Título: Dia de los muertos
Ficwriter: Kaline Bogard
Classificação: lemon, violência explícita, RA
Pares: AyaxYohji
Resumo: Os Weiss viajarão para um novo país, a fim de ajudar uma equipe em apuros. Ou talvez eles é que precisem de ajuda.
Aviso: essa fic faz parte de uma trilogia chamada "Viagens" e é equivalente ao episódio 02 da saga (vindo logo após Nightmare). Em cada 'episódio' os Weiss estarão viajando para um país diferente. Não é preciso ler as três para entender a história, ou seja, as três são independentes.
Dia de los muertos
Kaline Bogard
2ª PARTE – Aparências enganam...
(Yohji surpreso) Leucemia?
(Ken) Não parece...
(Manolo) Descobrimos a pouco tempo. Acho que nem o próprio Paco digeriu o que isso significa. Conheço a doença e sei que logo nosso compañero precisará ir para um hospital e... teremos que aceitar o que está por vir...
A infelicidade nublou o semblante do líder mexicano por um segundo, mas logo Manolo se recuperou e tentou sorrir.
(Manolo) Não se preocupem. Estevão e eu estamos ao lado de Paco. Mesmo que ele se desespere, não deixaremos que desista.
Manolo saiu sem esperar mais comentários. Ken e Yohji se entreolharam em silêncio. Aquela equipe estava com grandes problemas, e em todos os sentidos. Como se não fosse suficiente enfrentar uma quadrilha bem equipada e organizada, agora um dos integrantes ficava doente.
Não havia nada que aliviasse uma descoberta dessas.
Estevão voltou para a cozinha e franziu as sobrancelhas ao ver o desanimo dos dois japoneses.
(Estevão) O que houve?
(Yohji) Já sabemos de tudo...
(Ken) Sobre Paco. E sentimos muito de verdade.
(Estevão) Como... descobriram?
(Ken) Manolo acabou de sair, e ele nos contou.
(Estevão) Por favor... não falemos sobre isso... e será que poderiam guardar segredo de Aya e Omi? É muito triste pra nós...
(Ken) Sim, claro.
Logo os três assassinos voltaram a se entreter com o almoço.
oOo
Quando não se tem nada para fazer o dia demora a passar. E não foi diferente daquela vez. Tanto os japoneses quanto os mexicanos estavam ansiosos pela chegada da noite, para poder colocar o plano em prática.
A um certo momento do dia o tédio de Yohji atingiu um ápice. Foi quando todos estavam sentados na sala, após o almoço. Era costume de Los Parvos fechar as lojas para a sesta. Os sete assistiam televisão sem nenhum ânimo. A verdade é que Ken, Manolo e Estevão dormiam sentados no sofá.
(Yohji) Er... Aya...?
(Aya) Hn?
O ruivo nem mesmo olhou para o amante.
(Yohji irritado) Poderíamos terminar de falar a sós sobre aquele assunto...?
Aya voltou os olhos para Yohji e prestou atenção nele.
(Aya) Que assunto?
(Yohji) AQUELE assunto, lembra? "Aquele"... aquele que a gente conversa de vez em SEMPRE... A-QUE-LE...!
Finalmente a ficha caiu e os olhos violetas de Aya brilharam com intensidade. Yohji estava falando sobre 'aquele' assunto... como não entendera antes?
(Aya) Claro.
Imensamente feliz, o loiro se pôs em pé e tomou a direção do quarto, sendo seguido pelo espadachim.
Omi e Paco, os únicos que ainda estavam acordados se entreolharam, ao que o mexicano balançou a cabeça inconformado.
(Paco) Não era mais fácil Yohji ter dito que queria dar umazinha?
(Omi)!!
O chibi arregalou os olhos e corou de leve. Paco não era nem um pouco bobo... muito pelo contrário!
oOo
Logo que chegaram ao quarto de Manolo, Aya tratou de passar a tranca na porta, enquanto Yohji sentava na cama.
(Yohji) Vem cá. Vou lhe fazer uma massagem. Quem sabe a hora não passa mais rápido?
Aya não disse nada, porém ficou intimamente mais que satisfeito. Seu amante tinha uma mão maravilhosa para aplicar massagens! Aquilo seria muito bom.
Obedientemente, o líder da Weiss tirou a blusa e estendeu-se ao lado de Yohji sobre o colchão.
(Yohji) Veja isso...
Mostrou vitorioso um vidro com creme hidratante que retirara da própria mala. Aya viu e assentiu.
Em seguida o ruivo sentiu o creme sendo colocado sobre suas costas quentes. E as mãos hábeis do loiro começaram a espalhá-lo de maneira delicada, porém firme.
Aquela era uma das vantagens de ter um amante mais experiente. Yohji já fizera um pouco de quase tudo, e sempre tinha um truque novo para surpreender Aya. Ou mesmo quando apenas faziam amor já era mágico, maravilhoso, indescritível.
Os dedos longos continuavam movendo-se em círculos, indo e vindo por toda a extensão de pele branca. Ocasionalmente parando nos ombros, que recebiam uma atenção toda especial.
(Yohji) Você está tenso.
(Aya) Hn.
O ruivo se abandonara completamente às carícias. Aproveitando cada segundo. Ele sabia que não podia abrir mão de momentos como aquele. Queria o loiro apenas pra si. As mãos gentis deveriam fazer massagens apenas nele. As atenções e mimos deveriam ser apenas dele.
Sentindo o sangue se inflamar, Aya virou o corpo interrompendo a massagem e passou a mão pela nuca de Yohji, puxando-o para um beijo. Os lábios se tocaram, e num segundo a língua atrevida do ex-detetive invadia-lhe a boca com avidez, sem reserva ou hesitação.
A correspondência foi imediata. O ruivo também sabia trabalhar com a língua, sondando a boca do amante, reconhecendo cada canto, cada detalhe.
Logo as mãos acompanharam com movimentos ousados, explorando e passeando por locais que já sabiam causar prazer ao outro.
Sem aviso prévio Yohji parou o beijo, mas apenas para retirar a própria blusa.
O líder da Weiss acompanhou o 'streap tease' com os olhos brilhando. Nunca se cansaria de observar o seu amante. Como ele era lindo! Tinha o copo magro e perfeito, de formas esguias, na medida certa!
Yohji sorriu ao ver a expressão abobalhada do ruivo. Imaginou que o próprio Aya não tinha consciência do quanto era gostoso!
A pele pálida e macia do ruivo estava toda arrepiada, e isso encheu o playboy de deliciosa e incontrolável expectativa. Sem poder resistir mais o loiro abraçou Aya, estreitando-o entre seus braços com força. Tal contato fez Aya estremecer de prazer, ao sentir as peles nuas e quentes se tocando.
Ver seu amante estremecer encheu Yohji de desejo.
(Yohji) Aya, você nunca vai saber o quanto te gosto...
O loiro murmurou aquilo bem pertinho do ouvido do outro, fazendo um novo arrepio percorrer o corpo de cima a baixo. Aquele tom de voz era por demais provocativo.
(Aya) Quero você... Yohji. Quero me sentir dentro de você... agora...
Yohji sorriu de orelha a orelha e balançou a cabeça. Nunca negaria um pedido daquele ruivo.
As roupas foram tiradas, com habilidade e experiência. Ambos ficaram nus, apenas se apreciando.
(Aya) Oh... Yohji...
Era uma visão que nunca enjoaria. Como o outro podia ser tão lindo? Yohji também se deliciava com o corpo do amante. Estendeu a mão, deixando os dedos deslizarem pelo tórax de Aya, brincando e apalpando de leve, descendo sempre em direção ao membro que já despertava ereto e duro feito rocha.
(Aya) Ah...anh...
Foi uma tortura o momento em que os dedos esguios roçaram de leve sobre seu pênis, apenas provocando. Yohji observou a reação de modo encantado. Adorava brincar assim com Aya.
Prosseguiu deslizando a ponta do dedo por toda a extensão do membro, com pressão muito leve, porém presente. Aya ficou tenso, ofegante com a diversão maliciosa.
(Yohji sorrindo) O que foi?
Fez-se de inocente, enquanto continuava a deslizar os dedos para cima e para baixo, quando sem aviso algum fechou a mão ao redor daquele pedaço de carne pulsante e túrgida.
(Aya) Ahhhh!
Pego de surpresa o ar lhe faltou. Mas ainda teve força de vontade o suficiente para colocar a mão sobe a de Yohji e retirá-la de seu pênis.
(Yohji)...
O loiro ficou surpreso por Aya ter interrompido sua diversão. Interrogou-o com os olhos de jade. O espadachim balançou a cabeça de um lado para o outro e se manteve firme.
(Aya) Não é isso que eu quero. Não hoje.
(Yohji)...
(Aya) Eu quero você, Yohji.
(Yohji sorrindo) Temos tempo de sobra...
(Aya) Não posso esperar.
Sorrindo ainda mais Yohji deu-se por vencido. Como poderia deixar de agradar aquele ruivo maravilhoso? Pra mostrar isso, Yohji esticou-se na cama e abriu as pernas convidando Aya a deitar sobre si.
