CORAÇÃO DIVIDIDO
Revelações
(1º capítulo)
Há algum tempo o torneio acabou e a paz voltou a reinar no Makai. Agora descansarei um pouco.
Cada um voltou a seguir sua vida como quer. Com a morte de Reizen e sua derrota no torneio, Yusuke Urameshi não tem mais o que fazer aqui então voltou ao Ningenkai, para continuar sua vida como ningen que é. Kurama também voltou ao Ningenkai para viver junto de sua mãe. Yomi viajou para treinar seu filho Shura, e não me incomodará mais. O único que continua pelas redondezas, cuidando de alguns ningens que aparecem aqui no Makai por algum motivo, é Hiei.
Sozinha em meus aposentos, começo a pensar em nossa luta. No ódio surgido de todas aquelas coisas horríveis que ele dizia, cuspia em mim. - "Tenho pena de você..." - Penso também no sentimento de desamparo estampado em sua face inexpressiva, derrotada, enquanto estava em meus braços... ainda me corta a alma como afiadas navalhas. É um alívio saber que agora tudo está bem.
Uma voz áspera e ao mesmo tempo suave me interrompe:
- No que você tanto pensa, Mukuro? - e dizendo isso senta-se em uma poltrona, de frente para mim.
- Oh, Hiei. Não é nada, não. E... como vai a função?
- É chato e cansativo. Queria algo melhor pra fazer. - ele suspira.
Fito Hiei de cima abaixo. Seus cabelos espetados, apesar de bagunçados, são muito brilhosos. Alguns fios brancos lhe caem sobre a testa coberta por uma faixa. Seu par de rubis flamejantes olham para mim sem desviar quando meus olhos se encontram com os seus. Seu pescoço fino expõe uma pequena veia que pulsa ao mesmo tempo que meu coração pára. Seu peito liso sobe e desce pausadamente embaixo da camisa entreaberta. Seus pés repousados sobre a mesa à sua frente lhe dá um ar desleixado de superioridade ilusória...
E isso me proporciona uma visão totalmente diferente que eu tinha de Hiei.
Desligo de meus pensamentos quando ele finalmente se levanta e vem até mim, ao mesmo tempo que diz:
- E então, vai me dar algo mais interessante?
Seu hálito fresco e tentador chega até mim como um sopro quente de pensamentos ocultos.
Apesar de um pouco alterada com sua proximidade demasiada, consigo responder.
- Não seja arrogante Hiei. Você por acaso não sabe com quem está lidando? Você me deve respeito.
- A arrogante aqui é você... – ele me olha profundamente, sentado-se ao meu lado.
-... mas que atrevimento é esse Hiei?? O que pensa que está fazendo??
- Ora Mukuro. Só queria uma coisa mais interessante do que praticar esse ofício chato que sigo. Com certeza você também não está se divertindo... – diz, desviando o olhar.
- Trabalho nem sempre é diversão, koorime.
Ele me olha com seu rosto inexpressivo de sempre. Inesperadamente ele lança um meio sorriso.
- Você nunca vai saber se não experimentar.
Essas últimas palavras soam como um desafio para mim. Mas não entendo exatamente o porque. Hiei está realmente muito diferente de quando eu o conheci.
Após alguns momentos de silêncio, consigo dizer:
- E então? Qual sua intenção com isso?
- Hm... apenas quero me divertir um pouco, já que essa vidinha mais ou menos do Makai está me estressando.
- Ora, Hiei, você está parecendo uma criança querendo doce... - rio dele, um pouco debochada.
Ele me olha com o ar sem expressão característico. Pensei que ia me xingar ou algo assim, mas mais uma vez me surpreende, me olhando profundamente nos olhos e não falando nada.
Levanta-se e parte pela porta sem olhar pra trás.
"Acho que conheço Hiei mais do que o suficiente pra saber o que ele realmente quer. Porém... é a primeira vez que estou tão incerta..."
Duas semanas se passaram desde o fato.
Talvez seja bobagem minha pensar que isso o afetou de alguma forma, pois a conversa pareceu um tanto quanto rotineira... porém ele não se direciona a mim como antes. Apesar de seguir sempre seu jeito superior e seu ar de "não me importo com nada nem com ninguém", às vezes me parece que ele desarma quando o olho nos olhos. É tão estranho...
Aproveito o momento que finalmente me encontro sozinha com ele.
- O que há com você Hiei? Talvez queira me dizer alguma coisa... – falo, mesmo sabendo que não será tão fácil tirar alguma coisa dele.
- Hn.
- ... Deixe de me tratar como se eu não o conhecesse. O que houve afinal, você está tão diferente comigo...
