por sua voz tão calmante e o calor que ela irradiava. Era uma outra forma de cura, uma que não estava no dom dela. Ela podia ter ajudado Neville se ele tivesse torcido um tornozelo, mas não com isso. Ela não era boa em confortar os outros… Apenas com Sirius... Ela sorriu para si mesma. Havia uma série de coisas que ela só podia fazer com Sirius, e sexo não era a mais importante delas até agora. Sendo ela mesma… um aborto…
A única coisa que ela obviamente não conseguia era ser honesta com ele. Havia o bebê. O livro. O fato é que ela não queria que o casamento deles terminasse. Ela teria que contar a ele, e logo. As mentiras e disfarces tinham começado a invadir os sonhos dela. E ela, que havia vivido uma mentira pela maior parte de sua vida, que tinha crescido acostumada a fingir ser uma coisa que não era - de repente não podia agüentar mais.
"Claire?"
Ela pulou. Laurel sorriu para ela e segurou sua mão para ajudá-la a levantar.
"Onde está Neville?" Claire perguntou.
"Ele foi arrumar as malas. Ele vai pegar o Expresso para Londres esta noite."
"Para ver os pais dele."
Laurel sorriu. "Sim, para ver os pais dele. Você sabe, mesmo nesse mundo de magia, isto é um milagre. Depois de tantos anos…" Ela sacudiu a cabeça maravilhada. "Eu tenho que contar a Severus."
Claire parou. "Eu posso voltar para ver o resultado do teste mais tarde."
"Não, não se preocupe." Laurel colocou o braço em volta dos ombros dela e a puxou para as masmorras, em direção ao laboratório de Poções. "Ele tem mordido raramente esses dias."
Claire sorriu. "Como foram os feriados?"
Sua amiga revirou os olhos. "Exaustivos! Eu estava com medo que meus pais não gostassem dele, e tinha certeza de que Severus os detestaria. Mas eles ficaram encantados uns com os outros. Severus observou o mundo Trouxa como um explorador que visita uma tribo aborígina. E meu pais… bem, meu pai é um mágico amador. Severus mostrou a ele alguns truques simples… Na verdade eu acho que ele encantou o cilindro do meu pai. Eu posso apenas esperar que o Ministro nunca descubra isso." Os olhos dela se suavizaram. "E então nós passamos uma semana em uma cabana nas montanhas. Muito simples. Uma mesa, duas cadeiras, uma lareira. Uma cama."
"Entendo." sorriu Claire. "Essa foi a parte exaustiva, certo?"
"Muito exaustivo."
Ambas riram, mas então Claire ficou séria novamente.
"Laurel, eu preciso pedir um conselho seu."
"Sobre o quê? Se é sobre qualquer coisa mágica, eu provavelmente não sou a melhor fonte."
"Não, nada mágico." Claire suspirou e manteve os olhos voltados para o chão. "Sobre… casamento."
"Casamento?" Laurel parou e virou para Claire. "Mas…"
"Eu sei que você e Severus não são casados. Eu nunca entendi por quê."
"Apenas não pareceu importante." Laurel deu de ombros.
"Mas você e Severus estão juntos a mais tempo do que qualquer pessoa de meu conhecimento. Eu não conheço pessoas casadas, exceto os Malfoys. E o dia em que eu pedir à Narcissa Malfoy conselhos sobre casamento, provavelmente será o dia que o céu vai cair."
"Que tipo de aconselhamento você procura?"
Claire suspirou novamente. "Sirius e eu… nós… existem algumas coisas que eu preciso contar a ele. Coisas que eu guardei como segredo por algum tempo. Mas eu não sei como."
Laurel pensou sobre isso. "Tudo o que eu posso dizer a você é que o amor é ultrapassa qualquer diferença. Mas demanda muito trabalho também."
"Trabalho?"