(Yohji) Se é isso que você quer...
Mais que depressa o ruivo ajeitou-se, posicionando a cabeça do membro latejante à entrada apertada e começou a forçar passagem de modo lento e constante. Segurou no quadril do loiro com uma das mãos, ajudando-o a erguer o corpo. Isso facilitou ainda mais a penetração e intensificou o prazer de ter seu pênis deslizando para dentro daquele corpo quente e acolhedor.
Aya podia sentir como a pressão das paredes macias era enlouquecedora. Os movimentos involuntários do corpo do amante acariciavam seu membro, fazendo seu corpo estremecer e suar de prazer.
Arfando, o espadachim descansou o tórax contra o peito do playboy, sentindo a respiração do corpo abaixo do seu que também estava descompassada. Sentia o coração do amante batendo depressa, ansioso por mais prazer, por mais sensações incontroláveis.
Ainda segurando o quadril de Yohji, Aya iniciou com o desejado movimento de vai e vem, notando que o amante arqueava as costas e entreabria os lábios, respirando ainda mais forte.
Os gemidos que seguiram as investidas do ruivo deram a certeza de que Yohji gostava cada vez mais do que Aya fazia. Tal certeza encheu o coração do espadachim de ternura, obrigando-o a observar bem a expressão extasiada do loiro, que mantinha os olhos cerrados enquanto uma das mãos segurava o braço de Aya e a outra apertava com força o lençol branco.
Aya continuou a se mover mais e mais rápido, fazendo seu membro deslizar pela entradinha apertada quase com desespero, tocando cada vez mais fundo no corpo do playboy.
Foi então que Yohji se consumiu num mar de êxtase, perdendo-se em ondas de prazer. Com muito custo mordeu o lábio inferior, prendendo um grito alto quando o orgasmo o atingiu. Passou os braços pelo corpo de Aya e o puxou, prendendo-o num abraço cheio de carinho.
Aya também gozou, quase no mesmo instante, inundando Yohji com um jorro abundante de sêmen, sentindo as contrações involuntárias do corpo do ex-detetive ao redor de seu pênis pulsante.
Relaxando o corpo, o líder da Weiss apoiou a cabeça sobre o ombro de Yohji, notando as respirações se acalmarem, enquanto podia sentir que o abdômen de ambos estava lambuzado com o sêmen do playboy.
Novamente o amor entre eles fora maravilhoso e diferente das outras vezes. Aya só sentia aquela satisfação quando dormia com Yohji e podia tê-lo ao seu lado.
(Yohji) Aya... eu...
Mas acabou calando-se. Não sabia se deveria confessar que amava o ruivo. Aya nunca havia dito 'amo você' nem ao pedir compromisso sério... era melhor não forçar nada, apesar de intuir que o espadachim também nutria sentimentos fortes.
Aya sentiu os braços de Yohji apertando-o mais num abraço de certo modo desesperado. Apesar disso não falou nada. Não sentia ser aquele o momento para tratar de assuntos mal resolvidos. Sempre haveria tempo...
Um tanto cansados, ambos deslizaram para um sono reparador. Depois tomariam banho, e aí sim estariam prontos para a missão.
oOo
Ao cair da noite, Manolo e Paco fecharam a loja e vieram ter com os outros assassinos.
Os sete se reuniram na sala, vestidos pra missão.
(Aya) Quais são os codinomes de vocês?
(Manolo) Estevão é Navajo, Paco é Comanche e eu sou Apache.
(Omi sorrindo) Nomes de tribos indígenas?
(Manolo) Isso mesmo. E os de vocês?
(Aya) Abyssinian, Balinese, Siberian e Bombay.
(Estevão) Nomes de gatos?
(Aya) É.
O ruivo lançou um olhar irritado na direção de Yohji. Aparentemente sem motivo algum o playboy e o jogador resolveram ser gentis ao extremo com Paco, cercando-o de delicada atenção.
Tal interesse por parte de Ken era até compreensível, já que Paco parecia ter gostado do moreninho. Seria justo que recebesse mais atenção em troca. Mas isso não se aplicava em relação a Yohji.
Quando pensava nisso Aya ficava meio... enciumado.
(Omi) Ei, Aya...?
Piscando, o espadachim voltou os olhos ametistas na direção de Omi e fechou ainda mais a carranca.
(Manolo) Estão prontos?
O líder dos assassinos mexicanos disfarçou e repetiu a pergunta que o chibi fizera a Aya. Na verdade estavam todos prontos.
(Manolo) Ótimo. Um dos bares fica a três quarteirões daqui. É uma espécie de taverna, e é mais freqüentada do que a outra. Melhor começar por lá, não é?
(Ken) É o alvo principal dos bandidos?
(Manolo) Sim.
(Yohji) Então será o nosso ponto de partida.
(Aya) Omi vai na frente fingindo que é um turista. Ken, Yohji e eu nos dividiremos e cercaremos o perímetro na parte de dentro da taverna. Manolo, Estevão e Paco tomam conta da parte de fora.
(Manolo) Entendido.
Omi abriu um estojo preto e tirou três comunicadores extras. Entregou-os aos assassinos mexicanos.
(Omi) Usem na freqüência 02. São aparelhos especiais de longa distância e vão nos manter em contato.
Os latinos agradeceram e colocaram os mini comunicadores na orelha, sentindo-se mais seguros com a tecnologia de ponta apresentada pelos japoneses.
Verificando que estava tudo pronto, os sete perceberam que chegara a hora da ação!
oOo
Omi observou bem a tal taverna. "El Perro" era o nome e ao lado das letras fora feito a caricatura de um cão que mais parecia uma hiena.
Havia um grande movimento ao redor do local, parecendo mesmo agitado.
(Omi) Estou dentro.
O chibi murmurou baixinho quando passou pela porta. O interior de El Perro era muito escuro e o ar totalmente carregado pelo cheiro de fumaça de cigarro e bebida antiga.
(Omi baixinho) Balinese vai adorar isso...
(Yohji indignado) Ei!!
Sorrindo, o chibi abriu espaço entre as pessoas que procuravam diversão no bar. E tinha bastante gente por ali. Com muito sacrifício o Weiss chegou ao balcão e pediu uma cerveja.
(Atendente) Não temos cerveja.
(Omi)... e vinho?
(Atendente) Não.
O homem ficou visivelmente aborrecido por ter que atender uma criança.
(Omi) O que diabos tem aqui?
O loirinho tentou dar uma de valentão irritado, antes que o cara pensasse em colocá-lo pra fora por ser menor de idade.
(Manolo) Pede tequila, Bombay. É tudo o que eles servem.
(Atendente) Ei, gurumino, que modo de falar é esse?!
(Omi) Dá uma tequila então.
O homem mirou Omi de alto a baixo e fez uma expressão incrédula. Acabou por dar de ombros e virar as costas.
(Atendente)... já vem.
Com o afastamento do tipo mal encarado, o jovem hacker olhou discretamente ao seu redor, mas ninguém parecia notar sua presença.
(Omi baixinho) Ok, pessoal. É a vez de vocês.
(Ken) Estou indo, Bombay.
E imediatamente o moreno entrou no bar. Foi até o balcão e ignorou propositadamente o companheiro. Pegou um copo com tequila e foi refugiar-se ao fundo esquerdo do salão, ocultando-se nas sombras, onde podia vigiar sem ser visto.
(Ken baixinho) Estou em posição.
(Yohji) Entendido, Siberian. Agora vou eu...
O playboy seguiu os passos do jogador, e após pegar sua tequila foi para o fundo direito do bar, no exato oposto a Ken.
(Yohji baixinho) Ok... Abyssinian, sua vez.
(Aya) Hn.
O ruivo fez exatamente a mesma coisa que seus três companheiros, porém sentou-se ao lado da porta, de onde podia controlar todos que entravam e saíam.
(Aya baixinho) Apache, Comanche e Navajo... é com vocês agora.
(Manolo) Ok.
As horas passaram morosas e cansativas. Os Weiss enrolavam o máximo possível com o copo de tequila, apenas bebericando, sem nunca acabar com tudo. Não podiam ingerir muito álcool, pois estavam no meio de uma importante missão.
Yohji já havia fumado quase o maço todo, e estava tão entediado quanto seus companheiros, apesar dos outros não fumarem.
Foi então que Ken resolveu exteriorizar o pensamento que era compartilhado por todos.
(Ken baixinho) Abyssinian, acho que eles não vão agir nesse bar! Que tal darmos um giro no outro?
Antes que o espadachim pudesse responder Manolo deu o alarme.
(Manolo) Atenção! Dois homens suspeitos estão prestes a entrar no Perro!
(Paco) Já vi esses dois andando em companhia daquele capanga que capturamos...
Mal Paco terminou a frase e os tais sujeitos passaram pela porta sendo possível então que Aya os visse. E os caras eram realmente suspeitos: com quase dois metros de altura, fortes feito touros, expressão cerrada e mal humorada. Vestiam sombreiros escuros e chapeis encardidos.
(Aya baixinho) Atenção, Bombay. Estão indo para o balcão.
(Omi baixinho) Ok.
