14. Sacrifícios

Claire não ousou virar a cabeça enquanto Sirius abria caminho devagar através da multidão. O alívio que ela sentiu não superou o desespero ao compreender o que significava ele estar presente àquele encontro. O desejo de vingança e o ódio ardente que ele sentia por Peter havia guiado suas emoções até agora. Não seria possível que ele deixasse a chance de vingança escapar agora. E mesmo se, por um esforço sobre humano, ele conseguisse - uma vez que o Feitiço Incógnito não funcionava com ela, poderia funcionar com Peter também? Afinal de contas, eles tinham sido muito amigos… E assim que Peter reconhecesse o bruxo que ele havia condenado há quinze anos atrás, ele chamaria os Comensais da Morte para pegar Sirius. Não importava o quanto ele fosse forte, e estivesse dominado pela raiva, seu marido não teria chance contra todos eles.

Antes ela havia ficado com medo apenas por ela mesma e pelo filho, agora ela temia pela vida de Sirius. A sua única esperança era que o Feitiço funcionasse e que ninguém descobrisse quem era o Professor White, na verdade.

Sirius empurrou as pessoas e ficou ao lado de Claire. A sorte de Malfoy foi que ele havia sido chamado para ficar atrás da capela, porque se ele estivesse ao alcance, Sirius o teria estrangulado por trazer Claire a esse encontro.

Ele pegou a mão dela. Olhando para sua esposa, ele esqueceu o lugar onde estavam, a companhia, e as circunstâncias menos afortunadas. Tudo o que importava era que Claire estava viva. O medo que ele sentira nas últimas horas o tinha forçado a encarar a certeza que estava em sua alma há semanas. Ele a amava. Ele nunca havia amado ninguém em toda a sua vida, e gostaria de afastar esse sentimento… mas ele a amava. Ela o deixava maluco, nunca o obedecia, era teimosa e boba… e ele a amava por isso, também.

Claire encontrou o olhar dele e se esqueceu de respirar quando viu a expressão no rosto dele. Nada importava. Não existia Voldemort, nem Comensais da Morte, nem perigo mortal. Não havia nada, apenas ele. Ela nunca havia tido esperança de ver aquela expressão nos olhos dele. Mas estava lá.

Agora.

Ali naquele lugar de morte e desespero. Ali havia amor.

Ela mergulhou nos olhos dele, deixou-se afundar nas profundezas azuis da alma dele. Ele a puxou para perto de si e beijou a testa dela, num gesto que era acalentador e de saudade ao mesmo tempo.

Então ela reconheceu as roupas que ele usava e seu coração deu um salto. As tiras brancas e pretas, a faixa vermelha... As roupas que ela havia escondido no fundo do guarda roupa. As que ele usava na visão de Serene. Os dedos de Claire se enterraram nas palmas de suas mãos com tanta força que ele estremeceu. Mas Sirius não tirava os olhos dela.

"Você está bem?"

"Com você ao meu lado eu estou bem." Ela mal conseguia falar porque sua boca havia ficado seca com o medo.

"A Marca." ela sussurrou. "Você não pode aceitá-la."

"Você também não pode." Não havia censura nas palavras dele, apenas uma calma aceitação da situação irremediável. "Mesmo que não houvesse nosso filho, eu nunca permitiria isso."

"Sirius…"

"Você é uma curandeira, boneca. A Marca iria destruir tudo o que você dá aos outros." Ele levou a mão dela aos lábios. "O que você dá para mim."

"Isso vai destruir você também, Sirius!" O coração dela ficou gelado. "Eu nunca vou me perdoar. É minha culpa você estar aqui. Eu devia ter ouvido Dumbledore."

"Não importa o que venha a acontecer, Claire." ele disse tão suavemente que ninguém além dela podia ouvir. "e independente do que acontecer agora… eu quero que você saiba que eu amo você."

Os lábios dela tremeram quando ela levantou a mão para tocar o rosto dele. Por um momento ele fechou os olhos e saboreou a carícia.

"Sirius, eu nunca…" Claire mal podia falar com as lágrimas que a sufocavam.

"Não." ele murmurou. "Nós falamos sobre isso depois."

"Por que o atraso?" perguntou a voz sibilante, de repente.

Claire estremeceu. Não havia como fugir.