- Não é nada. Apenas estou mais concentrado em minhas tarefas.
- Hahaha... mais concentrado em suas tarefas? Não foi você mesmo que disse que queria algo para se distrair desse "ofício chato"? – enfatizo sarcasticamente essas duas últimas palavras.
- ... ok, Mukuro, você venceu. Está preparada para o que eu vou lhe dizer?
- Sempre. "que estranho, ele normalmente não se rende assim tão fácil."
Uma breve pausa faz meu coração disparar.
- E então?
- Começando que você não me conhece assim tão bem para saber se estou bem ou se algo me incomoda.
- Oh. – digo, não surpresa com sua resposta tão objetiva e dura.
- Em segundo lugar... não devo satisfações a você.
- Talvez não. Mas se você realmente não quisesse falar nada, não teria nem começado.
Ele me olha sem expressão. Vira de costas e olha para a luz que entra pela janela entreaberta.
- Hn. Às vezes me surpreendo com você. Pelo jeito, acho que não preciso falar mais nada.
- Se você não quiser... mas prefiro ouvir isso de sua própria boca.
- É claro que se eu não quiser eu não falo. – ele diz, tentando voltar ao seu característico modo de falar. – Mas acho que você merece ouvir. Você é uma das duas únicas pessoas em que realmente confio.
"ora ora" penso, realmente muito surpresa. "Hiei está realmente diferente. Jamais pensei que fosse ouvir algo assim de sua própria boca... o que será que o fez mudar tão depressa?"
Nitidamente estática por não saber o que dizer, Hiei se vira para mim e solta uma solene risada.
- Está surpresa por lhe dizer que confio em você? Não fique tão feliz. Isso não quer dizer que, agora, falarei tudo sobre mim.
Ele se vira de novo para a janela e finalmente completa:
- Você terá que descobrir sozinha.
E sai, para continuar seu ofício e, talvez, refletir um pouco mais.
Estou um tanto confuso com o que está acontecendo. Depois que comecei a trabalhar no Makai, sinto um grande vazio por dentro... não fui mais ao Ningenkai... admito que sinto falta da vida agitada que tinha quando ajudante de detetive espiritual. Sinto falta daquele jeito teimoso do Urameshi, do meu amigo Kurama e até daquele baka do Kuwabara. Kurama... talvez o único que eu realmente quisesse ver se tivesse um mínimo de tempo para ir ao Ningenkai.
Mesmo tendo liberdade de ir lá, ando muito ocupado com esses afazeres tediosos. Estou me sentindo muito vazio...
Pelo menos ainda tenho Mukuro para me fazer companhia. Apesar de eu ser uma pessoa solitária, ela me traz uma certa paz. Estamos mais próximos depois do término do torneio.
Entro nos aposentos de Mukuro e vejo ela com um olhar distante. Me atrevo a perguntar:
- No que você tanto pensa, Mukuro? – e, dizendo isso, me sento de frente pra ela.
- Oh, Hiei. Não é nada, não. E... como vai a função?
- É chato e cansativo. Queria algo melhor pra fazer. – sorrio pra ela.
Nesse momento, vejo que Mukuro me olha de um jeito nada convencional. Ela me examina de cima abaixo, me deixando um pouco sem jeito.
Me aproximo dela, ao mesmo tempo que digo:
- E então, vai me dar algo mais interessante?
Me espanto com meu atrevimento, mas algo dentro de mim diz que eu preciso seguir adiante.
Enquanto conversamos, reclamo pra mim mesmo de meu pensamento longínquo... porque eu não consigo me desvencilhar de tudo quando estou só com ela? O que está me impedindo?? Que imagem é essa, indistinta, que vira-e-mexe volta à minha cabeça e me deixa tão confuso e inseguro?
Finalmente me desvio dessa imagem. Vejo nos olhos de Mukuro que ela está um tanto confusa, e isso me dá um certo desconforto, e me pergunto se estou fazendo mesmo o certo, falando desse jeito com ela.
Os olhos dela, como sempre, me passam uma extrema paz. Mais do que nunca, a desejo do meu lado. Porém, ao invés de fazer algo eu saio, deixando-a só com seus pensamentos.
Duas semanas se passam, e não consigo mais olhar para Mukuro do mesmo jeito. Obviamente ela percebeu isso, mas não me incomodo, pois sei que não devo esconder nada dela... e mesmo que quisesse, não conseguiria.
Sei que devo contar a ela... meus sentimentos, meus medos, minha insegurança...
Mesmo um princípio de "explicação" me surpreende. Não preciso falar tudo. Ela sabe mais de mim do que eu imaginava.
