15. Tempo Comprado

Severus acordou assustado. Ele havia sonhado com o cemitério. A voz de Voldemort chamando por ele, incitando-o a se juntar à escuridão novamente.

Sua mão procurou por Laurel, para se aquecer no calor dela, mas a cama estava vazia, e os lençóis frios. Ele devia ter dormido demais. Gemendo, ele saiu da cama e foi tomar um banho frio. Precisava relatar a Dumbledore o que tinha aconteceu, e então encontrar uma forma de tirar Claire e Black do Ministério, antes que alguém descobrisse a verdadeira identidade de Black.

Quando ele entrou na sala de estar, um som estranho fez que ele parasse perto da porta. Laurel estava sentada em uma cadeira perto da janela que ele havia conjurado na parede da masmorra, e fazia cócegas na barriga do menininho, que ria com prazer.

A cena doméstica fascinou e ao mesmo tempo causou repulsa em Severus. Ele havia esquecido completamente sobre o menino que havia trazido na noite anterior. Mas, claro, o menino estava vivo e precisava ser alimentado e cuidado, pelo menos até seus pais serem encontrados.

"Severus." Laurel sorriu para ele e se levantou, deixando a criança sentada de lado em seu quadril. O menino sorriu para ele com grandes olhos castanhos e pegou a varinha dele com sua mão gordinha. Severus recuou. Ele não tinha experiência com crianças pequenas, mas tinha certeza de que uma varinha não servia como brinquedo.

"Nós acabamos de tomar café." Laurel beijou a testa do menino.

"Nós?" Ele não conseguiu evitar o sarcasmo em sua voz.

Ela riu. "Horrível, não é? Me bata quando eu começar a cantarolar."

O menino bateu no nariz de Severus, e segurou o cabelo dele com força surpreendente.

"Nós podemos ficar com ele por enquanto?"

Ele suspirou silenciosamente e tirou os dedos da criança do seu cabelo. Ele a conhecia muito bem agora e se angustiou pela forma como ela mantinha a voz cuidadosamente vazia de esperança. Eles tinham falado sobre filhos e apesar dele não estar ansioso para se tornar pai, ele não tinha rejeitado completamente a idéia. Mas apenas não tinha acontecido ainda. E com a gravidez, ele pensou enquanto ele tomava café, ele pelo menos teria nove meses para se preparar para o inevitável.

"Ele tem uma mãe e um pai esperando-lhe em algum lugar." ele lembrou a Laurel com gentileza. "penas imagine como eles devem estar apavorados agora."

Ela fez cara de forte. "Eu sei." Então, colocando a criança no tapete, ela pegou a mão de Severus e a colocou no rosto dela. Silenciosamente contando suas bênçãos ela permaneceu daquele jeito por um momento. Quem haveria de imaginar a um ano atrás que ele aceitaria o toque dela tão facilmente? Paciência era a palavra chave. Haveria um bebê deles mesmos. Um dia.

"Nós precisamos encontrá-los, você está certo."


Quando Severus entrou no escritório do Diretor uma hora depois, ele encontrou o velho bruxo e Remus Lupin sentados em frente ao fogo.

"Ah, Severus." Dumbledore ofereceu a ele a terceira cadeira. "Eu espero que a criança que você resgatou ontem à noite esteja bem."

Snape tinha parado de se perguntar como o velho bruxo sabia certas coisas.

"O menino está bem, Laurel está tomando conta dele agora." ele reportou. "Nós temos que descobrir quem são os pais dele e devolvê-lo."

"Uma criança?" Remus estava pálido, obviamente não tinha dormido muito. Já exausto da recente transformação, seu rosto mostrava profundas linhas de exaustão. "Onde você encontrou uma criança?"

Severus contou a ele em poucas palavras sobre o que acontecera no cemitério.

"Para que eles precisariam do sangue da criança?" Remus franziu a testa.

"Eu tenho uma teoria, mas nesse momento precisamos lidar com as prisões de ontem à noite."

Dumbledore ergueu a mão.

"Um Auror acaba de ser anunciado pelos elfos domésticos. Ele vai estar aqui em um minuto. Eu quero que você e Remus estejam presentes e ouçam o que ele tem a dizer."

Quando a porta abriu, os olhos de Remus se arregalaram com a surpresa.

"Cas!"

