13. Revelações e Erros

Dumbledore abaixou a cabeça para passar pela porta da plataforma no alto da Torre de Astronomia. Ele sabia que os alunos pensavam que ele era onisciente, mas, na verdade, ele era apenas muito atento e tinha anos - oh, muitos anos, ele suspirou silenciosamente - de experiência. Mas ele não tinha visto isso chegando.

Sirius estava sentado no seu lugar favorito, perigosamente perto da beirada, e olhava para o pôr-do-sol. Aquela deveria ser uma vista romântica, mas o rosto dele não mostrava sentimentos felizes.

Quando ele ouviu os passos de Dumbledore, ele não se virou.

O Diretor sentou perto do jovem bruxo. "Então é verdade?"

"Sim." a voz de Sirius demonstrava claramente que não queria falar a respeito do que o aborrecia.

Dumbledore que já havia falado com bruxos muito mais experientes do que Sirius, deu tempo a ele e deixou o olhar dele percorrer os jardins da escola. Estava havendo um treino de Quadribol no campo. Ele teria que falar com os capitães dos times para não jogarem depois que escurecesse. Os fogos mágicos que iluminavam o campo eram tão brilhantes que os centauros da Floresta Proibida já haviam reclamado que eles tornavam impossível observar as estrelas por causa disso.

"Eu disse a você desde o início que eu não era o homem certo para cuidar de Claire."

"Você disse, não disse?"

Sirius virou a cabeça e Dumbledore viu com preocupação como ele parecia derrotado "E eu estava certo."

"Nós ainda não sabemos disso."

"Não." Sirius falou entre os dentes. "Isso ficou claro hoje."

"Você vai me contra o que aconteceu?"

"Não."

Dumbledore suspirou. "Ouça, Sirius, em qualquer casamento existem momentos de desentendimento. Todos os amantes brigam de vez em quando. Mas isso não significa…"

"Não."

A tensão dele era quase palpável, e se Dumbledore não o conhecesse tão bem, colocaria um braço sobre os ombros encolhidos dele para confortá-lo.

"Meu querido menino." o Diretor disse suavemente. " Por que é que você acha que é a única pessoa do mundo que tem que ser forte o tempo todo?"

Sirius ficou ainda mais tenso. Seus dedos apertados nos joelhos tão fortemente que suas juntas estavam brancas. Por um longo tempo ele permaneceu calado. Quando ele finalmente falou, não se dirigiu ao Diretor mas para os últimos raios de sol no horizonte. "Quando eu era menino nós tínhamos um vaso de vidro na sala de estar. Era bonito e muito velho, eu imagino. Eu o adorava quando a luz do sol batia nele, porque o vidro mudava a cor da luz que dançava no chão. Um dia eu vi uma pequena rachadura no vidro, tão pequena que você só poderia notar se chegasse bem perto. Eu toquei ali e o vaso se despedaçou." A voz dele se partiu. "Apenas uma pequena rachadura, e foi o fim dele."

Ele se levantou abruptamente e virou para o outro lado, fazendo com que o Diretor não pudesse ver seu rosto. "Você se importa se eu me mudar para meus antigos aposentos por uns tempos?"

"Por quanto tempo você quiser, criança. Por quanto tempo precisar."


Era fácil perceber que Claire tinha passado a noite chorando. Seus olhos estavam vermelhos e ela parecia estar sentindo dor de cabeça. Por esse motivo, a primeira coisa que Dumbledore fez depois que falou para ela se sentar, foi enviar um dos elfos até a Madame Pomfrey para pegar uma poção.

Ele pingou uma pequena quantidade do líquido amargo no chá de Claire e falou a ela para beber. O efeito foi imediato e Claire relaxou um pouco.

"Eu sinto muito incomodar você, Diretor, mas eu… eu fiz uma coisa terrivelmente errada…"

O velho bruxo suspirou. "Ah, Claire… O que eu vou fazer com você e com o bobo teimoso que você tem como marido…"

"É minha culpa." ela falou suavemente e tomou outro gole da poção com chá. "Eu o magoei. Claro que ele tem o direito de estar chateado porque eu não contei a ele sobre o livro e o…" ela corou. "o bebê."

"Um bebê?" Dumbledore deu uma gargalhada com alegria. Os olhos azuis dele brilharam com a boa notícia. "Vocês dois vão ter um bebê? Que notícia maravilhosa!" Devagar o sorriso desapareceu e ele esfregou a ponta do nariz, pensativo. "Agora eu entendo porque ele está tão zangado."

"Você entende?" Claire perguntou com amargura. "Tenha a gentileza de me explicar, então. Porque eu não entendo."