- Hn. Às vezes me surpreendo com você. Pelo jeito, acho que não preciso falar mais nada.
E, mais uma vez, me surpreende.
- Se você não quiser... mas prefiro ouvir isso de sua própria boca.
Com estas palavras, ela me passa a total confiança de que eu precisava.
Só espero não ter sido precipitado.
Uma emergência ocorre no Makai. Mesmo depois do acordo verbal, alguns youkais arruaceiros teimam em invadir o Ningenkai por algum motivo.
Hiei é designado a cuidar deles. Não posso fazer nada, senão deixar Hiei ir ao Ningenkai, único lugar para onde eu temo perdê-lo.
Pela urgência do caso, Hiei parte sem nem ao menos se depedir... mas presumo que, mesmo se tivesse tempo, ele não o faria.
Um mês se passa, e a última notícia que tive de Hiei é que ele resolveu o caso, mas estava cansado e estressado demais para voltar prontamente.
Isso me inspira certa desconfiança que ele tenha ficado na casa de um de seus amigos ningens, Urameshi, talvez Kurama, com quem parecia ter mais afeição. E o pior sempre atormentava minha cabeça: será que Hiei voltará? Será que não sentiu saudade de seu tempo de detetive espiritual e voltou a se relacionar com seus amigos? E se... ele ficasse lá? Esqueceria de mim... para sempre?
Tento me dispersar desses pensamentos angustiantes, tentando me lembrar do que ele disse... "Você é uma das duas únicas pessoas em que confio...". Mas logo me vem à mente que uma dessas pessoas não pertencia ao Makai, pois Hiei nunca se relacionara com ninguém do lugar seriamente, apenas para conseguir informações ou obter algo importante... a não ser comigo. Ele confia em mim. Pelo brilho de seus olhos... posso ver que ele olha dentro de minha alma, de meu coração e meus sentimentos mais ocultos.
Ora... por que estou tão preocupada com sua volta?
Olho para os lados e me vejo... sem ninguém.
Ninguém.
Raio de youkais que não me dão sossego! Por que eu tenho que cuidar deles? Ah, deve ser porque sou o ÚNICO competente nesse mundo para isso...
Pelo menos eu aproveito para mudar os ares um pouco. Apesar de Mukuro não estar lá, acho que um tempo no Ningenkai me fará bem. Rever meus amigos do tempo de detetive espiritual...
K'so... youkais de 5ª, não se dão nem ao trabalho de serem difíceis de executar.
Em menos de 3 dias, consigo resolver tudo. Fui designado com o prazo máximo de três semanas para dar um jeito nesse caso. É realmente um exagero, para mim, um koorime de alta classe, cuidar desses youkais de classe D...
- Olá Hiei!!! Há quanto tempo!!!
Uma voz familiar me desvincilia de meus resmungos.
- Ah. É você Kurama. - olho para ele do galho onde me encontro.
- Nossa, mas que recepção mais calorosa... bom, deveria esperar isso mesmo de você, afinal, festa não é de seu feitio... - diz Kurama, um pouco desanimado.
- "¬¬" ora Kurama, nem faz tanto tempo assim que não nos vemos.
- Bom, bom, - Kurama bate palmas, nitidamente feliz – não quer ir lá pra casa? Sei que você teve uma pequena missão aqui no Ningenkai, deve estar cansado. Prepararei algo delicioso para o jantar!
- Hn - digo, pulando da árvore para o chão.
E como havia de recusar oferta tão interessante?
No caminho para a casa de Kurama, vejo que este caminha alegre e despreocupado.
A despeito de mim, que ando como se eu estivesse indo à uma câmara de gás.
- O que há Hiei? Parece um pouco preocupado. – diz Kurama, visivelmente intrigado com meu andar penoso.
- Hn.
- Hm... ok ok, não lhe incomodarei. Estou tão feliz em vê-lo novamente que nem seu mau-humor me afetará.
Estas palavras me soam muito bem... "Também estou muito feliz em vê-lo, Kurama" brotava e logo morria em minha boca.
Estou no meio de um maravilhoso banho, perdido em meus pensamentos, quando sinto um cheiro muito agradável.
"Hm, deve ser o jantar que Kurama havia falado. É incrível como o ladrão youko lendário do Makai consegue se restringir a um ningen cozinheiro...", rio sozinho.
Enquanto me seco, desço as escadas e me deparo com um belo banquete sendo preparado.
- Como sempre exagerado, não é, Kurama?
Ele me recebe com o seu melhor sorriso.