O Auror sorriu de leve. "Remus Lupin. Eu deveria saber que você estaria aqui." Ele olhou para o outro bruxo. "Snape." Ele franziu a testa. "O que é isso? Uma reunião de ex-alunos?"

Dumbledore estendeu a mão. "Castor Black. Já faz muito tempo."

Castor concordou gravemente. Ele era menor que seu irmão mais velho, mais magro também, mas seus vívidos olhos azuis traíam o parentesco. Ele usava uniforme com duas estrelas no colarinho e não lembrava o jovem bruxo que havia sido um dos melhores tocadores de guitarra que Hogwarts tinha visto. A perpétua travessura em seus olhos havia desaparecido, e agora só havia sinceridade e cansaço.

"Eu acredito que você já saiba o que aconteceu na noite passada." ele disse, dirigindo-se a Dumbledore. "Eu lembro que você sempre sabia das coisas, mesmo quando nós nos esforçávamos para manter segredo."

O Diretor baixou a cabeça. "Eu sei que os Aurores prenderam um membro da minha

Diretoria e a esposa dele, e os acusaram de conspirar com Voldemort contra nós."

Castor estremeceu quando ele ouviu o nome. "Um membro da Diretoria…" ele repetiu cuidadosamente. "Seria o meu irmão?"

Remus riu. "Sirius? Cas, você está maluco? Você sabe que ele desapareceu desde a fuga de Azkaban. Você realmente pensa que ele podia invadir a Diretoria de Hogwarts onde todos o conhecem tão bem?"

"Até ontem à noite, eu achava isso impossível." admitiu Castor. Ele mexeu nas mangas de suas vestes e pegou um pedaço de plástico. "Mas então eu encontrei isso embaixo dos pertences de um Comensal da Morte chamado White. Ele tinha acabado de ser trazido para interrogatório."

Dumbledore olhou para o pequeno quadrado que Castor entregou a ele. Era uma fotografia Trouxa de Sirius e Claire, ambos sorrindo para a câmera.

"Eu perguntei aos Aurors que o prenderam e eles não o reconheceram. Mas eu, sim. Era o meu irmão, não importa que Feitiço vocês tenham usado para distorcer o rosto dele, ou o nome falso que ele esteja usando agora."

"Mas até onde me lembro, você estava convencido de que seu irmão era um assassino e Comensal da Morte. Então por que você não o denunciou agora que o reconheceu?" Severus arqueou as sobrancelhas.

Exasperado Castor explicou: "Sim, eu pensei que ele era culpado naquela época. Mas eu tive muitos anos para procurar provas. Se o Ministério descobrisse a verdadeira identidade do Professor White, eles fariam com que os Dementadores administrassem o beijo nele naquele momento. Sem julgamento ou oportunidade de defesa. Então eu resolvi fazer algumas investigações e fiquei calado."

Dumbledore sorriu agradecido. "Bem pensado, Castor."

"Então é verdade? Foi Sirius que eu viu ontem à noite?"

"Sirius e a esposa dele." confirmou Dumbledore. "A bruxa na fotografia é Claire. Ela e seu irmão se casaram há alguns meses atrás."

"Você pode nos ajudar a tirá-los do Ministério?" perguntou Remus. "Deve haver alguma forma. Claire está grávida e não pode ficar muito tempo em uma cela. E você pode imaginar como é perigoso para Sirius."

"Ministério? Ele está em Azkaban."

"O quê?" Remus gritou, chocado. "Como…"

"Espere!" Castor levantou a mão para calar Remus. "Eu acho que mereço algumas explicações. Primeiro, meu irmão usa a Marca de Vol…Você-sabe-quem no seu braço.Eu vi isso através da parede na sala de interrogatórios."

"Ele é meu espião." Dumbledore falou calmamente.

Mas Castor não desistiria tão facilmente. "Segundo, a esposa dele não está mais presa, o conselheiro dela a liberou ontem."

"Conselheiro?"

"Um cara chamado Olsen."

"Ben Olsen." Snape se levantou, branco de fúria.

"Os Aurores não conseguiram nenhuma prova de que ela participara do encontro. Olsen explicou que ela havia sido levada pelo marido sob falsas alegações. Então eles a deixaram ir."

Remus deu um grande suspiro de alívio. "Então, Claire está a salvo."

"Ela está a salvo." confirmou Castor e olhou para a foto que Dumbledore ainda segurava. "Siri é realmente marido dela?"

"E o pai da criança." disse o Diretor. "Por que você pergunta?"