O Diretor se levantou e foi para uma das grandes arcas que ficavam na lateral do escritório. Ele quase desapareceu dentro de uma gaveta que estava cheia de papéis e rolos de pergaminho. Claire lembrou como ele havia colocado sua ficha lá quando o pai dela havia voltado para pegá-la no último dia de escola, então aquele devia ser o lugar onde ele guardava os arquivos de seus alunos e os livros razão da escola. A arca devia ser mágica uma vez que Hogwarts admitia centenas de alunos todos os anos, e com a história da escola com mais de mil anos devia haver uma quantidade considerável de papel. Depois de algum tempo remexendo e procurando, Dumbledore retirou um envelope, amarelado pelo tempo, e o colocou dentro de sua manga.

Ele se sentou perto da lareira e bateu no assento próximo a ele. "Sente-se, querida menina." Estudando o rosto dela com um sorriso gentil, ele ofereceu a ela uma terrina com chocolate quente. "Eu não fazia idéia da sua condição. Os últimos meses têm sido tão ocupados que eu imagino que não prestei muita atenção a todos vocês."

Ela sacudiu a cabeça. "Você sempre tem um ouvido aberto para nós, Diretor."

"Você nunca vai me chamar de Albus, Claire?" ele sugeriu cordialmente.

"Eu… bem, sim, Diretor… eu quero dizer Al…" A língua dela se recusava a falar o nome, então ela resolveu contar a ele sobre a reação de Sirius quando ele descobriu a verdade sobre o livro.

"Você deveria ter visto o rosto dele. Como se eu tivesse enfiado uma faca em seu coração." Ela cobriu o rosto com as duas mãos e ficou calada por um momento. "Eu quero dizer, é apenas um livro."

Dumbledore estendeu a mão e com delicadeza afastou as mãos do rosto dela. "Antes que você continue a se culpar pelo que aconteceu, eu preciso mostrar uma coisa a você. Talvez então você entenda."

Ele a levou até uma câmara que ficava atrás do escritório. Estreita e sem janelas, era um pouco maior do que um guarda-roupa, e a única coisa que havia lá era uma base de pedra. Embora não houvesse lâmpada no quarto o conteúdo da base brilhava.

Claire franziu a testa. "Isso é um pensador, não é? Sirius e Remus deram um para Harry no aniversário dele."

Dumbledore arqueou a sobrancelha. "É um presente bem incomum para um garoto de dezesseis anos. Se eu lembro corretamente, ganhei uma pena nova e um par de meias. Mas Harry é um menino incomum afinal de contas…" Ele pigarreou. "Eu costumava pensar que eu trairia a confiança de Severus se contasse a Laurel sobre o passado dele e os eventos que fizeram dele o bruxo que é hoje. Mas aquela falta de informação causou tanto sofrimento e aflição que eu mudei de idéia. Existem coisas que você precisa saber sobre Sirius." E com isso ele deu um empurrão surpreendentemente forte nela e ela caiu de cabeça dentro do pensador.

Claire fechou os olhos por um momento para clarear a cabeça. As paredes da câmara haviam desaparecido e o castelo também. O ar era mais frio do que em Hogwarts, havia uma cadeia de montanhas a oeste e as árvores nas montanhas não apresentavam folhas. Ela estava perto de Dumbledore, que a ignorava completamente. E então ela reconheceu que aquele não era o Dumbledore que ela conhecia, mas o Dumbledore da sua infância ou até mesmo mais jovem. Em volta deles havia uma multidão de bruxos e bruxas que ela não conhecia, com expressão solene.

Claire ouviu alguém tocar uma melodia triste em um Ffron, instrumento feito de rabo de dragão. Era um instrumento antigo, raramente ouvido, exceto em funerais.

De repente ela reconheceu que eles estavam mesmo em um cemitério. Em frente a eles estava uma sepultura aberta, coberta com flores e coroas... Um representante do Ministério estava ao lado da sepultura, segurando uma almofada de veludo com uma estrela dourada nela, a Ordem da Estrela, segunda classe.

Soluços altos eram ouvidos junto ao som do instrumento e quando a melodia acabou, Claire pôde ver que o barulho vinha de uma mulher vestida de preto que era a única pessoa sentada – ou melhor, agarrada à uma cadeira perto da sepultura.

Uma bruxa atrás de Dumbledore sussurrou para sua amiga que a viúva Black não tinha parado de chorar desde que soubera da morte do marido três dias antes.

Claire franziu a testa. Seria possível? Será que Dumbledore a levara com ele dentro da lembrança dele do funeral do pai de Sirius? O que ele queria que ela visse? - ela se perguntou.

Amigos e parentes do Auror morto se aproximaram para dar adeus. Alguns deles tentavam abraçar Cassie Black, tentavam oferecer conforto, mas ela os empurrava violentamente apenas para continuar chorando. Eventualmente chegou a vez de Dumbledore.

