Senti ela se aproximar de mim naquela rua deserta. Nenhum ruído. Apenas um buzinas ao longe era o que eu escutava. Ela não me tocou. Ficou do meu lado olhando para a mesma coisa que eu. Meu olhos rodaram rapidamente por todos os detalhes. Era aquela mesmo. No mudo do lado direito, perto da caixa de luz a placa: VENDE-SE. Aquela era a minha casa.
"O que você esta olhando?" - Abby finalmente falou me fazendo voltar à realidade.
"A nossa futura casa..."
"Como? " - ela pergunta se aproximando da calçada. – "você já tinha vindo visitá-la?"
"Não.. mas eu sei que essa é a nossa casa..." - eu fui andando indo até a porta, ver se ela estava aberta. Eu precisava conferir se era a mesma.
"O que você está fazendo John?" - ela corre segundo minha mão antes que eu cometesse aquele delito.
"Só dar uma olhadinha.. não custa nada... "
"Sério John.. se você quer tanto ver essa casa, amanhã a gente contacta o corretor de imóveis e pedimos a chave para visita-la.."
Pensei bem olhando pra ela e pra casa. Seria um ideia melhor mas a minha ansiedade não conseguia deixar eu ir embora. Ela ficou me olhando com cara de anjinho e achei melhor não forçar. Ela estava cansada e bem ou mal, a "culpa" era minha. Voltei pro carro, ainda com os olhos fixos na casa. Amanhâ não perderia tempo.
Voltei a dirigir e logo achei o caminho de casa. O transito parecia ter diminuído e eu pude chegar em casa com mais rapidez. Estacionei o carro quando ela estava quase dormindo.
"Que que eu te carregue?" - eu perguntei brincando.
"Não seria uma má idéia"- ela falou seriamente- "mas eu sei que você não me aguenta..."- ela disse, batendo a porta do carro se escorando na parede do prédio enquanto esperava fechar o carro.
"Lógico que eu te aguento.."- eu insisti mas ela já não dava a mínima importância.
Subimos a escada e via que os olhos dela fechavam sozinhos.
"Você precisa de uma cama urgentemente.."- eu disse, quando a vi quase desmaiar de sono.
"Olha quem fala..."- ela disse, esboçando um sorriso. Eu também não deveria estar nada bem.
Demorei um pouco para conseguir abrir a porta e fomos os dois rastejando até o quarto.
"Hoje você não foi romântico comigo.." - ela disse caindo na cama do jeito que estava.
"Ainda dá tempo.. quer que eu seja!" - eu me sentei ao seu lado tirando o meu sapato.
"Não... mas bem que poderia ter me colocado nos braços como ontem e ter me trazido até a cama "– ela começou a gargalhar alto, estaria ela fazendo alguma piada sobre a noite passada!
"Isso seria uma piada!" - eu me levantei da cama indo ao banheiro escovar meus dentes. Esperei alguns segundos por alguma resposta sua mas ela havia ficado calada repentinamente. Volto ao quarto com a escova de dentes na boca e me abaixo para conferir se ela havia mesmo dormido.
"Bú!' - ela grita pulando no meu pescoço me jogando na cama.
"Você tá esperta demais pra quem estava com sono a poucos segundos atrás... "
"Eca! Pasta de dentes!" - ela se afasta de mim e se senta na cama vendo o "estrago" que eu havia feito na sua roupa.
"Como você é fresquinha, mulher..."- eu fui até ela e dei um selinho rápido antes de deitar no outro canto da cama.
"Hum...até que o gostinho é bom...quero mais um"- ela veio até mim e me deu um pouco mais do que um selinho.
Eu estava realmente impressionado. Ela nunca fora assim tão atirada. Provavelmente ainda era o efeito do casamento. Ela me soltou um pouco sem ar e começou a sorrir pra mim. Se levantou e escovou os dentes. Foi voltando pra cama, depois de colocar um roupa mais confortável.
"Pronto, agora prova você" - ela veio de novo mas dessa vez me deu um beijo mais curto- "boa noite"- disse virando pro lado. Talvez fosse o momento de ressaltar algo.
"Então amanhã cedo você vai lá ver a casa comigo!"- eu disse, sem olhar pra ela. Apenas um pedaço dos nossos corpos se encostavam.