O jovem Auror passou a mão pelo cabelo, confuso. "Porque eu ouvi a conversa dela com meu irmão antes de ser libertada." Ele franziu a testa com a lembrança. "Merlin, que cadela."

Remus e Severus olharam para ele. Castor sentou em uma cadeira que o Diretor oferecera e contou a eles o que Claire tinha dito a Sirius, palavra por palavra como se aquilo tivesse ficado gravado em sua mente. Quanto mais eles ouviam, mais seus rostos ficavam frios. Quando ele parou de falar, houve um momento de silêncio na sala.

Então Dumbledore se levantou.

"Remus, tenha a gentileza de pedir a Miss Kennedy para voar a Hogsmeade e pedir a Claire para vir falar comigo. Imediatamente." Ele acenou para Castor. "Você deve estar com fome. Os elfos vão servir café da manhã para você."

Severus viu com preocupação como o Diretor parecia frágil e cansado de repente. "Albus, deixe-me…"

"Vocês devem me dar uma hora para pensar." Dumbledore sacudiu a cabeça e fechou os olhos demonstrando cansaço. "Até Claire chegar aqui e nos falar do ponto de vista dela."


Serene estacionou a vassoura em frente à Mansão Winterstorm e correu escada acima. Remus estava de péssimo humor e ela não perguntara porque ele precisava ver Claire com tanta pressa, mas tinha feito o que ele pedira a ela. Para variar.

Ela não havia se surpreendido ao ouvir que Claire havia sido liberada pelos Aurors. Mas ela acreditava nas próprias visões - apesar de ninguém mais parecer acreditar, ela pensou amargamente - e não tinha visto Claire em Azkaban, apenas Sirius. Ela bateu à porta, e enquanto normalmente na Mansão Winterstorm os elfos fossem muito atenciosos, demorou muito tempo para que a porta fosse aberta por uma elfa de rosto verde muito cansado, com os olhos azuis espantados, olhando para ela.

"Srta. Serene!" Peagreen soluçou e abriu mais a porta. "Oh Srta. Serene, faça alguma coisa com a Srta. Claire!"

Serene entrou no hall. A Mansão estava silenciosa como um túmulo.

"O que está acontecendo?" ela perguntou a Peagreen. "Onde está a sua senhora?"

"Ela está na cama!" A elfa pegou a mão dela e a puxou pelas escadas. "Você precisa subir e falar com ela. Já são onze horas e a Sra. Claire está na cama!"

"Ela está doente?" Serene perguntou preocupada. "Está ferida?"

Os olhos de Peagreen se arregalaram ainda mais. "Ela diz que está com frio. Mas ela não quer chá, nem chocolate, nem café, nem cerveja amanteigada, nem leite, nem suco de hortelã." Ela falou depressa, jogando as mãos e para cima, mostrando exasperação. "Nós tentamos. Nós realmente tentamos."

"Está tudo bem. Deixe-me falar com ela." Serene bateu na porta do quarto de Claire, mas Peagreen a empurrou para outra porta no mesmo corredor.

"Ela está no quarto do Sirius dela!" A elfa sussurrou e empurrou Serene pela porta.

Levou alguns momentos para ela se adaptar à luz fraca. Ela quase se virava para sair, porque o quarto parecia vazio, quando ela notou alguma coisa no canto entre a cama e a parede.

Cuidadosamente ela se aproximou da mulher encolhida no chão, com o rosto escondido nas mãos. Claire quase desaparecia no casaco de couro de Sirius. Ela tremia, mas quando Serene com gentileza tirou os dedos dela do rosto, seus olhos estavam secos. Ela parecia congelada, petrificada...

"Claire?" perguntou Serene, não sabendo o que fazer. "Você está doente?"

Ela não recebeu resposta. Hesitante, ela a sacudiu.

"Vá embora." A voz não era mais que um sussurro.

"Você precisa se levantar! Apenas olhe para você." Serene ajoelhou perto dela. "Seus elfos estão malucos de preocupação."

Claire suspirou.

"Dumbledore quer ver você. Parecia muito urgente." Serene agarrou o pulso de Claire e a puxou para cima. "Aconteceu, não foi?"

"Sim." Claire sentou devagar, cada músculo doendo. Ela não tinha idéia de quanto tempo ficara ali, deitada no chão. Tudo o que ela podia lembrar era de ter entrado na casa, andado direto para o quarto de Sirius e colocado a jaqueta de couro dele em volta do corpo, como se fosse uma armadura.