"Trabalho duro. Eu lembro quando eu estava muito desesperada uma vez, Dumbledore me disse que nem sempre o caminho certo é o mais fácil. Eu não entendi o que ele queria dizer na época. Mas agora eu entendo. Severus e eu, nós trabalhamos juntos para termos nossa vida juntos." Ela colocou a mão confortadora no braço de Claire. "Nós começamos passo a passo. E nós aprendemos muito um com o outro. Ele aprendeu a segurar minha mão quando caminhamos perto do lago. Eu aprendi a não segurar a mão dele na presença dos alunos. Pequenas coisas como essas."
O rosto dela ficou muito sério. "Mas a honestidade é crucial. Se você guardar segredos, Sirius nunca mais vai confiar em você."
Os olhos de Claire se encheram de lágrimas. "Mas se eu contar a verdade, eu o perderei."
"Ou talvez não. Eu não conheço Sirius tão bem, mas ele foi traído uma vez e não acho que ele vá aceitar facilmente se alguém que diga que o ama, estiver mentindo para ele ao mesmo tempo."
"Você está certa." Elas haviam chegado ao laboratório de Poções. "Eu sabia disso o tempo todo, só precisava ouvir de outra pessoa."
O Mestre de Poções estava em pé junto à bancada parecendo um mágico em um show Trouxa - pelo menos era o que Sirius pensava, como sempre irritado com o outro bruxo.
Dois tubos de vidro continham a mesma poção límpida.
Snape pigarreou. "Eu adicionei uma gota do conteúdo da poção retirada do frasco da caixa de Malfoy."
A poção clara mostrou uma reação imediata, ela subiu e borbulhou e então virou verde escuro.
"O que isso quer dizer?" perguntou Claire, suas poucas aulas de Poções nos dois anos passados em Hogwarts, esquecidas.
"Isso não é nada além de uma reação de teste que nos permite comparar a potência de dois ingredientes. Ingredientes similares, reações similares" explicou Snape.
"Agora, observem o que acontece quando eu adiciono um cabelo da cabeça do Sr. Potter."
Com um choque Claire e Laurel viram o líquido se tornar o mesmo verde escuro do tubo anterior.
"Essa coisa" Snape apontou para o frasco "contém sangue. Mas não simplesmente sangue. Isto é…"
"Sangue de Harry?" a garganta de Claire de repente ficou muito seca.
"Ou sangue muito similar ao de Harry. Incrivelmente similar. Criança de sexo masculino, nascido no mesmo dia, mas não necessariamente no mesmo ano. Sob as mesmas estrelas, então deve ter sido em algum lugar no Reino Unido. Metade Bruxo, metade Trouxa."
"Malfoy disse que os frascos eram mais caros do que Veritaserum."
Snape assobiou suavemente. "Entendo. Eles gastaram muito para chegar perto do sangue de Harry sem ter que pegar o próprio Harry."
"Como você teve a idéia de usar o cabelo de Harry?" perguntou Sirius com uma súbita suspeita.
"Eu lembrei o que o menino contou a Dumbledore sobre o último encontro dele com Voldemort. Que Voldemort usou o sangue de Harry para recuperar seu antigo corpo e força."
"Mas não foram mais do que apenas umas poucas gotas, até onde eu saiba." disse Claire. "Não é possível que eles tenham podido encher todos os frascos que nós vimos."
Laurel sacudiu a cabeça e chegou mais perto dos restos da poção vermelha que tinham ficado no frasco. "E para que eles podem possivelmente usar o sangue agora?"
Severus deu de ombros. "Parte de um outro ritual de recuperação? Ingrediente para uma poção? Quem sabe?"
Ele cuidadosamente fechou o frasco e o tubo de testes em uma caixa selada com um feitiço. "Eu vou falar sobre isto com Dumbledore. Talvez ele tenha uma idéia sobre que ritual antigo requer o sangue do inimigo."