Assim que os caras encostaram, Omi simulou estar meio bêbado, falando sozinho e coisas sem sentido.
Os supostos inimigos olharam fixamente para o chibi e chamaram o atendente com um sinal de cabeça.
(Homem1) Quem é o moleque?
O interrogado deu de ombros e fungou indiferente.
(Atendente) Sei lá. Apareceu aí botando panca e enchendo a cara... bebeu um copo e já tá alto.
(Homem2) Veio sozinho?
(Atendente) Veio.
Os sujeitos concordaram e pareceram perder o interessem em Omi.
Os outros Weiss haviam acompanhado a conversa dos homens através dos comunicadores e desconfiaram daquelas perguntas. Provavelmente eram as pessoas que procuravam.
(Aya baixinho) Bombay... saía agora. Se eles te seguirem nós os interceptamos. Caso contrário vamos para o outro bar.
(Omi) Eu... vou...
O arqueiro respondeu alto, tanto para o líder japonês quanto para os dois fulanos. Depois se ergueu cambaleante e saiu lentamente do bar, trombando em algumas pessoas e pedindo desculpas com uma falsa voz pastosa.
Assim que ele saiu, os dois homens se entreolharam e trocaram um sorriso. Ergueram-se e saíram logo atrás.
(Ken baixinho) São eles!
(Yohji baixinho) Vamos a ação!
(Aya baixinho) Hn.
Os três levantaram-se quase ao mesmo tempo e escapuliram do bar após pagar a tequila ingerida.
Saíram na rua escura e... vazia.
(Ken) Merda! Para onde eles foram?
Só agora os Weiss se deram conta de que na frente do bar existiam três ruas. O chibi podia ter seguido por qualquer uma delas.
(Ken) Bombay! Bombay, onde você está?
O comunicador chiou alto, fazendo os assassinos praguejarem.
(Yohji) Que porra de interferência!
Testaram o aparelho, mas não deu certo. Alguma coisa havia danificado seriamente os micro comunicadores. Não era mais possível trocarem informações com Omi e os mexicanos.
(Ken) Droga. O que fazemos, Abyssinian?
(Aya) Vamos nos separar. Cada um segue por uma rua e quem os encontrar...
O ruivo ia dizer "avisa pelos comunicadores" mas lembrou-se de que não poderiam utilizá-los.
(Ken) Rápido, gente! Bombay pode estar em perigo!
(Yohji) Bombay! Bombay, está na escuta?
O playboy tentou mais uma vez e novamente foi inútil. Estavam sem nenhum tipo de comunicação.
(Ken) Onde estarão Apache e os outros? Eles deveriam ficar por perto.
(Yohji) Será que algo deu errado? É melhor nos separarmos mesmo. O importante é encontrar Bombay. Aqueles gigantes parecem fortes e se pegarem o chibi...
(Ken) Dois contra dois já seria desvantagem. Imagina Bombay contra aqueles brutamontes.
(Aya) Hn. Balinese e eu iremos por duas das ruas. Siberian tente localizar Apache e os outros, depois siga atrás de Bombay pela terceira rua.
(Ken) Entendido!
(Yohji) Ok!
Ken deu as costas aos companheiros e rumou em direção a parte de trás do Perro, tentando encontrar os mexicanos. Onde eles poderiam estar?
Por sua vez, Aya seguiu pela rua imediatamente a direita da frente do bar, enquanto Yohji pegava a do meio, deixando a terceira (da esquerda) para o moreninho.
oOo
Omi havia seguido em frente pela rua escura por alguns minutos. Esperava as instruções de Aya, mas elas não vieram.
(Omi) Abyssinian? Os caras não estão me seguindo, ouviu? O que devo fazer? Continuar com as ordens e ir para o outro bar?
Silenciou esperando que o ruivo respondesse, mas estranhamente os comunicadores pareciam ter parado de funcionar.
Ponderou indeciso sobre sua próxima ação. O que fazer? Voltar atrás ou seguir o plano inicial?
Decidiu-se por seguir em frente.
(Omi) Pessoal, estou indo para o outro bar. Podem me ouvir? Vou continuar com o roteiro.
(Manolo) Bombay? Na escuta?
O chibi ficou imensamente aliviado ao ouvir a voz do mexicano.
(Omi) Apache o que está acontecendo?
(Manolo) Não sei. Temos uma interferência nos sinais. Siga o plano e vá para a próxima taverna. Vou tentar entrar em contato com Abyssinian e avisar do que estamos combinando.
(Omi aliviado) Ótimo! Conto com vocês!
Suspirando, o chibi mudou o rumo. Lembrou-se das instruções de Estevão e seguiu para o lado que julgava ficar seu próximo local alvo.
oOo
Aya corria pela rua, atento a qualquer movimento estranho vindo das sombras. Reparava em como era feio aquele local: as casas que cercavam ambos os lados da estreita rua eram feitas de madeira velha e decadente, todas mal pintadas.
Não havia nenhuma luz acesa no interior das residências. Talvez todos estivessem dormindo devido ao adianto da hora.
O chão não fora asfaltado, e a poeira avermelhada sujava os sapatos do líder da Weiss japonesa, porém isso não importava.
Muitas coisas fervilhavam na mente do espadachim. Já desconfiava que Omi não seguira por aquela rua. Aya corria a quase quinze minutos e não vira nem sinal do jovem companheiro.
Por outro lado não entendia o desaparecimento dos mexicanos. Teriam sido eles capturados? Teriam caído nas mãos dos inimigos, ao invés de Omi? Sendo assim, onde estava o chibi?
E porque diabos os comunicadores não davam sinal? Até momentos atrás a comunicação era perfeita! E de repente não podiam mais entrar em contato uns com os outros. O sinal dos aparelhos tinha longo alcance, eram máquinas novas...
Tantas perguntas e nenhuma resposta.
Aya já estava desistindo da corrida quando deu de cara com o fim da rua. Na verdade com a interrupção da rua...
No meio do caminho havia uma enorme grade de ferro. A mesma tinha aparência sólida e resistente, e era muito alta, sendo impossível saltá-la. Ia de um lado para o outro, fixada em grossas paredes de concreto, barrando completamente a passagem.
(Aya surpreso) Ora!
O que fazia aquela grade no meio do caminho, além de impedir a travessia? Com certeza tinha algum propósito.
Aya podia ver muito bem que a rua continuava além das barras de ferro, levando por um caminho meio escuro e vazio. Aliás, igual à rua por onde viera.
O líder da Weiss japonesa ficou um instante parado, apenas olhando aquilo sem entender lhufas. Não havia lógica em colocar uma grade alta, visivelmente intransponível no meio de uma rua praticamente deserta... ou havia?
Aya desfilava os olhos ametista pelas barras, intrigado com a espessura das mesmas. Teve certeza de que nem sua afiada katana poderia rompê-las.
Aproximando-se, o espadachim esticou o braço e ia tocar na grade quando ouviu passos que vinham correndo em sua direção pelo lado de lá da grade.
O ruivo levou a mão a katana pronto para se defender, e foi um ato instintivo, visto que estava protegido pela grade.
Qual foi a surpresa do ruivo ao perceber que quem se aproximava era Yohji. A surpresa do loiro não foi menor.
(Yohji) Ei! O que você tá fazendo aí, Abyssinian?
(Aya suspirando) O mesmo que você.
(Yohji)...
Ambos se aproximaram da grade e se fitaram.
(Aya) Eu segui pela rua e ela acaba aqui.
(Yohji) Ah... não vi Bombay em lugar nenhum. Mas pra que colocaram essa coisa aqui? Agora temos que dar a volta.
(Aya) Estranho...
O playboy olhou para cima e calculou mentalmente a altura das barras.
(Yohji) Não dá pra pular. Veja... é muito alta.
(Aya) Notei.
Yohji torceu os lábios de modo irritado. As coisas estavam dando todas erradas! Não hesitou em despejar toda sua frustração chutando a grade.
(Yohji) Droga de coisa idiota. Pior é Bombay que sumiu... espero que esteja tudo bem com ele... tentei usar o comunicador várias vezes mas não adiantou nada. Hoje decididamente não é o nosso dia!
(Aya) Melhor voltarmos. Talvez Siberian tenha descoberto algo.
(Yohji sorrindo) Espero que sim. E que ele tenha descoberto algo bom senão...
Aya franziu as sobrancelhas ao notar algo surgindo por trás de Yohji.
(Aya)...
O ruivo arregalou os olhos ao reconhecer os dois sujeitos que supostamente perseguiam Omi.
(Yohji) O que foi?
(Aya) BALINESE ATRÁS DE VOCÊ!!
Felizmente Yohji era dono de reflexos invejáveis, e isso o salvou de cair nos braços de um dos suspeitos. Mas não o ajudou a escapar do outro.
(Yohji) !!
(Aya) Maldição!!
O ruivo olhou para os lados sem saber o que fazer. Não podia passar pela grade, nem teria tempo de dar a volta! Seria tarde demais!
Enquanto isso, Yohji tentou fazer força para escapar do abraço do inimigo, mas o cara tinha músculos potentes, e apertava com força.