"Sim, aconteceu."

Serene olhou para ela e disse com sinceridade. "Eu sinto muito."

Quando Claire saiu do chuveiro, Serene tinha posto algumas roupas de baixo para ela em cima da cama, e agora usava sua varinha para secar o cabelo da amiga. Claire tentou pentear o cabelo, enquanto Serene procurava roupas para ela no guarda roupa.

"Eu não quero ver Dumbledore." Claire suspirou. "Eu cometi um erro terrível e ele por certo vai brigar comigo pelo que eu fiz."

"Você não é mais uma criança. Você tem que assumir o que você fez. Você não pode deixar que eles a façam se sentir culpada."

"Eu sei. É que… Esses dias têm sido muito difíceis. Sirius e eu… nós brigamos. E quando nós estávamos para fazer as pazes, ele foi preso."

"Oh, por favor! Você está lamentando-se por causa de uma briga boba que vocês tiveram? Ele ainda é doido por você, está tão claro que todos podem perceber."

"Ele não é. Não mais." Claire sentiu o aperto, agora tão familiar, em seu coração, quando lembrou dos olhos mortos de Sirius. "Eu… me certifiquei disso."

"Bem, você vai ter que fazer as pazes com ele então. Pare de ficar com pena de si mesma, vista-se e vamos para Hogwarts!"

Claire parou de trançar o cabelo e deu um olhar amargo para Serene.

"Eu não sou tão dura. Eu não sou… como você!"

Sua voz era acusadora.

Serene olhou para ela, com a testa franzida. "O que você quer dizer com isso?"

"Você beija Remus um dia, e o chuta no próximo. Mas eu não consigo fazer isso."

O lábio inferior de Serene tremeu e, para surpresa de Claire, os olhos dela, de repente, se encheram de lágrimas... "Eu posso chutá-lo." ela disse muito suavemente, mantendo os olhos no conteúdo do guarda roupa. "Mas eu nunca o beijei."

Claire olhou espantada para ela. A confissão da bruxa ruiva a atingiu como um tapa, deixando-a completamente atônita. "Você nunca o beijou?" ela gaguejou e largou a roupa que estava segurando. "Mas eu pensei… ele não pediu você em casamento?"

Serene escolheu duas meias. "Pediu."

"Ele pediu você em casamento e vocês nunca se beijaram."

"Remus é um lobisomem." Serene virou e agora Claire notou com pena que ela estava chorando. "Ele meteu na cabeça a idéia de que eu sou a companheira da vida dele. Ele diz que sabe disso. Ele não precisa de provas."

"E você?" a voz de Claire havia perdido a amargura.

"O quê?"

"Precisa de provas?"

Serene secou as lágrimas do rosto com a manga. As roupas estavam arruinadas de qualquer forma, já que a criança de Laurel havia sujado tudo de banana.

"Eu disse a você, é apenas uma idéia em que Remus continua insistindo. Ele vai superar isso." Suspirando ela jogou um xale para Claire. "Eu apenas faria dele um homem infeliz."

"Mas se ele quer tanto você…"

"Eu beijei um monte de homens, e isso nunca significou nada. Mas para Remus isso significaria o mundo. Por isso eu não o beijarei..." Assoando o nariz, Serene apontou para o relógio na cômoda. "Fim da discussão, se você não se importa. Dumbledore está esperando."


Claire entrou no escritório de Dumbledore e se viu frente a frente com três jovens bruxos que olhavam para ela acusadoramente, e Dumbledore cujos olhos estavam escuros com a dúvida.

Antes que ela pudesse dizer uma palavra, Remus Lupin pulou e a agarrou pelos ombros e a sacudiu com tanta força que a cabeça dela quase bateu na pilastra.

"O que há de errado com você, mulher? Como você pôde fazer isso com ele?" O rosto dele estava pálido de raiva. "Merlin, saia da minha frente, ou eu juro que vou machucar você tanto quanto você machucou Sirius!"

Claire não ousava se mexer. Os olhos dele estavam âmbar, e pela primeira vez ela teve uma noção da fera que vivia nele. Os cabelos de sua nuca se arrepiaram.

"É o suficiente, Remus." a voz de Dumbledore era macia, mas imperiosa o suficiente para fazer o jovem bruxo recuar e largar os ombros de Claire.