Sirius deixou as masmorras, imerso em pensamentos, mas atento o suficiente para ver Peeves provocando Claire e para atingi-lo com um aceno de sua varinha. No hall eles quase foram derrubados por um grupo de alunos que passava.
Claire pegou a mão de Sirius, agradecendo o fato dele gostar mais de contato físico do que Snape. Sirius sempre segurava a mão dela, alunos presentes ou não, quando ele sentia que ela precisava de segurança. Por outro lado, ela nunca sabia se os beijos e carícias dele realmente mostravam o que ela gostaria que significasse ou se eles eram apenas um meio de ser gentil.
"Eu tenho que ver Dumbledore." Sirius disse. "Por favor, não vá pela floresta sozinha. Vá pela passagem secreta no Salgueiro Lutador."
Claire sorriu. No começo ela ficava chateada quando ele a proibia de fazer certas coisas. Mas eles haviam aprendido, ela percebia, da mesma forma que Severus e Laurel. Ela havia aprendido a não tomar seus conselhos como ordens e ele havia aprendido a dar ordens como se fossem conselhos. Como um casal de longos tempos... Por um momento ela se permitiu sonhar acordada, Sirius vivendo na casa dela, escrevendo livros, ajudando a criar seu filho... não, seus filhos. Os dois envelhecendo juntos...
Ela suspirou. Hoje à noite ela contaria a ele e esperaria pelo melhor. "Eu vejo você na hora do chá, então."
Sirius entrou no escritório do Diretor com o mesmo sentimento de derrota de seus dias de aluno. Mas, enquanto ele tinha tido razões para se sentir culpado naquela época, quando era chamado à sala circular, ele tinha quase certeza de que não havia cometido nenhum crime ultimamente. Provavelmente Dumbledore queria outro relatório sobre a missão. Ou ele iria novamente tentar convencê-lo, com gentileza, a admitir que o casamento era uma boa coisa…
Dumbledore deu a ele um grande paternal sorriso quando ele entrou e empurrou os óculos de meia lua para cima de sua cabeça.
"Sente-se, querido menino." Silenciosamente ele se lembrou que Black não era mais um menino magricela, mas um bruxo adulto. Ele certamente tinha aumentado bastante de peso e tinha um certo ar selvagem, que era agradável. Era também sério, uma coisa que lembrou a Dumbledore do menino que Sirius tinha sido não havia muito tempo atrás. Ele suspirou. Era muito duro quando todos são mais jovens que você...
Ele lembrou de Sirius no dia em que ele havia quebrado as defesas de Hogwarts e quase havia conseguido se vingar de Peter Pettigrew. Ele não era mais do que uma sombra, então, a loucura queimando em seus olhos, pronto para morrer assim que matasse o bruxo que havia arruinado sua vida e assassinado seus amigos.
Dumbledore havia feito que ele se casasse com Claire não apenas para conseguir uma nova espiã com um marido, não apenas para proteger Claire, mas também para curar Sirius das muitas feridas que a vida havia causado a ele, e não apenas desde o terrível Halloween quase 15 anos antes. Ele podia apenas desejar que vivendo com Claire o rapaz visse o lado mais agradável da vida. Talvez até… o amor…
Ele acariciou sua barba e fez uma nota mental de não chamar Sirius de - o menino - novamente. Harry era um menino, e Neville, e Draco... sim, até mesmo Draco. Sirius e seus dois amigos eram homens agora, homens que podiam tomar seus destinos nas próprias mãos. Mas então, novamente - algumas vezes eles precisavam de um leve empurrãozinho na direção certa…
Sirius pigarreou. "Diretor?"
Dumbledore espantou seus pensamentos e sorriu para Sirius. "Ah, Sirius. O que eu posso fazer por você?"
Sirius sacudiu a cabeça. "Foi você quem me chamou aqui. Alguma coisa que você queria me mostrar."
"Alguma coisa que eu queria…" Dumbledore coçou a cabeça. "Ah, sim! Eu queria mostrar uma coisa a você! Uma coisa que me foi entregue esta manhã, junto com uma carta do Dr. Jung."