"Por que você encucou com aquela casa?"- o assunto pareceu interessar. Ela virou completamente pra mim na cama e se apoiou no cotovelo pra olhar pra mim
"Você viu o jardim dela!" - eu tentei disfarçar. Se eu contasse sobre o sonho, sobre a vida que tivemos mas que só eu lembro ela iria me mandar para um hospício.
"Sério John... nós nem falávamos em comprar casa.. acho que pra nós dois esse apartamento está ótimo..."
"Mas eu estou pensando no futuro.. e eu já estava com uma idéia dessas na cabeça.."
"Tão repentinamente assim! Nós mal casamos e nem sabemos quando ela virá..."
Eu parei um instante e fiquei encarando-a. Ela falou "ela" ou eu estou ficando louco!
"Quem ela virá!" - eu falei tocando sua barriga. – "quem sabe ela já não esteja aí..."
Abby sorri um pouco, olha pra minha mão e toca nela devagar.
"Eu estou falando serio... podemos ficar ainda nesse apartamento por um ano.. e ver com calma a casa.."
"Podemos pelo menos visitá-la! Se você não gostar tudo bem.. a gente desencana dela.." - eu olhei pra baixo e vi que ela ainda segurava a minha mão na sua barriga.
"Tá bem..."-ela deitou de novo, de costas pra mim mas continuava segurando minha mão junto barriga dela- "me acorda amanhã cedo que eu vou lá com você, ok!"- eu dei um beijo nas costas dela em resposta. Acho que ela percebeu que eu insistiria. Não demorou muito para que eu a visse dormindo. Ela realmente estava muito cansada. Eu não estava diferente, por isso também não demorei muito a dormir.
Eu acordei pela manha refeito. Tinha reposto todas as minhas energias para aquele que julgava que ia ser um grande dia. Já da pessoa do meu lado...eu não podia dizer o mesmo. Abby estava espalhada cama, num sono ainda pesado. Fiquei com dó e a deixei dormindo, enquanto pus uma roupa e sai. A primeira coisa que fiz foi finalmente comprar nossa aliança de casamento.
Mandei gravar apenas "John" e Abby. Nosso amor já era complicado demais. Alguma coisa tinha de ser fácil. Fui também ao cartório onde peguei nossos documentos de volta e vi se já estava tudo certo. Beleza. Não resisti e passei em frente a casa de novo. Anotei o número que estava na placa e liguei em seguida. Tudo certo. Passaria dentro de duas horas lá novamente para conhecer a casa com o corretor.
Passei na padaria e comprei algumas guloseimas antes de ir pra casa. Eu não iria perder meu tempo hoje me preocupando com comida. Chego em casa deixando o que havia comprado na mesa e sigo ao quarto na esperança de já vê-la acordado. Ilusão. Como eu poderia pensar disso dela! Volto a cozinha e lhe dou mais vinte minutos enquanto preparava algo para beber. Faço dois tipos de suco, preparo o café, arrumo a mesa e quando menos espero ela aparece descabelada, segurando o lençol e coçando os olhos.
"Que marido mais eficiente..." - ela boceja uma vez, apanha um papel que estava no chão e eu me puxo uma cadeira, esperando que ela fosse se sentar. "Tomar banho primeiro..." - ela passa reto por mim, pega a sua toalha e eu olho incrédulo. Logo depois de "tanto" trabalho que eu tive... Ela anda com a toalha no ombro até o final da cozinha e se vira percebendo o meu silêncio. – "Se bem que eu estou com tanta fome..."
Eu olhos esperançoso e sorridente mas isso logo acaba quando ela some pelo corredor gritando do quarto "pode ir comendo, já vou". Poxa! Claro que não! Queria tomar um primeiro café da manha decente com minha mulher. Bem, fazer o que? Nada é perfeito! Vou até a sala e ligo a TV no jornal da manha enquanto espero.
"Já vou" Fazem pelo menos 25 minutos que ela entrou lá e até agora nem sinal. Quando eu me decido ir comendo ela aparece. Nunca vi essa roupa antes. Deve ser nova.
"Roupa nova?"- eu puxo conversando, tentando passar a impressão de companheiro atencioso.