Sirius soltou a mão dela e olhou para a escuridão. "Aqui estou... Mestre… O que você quer que eu faça?" A voz dele soou calma e não traía o medo que ele devia estar sentindo, pensou Claire. Eles dois sabiam que a Marca Negra causava uma dor insuportável.

Se esta era a punição pelo empenho tolo dela, o destino não tinha clemência. Ela não precisava ser uma clarividente como Serene para saber que o que ia acontecer. Sirius receberia a Marca - aquilo era terrível o suficiente. Mas assim que ele visse Pettigrew, ele tentaria matá-lo. E sem dúvida seria morto na tentativa. Com a morte de Sirius, sua vida acabaria também... Sua mente rodou. O coração dela se acelerou como depois de uma longa corrida e estava martelando em seus ouvidos, o que fez com que ela quase não ouvisse a voz sibilante.

"Você é o pai da criança?"

Sirius curvou a cabeça.

"Você tem poder sobre essa bruxa?"

"Sim, tenho."

A brisa fria ficou mais forte. Claire estremeceu e esfregou os braços, mas não conseguiu se aquecer. Ela sabia que nunca mais se sentiria aquecida novamente.

"Então venha até mim."

A multidão se espalhou e os novatos deram um passo à frente.

Claire observou ansiosamente como Pettigrew virou as costas para a multidão e preparou a poção em seu caldeirão. Enquanto ele estivesse ocupado segurando a varinha e adicionando ingredientes na poção, Sirius estaria seguro. Mas, a qualquer momento, Peter poderia se virar e reconhecer o rosto de Sirius.

Os novatos, um por um, avançaram para dentro da escuridão atrás da capela. Gritos ecoaram no cemitério, sons de incrível terror e dor. Claire mordeu a mão para não gritar também. Sirius foi o último a receber a Marca, e quando ela o ouviu gritar, não pôde mais conter as lágrimas. Laurel havia falado o que a Marca Negra tinha feito a Severus, como se rasgasse a alma dele, a frieza sugando a alma dele até que ele estivesse quase morto por dentro.

Ela caiu de joelhos no chão e se abraçou, balançando para trás e para frente, devagar. Tudo o que ela podia pensar era no bebê, tão jovem e inocente de todos os erros que sua mãe havia cometido. E Sirius, seu amor, que já havia sofrido tanto e agora fazia esse sacrifício para que ela e a criança pudessem viver.

Sirius saiu da escuridão, procurando o olhar dela, fixando o olhar no dela como se sua vida dependesse disso. A manga de sua roupa estava rasgada e a Marca estava proeminente. A pele dele estava translúcida, de tão pálida, como se uma criatura na escuridão tivesse sugado todo o calor que ele tinha em seu interior. Ele andava devagar, com dor, mas ele conseguia andar sozinho e não rastejar como os outros. A multidão que tinha se reunido em volta dos túmulos não deixava ele passar. Alguns tentavam apertar a mão dele ou bater em suas costas, mas ele parecia entorpecido e desligado de tudo em volta dele.

Claire ainda ajoelhada, olhou para ele como se ele fosse uma aparição. Nem mesmo a dor e o terror que acabara de vivenciar, haviam feito que ele perdesse a expressão de amor que trazia nos olhos.

Sirius ainda olhava para ela quando Peter Pettigrew virou e deu um sinal a todos de que as preparações estavam completas.

"E agora," a voz rouca que vinha do vazio anunciou "o ritual. Meus servos me concederam o que eu precisava."

Um bruxo deu um passo à frente e entregou a Peter um osso que eles haviam tirado da tumba mais cedo.

"Osso do pai, dado sem o conhecimento dele." a multidão recitou.

A poção borbulhou e o cheiro de podridão fez a multidão recuar.

A mão de prata de Pettigrew brilhou à luz do fogo quando ele tirou uma adaga de dentro da manga. Claire observou espantada como ele colocou a mão direita esticada na superfície de pedra em frente a ele e como, depois de respirar fundo, ele arrancou o seu dedão. Sangue espirrou no mármore e Pettigrew gritou de dor.

"Carne do servo, dada espontaneamente."

Quando o dedo foi acrescentado à poção, o cheiro ficou tão ruim que algumas das figuras encapuzadas começaram a sentir o estômago embrulhar.

Um Comensal da Morte colocou uma faixa em volta da mão ensangüentada de Pettigrew. Pálido, mas determinado, Pettigrew então pegou a trouxa e começou a desenrolar o pano. A criança ainda não se movia. Levantando a adaga acima do coração do pequeno menino, o servo de Voldemort olhou para as figuras expectantes.