"Jung? O médico do St. Mungo's?"
"Ele mesmo." Dumbledore mostrou a ele um pergaminho. "Aqui está. Aceita um bolinho? Você sabe que não há uma forma de fazer uma torta de maçã decente com magia?"
Sirius suspirou. Algumas vezes era realmente difícil acompanhar o velho bruxo mudando de um assunto para outro.
"Bem, bem. Deixe-me ver." Dumbledore colocou os óculos de volta no nariz. Então ele baixou a carta novamente. "A propósito, como estão as coisas entre você e Claire?"
"Eu e Claire?" Sirius franziu a testa. "Bem, eu acho. Por que você pergunta?"
"Oh nada, nada. Tudo bem com Harry?"
"Claire quase chorou quando nós o trouxemos para Hogwarts - como se o filhinho dela estivesse a centenas de milhas de distância." Sirius bufou, mas Dumbledore podia ver que ele estava secretamente satisfeito por sua esposa se dar bem com seu afilhado. "Malfoy tinha um espião em Hogsmeade. Ele sabia que Harry estava passando o verão conosco."
Dumbledore apenas concordou. "Eu estou ciente disso. É Miranda Green, a bruxa que vive em uma casa próxima à estação de trens."
"Nós dissemos a Malfoy e seu… amigo que você nos forçou a manter Harry conosco por algumas semanas. Ainda bem que ele está de volta à segurança de Hogwarts agora, antes que Voldemort solicite alguma nova prova de nossa credibilidade."
"Quem era mesmo o amigo de Malfoy?"
"Ben Olsen. Eu falei a você sobre ele quando nós voltamos, não falei?"
O Diretor sorriu levemente. "Você mencionou o nome dele, sim. Você acha que ele reconheceu você?"
"Nós nos encontramos quando ele estudou aqui no ano passado. Mas eu não acho que ele suspeite de mim."
"Qual foi a sua impressão? Ele é realmente amigo de Malfoy? Seu companheiro de conspiração? Seu rival?"
Sirius pensou a respeito. "Malfoy disse que Olsen era seu... conselheiro legal, alguma coisa assim. Talvez por isso ele insistia em trazê-lo a Gringotes quando nós transferimos o dinheiro de Claire. Ele parece muito escorregadio. Muito ambicioso. Eu aposto que ele é rival de Malfoy, então. Eles dois querem a posição de Terceiro no Comando." Ele falou de repente "Oh, e tem mais uma coisa. Eu quase me esquecia. Ele perguntou sobre Serene."
"Serene Kennedy?" Dumbledore saiu de seu estado de alheamento e se tornou atento e frio como aço.
"Ele mandou lembranças a ela."
"Nenhuma mensagem?"
"Apenas os cumprimentos, dizer que estava bem e gostaria de vê-la em um futuro próximo."
"Você falou à Srta. Kennedy sobre seu encontro com Ben?"
Sirius deu de ombros. "Serene e eu não somos exatamente amigos. Não, eu não falei a ela ainda. Mas acho que Claire falou."
"Deixe-me lidar com Serene. Isto é sério. Ben Olsen é perigoso, talvez mais perigoso do que Lucius Malfoy. Pelo menos para a alma de Serene."
"Falando em almas…" Sirius se levantou e começou a andar pela sala circular, incomodando Fawkes. "Você não pode fazer com que ela pare de torturar Remus?"
Dumbledore arqueou as sobrancelhas. "Ela está torturando Remus?"
"Ela brinca com ele. Ela é doce como mel em um minuto e fria como gelo no seguinte. E você conhece Remus… Ele realmente acha que ela é a companheira dele, a única pessoa com quem ele pode passar o resto da vida."
"Mas você acha que ela não é."
Sirius bufou de desgosto. "Serene e Moony? Nunca! Ela vai partir o coração dele."