(Homem1) Esses caras são sempre uns otários.
Ambos estavam sem os chapeis, e podia-se ver que o que falara era ruivo, enquanto o outro tinha cabelos castanhos.
(Homem2) Mas Raul, veja, temos um telespectador. O amiguinho desse aqui.
(Raul) Hmmmm... isso me dá uma idéia Tony... o que acha de um showzinho pro ruivo.
(Aya)!!
Preocupado, Aya olhou para os lados. Não tinha como ajudar o amante!
(Yohji) Maldito!!
O loiro forcejava, mas não seria fácil escapar dos braços de Raul. O Weiss fez uma força suprema, e então o inimigo abriu os braços de repente, soltando e quase derrubando Yohji que se equilibrou a custo.
Tony apertou ambas as mãos, fazendo os dedos estralarem, enquanto Raul torcia balançava o pescoço no estilo de um boxeador.
(Tony sorrindo) Faz tempo que não treinamos...
Ao ouvir aquilo Yohji empalideceu terrivelmente, sabendo que se não acontecesse um milagre acabaria levando uma surra...
Olhou para o lado de Aya, e o amante também estava pálido. Porém não podia fazer grande coisa...
E então o massacre começou.
Yohji até conseguiu se esquivar de alguns ataques, e acertar uns socos nos inimigos, mas Raul e Tony nem mesmo sentiram.
O primeiro golpe fez o Weiss enxergar milhares de estrelas na noite escura. Ele tonteou, mas não chegou a cair. O segundo golpe lhe tirou sangue do nariz, e o terceiro partiu-lhe os lábios.
Aya perdeu a voz ao ver a cena. Sacou a afiada espada e atacou as barras de ferro com toda a sua força. A lâmina arrancou faíscas e foi só. No entanto ele não desistiu. Continuou batendo a espada contra o ferro disposto a destruir e passar para o outro lado.
Os inimigos nem se deram conta do esforço inútil. Divertiam-se muito mais batendo na bela vítima loira, que não resistiria por mais tempo.
Tony encaixou um cruzado de direita no queixo de Yohji que quase lhe tirou os sentidos. O Weiss caiu de joelhos no chão de terra, sangrando muito, mas os inimigos não tiveram piedade.
Raul pegou o loiro pelo colarinho do sobretudo e o ergueu como se Yohji não fosse mais que um boneco de pano.
(Raul) Ah, que fraquinho...
(Tony) He, he, he... ainda queremos nos divertir mais…
Então Tony sorriu de modo selvagem, aproximou-se do Weiss e segurou-o pelos braços, torcendo-os sem consideração alguma. A forte torção fez os ossos estalarem e Yohji se encolher de dor.
(Yohji) AHHHHHHHHH!!
Com certeza o talTony lhe quebrara o braço!
Aya parou de atacar a grade com a espada. Pensou em lançá-la contra os inimigos, mas mesmo que acertasse um deles, o outro poderia usar a katana para causar um ferimento pior no amante!
Era uma situação desesperadora!! Onde estariam os outros nesse momento?
Ignorando a angústia do espadachim, os inimigos continuaram com a sádica diversão. Enquanto Tony segurava firmemente Yohji pelos braços, Raul acertava potentes golpes no estomago e tórax do ex-detetive, fazendo-o gemer a cada instante.
(Tony) Gringos não são de nada.
A um golpe mais forte Yohji cuspiu um pouco de sangue.
Tal visão inflamou a ira de Aya, que voltou a atacar as barras com redobrada selvageria. E novamente foi inútil. Faíscas voavam e nada mais.
Raul começou a ofegar, cansado de tanto surrar o Weiss. Decidiu por um ponto final naquilo. Mandou um cruzado de direita certeiro no rosto de sua vítima arrancando mais sangue do nariz de Yohji.
Tony soltou o loiro que tombou pesadamente no chão de terra. Estava liquidado.
O outro brutamontes riu escandalosamente e cutucou Yohji de leve com a ponta da botina, apenas para se certificar que o Weiss estava mesmo sem sentidos.
(Raul) Vamos dar o fora daqui.
Aya desistiu de atacar a grade. Ficou imensamente aliviado ao ouvir que os dois iam embora. Pelos menos poderia dar a volta na rua e levar o amante diretamente para um hospital.
No entanto, para aumentar a surpresa do ruivo, Tony abaixou-se, pegou o playboy inconsciente e o jogou em cima do ombro. Era evidente que iam levá-lo para algum lugar.
Só então Aya recuperou a voz.
(Aya) MALDITOS!! O QUE PENSAM QUE VÃO FAZER?
Os vilões olharam bem para o ruivo e desataram a rir. Raul deu um passo a frente e mostrou as mãos para Aya. Ambas estavam tingidas de vermelho pelo sangue de Yohji.
(Raul) Dessa vez não pode fazer nada, não é, Aya?
(Tony) Vamos levar esse loiro com a gente. E acho que vocês não vão se ver nunca mais... Há, há, há, há!!
Os inimigos deram as costas e começaram a se afastar até sumir das vistas do líder da Weiss japonesa.
O ruivo soltou a espada e caiu de joelhos no chão. As mãos estavam ardendo, e as palmas sangravam pelo esforço de vencer a maldita grade de ferro e ajudar o amante, mas não pudera fazer nada, além de assistir.
Seus olhos captaram a terra do outro lado, manchada pelo sangue de Yohji.
(Aya) Maldição!
Longos minutos se passaram, e Aya permaneceu na mesma posição. Seu cérebro se recusava a processar o que havia acontecido. Devia entender que Raul e Tony haviam liquidado primeiro a Omi e depois Yohji?
A respiração estava difícil. Ele sabia que mesmo se corresse muito não os pegaria do outro lado. Talvez eles conhecessem passagens secretas ou atalhos...
Sua garganta doía horrores e ele sentia os olhos arderem de vontade de chorar, mas não o fez. Ainda não se daria por vencido.
Foi nesse momento que ouviu passos leves e furtivos, mas nem se dignou a olhar quem se aproximava. Ainda estava anestesiado por uma estranha sensação de perda que experimentara apenas uma vez em toda a sua vida. E fora quando sua irmã entrara em coma...
(Ken) Abyssinian... o que aconteceu?
Só então Aya olhou para trás, reconhecendo seu companheiro. Ken se aproximara cheio de precauções, e se assustara ao ver o líder da Weiss caído de joelhos no chão, aparentando ter sido derrotado.
(Aya)...
(Ken) Eu procurei por Apache e os outros, mas não os encontrei. Segui pela rua até o seu fim e não achei nada também. Decidi vir por essa, pra encontrar com você ou Balinese.
Ao ouvir o codinome do amante Aya estremeceu de leve. Se Ken tivesse seguido pela rua do meio poderia ter trombado com os três e então talvez pudesse ter ajudado o playboy.
Não... não era culpa de ninguém aquilo. Não adiantava querer descontar no moreninho.
(Ken preocupado) Você está bem? Aya, digo, Abyssinian, o que foi que aconteceu?! Suas mãos...
Então o espadachim teve uma epifania. Arregalou os olhos e sentiu o sangue ferver nas veias, entendendo a maior parte do 'azar' que haviam sofrido aquela noite. Pôs-se em pé.
Ken observou a figura do ruivo e recuou um passo assustado. Aya estava muito, muito furioso. Havia um brilho homicida nos olhos ametistas que o moreninho não se lembrava de ter visto antes.
(Ken)...
Teve receios de se dirigir ao outro e perguntar mais uma vez se estava tudo bem, e foi Aya quem tomou a iniciativa da conversa.
(Aya) Fomos traídos.
(Ken) O que?
(Aya) Eles sabiam o meu nome.
(Ken)...
O moreninho confuso não entendeu nada.
(Aya) Aqueles dois homens da taverna. Eles conheciam o meu nome, não "Abyssinian" e sim Aya.
(Ken) Não compreendo.
(Aya sério) Vamos embora.
No caminho ele contaria tudo o que acontecera e deixaria o companheiro a par da situação.
oOo
Quando Aya e Ken voltaram para frente do Perro deram de cara com Omi.
O chibi tinha a expressão chateada, mas sorriu ao ver os amigos.
(Omi) Desculpem, fui ao segundo bar. Chama-se Obtención e é bem pior que o Perro. No fim das contas ninguém apareceu por lá... nem vocês...
Só então o jovenzinho olhou bem para as expressões preocupadas dos Weiss e deduziu que algo não ia bem. Franziu as sobrancelhas enquanto olhava em volta.
(Omi) Onde está Balinese?
Aya não respondeu, apertou os lábios em desagrado e deu as costas aos dois. Tinham que encontrar Manolo e os outros a qualquer custo!
Durante o percurso até a casa dos mexicanos, Ken tratou de colocar Omi mais ou menos a par do que acontecera naquela rua escura e deserta.
Quando chegaram ao local, puderam constatar que havia luz em um dos cômodos, e parecia ser na sala. Não perderam mais tempo, entrando na casa prontos para a ação.
Encontraram Paco sentado no sofá, como se esperasse algo ou alguém. Se o mexicano surpreendeu-se ao vê-los não demonstrou.