Por um momento eles ficaram olhando-se, então Remus sacudiu a cabeça amargamente.

"Ele amava você." Seus olhos falavam a ela da dor que ele sentira pela traição ao seu melhor amigo. "Você foi a primeira mulher que ele amou de verdade. Você devia tê-lo matado ali mesmo. Teria mostrado mais piedade."

"Remus."

Ele olhou para cima e encontrou o olhar de Serene. Calmamente ela estendeu a mão para ele. "Venha."

Como um sonâmbulo ele permitiu que ela o levasse para fora do estúdio.

Quando a porta fechou atrás deles, Claire ainda tremia pelo súbito ataque. O gentil e doce Remus Lupin, que sempre tinha uma palavra amigável para todo mundo… Agora ele a odiava. Quando ela olhou para Severus, ela viu o mesmo desdém. Até mesmo Dumbledore deu a ela um olhar severo que ele reservava para alunos que o tinham desapontado.

O terceiro bruxo na sala ela nunca havia visto, mas lhe parecia familiar.

"Sente-se, Claire."

Dumbledore apontou para uma cadeira em frente à sua escrivaninha. Claire sacudiu a cabeça teimosamente. Ela não tinha intenção de sentar como uma ré diante do júri.

"Eu prefiro ficar de pé."

"Como quiser." O Diretor suspirou. Ele acenou para o bruxo desconhecido. "Castor?"

"Esta é minha cunhada?" O Auror olhou para Claire com curiosidade. "Você é a esposa de Siri?"

Claire engoliu em seco. Então esse era Castor Black, o único irmão de Sirius que estava vivo. O Auror que tinha ajudado a prender o próprio irmão quinze anos atrás quando todo mundo estava convencido de que ele era o responsável pela morte dos Potter. A semelhança com Sirius estava lá, em volta dos olhos, no queixo determinado. Mas o cabelo era mais para marrom do que para preto, e cacheado, até onde começava o colarinho das vestes que ele usava como uniforme.

"Eu sou Claire. Sim, eu sou esposa do seu irmão."

"Que esposa!" Severus murmurou.

Claire cruzou os braços sobre o peito, na defensiva. Ela sabia que essa reunião seria difícil, mas não tinha antecipado a hostilidade vinda de todos os lados. Onde estava Laurel quando ela precisava dela? Sua amiga teria entendido - ou pelo menos dado a ela o benefício da dúvida.

Silenciosamente Remus e Serene retornaram e ficaram perto de Severus.

Castor deu a Claire um olhar hostil. "Eu ouvi cada palavra que você disse a Sirius. E o seu conselheiro também."

"Mas…"

"Ben Olsen é um telepata, ele pode ler a sua mente se suas defesas não estiverem erguidas." explicou Dumbledore.

"Não." Castor sacudiu a cabeça. "Ele não precisou ler a mente dela. Era uma cela de interrogatório. Claro que havia uma câmara adjacente de onde podíamos ouvir cada palavra dita lá dentro."

"Você sabia disso, Claire?" Dumbledore deu uma chance a ela. "Você sabia que eles podiam ouvir você? Foi por isso que você agiu de forma tão estranha? Para eles não descobrirem quem Sirius realmente é?"

Claire oscilou. Ela não tinha pensado na possibilidade de Olsen ler a mente dela, nem dos Aurores ouvirem a conversa dela com Sirius. Será que isso mudaria alguma coisa, ela se perguntou. Provavelmente não. O que ela havia feito fora para salvar a vida de Sirius, não a falsa identidade dele.

"Não." Ela mal podia falar. Desesperadamente ela tentou conter as lágrimas. Ela ainda não tinha chorado. Ela não tinha chorado a dor, nem a desolação. A pressão pela qual havia passado, tinha mantido suas emoções congeladas desde que saíra do Ministério. Mas agora a barreira tinha sido quebrada e ela explodiu em lágrimas.

Dumbledore se levantou depressa e deu a volta à escrivaninha para aconchegá-la entre seus braços. Por um momento ela se permitiu ser abraçada e confortada pelo velho bruxo.

"Claire, conte-nos o que aconteceu." ele perguntou consolador.

Ela tentou se afastar, mas ele a segurou com força surpreendente.

"Eu o amo." A voz dela era apenas um sussurro.

"Então por que você disse a ele que não precisava mais dele?" Castor franziu a testa para ela. Dumbledore fez com que ela olhasse para ele. "Claire?"

