Já são oito e meia e nada dela ligar nem aparecer. Eu não podia perder essa reserva de hoje. Quando eu ia ligar pra ela ouço o barulho de chave na porta. Ela entra com uma feição abatida mais ainda tentando sorrir.

"Apareceu uma complicação de ultima hora mais ja estou aqui..."

"Pensei que não viria mais..."- eu sorri, indo até ela e ajudando-a com algumas pastas- "muita lição de casa?"- eu perguntei, encarando a pilha de relatórios a preencher.

"Nem me fale" - ela foi direto pro quarto e começou a tirar a roupa- "essa Weaver é mesmo uma filha da p.."- ela me interrompeu, percebendo que eu já estava pronto- "ei, peraí"- ela me encarou de cima baixo- "nós não vamos a mais uma reunião ma-ra-vi-lho-sa da sua família não, né?"- ela disse, irônica, entrando no chuveiro.

"Não, não"- eu respondi, entrando no banheiro pra escovar os meus dentes.

"Que bom"- ela disse, mergulhando a cabeça na ducha – "limpar a casa, trabalhar que nem burro-de-carga e depois enfrentar esses jantares...não dá pra agüentar tudo num dia só não" - ela sorrindo, e eu sai, pra terminar de ajeitar tudo.

Separei a chave do carro, a caixinha no meu bolso da calça. Nem sei por que a minha pressa. Se eu bem conhecesse Abby, ela ainda demoraria mais meia hora pra escolher uma roupa.

"Muito trabalho hoje?"- eu perguntei voltando ao banheiro e vendo-a que ela já saia com a toalha enrolada no corpo. Ela devia estar muito cansada mesmo, um banho com menos de 15 minutos? Record!

"Meu Deus!"- ela foi indo até a parte dela no armário- "aquilo estava um inferno!"- ela abriu a porta e por incrível que pareça pegou uma roupa rapidamente- "essa aqui tá boa?"- ela colocou na frente do corpo e me deu pra analisar.

"Tá otima.. "

Pra mim qualquer coisa que ela usava ficava ótima. Ela se vestiu rapidamente, foi ao banheiro, nem secou os cabelos, se maquiou e apareceu toda perfumada na minha frente.

"Vamos antes que eu deite naquela cama..."

"Eu estou te maltratando ne! Mas é por uma boa causa..." - eu me aproximo estendendo o meu braço pra ela e fomos rumo ao carro.

Abro a porta do carro pra ela e ela me olha como se estivesse estranhando. Eu sorrio e ela entra sem contestar.

"Pra onde eu estou indo?" – ela se ajeita colocando o cinto.

"Jantar... comer sushi..."

"E tinha urgência pra isso!" - ela me olha intrigada.

"O pior é que tem... hoje o sushi é especial..." – eu pisco e ela fica sem entender nada.

"E eu espero que seja.. que nem com fome eu estou.. tomei um café antes de vir pra casa.."

"E café alimenta!"

"Eu aprendi a me alimentar só com ele..."

"Por isso que você é tão fraquinha"- eu a olhei de rabo de olho,dirigindo pelas ruas da cidade rapidamente. Não podia atrasar ou não esperariam. As coisas tinha que ser mais ou menos igual. Já não seria porque aquele dia estava tudo vazio, eu tinha fechado o restaurante para nós. E hoje...bem, hoje aquilo deveria estar outro inferno. Mas enfim, o que vale é a intenção.

"Fraquinha? Quer dizer que agora eu sou fraquinha?"- ela me deu um beliscou na barriga logo que chegamos em frente ao restaurante. Nem era tão longe de casa. Era meio longe da minha. Eu desci do carro e abri a porta pra ela. Eu podia ver que ela já começava a ficar meio desconfortável. Ela não era besta. Já devia estar sacando alguma coisa.

"Nossa"- ela encarou o letreiro do lugar- "faz muito tempo que eu não venho aqui.."- ela disse, enquanto entrávamos de mãos dadas no restaurante. Falei com a recepcionista e com alguma sorte a nossa seria bem afastada.

"É essa aqui"- e moça disse, me mostrando o lugar. Realmente não era lá o que eu desejava, mas pelo menos não era no centro, na muvuca. Um mesa perto da janela, ao fundo do restaurante. Bem, poderia ser pior...

Ela pegou o cardápio em silencio e o nervosismo começava a bater em mim.

"Nossa.. como os preços aumentaram... mas porque esse restaurante!"

"Eu estava com vontade de comer sushi..." - eu tento disfarçar pra ela não desconfiar.

"E porque a gente não come naquele perto lá de casa!" – ela me encara e eu fujo do seu olhar.

"Mas eu gosto desse.. e faz tempo que eu não vinha aqui desde..."

"Garçom!" - ela acena e ela se aproxima nem deixando eu terminar o meu pensamento.

"Vai ser rodizio ou o que?" - ela se vira perguntando pra mim.

"Tanto faz..."

"No quilo então... estou sem muita fome..."

Eu comecei a bater meus dedos na mesa olhando pros lados. Eu tinha que esperar ate depois de comermos tudo para ser igual a outra vez.

"Você esta estranho..." - ela falou tomando um gole de vinho.

Como ela era atriz! Pra mim ela já tinha entendido tudo. Ou não? Será que o meu nervosismo me fazia ver coisas? Droga!

"Com fome.. vamos?"- eu me levantei e a esperei tomar mais um gole do vinho tinto Mudei logo de assunto. Teria que tomar muito vinho pra conseguir chegar os final da noite sem ter um ataque do coração.

Voltamos pra mesa. Meu prato parecia uma montanha. Eu nem sabia onde ia enfiar tanta comida. Ainda bem que sushi é bem "leve". Ela sorriu vendo o meu prato.

"Que fome hein?"- nós sorrimos. Também, com aquela comida que nem tinha sujado o prato...

"Aham"- eu afirmei, pegando o primeiro sushi. Vi ela sorrir pra mim algumas vez...Pra mim ou DE mim? – "Eu estava pensando em vender o meu apartamento..." - eu falei mudando de assunto.

"Porque!" - ela disse com a boca ainda cheia.

"Comprar um mais perto do seu... quem sabe no mesmo prédio!" - mal sabia ela, ou sabia, que o nosso próximo passo seria comprar a nossa casinha.

"Pelo menos gasta menos gasolina.." - ela fala rindo.

Nós comemos e eu nunca toquei no assunto. O nervosismo tinha passado um pouco e eu ja percebia que ela ja estava quase dormindo na cadeira.

"Vai querer sobremesa!"

"Qualquer coisa pra mim está ótimo..."

"Dois suflês de chocolate por favor."

Pronto. Chegou o momento. Eu não tinha planejado nada para falar, nem sabia começar... eu fiquei em silencio procurando pelas palavras quando eu percebi a impaciência dela me encarando.

"Que passa?"- ela perguntou assim que a sobremesa chegou – "você tá muito estranho...eu que to morta de cansaço e você que fica louquinho?"- ela me sorriu.

"Abby"- tinha chegado a hora. Eu imaginei muito isso, desde aquela época. Ensaiei o que iria dizer naquela época e acabou que não saiu nada. Talvez hoje, sem muito preparo, as coisas saíssem melhor.

"Diga, Carter! Você está me assustando..."- ela disse, dando mais um gole no vinho.

"Eu quero casar com você..."- Meus Deus! Eu disse! Saiu! "Eu quero"? Que jeito é esse de pedir alguém em casamento? Eu nem sentia as palavras saírem da minha boca. Tomei coragem e olhei pra frente. Tinha que ver a reação dela...

Continua..