"Mas Remus não deveria saber melhor quem é a companheira dele?"
"Sim, eu penso que sim." Sirius sacudiu a cabeça tristemente. "Mas… eu acho que ele pode mentir para si mesmo. Ele vem procurando por essa mulher a maior parte da vida dele. E não a encontrou ainda. Eu temo que ele tenha se apaixonado por Serene apenas porque ele precisa tanto se apaixonar…"
"Chega!" a voz de Dumbledore ainda estava suave, mas cortante. "Eu pensei que Remus era seu amigo."
Sirius franziu a testa. "Ele é. Por isso estou preocupado."
"Não é com Remus que você deveria se preocupar, Sirius Black. E sim com você."
"Mas…"
"O amor é a única coisa que nos ajuda a vencer o desespero, todo o mal, a própria escuridão. Remus ama Serene Kennedy do fundo do seu coração. E ele é abençoado, mesmo que esse amor seja doloroso." O velho bruxo olhou para Sirius atentamente. "Quem você ama, Sirius? Quem vai ajudar você através da noite eterna se ela cair sobre nós todos?"
Sirius engoliu em seco e evitou olhar para o rosto do Diretor. "Você está errado." ele disse suavemente. "O amor é que nos destrói. O sentimento que nos machuca tanto que faz com que queiramos morrer."
Dumbledore estava ao lado dele em um piscar de olhos. "Eu sinto muito, meu menino." ele suspirou, sua voz frágil com súbita exaustão. "Eu não quis ser duro com você. Mas, deixe Remus passar por isso sozinho." Ele deu umas pancadinhas no ombro de Sirius.
"Agora, nós esquecemos completamente por que você veio. Eu queria que você lesse essa carta."
Sirius apenas concordou. As palavras do Diretor o atingiram em cheio, deixando-o abalado. Quem iria ficar ao lado dele quando a batalha final chegasse? Quem iria chorar por ele se ele morresse na tentativa de matar Peter? Mas então, mais uma vez - ele havia passado a maior parte de sua vida sozinho, ele podia ficar novamente sozinho agora. A súbita lembrança do rosto de Claire no auge da paixão o fez sorrir por um segundo, então ele a imaginou em pé ao lado da sepultura dele e sua garganta se apertou dolorosamente. Pela primeira vez em semanas ele sentiu a vontade quase irresistível de correr, correr até ficar tão cansado que não conseguisse mais pensar, sentir, temer.
"Sirius?"
"Sim. A carta. O que ela diz?"
Dumbledore pigarreou e leu a carta do Dr. Jung em voz alta. Obviamente os pais de Neville Longbottom tinham saído do seu estado catatônico de repente, sem nenhuma explicação médica.
"Os Longbottoms!" Sirius exclamou. "Eu lembro de Frank e…"
"Alice."
"Alice, certo. Eu não sabia que eles tinham sido vítimas de Voldemort, também."
"Eles estavam aprisionados em seus corpos por muitos anos agora, e não havia nenhuma esperança para eles."
"E agora eles acordaram? Simples assim?"
O velho bruxo acariciou a barba. "Bem, o Dr. Jung tem uma teoria, e apesar de parecer forçada e impossível de ser provada, eu acho que ele pode estar certo. Os Longbottoms estão entre os poucos Prisioneiros do St. Mungo's que recebiam visitas regularmente. E estes visitantes, o filho deles Neville e a avó do menino, costumavam ler para eles."
Sirius concordou. "Você acha que ler para eles os curou?"
"Não a leitura por si só." Dumbledore bateu na capa de couro de um livro que estava em sua escrivaninha. "Mas a leitura desse livro."