"Carter, eu tenho essa roupa desde que era casada com Richard..."- ele me olhar com "aquele" olhar de "seu idiota" e eu me sinto do tamanho de uma formiguinha.
Ela nem percebe a minha super mesa de café e começa a devorar tudo. Aquele era mesmo um efeito passageiro. Mesmo com tudo isso, ela continua uma gracinha.
"Passei no cartório de manhã"- eu tomo um gole de leite- "já está tudo certo... Seus documentos estão ali em cima"- eu digo, apontando para a mesa da sala.
"Depois eu guardo.." - ela fala mastigando... – "você que fez isso tudo?" - finalmente ela havia reconhecido os meus talentos!
"Comprei isso tudo.." - eu disse separando o que eu mais gostava em um prato pra comer.
"Ah... eu só poderia estar sonhando achando que você faria um bolo tão gostoso.."
"Esculhambando os meus dotes culinários! Quando você esta com fome não reclama nadinha!"
"Descuuulpa bebê! Eu adoro seu tempero.." - ela bebeu um gole de suco e eu fiz uma cara feia encarando-a. – "Olha o que eu fiz!" - ela se levantou da mesa e veio até aonde eu estava me agarrando pelo pescoço.- "Eu prefiro sua comida tá!" - ela me dá um beijo na nuca. - especialmente quando ela é feita depois de muito amor e carinho...
"Ha.." - eu faço um pouco de charme. – "agora você fala assim né! Nunca havia me elogiado por cozinha pra você..."
"Mas agora eu tô! Recuperando o tempo perdido!" - ela se encosta na mesa ficando ao meu lado. – "o que eu posso fazer para recompensa-lo!"
"Agora! Nada... mais tarde quem sabe... mas antes.. temos um programa agendado.."
"Ah, é..."- ela disse, sentando de novo.
"Eu já conversei com o corretor e ele está nos esperando dentro de um 50 minutos..."- eu disse, não notando a expressão que se formava no rosto dela.
"Já foi falar com ele? Mas que pressa é essa?"- ela me lançou um olhar pesado.
"Não é pressa...só adiantei as coisas..."- falei, comendo o último pedaço de pão e colocando a louça suja dentro da pia.
Ela continuou de costas em silêncio enquanto eu lavava tudo. Quando terminou, colocou a xícara do meu lado e ficou esperando que eu saísse dali.
"Deixa que eu lavo..."- eu disse, pegando a xícara da mão dela.
"Tá bem.."-olhei de lado e ela tinha ido pegar os documentos em cima da mesa. A vi entrar mais uma vez por aquele corredor.
Terminei com a louça e fui até o quarto depois de desligar a TV. Queria por uma blusa mais quente, o tempo me dizia que ia virar. Eu não precisava de uma gripe agora.
Vi que ela também tinha se agasalhado bem. Aquele moletom branco quentinho que eu dei pra ela há uns meses atrás que ainda ficava um pouco grande. A barra por fazer, as vezes arrastava no chão.
Peguei a carteira e coloquei no bolso juntamente com as chaves do carro. Eu também teria depois que ver um carro novo, esse não combina muito com família grande. Volto pra sala pegando as contas que estavam em cima da mesa e vejo se alguma estava para vencer. Separo a conta de luz e telefone e coloco-as dentro da carteira.
"Preciso ir a farmácia antes de ir para a tal casa.." - ela se aproxima de mim indo até a porta.
"Farmácia! Comprar o que!"
"Absorventes? A qualquer dia ela pode chegar..."
"Certo.." - eu tranquei a porta e fomos nos dirigindo mais uma vez para o carro. Se Deus quisesse esses absorventes que iríamos comprar iriam ficar podres e vencidos dentro do armário do banheiro. Rapidamente chegamos a farmácia e ela foi direto aonde ficavam os absorvente. Eu aproveitei e peguei algumas coisas que precisava e levei ao caixa enquanto esperava ela trazer o que queria.
"John..." - ela gritou no fim do corredor e eu apanhei uma cesta colocando as minhas coisas e fui até onde ela estava.
"O que foi!"
"Compro isso!" - ela pega uma tinta para cabelo cor castanho médio.
"Ficar morena de novo!" - isso não combinada nadinha com o meu sonho.