Ele chegou perto da sepultura, e Claire estava perto o suficiente para ouvir o que ele disse. "Vá em paz, velho amigo." A voz do bruxo estava calma. "Assim como essa vida não é o começo, essa morte não é o final."

Ele se virou e olhou para a mulher que chorava em sua cadeira. Não tentando se aproximar dela, ele passou por ela e falou com o menino pequeno que estava de pé atrás da cadeira.

A respiração de Claire ficou presa na garganta. Era Sirius com cinco ou seis anos de idade, e ele parecia com a foto no 'Profeta Diário'. Ela podia apenas desejar que seu bebê fosse um menino parecido com o pai com seu cabelo escuro e olhos azuis brilhantes. Ele teria cachos…

Ela achou difícil tirar os olhos de Sirius que franziu a testa para o bruxo estranho que falava com ele como se ele fosse um adulto. O que na mente de Sirius, ele era - ela apenas precisava olhar para a maneira como ele colocava os braços em volta dos irmãos protetoramente. Os gêmeos realmente não entendiam o que estava acontecendo e brincavam com suas varinhas de brinquedo, enquanto Reggie continuava olhando para a mãe que ignorava as crianças completamente.

Dumbledore balançou a cabeça e se ergueu e Claire descobriu que não ouvira uma palavra do que ele dissera ao menino. Mas Sirius olhou para o Diretor com uma expressão muito séria para uma criança da idade dele. Dumbledore ofereceu a ele a sua mão e ele a sacudiu, um gesto solene como um voto. Então ele se curvou para limpar o catarro do rosto triste do seu irmão.

De repente Claire sentiu uma mão em seu ombro e quando virou, viu Dumbledore, o Dumbledore do tempo presente. Volte, ele murmurou e ela estendeu a mão para que ele pudesse puxá-la para fora da base. Ela se sentiu como se estivesse muito rápida em um balanço e dado uma cambalhota, mas quando abriu os olhos um segundo depois ela estava no mesmo lugar em que estava antes, em frente ao Pensador.

O Diretor ofereceu a mão para ajudá-la a se equilibrar e a guiou de volta para a cadeira perto da lareira. Ele se preocupou um pouco com o fato de ter se esquecido que ela estava grávida e assegurou a ela que mergulhar no Pensador não faria mal nenhum à criança.

Ela sorriu. "Quando eu era pequena eram necessárias menos de duas cambalhotas para me fazer passar mal. Então, grávida ou não, eu não posso realmente gostar dessas coisas." Ela se inclinou para frente e colocou as mãos mais para perto do fogo para aquecê-las. Dumbledore permaneceu calado, e por um instante parecia que ele estava dormindo.

Claire pigarreou. "O que você disse a Sirius naquele dia?"

Ele suspirou com tanta dor que Claire instintivamente estendeu a mão para ele.

"Eu posso ter cometido um erro e é bem possível que você venha a sofrer as conseqüências de minhas palavras descuidadas."

Claire franziu a testa. "Você está tentando dizer que Sirius está reagindo dessa maneira por causa de alguma coisa que você disse a ele 30 anos atrás? O que no mundo você pode ter dito a um menino no funeral do pai dele?"

"Eu disse que ele era responsável pelos irmãos agora, já que a mãe dele não era capaz de cuidar deles." Dumbledore limpou os óculos embora eles fossem mágicos e realmente não precisassem ser polidos. "Eu apenas queria dar alguma coisa que o fizesse ter motivo de prosseguir por alguns dias. Quem poderia adivinhar que Cassie Black iria se fechar em uma capa de luto e nunca mais seguir em frente?"

"Você quer dizer que ela permaneceu daquele jeito? Chorando? Não notando o que acontecia no mundo à volta dela?"

Ele concordou tristemente. "Ela se trancou em seu quarto e ficou lá o resto de sua vida, cercada de fotos do homem que ela amou."

"Mas… e os meninos?"

Dumbledore mexeu em sua manga e retirou o envelope. "Seis anos depois o Delegado Diretor veio ao meu escritório, tão excitado que quase desmaiou. Alguma coisa havia acontecido, alguma coisa que nunca havia sido reportada na história dessa escola. Pela primeira vez um aluno havia recusado o convite para ingressar Hogwarts.

Claire olhou para a carta que ele passara para ela. "Querido Professor Flamel." ela leu em voz alta.

"Meu amigo Nicolas era Vice Diretor naquela época." explicou Dumbledore. "Como Minerva hoje, ele era responsável pelo envio das cartas-convite que a pena mágica escrevia."

"Obrigado pela carta." Claire continuou. A letra era horrível e havia muitos erros de ortografia. "Mas eu estou muito ocupado para ir para a escola agora. Sinto muito. Sinceramente, Sirius Black." Ela sacudiu a cabeça, sem saber se ria ou chorava.