(Paco) Que caras são essas?
Aya moveu-se veloz, pegando o outro pelo colarinho e levantou-o do sofá sem delicadeza alguma.
(Aya) Pra onde levaram Yohji?
(Paco)...
O mexicano desviou os olhos de Aya para Ken e depois para Omi. Percebeu que nenhum dos três parecia disposto a brincadeiras.
(Omi) Já sabemos que um de vocês (ou os três!) nos traiu...
(Paco) Do que estão falando?
(Ken) Aqueles dois da taverna estavam informados sobre nós. Sabiam até o nome de Aya! Se eles sabiam isso é por que alguém contou.
(Paco) Não sei de nada!
O líder da Weiss perdeu a (pouca) paciência e ergueu o punho fechado, pronto pra acertar um belo soco na cara do mexicano quando Ken interferiu.
(Ken) Não pode bater nele, Aya! Paco está doente!!
Aya pareceu disposto a ignorar a revelação, mas Ken foi irredutível. Segurou a mão do ruivo impedindo a agressão.
(Ken) Aya, você não pode bater num doente. Ele tem leucemia.
(Aya)!!
(Omi surpreso) Leucemia?
(Ken) Sim, Manolo nos contou ontem, quando Yohji e eu encontramos os remédios dele. Só guardamos segredo porque ele pediu.
O ruivo trincou os dentes e fechou os olhos. Teve muito trabalho pra se controlar, mas acabou empurrando Paco pra longe de si, fazendo o mexicano perder o equilíbrio e cair no chão, onde ficou cabisbaixo.
(Omi) Paco, você tem que nos dizer onde Manolo está...
Os japoneses olharam para a figura patética caída no chão. Foi então que os ombros do mexicano começaram a balançar. Por um segundo acharam que ele estava chorando, mas na verdade Paco começou a gargalhar.
(Paco) Há, há, há, há!!
Jogou a cabeça pra trás, sem se agüentar mais de tanto rir.
Os Weiss se entreolharam, surpresos por aquela atitude quase bizarra.
(Paco) Vocês... vocês acham que eu tenho leucemia? Madre de Dios... não creio nisso... Manolo seu filho da mãe criativo!! De onde tirou essa?
(Ken)!!
(Aya)...
(Omi) Você não tem leucemia...?
(Paco) Há, há, há... claro que não! Só me faltava essa...
(Ken confuso) Mas então... não entendo!
(Paco) E dizem que os japoneses são inteligentes? Ai, ai... conversa fiada.
(Omi) O que está acontecendo aqui?
(Ken) Do que você está falando, Paco?
(Aya) É melhor que fale rápido.
Paco levantou-se do chão e sentou-se sobre o sofá, limpando a roupa. Depois enxugou as lágrimas e olhou bem para os japoneses.
(Paco) Merda de falta de sorte. Raul e Tony são dois otários! Se eles não tivessem posto tudo a perder vocês não desconfiariam nunca!
(Omi) O que?!
(Ken) Inferno, vocês são traidores mesmo? Não pode ser! Vocês são Weiss assim como nós... por que nos entregaram aos inimigos?
(Paco) Eu posso contar tudo se quiserem mesmo saber. Mas com certeza depois disso vocês terão que morrer. Não era nossa intenção matar os quatro, afinal precisávamos de apenas um...
Aya deu um passo a frente, disposto a atacar Paco, porém acabou recuando. Precisava arrancar a verdade dele a qualquer custo.
(Ken) Pare de enrolar e conte tudo de uma vez.
(Paco) Ok, ok... bom, ser justiceiro nesse fim de mundo não é muito lucrativo. Acho que vocês podem deduzir isso. Geralmente são casos fracos que vem parar em nossas mãos e não compensa o trabalho. Foi então que a pouco mais de um ano surgiu essa organização que chamamos de Alcázar. Um dos líderes nos propôs uma oferta tentadora: nós lhes daríamos cobertura eliminando qualquer bandido que tentasse se estabelecer por aqui e em troca receberíamos um bom salário.
(Omi enojado) Vocês se venderam!
Paco deu de ombros aparentando indiferença.
(Paco) Se você diz. Pra nós é lucrativo. E de vez em quando traficamos algo dentro dos violões. Drogas, muamba, dinheiro falsificado... esse tipo de coisa.
(Aya) Pra que precisavam de nós?
(Ken) É... porque nos chamar do Japão até aqui?
(Paco) Oh, estávamos desesperados, quase perdendo um cliente milionário que fez uma oferta inacreditável...
Ao ouvir aquilo Aya empalideceu terrivelmente ao mesmo tempo em que sentia um gosto amargo na boca.
(Aya) Tráfico de pessoas…
(Paco sorrindo) Mais ou menos. Tráfico de pessoas é lucrativo, mas o mercado consome essencialmente mulheres muito jovens.
(Omi confuso) Então...
(Paco) Estou falando de algo um pouco mais complicado. Contrabando de órgãos.
(Ken) Ah meu Deus!
(Omi) Órgãos?! Vocês enlouqueceram?
Aya apenas levou a mão ao rosto e apertou os lábios. De repente a respiração ficou um tanto difícil. Aquilo não era nem de longe o que havia imaginado.
(Ken) Mas... mas...
(Paco) Poderíamos encontrar alguém que fosse compatível aqui, mas quem fez a encomenda não queria receber o órgão de um latino. Exigiu que fosse de um branco ou no mínimo oriental. O cara ofereceu duzentos mil dólares para que arranjássemos um coração compatível para sua esposinha doente. Não acham romântico?
Os Weiss fuzilaram o infeliz com os olhos, fazendo-o se encolher de medo.
(Paco) Não... vocês não acham romântico.
(Omi) E porque nos chamou? Como sabiam que um de nós seria compatível?
O mexicano passou a mão pelos cabelos e deu de ombros.
(Paco) Não sabíamos. Apenas jogamos com a sorte. Já íamos desistir dessa grana, quando ouvimos falar de uma equipe que aceitava ir a outros paises ajudar. Então arriscamos, já que não tínhamos nada a perder.
(Ken) Arriscaram alto.
(Paco) O chá que Estevão lhes serviu ontem estava cheio de uma erva mexicana que age feito sonífero. Esse chá causa efeitos colaterais diversos como tonturas, dor de cabeça, muita sede... e enquanto vocês dormiam nós recolhemos amostras de sangue de cada um, e mandamos hoje na hora do almoço para análises.
(Ken) Então as ampolas que Yohji e eu vimos...
(Paco sorrindo) Estavam cheias com o sangue de vocês. Cada uma marcada com a inicial de seus nomes.
(Ken surpreso) Não eram remédios?!
(Paco) Os otários acreditaram mesmo nisso? Que nomes Manolo inventou? Tiloquicina, Hidrocarboneto? Há, há, há... parece piada que vocês caíram na conversa fiada de Manolo. Falando sério. Até o momento que saímos para a 'missão' ainda não tínhamos o resultado do teste. Não imaginávamos se um de vocês seria compatível, ou se estava saudável para o transplante. Recebemos a notícia durante a vigília no Perro. Yohji é o único que tem o tipo AB e o melhor: está perfeitamente saudável... não podia ser mais adequado! Demos o sinal a Raul e Tony, e deixamos vocês acreditarem que Omi era mesmo o alvo deles. Foi Estevão que interferiu com o sinal dos comunicadores... isso é tudo.
(Ken) Maldição!
(Paco) No plano original, vocês não iam descobrir sobre nosso pacto com Alcázar. Depois que levassem o loiro vocês acreditariam que se tratou de um terrível incidente durante a missão, relatariam isso a Kritiker e teriam de se conformar. Seria perfeito. Pena que Raul e Tony estragaram tudo.
Os Weiss não acreditaram em tamanho sangue frio por parte do mexicano. Fora tudo muito bem planejado e detalhado. A não ser por aquele erro fatal por parte dos brutamontes.
(Omi) Pra onde levaram Yohji?!
(Paco) Nem imagino. Quem entra em contato com Alcázar é Manolo e Estevão. Eu só quero saber de pegar a grana depois.
(Aya) E como encontramos Manolo?
(Paco sorrindo) Pra que? A essas horas seu amigo deve ter virado picadinho. Não fiquem tristes, compañeros. Yohji continuará a viver no corpo de outra pessoa, he, he, he... e talvez consigamos um bom preço pelos rins, pelas córneas... he, he, he...
Aquilo foi a gota d'água para o líder da Weiss. O sangue ferveu em suas veias e ele voou pra cima do mexicano sacando a espada, pronto para atravessar a afiada lâmina no coração do traidor.
No entanto Aya não contava com a incrível rapidez de Paco, que saltou do sofá e levou a mão as costas, pegando um chicote que estava preso ao cinto.
(Paco sorrindo) Não tão rápido, compañero. Vocês não achavam que eu ia lhes contar tudo isso e deixá-los ir livremente... he, he, he...
Aya, Ken e Omi se colocaram em guarda. Paco estalou o chicote, fazendo a ponta do mesmo bater no chão.