"É...por que não?"- ela realmente parecia bem interessada na mudança. Ela ficou me encarando e olhou mais uma vez para a tinta como se pedisse uma permissão. A minha cara não devia estar nada acolhedora- "se você não quiser, tudo bem..."- ela já foi colocando o produto de volta na estante.
"Não..."- eu peguei a caixa de novo- "pra ser sincero, eu prefiro você loira"- eu sorri e ela continuou séria- "mas se você quer...faz, sim!"- eu tentei dar apoio.
"Não...tudo bem..."- ela colocou o produto de volta mais uma vez.
"Não" -eu peguei de novo- "vai, agora eu quero ver!"- ela finalmente riu e nos fomos pagar tudo no caixa.
Ela riu de mim quando me viu ficar encabulado no pagamento dos absorventes. Ela sempre fazia isso comigo... E isso também valia para as caminhas, quando era o caso de comprarmos ao invés de pegar no E.R. Voltamos para o carro e eu diriji para aquela rua. Já tinha decorado aquele caminho.
Descemos do carro e fomos até a porta da casa, que por sinal já estava aberta. Eu aperto a campainha e Abby fica mexendo na bolsa enquanto esperamos pela presença do corretor.
"Quer chiclete!" - ela tira um pacto de trident e me estende.
"Não.. obrigado..."
Eu toco a campainha de novo, quando finalmente o corretor aparece.
"Bom Dia..." - ele nos convida a entrar sorrindo. – "o sr. foi bem pontual... essa é a sua senhora!" - ele estende a mão para cumprimentar Abby.
"Sou.." - ela fala mascando o chiclete e segundo a minha mão.
"Pois venha sr. Carter.. vou lhe mostrar a casa dos seus sonhos..."
Eu olhei para os lados e por incrível que pareça, a casa era a mesma, sem tirar nem por. Passei por cada lugar recordando os movéis que ficavam ali. Subimos as escadas e fui direto até onde era o nosso quarto.
"Esse seria o quarto de casal..." - o homem ficou na porta enquanto entrávamos no cômodo.
Entrei por completo e uma força maior não me fazia tirar os olhos do chão. Abby apertou minha mão para que eu prestasse atenção no homem que ficava falando sobre todas as vantagens da casa. Que eu já sabia de cor, a propósito. Isso fez com que eu me desconcentrasse e parasse de procurar o que eu queria achar.
Olhei um pouco para o homem e engoli um pouco daquela baboseira toda. Seu eu pudesse dizer "meu filho, cala a boca que eu já vive aqui"... Mas não posso.
"E aqui..."- ele foi saindo da suíte, indo para o "quarto de Julie". Eu tentei puxar Abby para que ficássemos mis um pouco ali mas não deu. Ela pegou na minha mão e foi me puxando, sem me deixar com a mínima chance de ver se a tal marca estava no chão. Entramos naquele quarto que me trazia tão boas recordações. Eu sorri imaginando a vida que agora eu poderia ter ali.
"Um bom quarto para uma criança..." - homem fala indo até a janela e mostrando a vista.
Eu olhei para aquele homem e não acreditava nos seus comentários ridículos. É claro que ali seria um quarto para criança. Seria pra quem! Eu dormir longe da minha esposa! Só estando louco mesmo. Fingi que olhava o quarto e puxei Abby enquanto o homem falava da maravilhosa vista para algum buraco aí qualquer. Voltei ao meu quarto e Abby ficou parada na porta meio impaciente com tudo aquilo.
"O que você quer tanto nesse quarto hein!" - ela olhava para trás esperando que o corretor aparecesse quando eu me ajoelhei no chão procurando pela marca. Saio engatinhando por todos os lados quando eu me sento tentando lembrar de onde eu estava no momento. A cama era ali.. ali o criado-mudo, armário.. televisão..
"John! levanta daí! Você tá ficando louco!" - eu olhei para o lado e ela estava com mão na cintura, séria, olhando para o chão.
"Calma ai...fica quietinha"- eu voltei a procurar pelo chão até que avistei um caixa de papelão no chão que eu não tinha visto antes, talvez por causa da pressão. Corri pra lá e quando percebi que Abby estava respondendo algo para o homem, comecei a arrasta-la.