- Ora Hiei, nada é exagero se for para você! – seu sorriso morre quando percebe o que havia falado. - Bom, sei que deve estar com bastante fome, não? Afinal, mesmo odiando o Ningenkai e os ningens, de uma boa comida você gosta... - ele diz, desviando talentosamente o assunto e se virando novamente para seus quitutes.
- ... Kurama...
- Hai? – ele responde, não se desviando de seus afazeres culinários.
- Você... confia em mim?
Ele pára, e um breve silêncio se faz.
- Mais do que isso Hiei... mas você jamais iria entender.
- Mas qual é o problema em me dizer? Sabe que somos amigos... – digo, tentando passar segurança a ele.
- Ora ora... é mesmo o Hiei que está falando? – ele diz, ironizando.
- Estou falando sério, raposa.
- Hm... prossiga. – diz ele, francamente interessado.
- Você é a pessoa que eu mais confio... por isso gostaria de saber se você confia em mim também. Você e Mukuro...
Sou interrompido por um muxoxo de descontentamento, e por um comentário franco e duro demais para um ser de tamanha delicadeza que é Kurama:
- Mukuro! Ora Mukuro! Por que haveria de ser só o Kurama? Porque o Kurama é apenas um amigo do Ningenkai que o entende e dá conselhos para outra pessoa ter seu am... – e se cala repentinamente, percebendo que estou estático.
Volta a seus afazeres, dizendo:
- Está quase pronto. Já irei serví-lo.
Baixo meus olhos até o chão, procurando palavras para sair desse constrangedor silêncio. Mas não encontro nada.
Estava quase tudo posto à mesa, e Kurama já assobiava sua alegria.
Pela primeira vez, depois de muito tempo, consigo analisar bem Kurama. Seu jeito delicado e, ao mesmo tempo, decidido de ser, me faz mergulhar em pensamentos longínquos... seu rosto perfeito e alvo me faz refletir como um ningen pode ter tanta beleza... "Hah. Antes fosse apenas um ningen..."
Seus lábios juntos numa melodia estranha me faz desejar algo... mas o quê? Tento procurar a resposta mas...
- Feche a boca senão entra mosca. - diz Kurama ao passar seu dedo pelo meu queixo, me desvencilhando de meus pensamentos. - E venha comer antes que esfrie.
Sento à mesa, enquanto Kurama serve meu prato.
- Vamos comemorar! - ele diz, levantando uma garrafa de sake.
- Comemorar o quê? - eu digo, impassível.
- Hm... o fato de estarmos vivos já é um motivo de comemoração. E o fato de estarmos juntos a essa mesa com esse banquete também é um motivo muito bom! Então... tin-tin!
- Hn. - digo, enquanto levanto o copo no ar.
Bebo um gole enquanto olho profundamente nos olhos de Kurama, que me diz:
- O que foi? Por acaso tem algo errado em meu rosto?
Respondo muito francamente:
- Não. Muito pelo contrário. Apesar de ser um homem, você é a pessoa mais bonita que conheci. – completo com mais um gole de sake.
Vejo o rosto de Kurama tomar um rubor repentino, mas não mudo minha expressão.
Depois de um longo silêncio, como sempre, ele fala:
- O jantar está ruim? Mal tocou na comida...
Quando me deparo novamente com os olhos esmeralda de Kurama, fico totalmente sem palavras. Só me resta... agir.
Largo o copo com o sake de qualquer jeito em cima da mesa. Kurama não fala nada, mas percebo um certo espanto em seus olhos.
Meus pés simplesmente não me obedecem. Eles vão lentamente em direção a Kurama... se bem que eu também não faço muito esforço para contê-los.
- O... o que está acontecendo com você Hiei? Está bêbado?
Não respondo e, muito menos, paro de caminhar. A cada passo que dou, meu coração bate mais rápido. Quando finalmente chego bem perto de Kurama, ele me diz:
- Ei, qual é? O que, afinal, há com você? Pode me responder ao menos?
Sinto realmente que algo está errado comigo...
- Hn... - digo, enquanto minha mão automaticamente vai ao encontro do rosto de Kurama. Tão macio... como eu sempre imaginei. A outra começa a se aproximar também... por um momento pensei que ele fosse retirar bruscamente minhas mãos, não entendendo nada, querendo explicações... mas, ao contrário disso, mesmo explicitamente confuso, ele se rende às carícias, fechando lentamente os olhos. Olho atentamente para o rosto de Kurama e penso que minha vida é tão frágil como esse rosto... começo a me aproximar, enquanto fecho meus olhos lentamente.