O livro não parecia ter nada de extraordinário. Sirius o pegou da mão do Diretor, abrindo-o com cuidado. Ele uma vez havia sido mordido por um livro quando estava no segundo ano em Hogwarts. Quando seu olhar caiu na primeira página, ele leu "O Conto do Prisioneiro, por S. Padfoot." Ele ficou olhando fixamente para a página, não querendo admitir para si mesmo que o que ele estava vendo era verdade. Dolorosamente devagar as letras encontraram o caminho para dentro de seu cérebro. Não pode ser, ele disse para si mesmo. Mas quando ele relutantemente virou a página, reconheceu cada palavra que leu.
"S. Padfoot é você, estou certo?" Dumbledore abriu um sorriso. "Congratulações, Sirius! Este é um livro notável. Mesmo se ele não tivesse curado os Longbottoms. Eu sempre soube que você seria um escritor um dia."
"Eu não sou um escritor." Sirius se levantou e deixou o livro escorregar de sua mão. Ele sentia frio, como se seu corpo inteiro tivesse ficado dormente de repente. "Eu não sou um escritor." ele repetiu, ignorando o olhar interrogativo de Dumbledore. "Eu sou um idiota."
Quando Claire viu o rosto de Sirius, ela soube que alguma coisa estava errada - e terrivelmente errada. Ele parecia alguém que tinha levado um soco no estômago, doente, ferido, e incrédulo.
"Sirius?" Ela se levantou e venceu a distância entre eles, apenas para ser parada pela mão levantada dele.
"Não." Ele na verdade chegou a dar um passo atrás, apenas para não permitir que ela o tocasse.
O coração de Claire afundou. O pior havia acontecido. Alguém havia dito a ele sobre o bebê e agora ele a odiava por tentar prendê-lo a ela em um casamento com o qual ele havia concordado apenas por ser temporário.
"O que há de errado?" ela perguntou cuidadosamente, ainda desejando do fundo do coração que ela houvesse interpretado mal o gesto dele.
"Como você pôde fazer isso comigo?"
Ela não se enganara. A voz estava vazia, sem nenhuma emoção, mas os olhos diziam o suficiente. O azul escuro, quase negro.
"Você não acha que eu deveria ter tido o direito saber antes de qualquer outra pessoa?"
Ela estremeceu.
"Sim. Eu deveria ter dito a você primeiro. Mas eu não tinha certeza de como você reagiria."
Os olhos deles lançaram chispas. "Você me conhece tão pouco? Não, Claire, eu não queria que isso acontecesse. Não desse jeito. Não agora." A carranca dele fez com que ela estremecesse. "Mas você nunca esteve realmente interessada no que eu queria, esteve?"
Ela apertou as mãos para tentar conter as lágrimas. "Se você não quer, Sirius, então deixe comigo. Eu estou tão feliz com isso tudo. Eu prometo que não vou aborrecer você para nada."
"Não vai me aborrecer?" De repente ele agarrou os braços dela e a sacudiu com força. "Isso não é o suficiente. Eu quero que ele desapareça! Livre-se dele. Não quero saber como, apenas livre-se dele."
"Não!"
Claire o empurrou com a força que era nascida da fúria, desapontamento e desespero. "Como você ousa sugerir que eu faça uma coisa dessas?"
"Certo." O rosto dele mostrava todo o seu desgosto. "Eu já deveria saber. Tem a ver com o dinheiro, não é? Você não liga nem um pouco para os meus sentimentos."
"Isso não é verdade!" ela protestou, a voz entrecortada com as lágrimas contidas.
Ele sacudiu a cabeça, não ouvindo o apelo dela. O coração de Claire doeu quando ele olhou para ela. "Como você pôde me trair desse jeito?"
Desamparada Claire levantou os ombros e os deixou afundar novamente. "Eu nunca quis que isso acontecesse, Sirius. Mas quando aconteceu, eu fiquei louca de alegria. Eu só queria guardar segredo por pouco tempo, como um tesouro que só eu conhecia. Claro eu tive que contar a Poppy, ela teria adivinhado de qualquer maneira, mas..." Ela franziu a testa subitamente confusa. "Por que você diz que isso tem a ver com dinheiro? O que o dinheiro tem a ver com isso?"