Sangue de…

Claire empalideceu horrorizada. Eles iam sacrificar a criança! Eles iam tirar o sangue do menino aqui, na frente dela, e não havia nada que ela pudesse fazer a respeito. Sirius, cujos olhos ainda estavam virados para o rosto dela, virou para a cena do sacrifício.

A mão de Pettigrew parou no ar. Os olhos arregalados com o choque.

"Sirius Black!"

A voz dele gritou no cemitério e assustou os Comensais da Morte.

"Vocês não o reconhecem? Este é Sirius Black!"

Peter quase entrou no caldeirão em sua ânsia de ver melhor o rosto de Sirius.

"Black?" O sibilo vindo da escuridão arrepiou os cabelos da nuca de Claire. "Malfoy? Você permitiu que meus seguidores fossem invadidos por espiões de Dumbledore? Você está ficando negligente. Primeiro o bebê e agora o marido dela…"

"Meu Lord, não!" a voz de Malfoy tremeu com medo. "Eu chequei as credenciais dele."

' Ele é Black! Segurem-no, não deixem ele se aproximar de mim!" Peter colocou o caldeirão entre ele e seu inimigo. A adaga que seria usada e o menino ainda estavam na pedra sacrifical, agora completamente esquecidos.

"Do que você está falando, Pettigrew?" perguntou Malfoy, aproveitando agradecido a oportunidade de se afastar de seu Lord. Ele saiu da escuridão atrás das ruínas e foi até Peter.

Sirius olhou para seu amigo de infância e notou as diferenças na aparência de Peter desde a última vez que eles haviam se encontrado. As partes de prata davam a ele uma aparência estranha, mas os olhos eram os mesmos. Nervoso, apavorado e atrevido ao mesmo tempo. E pensar que ele acreditara que Peter era um dos caras mais corajosos que ele conhecera. Afinal de contas era difícil encontrar em Hogwarts um aluno mais apavorado do que Peter. Ele tinha medo de cada sombra, cada fantasma, cada professor. E ainda assim ele conseguia se divertir com seus amigos. Sirius considerava aquilo um ato de incrível coragem - e provavelmente tinha sido. Ele havia tentado proteger Peter como ele protegia os irmãos mais novos. Mas então chegou o dia em que Peter havia desmoronado e cedido ao medo, e havia procurado um amigo mais poderoso. Só que agora seu protetor era sua maior ameaça...

"Eu conheci Sirius Black na escola também. Esse bruxo nem mesmo se parece com ele." gritou Malfoy com raiva.

"Você não vê?" gritou Peter e segurando a concha como se fosse uma espada. "Não vê que é ele?"

Sirius pulou em cima dele, passando por cima do caldeirão fervente.

De repente foi como se o inferno - ou a parte dele que ainda não estava reunida no cemitério - tivesse se soltado. Saídos do nada, Aurores em seus uniformes aparataram entre os túmulos e se moviam na direção dos atônitos Comensais da Morte. Luzes brancas saíam de suas varinhas e iluminavam o cenário.

Pessoas começaram a gritar e a correr em todas as direções, lutando para escapar. Sirius parou com as mãos em volta do pescoço de Peter, o rosto de Pettigrew já estava azul. Claire, que havia sido puxada para trás por um Comensal da Morte e estava segurando-se em uma pedra para não cair e ser atropelada pela multidão, viu o rosto de Sirius se tornar vazio. Ele já havia dito antes que os Aurores

não o levariam de volta para Azkaban vivo. E certamente não com a Marca Negra em seu braço. Então ele morreria no ataque, não iria se defender. Não iria se defender, mas atacaria qualquer Auror que tentasse prendê-lo... Nesse momento só havia a questão de como levar Peter com ele.

Ela gritou de dor quando um dos Comensais da Morte que estavam fugindo, a derrubou. Imediatamente Sirius largou Pettigrew e se virou para ela. Um raio de luz branca o atingiu em cheio no peito. Por um segundo ele continuou de pé. Então um estremecimento percorreu o corpo dele e ele caiu.


Uma batida insistente na porta acordou Remus Lupin. Ele ainda estava sentindo os efeitos da última lua cheia e levou algum tempo para ele acordar dos sonhos em que corria e caçava. Ele pegou sua varinha e sonolento murmurou: "Lux." Esfregando os olhos ele foi descalço abrir a porta.