Amanhece. Ainda acaricio o rosto da raposa adormecida, desde ontem quando deitamos. Preciso ir... preciso ir. Levanto cuidadosamente para não acordá-lo. Visto minha roupa e abro a janela. Quando estou pronto para sair, sinto algo me prendendo.
- Sem nem dar um tchau?
- Você... está com tanta pressa assim, para sair sem ao menos se despedir de mim?
- Hn... pois muito bem. Adeus.
- Ei!!! Hiei espere!
- Ora, o que há com você? Sabe que não posso ficar aqui com você para sempre!
-... a despedida... é necessária?
- Você sabe que tenho meu ofício a seguir no Makai...
- Mentira! Você pode voltar pra cá, você está livre, é só querer! Mas... você quer voltar... e me deixar mais um ano sem vê-lo... sem... tocá-lo...
- Pare com esse dramalhão, Kurama. Isso só faz eu querer voltar o quanto antes para Mu... Makai...
"O que estou dizendo? Quero ficar aqui com você, Kurama. Quero tê-lo sempre em minha companhia... mas Mukuro também precisa de mim...".
- Vá, então. Volte para o "Makai". - Kurama enfatiza a última palavra, com um porquê que eu entendo perfeitamente.
- Hn. Está com ciúme é?! - explodo em uma risada.
- Não é ciúme. É que eu simplesmente não consigo aceitar o fato de apenas ter seu rosto gravado em minha memória... pelo menos por enquanto...
Olho profundamente em seus olhos tristes. Passo gentilmente meus dedos pelo seu rosto, enquanto digo:
- Kurama... - hesito um pouco antes de falar - sabe... a noite que passamos juntos... hã...
- Hm...?
- Ora, você sabe muito bem o que eu quero dizer, kitsune no baka.
- Ah, Hiei... - ele me abraça forte, suas lágrimas começam a escorrer de seus olhos - você não imagina o quanto eu estou feliz... mas vê-lo partir é como se você estivesse levando um pedaço do meu coração...
- Hn... pare de melodrama. Preciso ir agora. Adeus. - me desvencilho de seus braços.
Não penso duas vezes em sumir diante da raposa. Sei que estou ferindo seus sentimentos sendo tão frio assim, mas é o único jeito de eu não mudar de idéia.
- Bom dia Kirin.
- Bom dia Mukuro... hm, me parece que não dormiu essa noite novamente, não é?
- Hiei já voltou? - digo, não demonstrando interesse em comentar sobre minha noite.
- Não. Já faz um mês e meio que ele foi ao Ningenkai. O prazo máximo de cumprimento da missão não era três semanas?
- Sim, e por isso estou preocupada... - respondo, não acreditando nas minhas próprias palavras - mas ele sabe se virar. Na verdade acho que deve estar com seus amigos lá e esqueceu do prazo.
- Hn, que irresponsabilidade. Bom, com licença, tenho meus afazeres pela frente.
"Ora bolas, o que há de tão interessante naquele mundo que faz com que Hiei demore tanto a voltar? Será que... minhas suspeitas se concretizaram?" penso, com o coração extremamente apertado e saudoso.
Lágrimas brotam em meus olhos.
- Por mais que eu tente Hiei... por mais que eu tente, não posso dizer o contrário... eu não quero te perder... eu... te...
- Parece um pouco abatida, Mukuro. - uma voz familiar repentinamente me interrompe.
- Hiei!
- Me desculpe pela demora. Você sabe o quanto eu estava precisando dessa viagem. - ele diz, com uma expressão... feliz??
- É, pelo jeito fez bem mesmo. - digo, desviando meus olhos para a janela entreaberta. - O que pensa que fez? Ficar mais de um mês além do prazo máximo foi realmente um ato de irresponsabilidade pura! - esbravejo.
- Ei, meça suas palavras. O que eu faço ou deixo de fazer é problema meu.
- Mas precisava ficar tanto tempo lá? Não sabe o quanto o Makai precisa de você? Não sabe o quanto... eu preciso de você?... - lamento, baixando meus olhos para o chão.
Sinto mãos firmes, mas macias me forçando a levantar o rosto. Me deparo com uma face irreconhecível, olhos amargurados, mas ao mesmo tempo reconfortantes...
- Mukuro... por que... acha que eu voltei pra cá? Por que gosto daqui? Você sabe que não... - e ele se aproxima cada vez mais - Eu voltei... apenas por sua causa...
E o assunto se encerra por ali. Com um abraço forte e algumas lágrimas não vistas.
- Baka...
Depois de um tempo ele diz, uma voz quase efêmera:
- Eu também preciso muito de você...
Fim do 1º capítulo