"Ele realmente se recusou a vir para Hogwarts?"

Dumbledore concordou fracamente. "Eu fui até a casa deles em Wales e descobri que era ele quem cuidava dos irmãos. Ele limpava a casa, lavava e passava a roupa, e cozinhava - na verdade, eles viviam de sanduíches, eu me lembro. Ele se assegurava de que os meninos fossem para a escola, e os protegia, mesmo que isso significasse brigar com qualquer outro garoto a cada dia. Não havia outra família de bruxos na aldeia onde eles viviam, então Sirius não teve que somente ocultar o fato de ninguém estar lá para cuidar deles, mas também o fato deles serem bruxos. Ele levava as refeições no quarto para a mãe, mesmo que ela não notasse que ele estava lá." Dumbledore pegou a carta da mão de Claire, dobrou-a com cuidado e a colocou de volta no envelope. "Eu entrei em contato com o Ministério, eles transferiram a casa para Hogsmeade e encontraram uma boa bruxa que passou a tomar conta dos mais novos e da mãe deles enquanto Sirius vinha para Hogwarts. Ela era muito gentil, mas ainda assim Sirius fugia todas as noites do castelo para ver os irmãos. Eu imagino que foi assim que ele descobriu todas as passagens secretas. Depois de três anos nós estávamos com todos eles aqui, e Cassie Black nem percebeu. Tudo o que ela fazia era ficar sentada olhando as fotos do marido."

"É por isso que ele é tão protetor com todo mundo?" Claire secou os olhos com as costas da mão. "Por que ele precisava fazer isso?"

"Porque ele não sabia fazer de outro modo. Responsabilidade é uma virtude em um bruxo adulto, mas para um menino de cinco anos é uma tarefa difícil. Ele era apenas um ano mais velho que Regulus e ainda assim ele sentiu que precisava cuidar dele e protegê-lo."

"Mas então… aqui na escola… eu me lembro dele. Ele parecia tão despreocupado."

"Ele sempre observava os irmãos com o canto dos olhos, mas sim, você está certa. Pela primeira vez ele estava despreocupado. Pela primeira vez ele podia ser jovem. Acho que era por isso que ele amava James e Remus. Embora Remus sofresse de Lycanthropia ele insistia em que não deveriam se preocupar com ele. Era um menino forte e independente. E James… bem James não tinha medo de nada nesse mundo. Ele podia conquistar tudo. Pela primeira vez Sirius teve amigos, amigos que o deixavam ser um deles. Que tomariam conta dele, se fosse preciso.

Fawkes acordou e cantou alegremente quando viu Claire. Pulando de cima a baixo em seu poleiro, ele tentou chamar a atenção dela até ela se levantar e tirá-lo do poleiro. Cantando, ele colocou a cabeça no ombro dela. Ela retornou para seu lugar perto do fogo, a pesada fênix em seus braços.

"Eu ainda não entendo por que ele reagiu dessa forma. Isso não tem nada a ver com a família dele."

"Você é a família dele agora." disse Dumbledore devagar e Claire esqueceu de acariciar a fênix, tão séria estava a voz dele. "Você e Harry. Se Sirius aprendeu uma coisa quando criança, é que ele tinha que ser forte. Ele nunca permitiria a si mesmo um momento de fraqueza."

A boca de Claire se torceu em dúvida.

"Sirius? Sirius não é fraco. Ele é uma rocha. Ele nunca…" Ela empalideceu. Fawkes sentiu a súbita dor dela e começou a piar, preocupado. "Talvez você esteja certo. Ele mostrou fraqueza. Apenas uma vez… a noite em que ele me contou a primeira história." Desesperadamente ela se lembrou do momento em que ele tinha fraquejado e se rendido ao abraço dela. "Ele estava fraco. E agora ele pensa que eu o vendi por isso?"

"Querida menina, não interprete mal o que eu contei a você! Eu queria que você conhecesse o passado de Sirius para que você não se sentisse tão culpada." Seus adoráveis olhos azuis encontraram os dela. "Nenhum de vocês tem muita experiência com relacionamentos. Você nunca teve que pedir nada a seus pais, não é? Você tinha amor em abundância."

Ela concordou silenciosamente.

"E Sirius nunca pediu o amor de sua mãe porque ele sabia que não ia recebê-lo, de qualquer maneira. Então, tenha paciência. Peça perdão a ele pelo erro que você cometeu. E provavelmente ele vai entender a tempo que ele pode pedir a você o amor que ele precisa, sem ter medo de ser rejeitado."