"Eu o amo." ela repetiu impotente.

"Ama!" a voz de Remus soou como um tapa. Serene colocou a mão no ombro dele para acalmá-lo, mas ele a afastou. "Você sabe como ele é. Você sabe como foi difícil ele aprender a confiar em você, como ele lutou…"

Alguma coisa na voz dele fez a última barreira de Claire desmoronar. A raiva surgiu como uma onda.

"Pare!" ela gritou para ele. "Droga, Remus, apenas cale a boca! O que você sabe? Que alternativa eu tinha?" Manchas vermelhas apareciam no rosto dela. "Eu tinha que escolher entre poupar os sentimentos dele e salvar sua vida. E eu escolhi poupar a vida dele!"

Os olhos de Remus se arregalaram. "Claire…"

"Eu queria que ele vivesse! Isso é tudo o que importa. Sim, ele vai me odiar pelo que eu disse. Eu sei disso. Mas ele vai sobreviver. Os dementadores não vão tocar nele se ele não tiver um pensamento feliz." A voz dela se partiu.

"Mas como você podia saber que ele ia ser levado para Azkaban?" perguntou Castor Black. Ele realmente não entendia o que estava acontecendo.

"Ela reconheceu as roupas que ele estava usando." Serene saiu de perto de Remus. Ela procurou o rosto de Claire, seus olhos sérios e atentos. "Não reconheceu?"

Claire limpou as lágrimas com as costas das mãos. "Foi puro horror. Primeiro os Comensais da Morte, Voldemort, a Marca Negra. Merlin," ela chorou quando se lembrou da noite anterior. "eles iam sacrificar um bebê!"

"A criança está em segurança." disse Snape friamente. "Continue falando."

"Eu sabia que Sirius tentaria matar Pettigrew. E então os Aurores chegaram. Não havia maneira de fugirmos do cemitério com Sirius estrangulando Peter. Ele já tinha me dito antes que não iria para Azkaban vivo. Mas eu sabia que Serene tinha visto Sirius em Azkaban, vestindo as roupas que ele estava usando no encontro. E agora, Remus Lupin." ela falou por entre os dentes. "Diga-me o que você acha que eu devia ter feito."

Eles olharam para ela, a compreensão chegando a seus rostos.

"Eu o distraí. Fiz com que largasse Peter e viesse me ajudar, não pensando em seu destino. Então os Aurores o pegaram de surpresa."

"E então a visão de Serene se tornou realidade." Dumbledore suspirou em desespero.

"Mas eu sabia de antemão." Claire explicou. "Eu sabia que eles o levariam para Azkaban, e eu tive tempo suficiente para elaborar um plano."

"Um plano?" Castor sacudiu a cabeça. "Se seu plano era deixar Sirius infeliz, você fez um excelente trabalho."

"Ela tirou toda a alegria dele antes que os Dementadores fizessem isso." os braços de Remus caíram e seus joelhos cederam. "Eu sinto muito, Claire." ele sussurrou. "Eu… Eu não pensei. Apenas senti."

"Eu comprei tempo para ele. Umas poucas semanas talvez." Claire cerrou os punhos. "E eu sei que vou pagar caro por isso."

Severus se levantou de sua cadeira e foi até ela. Curvando a cabeça num pedido de desculpas, ele não precisou dizer nada para demonstrar que ele sentia muito tê-la julgado mal, também.

"Ele nunca vai confiar em você novamente." Ele colocou a mão no braço dela. "Pelo menos eu não confiaria. Não se você fizesse isso comigo."

"Eu sei. Eu destruí tudo o que nós tínhamos." Ela olhava para o vazio. "Mas ele vai continuar vivo."


Sirius estava deitado no chão de pedra em um canto de sua cela em Azkaban e falava enquanto dormia. No minuto em que ele voltara para a prisão, as vozes em sua cabeça começaram a pedir novamente, e deixaram-no sem defesas, o que ele aceitou quase com alegria. Qualquer coisa era melhor que aquela dor terrível em seu coração, mesmo sabendo que dessa vez a loucura iria dominá-lo. Quando ele não conseguia dormir, ele olhava para a parede, para fora do buraco com a grade. Mas nunca havia nada para ver, além da névoa e ventos de tempestade.