Quando ele abriu, viu Serene, vestindo roupas de dormir, o cabelo solto sobre os ombros. O desejo o atingiu tão de repente que ele se esqueceu de respirar. Por um segundo ele pensou que ela havia vindo para ele. Então a razão voltou e ele lutou para conseguir respirar novamente.

"São três horas da manhã, Serene. O que houve?"

Ela tinha estado chorando, ele notou. Sua linda paixão tinha chorado… Ela raramente deixava seus sentimentos escaparem de seu controle, então alguma coisa terrível devia ter acontecido.

Serene olhou para ele: o cabelo desgrenhado, os olhos cinzentos gentis e o peito nu, ela teve que enterrar os dedos nas palmas das mãos para sufocar o desejo de apenas se esconder no conforto do abraço dele.

"Sirius." ela conseguiu falar. A voz rouca de tanto chorar. "Aconteceu."

Remus agarrou os ombros dela, com cuidado para não machucá-la. Perto da lua cheia ele tendia a subestimar sua força.

"Serene? O que aconteceu? Do que você está falando?"

"Azkaban. Eles o levaram de volta para Azkaban. Eu vi isso. Eu tentei avisar Claire." A respiração dela estava entrecortada. "Por que ninguém acredita em mim?"

Remus voltou ao seu quarto sem outra palavra e retornou minutos depois, completamente vestido. Ele colocou o braço em torno dos ombros de Serene e puxou-a para perto dele. Pela primeira vez ela não recuou, apenas cedeu à exaustão. Ele esfregou a bochecha contra a testa dela e se sentiu culpado por sentir tanto prazer naquele momento, enquanto seu melhor amigo estava em perigo mortal. Ele não tinha dúvidas de que Sirius estava com problemas. Serene tinha estado certa a respeito de Severus há alguns meses atrás - e Sirius… bem, ele conhecia Sirius…

"Nós temos que falar com Dumbledore." ele disse suavemente e não soltou a mão dela até eles chegarem aos aposentos do Diretor.

Dumbledore já estava esperando por eles. Seu rosto estava franzido de preocupação e ele tinha perdido os óculos. "Percy Weasley acaba de me enviar uma coruja." ele disse. "Há rumores de que os Aurores invadiram um encontro dos Comensais da Morte perto de Glasgow hoje à noite. Eles acabaram prendendo algumas pessoas. Pettigrew, Malfoy e todos os que importavam conseguiram escapar. Mas de acordo com Weasley, Claire e Sirius estavam entre os que foram levados ao Ministério para interrogatório."


Claire estava sentada em uma cela e tentava respirar. Pelo bebê, ela pensou, respire pelo bebê. Desde que tinha visto Sirius cair como uma árvore abatida, ela não tinha conseguido parar de tremer. Um dos Aurores

tinha sido gentil e emprestado a ela uma capa. Eles a revistaram em busca de sua varinha e não encontraram nenhuma, mas eles não se arriscaram e amarraram os pulsos dela com cordas mágicas.

Ninguém respondeu às perguntas dela. Apenas uma dúzia,ou mais, de Comensais da Morte haviam sido capturados no meio das pedras. Quando os Aurores tinham acabado de revistar o cemitério e não encontraram mais fugitivos, eles transportaram todos através de um Portal para o jardim do Ministério, de onde eles foram levados para celas, onde eles haviam sido trancafiados e deixados sozinhos. Claire estava esperando pelo que pareciam horas. Ela nunca tinha sido presa antes, mas não havia regulamentos? Ela devia ter o direito de ver o advogado dela antes do julgamento? Ou eles apenas a deixariam presa naquela cela sem julgamento como eles tinham feito com Sirius?

Ela estava com frio, com fome e doente de preocupação com Sirius. O flash de luz o atingira em cheio no peito. O que ela faria se ele estivesse morto? Involuntariamente ela soluçou. Ele não podia estar morto. Ela saberia se ele estivesse. Ele era parte dela, e ela saberia se uma parte dela tivesse morrido, não saberia?

Uma tossidela do lado de fora da cela fez com que ela pulasse. Correndo para a porta, ela se levantou na ponta dos pés para espiar pela janelinha gradeada na porta, quando ouviu a tranca ser aberta. Ela ficou surpresa quando reconheceu Ben Olsen, o conselheiro de Malfoy que ela havia visto pela última vez em Gringotes, onde ele tinha carregado o ouro que ela havia doado para a causa do Lord das Trevas.