Claire esfregou a testa, cansada. "Eu faria qualquer coisa para tê-lo de volta." ela admitiu. "Não apenas porque eu quero que meu bebê cresça junto do pai. Por mim." Lágrimas rolaram pelo rosto dela e ela não tentou detê-las. "Eu sei que é egoísta de minha parte, mas eu quero que ele volte por mim."

Dumbledore sorriu cordialmente e passou um lenço para ela.

"Todas as coisas vão se encaixar em seus lugares." ele a confortou suavemente. "Você vai ver."

"Você não se aborrece quando todo mundo em Hogwarts incomoda você com seus problemas insignificantes?" ela soluçou e assoou o nariz.

"Problemas insignificantes?" Ele segurou o rosto dela e fez com que olhasse para ele. "Vocês todos são meus filhos, de certa maneira. Eu vi vocês chegarem aqui, muito jovens e muito frágeis, e vi vocês crescerem. Se vocês se machucarem, eu sinto a dor também. Eu quero que vocês sejam felizes, e quero que aqueles de quem eu cuido estejam inteiros e em segurança. Então não hesite em vir a mim."

"Obrigada."

"Por que você não reúne toda a sua coragem e vai até os aposentos de Sirius? A última aula dele vai terminar em meia hora. Talvez vocês dois possam discutir o assunto."

O sorriso trêmulo dela dizia que ela iria pelo menos tentar - e isso era tudo o que ele queria.

"Claire?" O Diretor a chamou quando ela estava quase na porta. "Mais uma coisa."

"Sim?"

"Não vão mais haver encontros com Voldemort agora que você está grávida."

Os olhos dela se arregalaram. "Mas…"

Dumbledore deixou claro que não permitiria discussões nesse assunto. "É muito perigoso. Nós precisamos arrumar uma desculpa que Malfoy aceite. Prometa-me que você não vai aceitar nenhum convite para encontrar o Lord das Trevas em pessoa."


Claire bateu timidamente na porta de Sirius. Quando não houve resposta, ela esperou por mais alguns minutos e quando Sirius não apareceu, ela simplesmente girou a maçaneta e entrou. A porta de Sirius nunca ficava trancada, assim como na casa dela.

O quarto não tinha nenhuma decoração. Claire olhou a pouca mobília, a cama estreita, a janela aberta. Sirius tinha saído da Mansão Winterstorm com apenas umas poucas roupas em uma sacola e uma grande caixa de livros. Era óbvio que ele não tinha mais nenhum pertence aqui em Hogwarts. Não houve muito tempo na vida dele para reunir bens materiais, Claire pensou quando ela se sentou na beira da cama. Ela sabia que ele não era pobre porque os poucos galeões que ele tinha em seu cofre em Gringotes quando fora preso deveriam ter rendido juros. E ele tinha acesso ao dinheiro, porque em Gringotes ninguém queria saber você era um assassino foragido de Azkaban, desde que você tivesse a chave de seu cofre.

Mas ele não possuía fotografias ou qualquer outro souvenir que lembrasse o passado dele.

Com delicadeza ela passeou o dedo pelo travesseiro dele, então ela o levantou e sentiu o cheiro dele que ela tanto amava. Na noite anterior ela dormira no quarto de Sirius na casa dela, apenas para senti-lo presente de alguma maneira.

Quando ela olhava para seu relógio, a lareira de repente tossiu e uma pequena nuvem de poeira escapou. Claire pulou - apenas para ver um dos elfos de sua casa sair da lareira.

"Peagreen!"

A elfa estremeceu. "Srta. Claire! O que você está fazendo aqui?"

"Bem, eu podia perguntar a mesma coisa a você."

Os olhos de Peegren ficaram ainda maiores. "Eu… é que… ele..." ela gaguejava, apenas para bater a cabeça no poste da cama no momento seguinte. "Peagreen é uma elfa muito má … muito, muito, muito má!"

Claire agarrou os ombros da pequena criatura. "Pare com isso! Apenas me diga o que você está fazendo em Hogwarts."

Peagreen é muito má." a elfa soluçou e apertou as mãos em cima da barriga. "Mas Peagreen não está entendendo."

Claire a levantou e a sentou em cima da cama. Quando a elfa tinha chorado um pouco e puxado seus cabelos de maneira que eles ficassem espetados, ela perguntou novamente.

"Doçura, o que você está fazendo aqui?"

"Você é minha senhora, Srta. Claire." Peagreen fungou. "Você será sempre minha senhora. Mas o seu Sirius… ele é amigo de Peagreen."

"Mas não há mal nisso." Claire assegurou a ela. "Eu fico feliz por você gostar dele agora."

"Elfos não entendem vocês bruxos. Vocês sempre brigam e fazem as pazes e brigam e fazem as pazes."

"Oh, Peagreen." ela suspirou. "Eu também gostaria de entender, mas não entendo."