Nos momentos em que ele ficava consciente o suficiente para pensar em sua situação, ele tentava pensar em uma maneira de fazer com que os Dementadores o notassem - então eles terminariam o que Claire tinha começado. Mas aqueles momentos se tornaram cada vez mais raros, e em breve não haveria nada além de dor e desesperança.


Uma semana depois da noite desastrosa no cemitério, Claire estava sentada com Remus e Harry no campo de Quadribol. Eles haviam decidido contar a Harry a verdade sobre a prisão de Sirius. Sirius era padrinho dele afinal de contas, e ele tinha o direito de saber.

Era difícil o suficiente para Harry mentir para todos o tempo todo e fingir que Sirius era o Professor White.

"Eu detesto ter que mentir para Ron. E Hermione é muito inteligente!" ele suspirou. "Ela vê tudo, e eu tenho medo que ela já saiba a verdade e apenas esteja esperando que eu confesse."

"Eu sinto muito, Harry." Remus lembrou do olhar de Hermione quando queria saber alguma coisa, e como ela rapidamente tinha concluído que ele era um lobisomem. "Mas é necessário. Quanto menos pessoas souberem quem é o Professor White, melhor."

"E você sabe de uma coisa?" Harry quase cuspiu com aborrecimento. "Ginny Weasley tem uma queda por ele. Desde a festa de aniversário ela fica toda agitada quando o vê!" Desesperadamente ele passou a mão pelo cabelo. "Eu queria falar com Sirius sobre… coisas. Mas agora parece tudo tão inútil, tão sem importância comparado com o que aconteceu."

"Está tudo bem." disse Claire e deu a ele um leve sorriso. "Eu tenho certeza de que isso o deixaria embaraçado de qualquer forma. Mas você sabe que ele gosta de você. Ele sempre vai ter tempo para ouvir você. Quando ele voltar…" ela terminou a frase sem muita certeza.

"Por que ele foi preso?"

Claire estremeceu. Se ela apenas tivesse obedecido quando Dumbledore a avisara para não ir a reunião dos Comensais da Morte. Se apenas ela tivesse ficado em casa aquela noite ao invés de ter tido o pensamento idiota de que poderia fazer aquilo sozinha. Sirius estaria a salvo e feliz agora.

"Foi minha culpa." ela admitiu timidamente. "Ele tentou me ajudar quando a multidão ia passar por cima de mim."

"Ele sempre faz coisas assim, não é?" Harry bateu em sua coxa com raiva.

Remus se levantou e esticou os braços. Então ele olhou para o menino, recostado na arquibancada. "Você sabe que Dumbledore uma vez falou sobre uma teoria em que os Marotos não eram para ser James, Sirius, eu e Peter, mas nós três e Severus?"

"Snape?" Harry tossiu.

"Essa também foi a minha reação." Remus sorriu zombateiramente. "Mas então ele me explicou e fez sentido. Se você nos olhasse como um time de Quadribol, então seu pai teria sido o Artilheiro. Sempre voando para frente, nunca olhando para trás. Eu seria o Batedor, tentando manter os ataques do inimigo longe do nosso time. Snape seria o Apanhador, observando, planejando, mas agindo rápido quando apropriado. E Sirius," ele olhou para Claire. "seria o Goleiro. Arriscando sua vida pelo que ele precisa defender. É apenas o jeito que ele é. Ele não pode agir de outra maneira."

Claire deu a ele um sorriso agradecido.

"Eu lembro da vez que o Dementador entrou no trem. Foi quando você veio para Hogwarts." Harry olhou para Remus. "Aquilo me deixou apavorado."

"Eu me lembro também. Eu estava apagado, uma vez que era o dia seguinte à lua cheia. E acordar encarando um Dementador não era exatamente o que um pobre lobisomem iria querer."

"Eles vão…" a voz de Harry tremeu. "eles vão machucá-lo em Azkaban?"

Remus respirou fundo. Ele não queria mentir para Harry, mas como ele iria contar a ele sobre o que Claire tinha feito para manter os Dementadores longe de Sirius por algum tempo?

"Ele já esteve lá antes." disse Claire calmamente. "E ele sobreviveu. Ele vai saber o que tem que fazer. Pelo tempo que for preciso."

"Eu sabia! Vocês vão tirar ele de lá!"

O menino olhou para os adultos e eles trocaram olhares de resignação diante da sinceridade dele.

Então Claire concordou e deu um rápido abraço nele.

"Nós vamos tirar Sirius de lá."