"Sr. Olsen!"

"Minha querida Sra. White." Olsen beijou a mão dela e fez um leve aceno ao Auror que estava do lado de fora da porta aberta. Seu rosto avisou-a para que deixasse ele fazer a parte dele.

"O que aconteceu essa noite foi lamentável. Mas eu convenci às autoridades de que você tinha sido levada por um bruxo que traiu sua confiança, fazendo com que você acreditasse que ele era um professor de Hogwarts, perfeitamente honrado. Enquanto na verdade ele é um Comensal da Morte e possui a Marca."

"Ele está vivo?" os dentes de Claire batiam de frio e exaustão.

"Vivo e em breve vai estar a caminho de Azkaban."

Ela engasgou. "Mas… não deveria haver um julgamento ou coisa parecida?"

Os olhos de Olsen a avisaram para não insistir no assunto. "O Ministro em pessoa reviu o seu caso e está convencido de que é inocente. Quanto ao White… O Ministro precisa de tempo para reunir as provas e não há lugar mais seguro para esses bruxos desprezíveis do que Azkaban."

O Auror mantinha a porta aberta, e Olsen ofereceu o braço a Claire. Ela teria ficado feliz em recusar, mas se sentia muito fraca para ser orgulhosa.

"Por que você pode me soltar, mas não Sirius?" ela sussurrou quando Olsen a ajudava a descer o corredor.

"É difícil convencer que uma pessoa com a Marca Negra é inocente." O conselheiro franziu a testa. "E Malfoy apenas pediu que eu libertasse você, não o Sr. White. Você tem que admitir que ele se tornou bastante inconveniente ultimamente, fazendo muitas perguntas."

"Eu preciso vê-lo." Ela estacou.

"Impossível. Eles o estão interrogando nesse minuto. E assim que eles acabarem vão enviá-lo para o Mar do Norte."

"Eu exijo isso!" Claire olhou para ele tão arrogantemente quanto conseguiu. "Existem coisas que preciso perguntar a ele. Coisas de trabalho." ela reforçou. Talvez se eles pensassem que Sirius estava envolvido nos negócios da Winterstorm… Mas Olsen sabia que ela era a única que tinha autoridade para dispor da fortuna Winterstorm. "Eu preciso falar com ele."

"Sobre o quê?"

Ela respondeu entre os dentes. "Pettigrew o acusou de ser Sirius Black apenas alguns segundos antes dos Aurors Aparatarem."

"Eu ouvi falar disso."

"Bem, ele é? Ele realmente é um assassino?"

Olsen franziu a testa. "Isto é possível. Existem feitiços, muito elaborados, que podem distorcer um rosto de forma a não ser reconhecido por ninguém. Os velhos de Hogwarts poderiam, provavelmente, conseguir isso."

"Sirius Black!" Ela colocou todo o desprezo de uma mulher traída na voz. "Eu preciso ouvir por mim mesma que ele me enganou todo esse tempo."

Ben Olsen deu de ombros e foi falar com um dos Aurores. Primeiro o bruxo recusou e depois Olsen passou a ele um pequeno pacote. Poucos minutos depois Claire era levada a uma sala sem janelas e nem móveis, exceto por uma mesa e duas cadeiras. Obviamente esta sala era usada para interrogatórios.

Sirius estava sentado em uma cadeira, as mãos amarradas nas costas, com cordas mágicas.

Ela se virou para Olsen. "A sós." O tom de voz dela não deixava dúvidas de que ela não permitiria que ele ficasse e ouvisse.

"Cinco minutos." avisou o conselheiro e fechou a porta.

Claire sentou na cadeira em frente a Sirius.

Ele sorriu levemente. "Que azar, não?" ele disse. "A Marca diz que eu sou um Comensal da Morte, e eu não posso falar a eles quem eu realmente sou."

Ela não disse nada, apenas olhou para ele.

Não vai demorar muito, Claire." Mesmo agora ele tentava confortá-la. "Eles dizem que o beijo do Dementador não causa dor. Mas mesmo que eles tirem tudo de bom que há em mim, tudo de bom que tenha acontecido na minha vida, você vai ser a última coisa de que eu vou me lembrar."

"Você é patético, Sirius." Claire deu a ele um sorriso de desdém. "Eu sei que você pensa que me ama, mas você amaria qualquer mulher que lhe oferecesse um jantar e um corpo desejável, não amaria?"