Ele bufou, a mágoa e a raiva que tinham cedido por um momento quando ele viu o desespero dela, voltaram. "Dinheiro. É por isso que você não pode tirar do mercado, não é? Winterstorm Inc. sofreria muito."
"Tirar do mercado?" os olhos de Claire se arregalaram em confusão. "Sirius, do que você está falando, por Merlin?"
"Do livro." ele falou por entre os dentes. "Do maldito livro."
"Do livro." De repente ela ficou tonta e quase desmaiou de alívio. Ele havia dito para ela se livrar do Conto do Prisioneiro. Não do bebê.
Sirius estreitou os olhos perigosamente.
"Claire." ele disse a voz trêmula com suspeita. "Eu estava falando sobre o livro. Do que você pensou que eu estava falando?"
Ela secou as lágrimas do rosto com as costas das mãos. Então, com a mão esticada sobre o estômago, ela confessou: "Do bebê. Eu estava falando sobre o bebê."
Se a situação fosse diferente, Claire teria feito uma nota mental para um dia contar a seus netos sobre o olhar embasbacado de completa surpresa que a resposta dela havia despertado. Mas da forma que aconteceu a surpresa foi substituída por outra coisa instantaneamente - derrota. A postura dele desmoronou. Seus ombros caíram, sua cabeça afundou e de repente ele lembrou a ela a foto que ela havia visto no 'Profeta Diário' - Sirius Black a caminho de Azkaban. Entorpecido pela dor. Pálido como a morte, ele ficou parado no meio do escritório e quando Claire pensou que ele fosse desmaiar ou mesmo cair, ele levantou a cabeça e olhou para ela.
"Claro." A voz estava vazia, como se ele estivesse falando com uma estranha. "Eu entendo."
"Sirius." Ela tentou tocar a mão dele, mas ele recuou como se tivesse sido queimado com um ferro em brasa. "Isso não obriga você a nada. Você está livre para ir onde quiser quando Voldemort for derrotado. Eu posso criar a criança sozinha, então você não deve pensar que eu fiquei grávida para prender você a mim."
"E por que você deveria?" A amargura dele a feria como um a faca. "Eu ajudei o bebê a existir, era tudo o que você precisava de mim."
Claire se aproximou e acariciou o rosto dele e ele permitiu, como se a mão dela não estivesse ali. "Isso não é verdade. Eu amo você, Sirius. Eu sei que isso é outra coisa que você não queria, mas eu não posso mais negar."
"Você tem uma maneira muito especial de demonstrar seu amor, Claire. Se algum dia a Winterstorm Inc. falir, você poderia se candidatar com os Dementadores." Ele pegou a mão dela e a retirou do rosto dele como se fosse um objeto inanimado. "Mas, mesmo eles considerariam você cruel."
Claire não podia acreditar naquela situação surreal. Sempre que ela havia imaginado o momento que ela confessasse a sua gravidez, ela imaginara que Sirius ficaria zangado, mesmo um pouco magoado por ela não ter dito a ele antes. Mas isso, essa amargura, essa frieza, eram muito pior do que ela jamais temera. Ela teve a sensação de que estava faltando uma informação essencial.
"Sirius." ela tentou chegar a ele. "Eu sinto muito por não ter contado a você antes. Mas..."
"Poupe seu fôlego." O rosto dele era uma máscara fria. "Você disse que eu era livre para ir quando Voldemort for derrotado. Bem, eu não dou a mínima para o seu plano. Eu estou indo embora. Agora."
Ele desaparatou do quarto e quando os elfos domésticos encontraram sua senhora uma hora mais tarde, ela estava sentada em sua cadeira, olhando para a janela sem enxergar. Ela esperou a noite inteira, mas a porta de entrada não abriu, as escadas não rangeram e Sirius não retornou.
Continua