Levaram algumas semanas para desenvolver o plano louco de Claire nos mínimos detalhes. As datas precisavam ser marcadas, velhas dívidas a serem cobradas, subornos pagos e ameaças. Castor Black era a seu contato mais importante. Ele conhecia todos os papéis necessários e voltou a Hogwarts duas vezes para falar com Claire, Remus e Severus. Hagrid se juntou a eles para ajudar com o plano de fuga. Eles reviram os detalhes várias e várias vezes, até cada passo ter sido decorado. Eles só podiam tentar uma vez, e mesmo essa era muito arriscada.

"Principalmente para Lupin." explicou Severus a Laurel na noite anterior ao evento "Eu não estou em perigo imediato."

"Com certeza. Você entra em Azkaban, com todos aqueles Dementadores em volta, com a Marca Negra no seu braço, e não há perigo." Ela baixou seu garfo e decidiu que não estava mais com fome. "Você acha que eu sou estúpida, Severus?"

Ele se levantou e ficou atrás da cadeira dela. Puxando-a para cima, ele fez com que ela virasse para encará-lo. Seus olhos estavam escuros de emoção.

"Talvez. Estúpida o suficiente para me aturar todo esse tempo."

"Pare com isso!" Ela mordeu o lábio em desespero o que fez que ele tivesse vontade de beijá-la. "Nós uma vez prometemos que falaríamos a verdade. Eu tenho o direito de saber."

Ele soltou a respiração devagar. "Sim."

Segurando a mão dela ele a levou para a cadeira e sentou com ela em seu colo. Ele achava muito mais fácil conversar assim. "Os Dementadores não vão me ferir. Eu não brinco com o perigo. Lupin vai ficar com a pior parte do plano, mas isso não podia ser remediado." Ele beijou a testa dela. "Eu só vou me ausentar por umas poucas horas."

Ela suspirou.

"É melhor você voltar logo. Porque se você não voltar..."

"Se eu não voltar?"

"Eu vou ter que ir buscar você."


Remus Lupin subiu as escadas que levavam à Torre de Astronomia. Ele sabia que Serene estaria lá, em uma manta para preencher os mapas astrais para Sybil Trelawney. Ele tinha feito companhia a ela muitas noites lá em cima, a maioria das vezes conversando, às vezes apenas deitados de costas, observando as estrelas no firmamento.

Serene não virou quando ele silenciosamente desceu para a plataforma, mas levantou a mão para que ele esperasse enquanto ela fazia uma última anotação à luz da vela.

Então ela colocou os pergaminhos e a pena sobre a manta e deu a ele um leve sorriso. "Acabaram com os planos e conspirações?"

Ele não tinha contado a ela detalhes de como eles pretendiam libertar Sirius ainda. E agora era muito difícil falar. Sentado na manta perto dela, hesitante, ele esticou o braço.

Serene suspirou.

Do que Claire a tinha chamado? Dura?

Ela não era tão dura que não precisasse de conforto e proximidade de vez em quando. Ela era não tão dura que não sentisse o desejo de Remus naquele momento. Não podia fazer mal apenas ficar ao lado dele e abraçá-lo por alguns momentos.

Ela se inclinou e deixou a cabeça repousar no ombro dele. Ele relaxou gradualmente.

"Eu preciso falar com você." Remus disse suavemente.

"Não. Por favor, não." Serene olhou para o rosto sério dele. "Vamos apenas ficar sentados aqui por enquanto e não falar nem pensar."

Ele engoliu em seco e tocou o rosto dela com as pontas de seus dedos, com delicadeza. Se alguma coisa desse errado no dia seguinte, pelo menos ele teria a lembrança daquele momento.

Continua

NA: Mais um capítulo bem gordinho. Como eu disse, talvez os dois últimos capítulos sejam postados juntos, mas talvez não... Vai depender das minhas duas últimas semanas de aula e se vou ser capaz de traduzir o último capítulo inteiro até lá...

Gente, eu adoro receber os reviews da fic, e agradeço por cada um deles. Sempre me dá muito mais vontade de continuar traduzindo na maior velocidade possível. Mas entendam que se eu demorar pra postar um novo capítulo é porque eu tenho uma vida fora do computador. Eu tenho uma faculdade que não está fácil, eu tenho um namorado e eu tenho buscado um emprego no meu tempo livre... Tenham um pouco de paciência, por favor...