Fui tirando devagarzinho e a expectativa aumentava a cada milímetro que a caixa se movia. Quando ela finalmente saiu por completo, me escapou um grito todo feliz "isso!". Estava ali. Do jeitinho que eu fiz. Abby instantaneamente olhou para mim e começou a ficar cada vez mais confusa.
"Você endoidou de vez"- ela me chamou com as mãos- "o homem não pára de falar um segundo, me ajuda aqui!"
Eu e levanto satisfeito com aquilo. A casa já seria minha, sem a menor duvida e sem Abby reclamar.
"Eu vou querer a casa.." - eu me aproximo do homem que olha me estranhando. Eu evito olhar pra Abby que com certeza estaria com uma feição pior que a dele.
"O Sr. Não gostaria de ver o resto da casa!" - ele falou andando um pouco e se virando pra mim.
"Pra que! Eu já sei o que me espera..."
"John.." - Abby me puxou pelo braço. – "vamos ver o resto da casa.. e pra que essa presa? Nem estava nos nossos planos, e além disso, é a primeira que nós vemos!"
"Se vocês não acreditam... o chão da cozinha é branco. O azulejo da parece também é.. fora isso... tem um quintal onde tem uma churrasqueira..."
O homem ficou me olhando incrédulo e eu saí andando na frente.
"Eu mostro o caminho..."
Desci as escadas e fui levando-os até a cozinha onde eles puderam constatar tudo aquilo. Abby andou mais um pouco indo ao jardim e vendo a churrasqueira.
"Você já havia visitado essa casa antes de me consultar ! Hein sr. Carter?"
Eu queria falar a verdade e me safar de uma bronca, mas se eu falasse como as coisas realmente aconteceram eu seria taxado de louco.
"Sim senhora..."- eu disse me fazendo de medroso, arrancando uma pequena gargalhada até do homem que por um milagre, tinha parado de matracar.
"Você não tem jeito!"- ela tinha ficado séria de novo ou era impressão- "você adora fazer as coisas nas minhas costas! Que saco viu!"
Eu fiquei com vergonha por ela falar assim comigo na frente do cara, mas tudo bem. Eu sabia que isso iria irrita-la. Estava preparado.
"O senhor nos da licença por um momento?"- eu pedi ao homem que nos encarava. Além de tudo, era inconveniente.
"Ah, sim, claro..."- ele finalmente se tocou e foi saindo de fininho.
"Você gostou da casa?"- eu disse, encarando-a. Ela já não estava de bom-humor mas me respondeu, ainda que fosse meio seca.
"É logico...quem não gostaria!"
"Então eu posso comprar?"- eu perguntei, fazendo-a olhar pra mim. Ela permaneceu séria e mexeu os ombros num "tanto faz".
"Ok..."- eu sai e fui chamar o corretor. Sabia que ela não ia se arrepender e mais tarde ainda me agradeceria por isso.
Rapidamente ele me entregou o seu cartão, combinamos um preço e falou que eu passasse no seu escritório depois para levar os cheques. Eu saí daquela casa morto de satisfeito, mas Abby continuava com a cara fechada para pouquíssimos amigos. Depois teria que ver meu apartamento antigo, a primeira providência seria colocá-lo a venda.
Sem falar nada saí dirigindo até o supermercado. Precisava comprar alguma coisa para comemorar. Fazem quase dois dias que não praticamos e pra quem estava querendo ter filhos, aquilo era o fim do mundo.
Estacionamos o carro e fomos pegando um carrinho seguindo primeiro para as sessões dos produtos mais urgentes. Carrinho cheio me encaminhei para o outro lado do supermercado, enquanto ela escolhia alguns produtos de limpeza. Sem preocupar com pereço, peso ou tamanho recolhi o necessário par um boa "refeição" e voltei pra onde ela estava. Ela nem olhou para o carrinho e jogou tudo dentro. Quando estávamos passando as coisas no caixa ela segurou uma garrafa de vinho e ficou encarando.
"Você pelo menos sabe o preço disso?"
"Pra falar a verdade? Não..." - eu sorri e ela continuava seria me encarando.
"Custa mais do que você possa imaginar e mais do que eu possa pagar.. isso não vai..." - disse, tirando do carrinho e colocando numa prateleira ao lado.