Teriam que atacá-lo os três ao mesmo tempo, pois Paco parecia realmente bom com aquela arma. Ken partiu pela direita, enquanto Aya atacava pela esquerda. Omi permaneceu parado, montando a pequena besta.
Com agilidade impar Paco estalou o chicote enroscando-o na katana de Aya e puxando-a. Em seguida estalou-o outra vez, enroscando-o na mão direita de Ken.
(Omi) Deixem comigo.
Sem nenhum remorso o chibi apontou a besta para o peito de Paco e puxou o gatilho.
(Paco) Maldição!
Ainda tentou defender-se, mas não conseguiu. As afiadas flechas lhe vararam o tórax, levando sua vida desprezível embora.
(Aya)...
Observou o corpo de Paco caído ao chão, sentindo-se dominado por uma dor inacreditável. O que fariam agora? Onde procurar por Yohji?
O desanimo não era apenas por parte do assassino ruivo. Omi sentou-se no sofá e cobriu o rosto com as mãos. Ken se pôs a andar de um lado para o outro. Nenhum dos três falava nada. Mas sabiam muito bem o que era aquela sensação: a perda de uma pessoa importante.
Sentindo-se um inútil, Ken chutou o sofá onde Omi estava sentando, tentando descontar sua frustração.
(Ken) MERDA!
De que adiantava tudo o que sabia e todas as suas qualidades se não podia ajudar seu amigo?
(Ken) Se essa porra de comunicador funcionasse... poderíamos tentar falar com Yohji!
Não que isso adiantasse muito, afinal pela narrativa de Aya aqueles dois gorilas tinham arrebentado o playboy...
(Omi) Os... comunicadores! Oh, sim, pode dar certo!!
Aya e Ken voltaram seus olhos para Omi, surpresos por verem o companheiro se erguer e sair em disparada.
(Omi) Esperem aqui, vou pegar meu laptop.
Com a saída do chibi, Ken voltou-se para Aya e apontou as mãos esfoladas.
(Ken) É melhor cuidar disso.
(Aya)...
Não relutou, pois sabia que o assassino moreno tinha razão.
oOo
(Omi) Ken, você deu uma ótima idéia. Manx me explicou que o princípio básico desses comunicadores é o mesmo usado em comunicação por banda larga. Por isso o alcance deles é muito maior que os tradicionais.
(Ken) E isso quer dizer que...?
(Omi) O sinal é transmitido via satélite. Com o software certo eu posso rastrear não apenas o aparelho de Yohji, mas também os de Estevão e de Manolo, se eles ainda estiverem usando.
(Aya) Mesmo que eles não funcionem?
(Omi) Sim. Eu vou vasculhar o sistema atrás do sinal do aparelho, não das transmissões em si.
(Aya) Então faça logo.
(Omi) Já estou executando o programa. É apenas questão de tempo.
(Aya) Tudo o que não temos é tempo.
(Ken) Estamos fazendo o possível, Aya.
O ruivo suspirou e desviou os olhos violetas para a janela. Pôde ver que um novo dia já surgia, e parecia que seria um dia muito bonito. Outra vez o líder da Weiss foi tomado por uma forte vontade de chorar, mas manteve-se firme. Não era hora de agir feito uma garotinha.
(Omi) Achei!
Aya e Ken voltaram-se para o chibi imediatamente. Aproximaram-se da tela do computador que exibia uma espécie de mapa e ao canto superior direito três pontinhos vermelhos.
(Omi) Estão aqui. Ao norte da cidade. Os três permanecem juntos.
(Aya) Vamos!
Saíram apressados, sem querer perder mais tempo e deixando o corpo de Paco para trás.
Ao abrir a porta, os Weiss quase caíram para trás. O caminho estava repleto de pessoas que caminhavam lentamente rua abaixo. Muitas delas levavam velas nas mãos e escondiam os rostos sob máscaras horripilantes e estranhas.
(Aya) Mas o que...
(Omi) Dia de los muertos... é Finados.
Mais essa agora!
Os três avançaram, mergulhando naquele mar de gente, tentando vencê-los a qualquer custo, sentindo arrepios ao ouvir a cantoria lamurienta em homenagem aos mortos.
A irritação de Aya alcançou o auge. Maldito feriado idiota. Ele que não queria nem pretendia comemorar a morte de ninguém!!
Parecia que toda a cidade resolvera sair à rua ao mesmo tempo. E tal fato não contribuía com a urgência dos assassinos em nada, muito pelo contrário.
Sem poder evitar, Aya esbarrou em uma senhora que chorava muito e avançava com os braços erguidos, levando uma vela pela metade na mão direita e um rosário enroscado no pulso esquerdo.
Um homem muito grande e forte deu um encontrão no líder da Weiss. Tal sujeito pintara o desenho de uma caveira negra na face, mas o desenho estava borrado por lágrimas.
(Homem) Ai... madrecita...
A angústia se apossou do coração do ruivo, e ele sentiu a necessidade de sair do meio daquelas pessoas imediatamente. Não queria participar de uma procissão em honra aos mortos!
De repente ficou muito difícil enxergar. As pessoas se transformaram em borrões multicoloridos, disformes e irreconhecíveis. Aya passou a manga do casaco pelo rosto com força, secando as lágrimas que finalmente lhe vinham aos olhos ametista.
Uma vez iniciado o pranto foi impossível conter a torrente de grossas lágrimas que se seguiram. Os lábios começaram a tremer e Aya se rendeu...
oOo
Finalmente Omi e Ken conseguiram atravessar o mar de pessoas e sair do outro lado da procissão.
(Omi) Que coisa! Eu não imaginava que tinha tanta gente em Los Parvos.
(Ken suspirando) Nem eu...
Olhando em volta, o jovem hacker franziu as sobrancelhas de maneira preocupada.
(Omi) Cadê o Aya?
(Ken) Ah, céus!
O jogador pôde visualizar o espadachim ainda no meio da multidão, sendo empurrado para frente aos tropeções, enquanto tentava limpar alguma coisa do rosto.
(Omi) O que aconteceu?
(Ken) Merda! Fica aqui, Omi. Eu vou buscá-lo.
E sem esperar reposta o moreninho mergulhou entre as pessoas novamente, lutando aos empurrões para alcançar o assassino ruivo. Quando conseguiu sua intenção, Ken grudou Aya pelo braço e o conduziu para fora da multidão.
(Omi preocupado) Está tudo bem?
(Aya)...
O ruivo não respondeu. Respirou fundo tentando se recompor e manter o resto da dignidade que lhe restava. Não queria ter desmoronado na frente dos dois garotos, mas não conseguira se controlar. Fora ao limite que seu psicológico podia suportar.
(Ken) Vamos, pessoal.
Ken entendeu os sentimentos de Aya e não prolongou o momento. Logo os três se punham novamente a correr, rumando para o norte da cidade.
(Omi) Os sinais estão mais fortes!
Apontou para o palm que trouxera consigo. A pequena tela mostrava o mesmo mapa do laptop em tamanho reduzido.
(Ken) Atenção.
A seguir o caminho começou a declinar, as casas foram acabando até que restasse apenas um campo extenso, salpicado de muitas árvores e arbustos.
Aya fez um sinal para os garotos e os três passaram a avançar cheios de precaução e com redobrada atenção.
Minutos descendo e eles avistaram uma enorme construção de alvenaria, pintada de branco e aparentemente abandonada. Aya fez um outro sinal para Omi, querendo saber se era ali.
O chibi acenou afirmativamente com a cabeça.
Nesse momento os assassinos ouviram sons de passos que vinham se aproximando. Logo um dos dois brutamontes surgiu próximo ao galpão. Era Tony e ele parecia estar de vigia.
Omi aguardou um segundo, pra descobrir se ele estava sozinho ou mais alguém o acompanhava. Tony vinha sozinho.
Imediatamente o loirinho apontou a besta para o vilão e puxou o gatilho, metendo duas flechas certeiras no coração do sujeito matando-o no mesmo instante. O grandão caiu no chão sem nenhum ruído.
Era um a menos.
Com o dedo indicador, Aya ordenou que Ken seguisse pela direita, depois ordenou que Omi seguisse pela esquerda, enquanto ele avançava meio abaixado pela frente do galpão.
Silenciosamente o líder da Weiss colou-se a parede e procurou uma saliência onde pudesse apoiar seu pé e subir ao telhado. Executou a tarefa com facilidade.
Sondou o teto, descobrindo algumas telhas soltas. Seria uma passagem perfeita. Primeiro ele espiou o interior, notando que naquele lado estava tudo às escuras, mas no centro do galpão havia luz.
Com cuidado ele passou as pernas pelas telhas soltas e deixou o corpo escorregar. Bem abaixo dele estavam vários caixotes empilhados, que foram providenciais. Aya apoiou os pés sobre as caixas e dali deslizou silencioso como um gato para o chão.
Não havia comunicação entre ele e seus dois companheiros, mas eram assassinos treinados e experientes. Essa noite eles agiriam guiados pelo instinto apurado, lutando por algo muito mais importante que dinheiro ou justiça.
Missões anteriores provaram ao líder da Weiss que ele podia confiar cegamente em Omi e Ken, que eles saberiam o que fazer no momento mais importante da ação.