"Ele está muito triste, muito, muito triste o seu Sirius." exclamou a elfa. "Como quando Peagreen levou aquela pancada de hipogrifo na cabeça."

Sebastian Winterstorm uma vez havia ganhado um hipogrifo como presente de um estrangeiro e o animal arrogante havia apavorado os elfos. Eventualmente o pai de Claire tinha sido forçado a doar o animal a uma reserva na floresta de Sherwood.

"Ele está muito infeliz." Peagreen continuou. "Isso fez eu pensar em trazer alguma coisa para fazer ele ficar feliz."

Ela remexeu em um bolso no fundo de sua roupa. Quando ela puxou, Claire reconheceu o seu lenço favorito.

"Por que isso?" ela perguntou atônita.

"Ele quer alguma coisa de você." Peagreen fungou. "Alguma coisa para lembrar."

Claire engoliu em seco. Então ela dobrou o lenço com cuidado e o colocou embaixo do travesseiro dele, de repente sentindo-se quase tonta de alívio. Ela ainda significava alguma coisa para ele. Talvez Sirius não a amasse, mas ele sentia falta dela e no momento era tudo o que ela precisava para continuar.

Ela deu umas pancadinhas na cabeça de Peagreen. "Você fez muito bem, pequenina. Eu estou orgulhosa de você. Agora eu quero que você vá pegar mais algumas coisas." Ela explicou em detalhes o que ela queria que a elfa trouxesse e onde ela deveria colocar. Quando Peagreen tinha saído pela lareira e desaparecido nas chamas verdes, Claire suspirou e saiu do quarto também - pela porta, como qualquer aborto.

Em seu caminho através da floresta ela não notou o cachorro preto que a seguia à distância e observava cada passo seu. Mas a enorme aranha que estava em um arbusto decidiu, com o rosnado do cão, que uma briga com o animal não valeria a pena.

Quando Claire chegou em Hogsmeade o cachorro a seguiu até ver que ela entrava em casa. Que bonitinho!A luz no escritório do andar de cima se acendeu e o cachorro ficou olhando para lá durante horas, até que ele decidiu que estava na hora de voltar para Hogwarts.

Quando Sirius entrou em seus aposentos, recuou surpreso. A cama estava coberta com um monte de cores suaves agora, havia uma tigela com uvas na mesa, e um vaso de flores do jardim na mesa de cabeceira. Debaixo do travesseiro ele notou alguma coisa colorida e quando ele puxou o travesseiro, achou o lenço. Enterrando o rosto no lenço de seda, ele sentiu o cheiro de Claire. E foi desse jeito que ele dormiu.


No dia seguinte Sirius lutou com seus demônios interiores o dia inteiro. No final da tarde ele ganhou. Uma hora depois ele estava em frente ao Mansão Winterstorm, pronto para ouvir as explicações de Claire. Uma voz no fundo de seu coração rezava para que o fato dela ter publicado as histórias ter sido apenas um erro. E sobre o bebê... Sobre o bebê eles teriam que conversar. Não fazia muita diferença como as coisas entre ele e Claire ficassem - ele não pretendia deixar a criança crescer sem um pai. Ou, para ser mais exato - não sem ele como seu pai.

Ele bateu na porta e soube que alguma coisa estava errada no momento que Kiki abriu a porta. A única elfa que costumava ser amigável com ele era Peagreen, então pela forma que Kiki correu para ele e abraçou seus joelhos, soluçando de alívio, ele só pôde esperar pelo pior.

Ouvindo Kiki chorar, os outros elfos vieram da cozinha.

Sirius entrou no hall de uma forma embaraçosa com Kiki ainda abraçada a ele.

"O que aconteceu?" ele perguntou e todos os elfos começaram a falar simultaneamente.

Ele levantou a mão. "Shh! Koko, conte-me o que aconteceu."

A elfa enrolou as mãos. "A Srta. Claire... ela foi ver o bruxo mau. Ela foi sozinha, sem o Sirius dela!

Sirius empalideceu. Mulher teimosa e estúpida, ele pensou, quando o medo frio começou a afundar em seu coração. Ela foi sozinha com Malfoy. O medo dele ficou pior quando leu a carta que Peagreen trouxe do escritório. Lucius Malfoy convidara Claire para encontrar o Segundo no Comando do Lord das Trevas e assistir a uma cerimônia especial. Pettigrew, Sirius pensou e enfiou a carta na manga. Se Malfoy havia levado Claire para Pettigrew, as chances eram de que ela fosse apresentada ao próprio Voldemort. Ele tinha que encontrá-la, e rápido.

"Aonde ela foi?" ele perguntou.

"Nós não sabemos. O bruxo mau foi com ela em uma vassoura. Eles voaram para o sul." KoKo tinha começado a chorar novamente e a sua voz estava tão baixa que quase não se ouvia.

