Eu sorrio pra ela, vendo-a em seguida sair dali.
Subi ate o meu apartamento que estava limpo graças ao auxilio de uma faxineira. Fazem dias que eu não pisava aqui. Olho as contas que estavam acumuladas em cima da mesa, colocando-as dentro do meu bolso.
Vou até o meu quarto e pego uma bolsa pra pegar mais algumas roupas, eu ja estava mesmo com quase todo o meu guarda-roupas no apartamento dela. Esvazio o estoque do banheiro, pegando tudo o que tinha de direito lá. Até que volto ao meu quarto. Encaro o armário quase vazio. Apenas alguns casacos para extremo frio. Coloco a mão no bolso e por um descuido vejo uma das contas cair no chão. Me abaixo imediatamente pra pegar e quando olho para frente, vejo uma caixa esquecida, bem no fundo do armário. O que teria ali que eu nunca senti falta?
Peguei a caixa com cuidado. Ela não estava muito pesada, mas sim com muita poeira. Me sento na cama com ela no colo e vou abrindo devagar. Me dá até medo que saísse algum bicho de lá de dentro. Quando abri as quatro "abas" da caixa, num primeiro momento só vi papéis. Tirei eles de cima e pude começar a ver fotos. Muitas fotos. Todas de... hahaha. Que dúvida! Eram todas as minhas fotos com ela e dela. Lembro que quando nós fomos morar juntos ela me perguntou dessas fotos e eu desconversei. Na bem da verdade, não fazia a mínima idéia de onde estavam. Escondi tão bem, de mim mesmo, que não consegui encontrar.
Tirei as fotos com cuidado, deixando em cima da mesa. Não demorou muito pra eu poder enxergar duas outras caixinhas dentro da caixa. Uma já muito familiar, de madeira. A bendita caixa que eu escondi dela, que achei na minha outra vida. Aquela caixa...ah, sim. Mas a outra...? Aquela caixinha azul de veludo, intacta.
Minha memória viajou chegando aquele momento, naquele jantar. De alguma forma eu sabia que essa caixinha sempre teria um só destino. Como eu fui estúpido ao imaginar que ela não seria "boa o suficiente" para casar comigo? Onde eu estava com a minha cabeça naquela época! Uma simples frase, uma simples pergunta poderia ter mudado as nossas vidas. Não sei se o que fiz foi pra melhor, mas agora ainda há tempo para voltar atrás. Eu preciso fazer alguma coisa para me redimir.
Abro a caixinha encarando o meu futuro. Aquilo com certeza seria uma surpresa pra ela... ainda mais se for repentino...
Me levanto indo em direção ao catalogo telefônico. Eu tinha que terminar o que não tinha conseguido fazer da ultima vez. Procuro pelo nome do restaurante, tomara que ele ainda exista. Disco o numero e prontamente alguém atende. Consigo a ultima reserva para hoje. Agora só tinha que avisa-la do compromisso. Ligo para o seu celular que começa a chamar insistentemente.
"John!" – ela parecia ocupada – "E aí! No que deu tudo!"
"Eu já estou quase terminando aqui.. que horas você acha que chega em casa?"
"As 8 e meia..." – ela responde depois de alguns segundos.
"Da pra estar pronta as 9 e meia pra sairmos!"
"Tem que ser hoje!" – ela pergunta com uma voz cansada.
"Por que?"- eu pergunto, já com medo da recusa.
"Ah"- o ar dela já era de puro cansaço- "eu já estou morta... imagina de noite...?"- ela riu, gritando alguma coisa pra alguém sobre o Trauma 3- "então, tem que ser hoje?"- eu analisei em que dia estávamos. Não, tudo era muito perfeito. O dia do mês era o mesmo daquele jantar. Tinha que ser hoje.
"Por favor..."- eu choraminguei um pouco- "eu prometo que a gente não demora, vai?"- insisti mais um pouco, sabia que ela acabaria cedendo.
"Tá bom, vai..".- ela suspirou. Ouvi ela dizer mais alguma coisa pra alguém. Ela tinha se tornado uma peça fundamental naquele hospital.
"Tá muito cheio aí?"- eu perguntei, andando pelo meu apartamento com o telefone-sem-fio.
"Você não imagina o quanto"- ela pareceu entrar num lugar menos barulhento- "sorte sua estar de folga hoje. Tão me achando com cara de "Carter" hoje..."- ela sorriu e eu sorri mais ainda com seu comentário. Saber que ela poderia se tornar definitivamente uma "Carter" em poucos dias.
"Se você quiser eu posso ir ai cobrir o resto da tua troca..."
"Não precisa... eu estou bem.. eu quero alguém descansado pra fazer massagem em mim quando chegarmos em casa..."
"Se você não dormir antes.. tudo bem.."
"Agora vou ter que desligar... estão me chamando pra um trauma... até mais tarde.."
"Ate.. te a..." - ela desliga na minha cara. Eu acho que estão explorando demais ela por lá.. quero só ver quando ela engravidar como vai ser...
Aproveito e fico um tempo no apartamento recolhendo algumas coisas antes de ir embora.
Continua...