Acreditando nesse pensamento, Aya avançou meio abaixado, parcialmente oculto pelas sombras e pelos grandes caixotes de madeira, até um ponto onde podia escutar as trocas de palavras entre Manolo, Estevão, Raul e um sujeito desconhecido.
Omi estava certo: ali era aparentemente a base de operações dos traidores.
(Manolo) Então, Pedro... demos sorte desta vez: conseguimos as meninas que você pediu e aquele coração da encomenda.
(Estevão) Também trouxemos os violões recheados com marijuana. Vamos ficar devendo os dólares falsos, mas você tem que entender que conseguir o maldito coração deu trabalho...
(Raul) Lacrei pessoalmente cada um desses caixotes. Não tem perigo de ninguém escapar. Sem contar que enchi a todos com seconal suficiente para fazê-los dormir até o natal, he, he, he...
O tal Pedro sorriu satisfeito. Passou a mão pelos cabelos cinzentos enquanto os olhos azuis brilhavam debaixo da única lâmpada acesa.
(Pedro) Admito que fizeram um excelente trabalho. Eu já estava quase desistindo dos duzentos mil dólares. Foi uma virada incrível. Não querem mesmo dizer onde conseguiram aquele cara?
Manolo riu e levantou as mãos.
(Manolo) Segredinho de trabalho. Desculpe...
(Pedro sorrindo) Ok. Hora do pagamento, garotos. Vocês merecem cada centavo.
Enfiou a mão no bolso, procurando pelas notas que entregaria aos traidores.
Foi então que os olhos treinados de Aya captaram movimentos entre as sombras, no lado direito e esquerdo de onde estava. Todo o perímetro fora dominado pelos Weiss.
O assassino mais jovem fez um sinal silencioso para Aya, dizendo que encontrara o interruptor e que acenderia as luzes naquele instante.
O susto dos bandidos não teve tamanho, quando todas as luzes se acenderam e os Weiss surgiram no meio do galpão.
(Manolo) Não pode ser!!
(Estevão) Malditos!!
(Pedro assustado) Quem são eles?
Os japoneses não conversaram. Omi usou a besta para eliminar Raul de vez, com um flecha certeira na garganta. O gigante caiu ao cão, sangrando e agonizando, morrendo lentamente sufocado com o próprio sangue.
Ken cravou as garras da bugnuk no peito de Estevão, e retorceu-as num rito de crueldade.
(Estevão) Ahhhhhhhhhh!!
O Weiss mexicano não resistiu ao ter o coração retalhado pelas garras afiadas.
Por último Aya usou a magnífica katana, que estava um tanto cega, pelos golpes desferidos contra a grade de ferro, para abrir o abdômen do tal Pedro, num golpe perfeito e mortal que eliminou uma vida de truques sujos. Pedro caiu de bruços no chão frio, mergulhando numa poça criada com seu próprio sangue.
Os três voltaram-se para Manolo, o único que permanecera vivo.
(Manolo) Es... esperem... vocês entenderam errado! Nós não...
(Aya) Cale-se.
(Omi) Paco nos contou tudo. E, aliás, ele também está morto.
(Manolo) Como sabiam que estávamos aqui? Paco não conhecia este local...
(Omi sorrindo) Pelos comunicadores...
(Manolo surpreso) Mas não estão funcionado!
O mexicano levou a mão à orelha e tirou o pequeno aparelho. Na emoção dos últimos acontecimentos até se esquecera de retirá-lo. E também não retirara o aparelho de Yohji e Estevão... falta de sorte...
(Ken) Aparências enganam mesmo... quem diria que vocês eram uns traidores, por baixo de toda aquela hospitalidade.
(Manolo sorrindo) Olha gente... eu me arrependo dos meus pecados... por favor me perdoem... sei que vocês são bonzinhos e... me dêem a chance de uma nova vida.
Ao ouvir o pedido Aya cerrou os lábios e fechou os olhos com força. Quanta hipocrisia ainda viria do maldito mexicano?
(Omi) He, essa é boa. Como Ken disse: aparências enganam. Não pense que somos tão bonzinhos assim.
(Manolo)...
De repente as faces dos três assassinos se tornaram sérias e cruéis, fazendo Manolo engolir em seco e começar a suar frio. Eles não pareciam mais belos anjos e sim demônios despidos de qualquer sentimento humano.
(Omi) Imperdoável! O que você fez é um pecado sem igual.
(Ken) Traição é o único crime que não podemos perdoar. Confiávamos em vocês como verdadeiros companheiros, e viemos do Japão dispostos a arriscar nossas vidas para ajudá-los.
(Omi) Em troca vocês cuspiram em nossas faces e riram nas nossas costas, debochando da boa vontade que tínhamos.
(Ken sorrindo) Agora quer que te perdoemos? Jamais.
(Omi) É hora de pagar pelos pecados, Manolo.
Enquanto falavam os dois assassinos se afastaram para o lado, dando passagem a Aya. O espadachim que permanecera o tempo todo apenas ouvindo finalmente abriu os olhos, mirando Manolo da maneira mais fria possível.
(Aya) Seus crimes não serão esquecidos. SHI-NE!
E movendo-se de forma extremamente rápida, Aya avançou, erguendo a espada e mirando-a no pescoço de Manolo.
(Manolo) AHHHHHHHHHHH...aaaargggghhhh!!
A cabeça do mexicano foi decepada e voou longe, rolando pelo chão sujo. A carcaça do inimigo permaneceu em pé por uns segundos, minando sangue pelo pescoço cortado, até que lentamente desabou de joelhos e tombou sem vida ao solo.
Estava acabado. Ou melhor, quase...
(Omi) Aquele cara grande disse havia lacrado bem os caixotes... Yohji deve estar em um deles.
(Ken) Vamos procurar!
Os três se voltaram à nova tarefa. Ken usou as garras para tirar os pregos que prendiam as tampas. Aya usou a katana e Omi pegou um pé-de-cabra que estava caído por perto.
(Ken) Aqui só tem violões!
Não terminou de abrir aquele e já partiu para outro.
(Omi) Oh! Tem uma criança aqui!
O loirinho descobrira mais uma das vítimas de Alcázar. A menininha parecia ter cerca de doze anos, estava toda amarrada e dormia profundamente. Com certeza por causa da droga que lhe fora ministrada.
(Aya) Tsc.
Abrira um caixote cheio de vilões. Desesperado partiu para outro.
(Omi) Encontrei mais uma menininha.
A busca continuou a toda. Entre garotas extremamente jovens e violões recheados com marijuana.
(Ken) Pessoal, está aqui...
O jogador suspirou satisfeito. Depois de três caixotes cheios de marijuana finalmente descobrira Yohji.
Aya e Omi aproximaram-se depressa. O ruivo ficou tão feliz que não teve o que falar. Apenas observou o amante por um segundo. Yohji estava dormindo profundamente, com as mãos depositadas sobre o tórax. A cabeça permanecia inclinada para o lado, e os lábios estavam entreabertos, auxiliando na respiração. Os mexicanos haviam limpado as feridas do seu rosto e colocado um curativo sobre o nariz, mas era possível ver as marcas roxas e os pequenos cortes dos golpes.
Mordendo o lábio inferior Aya abaixou a cabeça fazendo a franja ocultar seu rosto. Estava tão aliviado que não pôde segurar as lágrimas pela segunda vez naquela manhã.
Ken percebeu que o líder da Weiss estava começando a chorar, então tocou sobre o ombro de Omi e fez um sinal com a cabeça.
(Ken) Já achamos esse loiro atrapalhado. Vamos abrir os outros caixotes, pois pode ter mais alguma criança presa.
(Omi) Tem razão. Teremos que levar todos para o hospital!
E ambos se afastaram, deixando Aya junto a Yohji, tomado por toda a emoção daquele reencontro, mesmo que o loiro ainda não soubesse que existira uma separação.
Felizmente tudo parecia que ia ficar bem.
oOo
(Ken) Ei! Bom dia, bela adormecida!
Yohji fixou os olhos verdes sobre o companheiro, depois observou o local onde estava: era um quarto de hospital desconhecido. Yohji não se lembrava de nada depois de... ah, depois da surra que levara daqueles dois caras. Só ao pensar nisso foi que percebeu que seu braço direito estava engessado, e ao esquerdo fora presa uma agulha que lhe levava soro à veia.
Estranhamente ainda se sentia sonolento, como se não dormisse a muito tempo. E obviamente aquele não era o caso...
Ken percebeu a confusão do loiro, e resolveu esclarecer pelo menos algumas coisas. Deixaria o mais emocionante para Aya contar.
(Ken) Trouxemos você para um hospital da capital. Não se preocupe, está tudo bem! Depois o Aya explica tudo... ele estava aqui até agora pouco, foi difícil convencê-lo a ir para o hotel descansar um pouco. Mas pra te deixar mais tranqüilo eu já aviso que quase todas as menininhas vão ficar bem.
O loiro sorriu de leve e suspirou.
(Yohji) Que bom. Ken...
(Ken) O que foi?
(Yohji) Que menininhas...?