Meia hora depois a porta do laboratório de Poções foi aberta, e Sirius entrou nas masmorras sem uma palavra de cumprimento.

Snape olhou por cima do caldeirão que ele estava mexendo.

"Eu não me lembro de ter mandado você entrar." ele rosnou.

Sirius franziu a testa. "Eu não tenho tempo para isso agora, Snape. Eu preciso de sua ajuda."

O Mestre de Poções fez uma carranca para ele. "Nós precisamos de uma poção específica? Eu não faço Poções de Amor, Black. Então se você está com problemas conjugais, recorra ao seu charme e aos seus olhos azuis, está bem?" Ele arqueou a sobrancelha quando viu a roupa listrada preta e branca que Sirius usava. "A propósito, bonita roupa."

"Vá se catar!" Sirius estava pálido e tomou a concha da mão de Snape e a jogou longe.

"Claire atendeu a um chamado dos Comensais da Morte e foi a um encontro com Pettigrew, e está lá neste minuto. Eu preciso saber onde acontecem esses encontros e você é a única pessoa que sabe."

Snape estava completamente atento agora que sabia o que estava acontecendo. "Mulher estúpida e teimosa." ele murmurou.

"Deixe-a em paz." mandou Sirius, não admitindo que tinha dito as mesmas palavras apenas meia hora atrás. Sim, ela era teimosa e era estúpida, mas ela era mulher dele e ele era o único que tinha o direito de falar aquilo em voz alta!

"Eu posso levar você ao lugar onde eles costumavam se encontrar a alguns meses atrás, e nós temos que desejar que eles não tenham encontrado um lugar melhor." disse Snape calmamente.

"Apenas me diga onde é!"

"Você não encontraria a tempo." O Mestre de Poções foi até uma cômoda com gavetas e escolheu um pequeno vidro. Usando um pedaço de linho, ele começou a passar o líquido negro no seu antebraço. O cheiro era enjoativo.

"Eu tenho a Marca, como você bem sabe." ele explicou sem olhar para Black. "Esta poção vai fazer o meu braço ficar dormente por umas poucas horas, assim Voldemort não pode me chamar e nem sentir a minha presença através da Marca."

"É assim que você resiste aos chamados?" perguntou Sirius.

Snape apenas concordou e colocou a poção de lado. Seu braço pendurado, sem utilidade, caído ao lado. "Eu vou precisar da capa de invisibilidade do Sr. Potter, se você pedir a ele." ele sugeriu. "Dessa maneira eu posso ficar por perto para ajudar, caso você precise."

Sirius entrou na lareira e retornou uns minutos depois com a capa.

"Por que essa roupa de tirar o fôlego?" perguntou Snape quando eles saíram do castelo em direção ao armário de vassouras.

"Eu não tinha certeza de onde esses encontros aconteciam." Sirius deu de ombros e escolheu duas vassouras que os levariam para fora dos jardins da escola, onde eles Aparatariam. "Se isso for um encontro social eu devo estar vestido apropriadamente."

Snape montou em sua vassoura e franziu a testa. "Oh, você vai estar bem vestido. O lugar onde estou levando você é um cemitério."


Claire estava de pé, morrendo de medo, e não ousava olhar ao redor dela.

Quando Malfoy havia prometido um encontro com Peter Pettigrew, ela havia aceitado sem pensar, movida pelo desejo de ver o bruxo que havia matado os Potter e tantos outros inocentes, e que havia arruinado a vida do homem que ela amava. Mas o que havia soado como um encontro casual, agora se apresentava como uma cerimônia apavorante em um cemitério escuro. Dúzias de figuras, vestidas em capas estavam em volta, todas esperando por...

"O que nós estamos esperando?" ela sussurrou, cuidando para manter a voz firme.

"Nós estamos esperando pelo próprio Lord das Trevas." respondeu Malfoy.

"Vol..." ela tossiu e engoliu o resto da palavra. "Ele está vindo para cá esta noite?"

"Eu disse a você que essa era uma cerimônia especial, não disse?" Malfoy sorriu orgulhoso e Claire pensou mais uma vez que o bruxo era positivamente insano. "Você vai ser testemunha de um dos maiores rituais que você vai ver um dia. E você vai realmente ser uma das nossas antes desta noite acabar!"

O coração de Claire afundou.

Uma figura saiu das sombras detrás das ruínas de uma capela. E era um... não, não era mais um homem, decidiu Claire e pressionou a mão na boca para não gritar. Ela conhecia Peter Pettigrew de fotos - mas este homem quase não parecia mais com o bruxo bochechudo e gordinho que ela esperava encontrar. Seu nariz, orelhas e mão direita, eram feitos de metal, um metal prateado que parecia vivo e morto ao mesmo tempo. Aparentemente o pé direito dele também tinha sido substituído, porque ele mancava enquanto atravessava o cemitério.