Ele olhou para ela.

"Narcissa me contou sobre suas namoradas na escola. As perdedoras. As fracas. Você as escolhia porque ninguém perceberia como você era fraco. Apenas não forte o suficiente para conseguir uma menina que não precisasse desesperadamente ter alguém com a sua aparência e reputação."

"Você está certa." A voz dele estava vazia de emoção. Onde ela esperava que ele ficasse incrédulo, houve uma terrível aceitação nos olhos dele, como se ele temesse essa explosão há muito tempo e estivesse quase aliviado que ela estivesse acontecendo.

"E então você casou comigo. Um aborto Você não tinha nada a oferecer. Tudo o que eu esperava de você era que me protegesse. Dumbledore disse que você seria meu guarda costas." Ela deu de ombros. "Eu tinha minhas dúvidas, eu lembrava de você bem o suficiente da escola."

Levantando da cadeira ela se virou de costas para ele não ver seu rosto. "E agora veja onde você me colocou. Você não conseguiu impedir que eu viesse parar nesse lugar horrível. Apenas como não pôde proteger o Potter e sua esposa. Por Godric! Apenas pensar que eles fizeram de você o padrinho de Harry! Eles não tinham idéia da pessoa a quem eles estavam confiando a criança." Claire o encarou com os punhos cerrados. "Mas eu sei. Eu vou proteger minha criança sozinha, eu vou protegê-la com toda a minha força."

Ela fechou os olhos e enfiou o punhal em cheio no coração dele. "Eu não preciso do seu amor."

E o girou. "Eu queria um bebê, isso é verdade. Mas para que eu precisaria de você agora?"

E abriu os olhos novamente para vê-lo sangrar…

"Minha criança vai sobreviver. Não vai morrer como seus irmãos, James e Lily. Todos de quem você cuida morrem. Mas não essa criança."

Sirius apenas ficou sentado ali, sem piscar, deixando sua alma livre para o assalto dela, sem defesa. Ela conseguira.

Os olhos dele estavam mortos.


Severus entrou na masmorra pela porta lateral para evitar os fantasmas que ficavam no hall. Laurel estava sentada esperando, embora ele tivesse dito a ela para ir para a cama e não se preocupar ou esperar por ele. Quando a porta abriu para a sala de estar e ele viu a luz acesa e a mulher sentada na cadeira, esperando perto do fogo, ele soube que estava em casa. Lá fora não havia nada além do mal e da destruição, mas aqui era seu lar. E essa era a mulher dele que, por razoes fora de sua compreensão, dizia que o amava...

Os olhos de Laurel se arregalaram quando ela viu o rosto cansado dele.

"Houve um chamado?" ela estava preocupada e colocou o livro de lado. Segurando o rosto dele com as duas mãos, ela tentou verificar se ele estava ferido. Ele não se moveu, apenas ficou ali, deixando que ela o acariciasse e se certificasse de que ele estava inteiro.

"Não houve um chamado." ele disse, sua voz suave de exaustão. "Foi algo pior."

"Pior?"

"Claire foi com Malfoy a uma cerimônia dos Comensais da Morte."

Ela ofegou chocada.

"Sirius recebeu a Marca." Ele ouvia o que estava dizendo e mal podia acreditar naquilo. Ele tinha visto Sirius sair da escuridão com a caveira rindo no antebraço dele. Ele tentava se lembrar como se sentira quando tinha recebido a Marca de Comensal da Morte tantos anos atrás, mas tudo o que ele podia lembrar era da dor. Mesmo agora, com seu braço entorpecido pela poção, a Marca parecia queimá-lo por dentro.

Ele sacudiu a cabeça para afastar a lembrança. "Eles dois foram presos, Laurel." ele sussurrou com voz rouca. "Eu não pude ajudá-los." Ele suspirou e quase caiu. "Merlin, eu sempre odiei Black, mas eu não queria que isso tivesse acontecido!"

"Eu sei." Laurel o puxou para seus braços e acariciou o cabelo dele. "Eu sei."

Ela ouviu um leve sussurro embaixo da capa de Snape, mas ele não reagiu. Então Laurel cuidadosamente puxou o material pesado para trás e viu a pequena trouxa que ele havia pendurado no braço entorpecido, de forma a permitir que ele segurasse a vassoura com a mão direita.