"Vai, sim..."- eu repus o vinho e dei pra a caixa passar.
"Carter, você pensa que dinheiro nasce em árvore?" - ela colocou as mãos na cintura com raiva.
"Não, mas eu estou com vontade de comemorar. Mas vale um gosto do que dinheiro no bolso!"- a mulher do caixa olhava pra nós dois discutindo sem saber se passada ou não o produto.
"Quer saber? Faz o que você quiser!"- ela largou a sacola onde estava colocando as coisas e foi em direção a saída do supermercado. Eu finalmente olhei pra caixa.
"Pode passar..."- eu disse, e ela sorriu amarelo, ainda meio assustada, finalmente passando o produto.
Ela terminou de registrar tudo e eu passei o cartão. Arrumei as sacolas nas mãos, tentando me equilibrar pra nenhuma cair. Po, nem pra vir me ajudar com as compras? Coloquei- as no porta malas e entrei no carro onde Abby estava ouvindo uma musica altíssima e fumando mais uma vez. Dei a minha típica olhada que ela ja conhecia muito bem. Odiava aquele cheiro de cigarro, e ainda amais dentro do carro! Ela só queria arrumar mais pretexto pra arrumar briga, mas eu iria me manter calmo. Ou pelo menos tentar.
Seguimos em silêncio para casa. Estacionei o carro e mais uma vez ela saiu andando na frente sem me ajudar com as compras.
"Ow.. vai ajudar aqui não!" - eu finalmente falei, vendo-a me mostrar o dedo e continuar seguindo em frente.
Mas essa baixinha hoje me paga. Carreguei as sacolas feito um burro de carga. A cada andar que subia, parava para respirar. Porque ela foi morar em um prédio com tantos degraus! Abri (chutando) a porta e larguei tudo na mesa.
A sala estava vazia, nenhum sinal dela. Fechei a porta e fui pro quarto, vendo-a deitada na cama, sem ao menos tirar o tênis.
"Você é muito folgada, sabia!" - eu disse, tirando o casaco, guardando-o no armário. Ela estava de costas pra mim e assim ficou- "escuta, eu to falando com você!"
Então ela finalmente olhou pro meu lado com "aquele" olhar. Parecia uma onça vindo me atacar.
"Escuta aqui você!"- ela sentou na cama e começou a gritar- "a partir de hoje nós vamos controlar os gastos aqui, ok? Se eu não podia me meter antes, agora eu posso e devo! Você não vai gastar sua grana toda só porque tá sobrando. Quero ver se uma dia faltar pros nossos filhos ou pra sua família, o quanto você vai se lamentar."
"Mas que drama por causa de um garrafa de vinho..."- eu disse, tirando o sapato de frente pra ela.
"Você não entende Hoje é o vinho, amanhã não sei o que, depois não sei o que lá. Um dia vai fazer falta, Carter!"- porque ela não baixava o tom de voz. Eu sempre discutia no mesmo volume mas ela insistia em gritar.
"Meu Deus do céu"- eu resmunguei, vendo sua feição apenas piorar, se é que isso fosse possível.
"Hoje você compra uma casa, compra um vinho que é quase o valor do aluguel que eu pago aqui...só me faltava falar que comprou ouro!"
Eu fiquei mudo. Nesse casso então era melhor ocultar sobre o fato das alianças que estavam guardadas ali no criado-mudo eram de ouro.
"Mas tudo o que eu comprei foi para celebrar a nossa felicidade!" - eu falei baixo e calmamente vendo a sua expressão melhor um pouco.
"Eu não preciso dessas coisas para celebrar..." - ela passa a mão no cabelo e se levanta da cama andando até a porta do quarto.
"Eu só queria te agradar.. tudo o que eu fiz aqui foi pensando em você!"
"Carter.." - ela se virou olhando pra mim. – "eu por acaso pedi que você fizesse algo por mim?"
Nossa! Eu não pensava que ela ficaria tão brava por uma coisa tão simples. Eu me levantei dali sem falar nada. Depois ela iria engolir tudo o que falou. Segui par ao banheiro e fechei a porta com força. Hoje o banho ia durar mais do que o de costume.
Continua...