Embaixo do braço ele carregava uma trouxa.

"O que vai acontecer?" sibilou Claire na direção de Malfoy.

"É o ritual da Resurreição." ele explicou suavemente. "Carne, osso e sangue."

"Eu não entendo."

Duas das figuras vestindo capas, começaram a cavar em um dos túmulos e depois pegaram um pedaço de osso - foi o suficiente para fazer Claire estremecer.

"Osso dos mortos." sussurrou Malfoy. "Peter vai dar a carne e" ele apontou para a trouxa que havia sido colocada em uma pedra de mármore próxima a um caldeirão fervente "ela vai prover o sangue."

Os olhos de Claire se arregalaram quando ela percebeu que embaixo do pano havia uma criança, um menino muito pequeno. Não um bebê, mas ele não podia ter mais que um ou dois anos. Ele dormia, ou estava inconsciente.

Ela começou a tremer violentamente.

Uma voz vinda da escuridão impenetrável atrás das ruínas fez com que todos pulassem ao mesmo tempo.

"Novamente nós estamos reunidos" sibilou a voz e um vento frio se levantou da terra "para o chamado das Forças Escuras. Novamente nós devemos dar e receber."

As figuras curvaram suas cabeças.

"Aqueles de vocês, que forem novos em nossa congregação, queiram dar um passo à frente."

Malfoy deu um leve empurrão em Claire e ela tropeçou em direção a Pettigrew.

"Vocês vão receber minha Marca e ser parte de mim. Meus olhos e ouvidos, meus aliados e meus espiões."

Uma grande cobra se arrastou através das pedras e parou aos pés de Claire, sua língua bifurcada quase tocando a pele de Claire. A cobra retornou ao seu mestre, e o silêncio caiu no cemitério.

De repente Malfoy recuou e se aproximou da capela, como se movido por cordas invisíveis. "A bruxa está com criança." a voz da escuridão sibilou. "É uma criança sangue puro?"

Malfoy olhou para Claire, que concordou, pálida como a morte.

"A Marca Negra vai matar o bebê."

"Eu sinto muito Mestre." falou Malfoy. "Eu não tinha idéia..."

"Por que a trouxe diante de mim?" exigiu a voz.

Malfoy se ajoelhou. "Ela é quem nos dá o dinheiro!" ele sussurrou.

"Uma criança de sangue puro não pode ser arriscada." sibilou a escuridão. "Mas ela foi testemunha do nosso encontro, então nós não podemos permitir que ela saia daqui sem receber a Marca."

"Por que nós não a mantemos conosco até o bebê nascer?" sugeriu Pettigrew. "Quem é o pai afinal?"

"Algum pateta chamado White." disse Malfoy.

"Nós vamos ficar com ela então." decidiu a voz. "E quando não houver mais riscos para a criança ela receberá a Marca."

Claire ouviu as palavras e quase desmaiou. Ficar com Pettigrew e... Voldemort entre todos os bruxos... era uma sentença de morte certa. Quanto tempo levaria para eles perceberem que ela era um aborto? Eles a matariam apenas, ou ao bebê também?

Seu cérebro estava vazio e seu coração gelado. O tempo pareceu se arrastar e ficar congelado. E então, através da escuridão, ela ouviu uma outra voz, vinda por trás da multidão.

"Eu sou o pai da criança. Essa bruxa é minha esposa. Eu receberei a Marca no lugar dela."

Continua

NA: Mil desculpas pela demora (mais uma vez), mas realmente tenho que admitir que meus interesses mudaram muito nos últimos meses, sem contar com uma faculdade que andou complicando meus horários. Confesso que tenho deixado fanfics de lado, de maneira geral... nem lido eu tenho. Mas vou repetir, pela centésima vez, EU NÃO VOU DESISTIR DESSA FIC! Por dois motivos básicos: eu AMO essa história, e nunca me canso de trabalhar nela... e pq ela já está praticamente toda traduzida, faltando alguns detalhes a serem arrumados. Eu posso ter realmente longos períodos sem atualizar, mas é como minha vida anda agora... por isso peço paciência. Não se desesperem tanto, porque vou continuar postando sempre que posso...

E agradeço muuuito por todos os e-mails e reviews. São eles que sempre me fazem voltar de pouco em pouco para essa tradução.

Já peço desculpas adiantado, porque o próximo capítulo deve demorar um pouco mais pra sair... além da faculdade, o próximo capítulo seeeeeempreee me faz chorar... ;-) Isso deve manter as pessoas que não leram o original interessadas... Ah, e aproveito pra dizer: algumas pessoas com palpites e perguntas que ainda não foram respondidos... podem ter suas respostas no próximo capítulo...