"O que é isso?" Laurel desamarrou a trouxa. "Severus, isto é uma criança! Onde a encontrou?"

Ele esfregou a testa. "Pettigrew estava quase sacrificando a criança quando os Aurores chegaram no cemitério."

Laurel tirou o pano de cima do corpo da criança. "Ele está inconsciente."

"Dormindo um sono sem sonhos." Severus murmurou e caiu na cadeira perto do fogo. "Houve uma grande confusão no cemitério. Tempo suficiente para me esgueirar e pegar a criança antes que Pettigrew percebesse."

Laurel acariciou os cachos do menino. Ele estava morno, mas não tinha febre. Severus era o único que parecia estar com febre. Ela embrulhou a criança em um cobertor e foi para o quarto, onde ele o colocou em uma cama improvisada em uma cesta da lavanderia.

Quando ela retornou à sala de estar, Severus ainda estava sentado onde ela o deixara, trêmulo de exaustão."Seu braço está doendo." ela disse suavemente. "E você está queimando."

"Sim."

Apenas por saber que não precisava fingir na presença dela, era um grande alívio. "Eu sinto como se um dragão tivesse sugado o melhor de mim."

Laurel conjurou um pano úmido e uma garrafa de água, que ele bebeu como um homem morrendo de sede. "Para que eles precisariam de um garotinho?" ela perguntou suavemente enquanto ela limpava o rosto e as mãos dele da poeira e da fuligem.

"O sangue dele." Severus estava quase dormindo. "Preciso falar com Dumbledore. Encontrar uma maneira de libertar esses dois idiotas."

"De manhã." Laurel beijou a testa dele. "Agora você vai para a cama dormir. Não há nada que possamos fazer por eles agora."


Claire manteve a cabeça erguida, quando Olsen a guiou pelos longos corredores do Ministério. Ela fingiu ter medo de voar como ela havia feito quando Malfoy havia ido buscá-la. Olsen a levou em sua vassoura com ele e ela segurou nos ombros dele e fechou os olhos. O vento frio noturno a ajudou a se concentrar no que precisava ser feito. Quando o sol se levantava no Leste, Olsen aterrissou em frente à Mansão Winterstorm.

"Muito obrigada." Claire disse polidamente. "Eu o convidaria a entrar, mas é muito cedo e meu marido acaba de ser preso. Eu não quero que a vizinhança comece a falar."

"Claro." Olsen abaixou a cabeça. "Eu espero que da próxima vez que nos encontrarmos seja sob circunstâncias mais agradáveis."

"O que vai acontecer com Siri… a meu marido?"

"Sem dúvida ele já foi para Azkaban a esta hora." Olsen deu de ombros e subiu na vassoura. "Malfoy me disse que foi realmente um casamento de conveniência. Mas você carrega uma criança sangue puro e ela precisa de você agora, o Sr. White não é mais necessário, estou correto?"

Ela deu a ele um sorriso frio. "Meu casamento não é da sua conta, Sr. Olsen."

"Ben." Ele levou a mão dela aos lábios e a beijou. "Você está certa. Seu casamento não é da minha conta, mas a sua viuvez, será. Apenas considere o quanto você poderia crescer no reino do Lord das Trevas com o bruxo certo ao seu lado."

"O bruxo certo. Seria você?"

Ele sacudiu a cabeça. "Eu tenho que desapontar você, Claire. Mas tenho minhas esperanças em outra pessoa. Mas tenho certeza de que Voldemort em pessoa vai querer arranjar alguém para você. Um bruxo com cabeça para os negócios. E com uma boa árvore genealógica." Sem dúvida.

Ele levantou vôo e desapareceu por trás do telhado da Mansão.

Por um momento, Claire apenas ficou parada, olhando para o vazio. Ela se sentia como se tivesse ficado muito mais velha, desde quando saíra de sua casa. Suspirando, ela virou e subiu as escadas, passo a passo, e sabendo que apenas quando se sentisse segura dentro de casa, que fechasse a porta atrás de si, ela poderia chorar toda a tristeza que havia em seu coração.

Continua

NT: Ok, não demorou tanto assim... o próximo capítulo acabei de mandar para a beta. Depois, mais dois capítulos só até o final dessa parte... Talvez os dois últimos eu poste junto, e por isso pode demorar um pouquinho mais... (levando em conta que estou cheia de trabalhos finais da faculdade agora). Mas se tudo der certo, não mais de 3 semanas para estar com tudo traduzido...