(Ken)!!
O jogador deu um tapa na própria testa. É claro que Yohji não podia saber de que garotas ele estava falando. Que mancada!
(Ken) Esquece...
Yohji deixou passar por que estava se sentindo muito cansado. Ou melhor, sonolento. Os olhos pesavam tanto que acabaria dormindo novamente.
Olhando em direção à porta, Ken segurou uma risadinha. Esfregou as mãos mal se contendo de emoção.
(Ken) Yohji...?
(Yohji) Hn?
(Ken) Eu sei que a gente é amigo a algum tempo... mas não temos lá muita intimidade... apesar disso gostaria de fazer uma pergunta pessoal, mas não quero que se ofenda ou me ache intrometido. É que desde que eu soube que você e o Aya estão juntos fiquei com uma dúvida que TENHO que descobrir! Yohji, qual dos dois fica por cima?!
O moreninho corou ao fazer a pergunta e cerrou os punhos temendo que o loiro se zangasse. Mas nada aconteceu.
(Ken)...
Aproximando o rosto do companheiro, Ken descobriu que Yohji havia adormecido novamente! O jogador quase caiu pra trás com a descoberta. Provavelmente o playboy não tinha nem mesmo ouvido a pergunta.
(Ken) Merda!
Perdera uma chance de ouro...
oOo
Algumas horas depois Aya voltava ao hospital em companhia de Omi. Ambos pegaram Ken sentado próximo a janela muito pensativo.
(Omi) O que houve?
(Ken suspirando) Nada. Yohji acordou uma vez e conversamos um pouco...
(Omi) Que bom!
(Ken) Teve mais notícias das garotas?
(Omi) Sim. Apenas uma não sobreviveu... a dose de seconal foi muito forte para a pouca idade dela. As outras cinco vão ficar bem.
(Ken) Vamos conversar sobre isso na cantina. Omi tive uma desilusão que você não vai acreditar. Te conto enquanto tomamos um café.
(Aya)...
Observou os dois jovens saindo do quarto sem poder atinar o que teria causado tão grande decepção no Weiss moreno. Dando de ombros sentou-se ao lado da cama do amante, onde ficou quieto e pensativo.
Pouco tempo depois Yohji acordou mais uma vez. E sentia-se muito melhor. Sem sono ou aquela sensação estranha de cansaço. Com a mente totalmente desperta ele olhou ao redor procurando por Ken (lembrava-se vagamente do jogador sentado ao lado de sua cama, enquanto falava de 'intimidade'), e ficou muito surpreso e satisfeito ao ver Aya no lugar do jogador.
(Yohji) Aya!
(Aya) Olá...
Olhos verdes se encontraram com os violeta.
(Yohji) Que coisa, parece que dessa vez quase me ferrei!
Yohji se sentia muito bem. A vontade de sair daquele local se manifestou tão logo viu seu lindo amante sentado ao lado da cama. Mas pelo jeito teria que esperar a alta do hospital. Parecia incrível que a surra o tivesse deixado tão mal assim... e falando nisso...
(Yohji preocupado) Aya, e o chibi? Está bem? Não me diga que aqueles caras conseguiram pegá-lo...
(Aya) Omi está bem.
(Yohji suspirando) Ótimo! E os carinhas mexicanos? Espero que estejam bem também. Droga, teremos que bolar outro plano pra acabar com essa tal de Alcázar...
(Aya) Não se preocupe com eles.
Estranhando o tom de voz frio, Yohji olhou fixamente para Aya por alguns segundos.
(Yohji) O que houve? O que foi que eu perdi?
O líder da Weiss passou a língua sobre os lábios e respirou fundo. Não havia por que esconder tal informação do amante. Ele tinha que estar a par de tudo o que acontecera desde que fora encurralado naquele beco.
Ao fim da longa narrativa Yohji assobiou espantado.
(Yohji) Esses mexicanos foram ousados. Caralho, parece que perdi o melhor da festa... Aya, poderia acender um cigarro pra mim?
(Aya)...
(Yohji sorrindo) Por favor...?
(Aya) Kudou...
(Yohji suspirando) Acho que isso é um 'não'.
Os Weiss silenciaram novamente. Aya estava com um longo discurso entalado na garganta, mas não sabia como iniciá-lo. Estava desacostumado a travar longas conversas e não seria fácil voltar a agir como quando ainda era Ran.
(Yohji) To com saudade de casa... você não está?
Ouvir a confissão fez a expressão tensa do ruivo se suavizar um tanto. Aya observou o amante, aproveitando o fato de Yohji estar concentrado observando a paisagem além da grande janela.
(Aya) Sim. Yohji...
(Yohji) O que foi?
(Aya irritado) Quer olhar pra mim enquanto falo? Detesto quando age assim.
A reclamação fez o loiro voltar os olhos verdes para Aya, sorrindo divertido. Adorava provocar o amante e não seria um quarto de hospital que atrapalharia sua diversão.
(Yohji) He, he... força do hábito.
(Aya)...
(Yohji) O que ia me dizer?
Aya piscou e suspirou alto. Parecia que o clima fora estragado. E ele estava prontinho para declarar seus verdadeiros sentimentos. Percebendo a hesitação Yohji sorriu ainda mais. Os olhos de jade brilharam compreensivos.
(Yohji) Você ainda não está pronto, eu entendo. Não há pressa.
Aya balançou a cabeça dizendo que 'não'. Yohji estava errado. Havia pressa sim, e muita na realidade. No fundo o espadachim sabia que estava apenas adiando o momento que ambos aguardavam, por que ainda tinha medo de se envolver.
E doía saber que esse 'medo' não passaria enquanto não revelasse o que ia no fundo de seu coração. Justamente o medo que se tornara sua maior barreira. O maior e mais difícil paradigma a ser vencido.
(Yohji) Não se torture, Aya. Mesmo que não diga nada eu sei como se sente, porque compartilho os mesmo sentimentos... e tenho certeza que no...
(Aya) Yohji, cale-se.
(Yohji)!!
(Aya) Você fala demais. Pelo menos uma vez na vida escute o que outra pessoa tem a lhe dizer.
O ex-detetive ficou surpreso por tanta eloqüência na voz do amante. E a surpresa realmente roubou-lhe a fala (ou ele teria protestado).
(Aya) Escute: ainda não descobri um meio correto de dizer o que é 'compromisso', mas tive muito medo nessa última missão. Temi que você não voltasse pra mim e...
Calou-se respirando fundo. Yohji ficou de boca fechada, sentindo que se dissesse algo poderia por tudo a perder.
(Aya)... não importa. O que quero dizer é que amo... você...
Estava feito. Só faltava Yohji completar a declaração com um 'eu também amo você, Aya' e tudo seria perfeito.
(Yohji) Eu sabia disso...
O Weiss ruivo quase caiu pra trás com o que ouviu.
(Yohji) Aya, eu já desconfiava disso a muito tempo. Você acha que sou bobo? Dava pra ver no seu olhar, no seu jeito de agir... e quando veio me propor compromisso ficou evidente!
(Aya) Mas então...
(Yohji) Eu não aceitaria nenhuma proposta antes de ouvir você se declarando. Isso é compromisso pra mim: união de sentimentos.
(Aya surpreso) Porque não disse antes?
(Yohji) Ora... eu queria ouvir você dizendo o que acabou de me dizer sem pressioná-lo ou apressá-lo. Sei como se sente em relação a se envolver com outra pessoa e eu achei que sua decisão deveria ser espontânea.
O ruivo ficou agradavelmente satisfeito com o que ouviu. Precisava apenas de uma confirmação... e ela veio em seguida.
(Yohji) E é claro que eu amo você. Muito mesmo! Aliás, se pudesse eu te dava um abraço, mas como não dá... fica pra quando voltarmos pra casa.
O ruivo concordou com a cabeça.
Parecia que um peso havia sido tirado de suas costas, e no fim nem fora tão difícil assim! Se soubesse tinha se declarado muito antes. Fora preciso uma missão arriscada, e quase perder quem tanto amava para abrir-lhe os olhos e expor definitivamente o coração...
E pelo jeito isso não afetaria suas vidas em nada, poderiam deixar as coisas seguirem seu curso normal, apreciando mais aquela lição que a vida lhes ensinava.
Fim
Aí está a primeira fic de "Dark side storys"...
¬¬ Confesso que não fui assim taaaauuummm má com os Weiss, mas pô! Eu to começando a desvendar esse meu lado negro... acho que ainda melhora um pouco... quero dizer: PIORA!! Ò.Ó Huahahahahahahaha!! músiquinha sinistra de fundo
Ahhhhhhhhhh, sobre os tipos sanguíneos... sei que o O é o tipo universal, e isso faz do Omi a vítima perfeita, mas... onegai, vamos pular esse detalhezinho insignificante... n.n""""""
Na nossa próxima aventura... ¬¬" digo, na minha próxima fic, teremos um encontro marcado com uma velha amiga dos Weiss... é hora de trazer Setsuko de volta a cena e remexer em velhas cicatrizes, provando que algumas feridas jamais se curam...
É... uma pessoa planta o que pode, e cuida do que plantou...
