TERCEIRO CAPÍTULO
Em busca da felicidade
Há quanto tempo estou aqui? Não sei... é escuro... é frio... é solitário... aonde você foi? Até a pouco tempo eu estava segurando sua mão... mas você se desvencilhou de repente quando ouviu uma voz longínqua... não sei de quem era...
Hm? Abraço... quem é? É você? Não... não pode ser... você me olhou de uma forma que parecia dizer que nunca mais iria voltar, mesmo sem ter dito uma só palavra...
- Hm... já é de manhã... - acordo mais cedo do que o normal, mesmo tendo sido poucas as vezes que eu consegui dormir.
"Que estranho...", pensei. "Que sonho esquisito. Fazia tempos que não sonhava nada do gênero... gostaria de saber quem foi a pessoa que me abraçou...".
Olho para a janela entreaberta, os raios de sol da manhã morna de primavera já tocavam o chão de meu quarto. "Que saudade, Hiei, que saudade...", seguro forte a pedrinha que há tempos não sai de meu pescoço.
Levanto-me calmamente e ando até o topo do móvel, o mesmo lugar que eu sempre vou quando acordo, depois que Hiei se foi. O mesmo lugar que nos víramos pela última vez. Já faz tanto tempo... mas o calor das lembranças sempre me aquecem. Às vezes nem parece que Hiei partiu.
Sua presença está muito forte dentro de mim... e parece que cresce cada... vez mais??
De repente sinto um turbilhão de imagens e vozes na minha mente, como se eu estivesse no meio de um grande salão cheio de pessoas conversando e gritando entre si. Seguro com as duas mãos minha cabeça que começa a doer, quando uma voz se distingue das demais e, ínfima e calma, me chama:
- Mukuro... Mukuro, você está me ouvindo? Responda.
- Hi... Hiei?? - eu digo, achando que estava delirando já.
Foi quando me dei conta: o jagan. Hiei deveria estar usando o jagan para entrar em contato comigo do Ningenkai.
- Está conseguindo me ouvir com clareza? - Hiei diz, calmamente. As vozes e imagens, aos poucos, dão lugar apenas para Hiei.
- Estou sim, pode falar. - digo, um pouco surpresa pela calma com que falara isso a ele.
- Hn... nada de especial. Queria saber como você estava.
- ... - cada vez mais, a imagem de Hiei estava clara para mim, como se ele estivesse ali do meu lado.
- O que foi? Pensei que pudesse visitá-la de vez em quando... afinal, faz tanto tempo que não nos falamos, não é? - ele dizia, calmo e sincero.
- Você está irreconhecível, sabia? - digo, rindo de mim mesma, ao pensar que estava sendo tola o bastante para ainda ter esperanças de que Hiei voltasse.
- Hn. Não seria tanto surpresa, se você soubesse como estou vivendo aqui. Mas você também está bem diferente de quando eu morava aí.
- E você nem deve imaginar o porquê, não é? - ironizo, me sentindo mais tola ainda.
- ...
- Mas não tem problema. Quem sabe a outra parte do seu coração não chame você um dia, novamente...
Quase que imperceptivelmente, mãos começam a tocar em meus cabelos.
- Hiei... não faça ilusões com seu jagan para mim. Será mais difícil ainda depois que você ir.
A sensação do toque some, assim que eu termino de falar.
- Não é ilusão, Mukuro. - uma voz fala atrás de mim. Me viro repentinamente, não acreditando no que vejo.
Hiei estava mesmo na minha frente, parado, com seu ar de superioridade característico, como se ele não tivesse mudado nada. Apenas seus cabelos estavam um pouco mais longos, assim como os meus. Apesar de ele estar vestindo uma roupa ningen, admiti que a veste caíra muito bem nele.
Viro o meu rosto para o campo aberto, sem dizer uma só palavra.
Novamente sinto mãos acariciando meus cabelos da nuca. Porém dessa vez é real. E isso era o que eu mais evitava admitir a mim mesma.
Agora era um abraço. Tão raro, porém inconfundível.
- Não me evite... - um pequeno gesto afasta meus cabelos para o lado, enquanto eu sinto sua respiração quente em minha nuca, me provocando um arrepio.
Continuo em silêncio, imóvel, tentando não me deixar levar. Em vão.
Sinto minhas pernas serem envolvidas pelas suas, e minhas costas já sentiam o calor de seu corpo.
As mãos, que estavam em meus cabelos, começam a tocar levemente meus ombros, depois meus braços, até chegar em minhas mãos.
Estas, agora, são levadas até seu rosto e beijadas com muito carinho. Logo depois, encontram seu lugar em cima de suas pernas.
Inevitavelmente, quase que como um reflexo, começo a acariciá-las e, por final, acabo me rendendo e jogando minha cabeça para trás, sobre seu ombro, ao mesmo tempo em que fecho meus olhos.
Suas mãos passam gentilmente pela minha cintura, e vão ao encontro dos botões da minha blusa.
Hiei desabotoa um por um deles, lentamente, sem dizer uma palavra sequer. Também não vejo necessidade de falar ou ouvir qualquer murmúrio.
Ao abrir o último botão, as mãos se colocam em meus ombros novamente e me fazem virar de frente para ele. Depois de muito tempo, encaro seus olhos cor de sangue novamente. Nada mudou...
Sem ao menos piscar, Hiei me puxa para seu colo, me fazendo ficar um pouco mais acima dele.
Não consigo deixar de olhá-lo...
Percebo que seu rosto está corado e seu colo, quente...
Ficamos estáticos, olhando um para o outro, durante um tempo que eu não saberia dizer se foram segundos ou séculos.
Ao que percebo, já estou desfrutando da boca de Hiei. Seu gosto... agora poderei analisar com toda a calma do mundo - afinal, ele está aqui comigo, não?. E seu gosto é como o de ervas amargas ao mesmo tempo em que se prova de um doce fruto vermelho.
O cheiro de seus cabelos, agora mais evidente, é o mesmo perfume que sinto em todas as manhãs.
Seu toque se confunde com a brisa que sopra às minhas costas, agora seminuas.
Sua boca abandona a minha, mas não a minha pele. Seus doces beijos agora cobrem meu pescoço, ao mesmo tempo em que ele tira totalmente minha blusa.
Sua língua percorre todo o caminho que os botões faziam.
Porém uma pergunta ecoa na minha mente: Como alguém pode ser tão gentil assim? Eu não sou a mesma de 500 anos atrás. Todo o ódio que eu senti me fez mudar física e psicologicamente. Nada mais é como era.
Olho para baixo e vejo que Hiei me encara ao mesmo tempo em que ele me diz, sem ao menos abrir sua boca.
Não seja tola. O que importa agora é apenas você e eu. O que é passado está morto.
Baixo minha cabeça até seu ouvido e digo, num sussurro:
- Desculpe...
Suas mãos, que estavam estacionadas em minhas costas, agora acariciam toda a extensão da minha cintura, depois minha barriga.
Como que por timidez, lentamente as mãos de Hiei tocam um lugar de meu corpo tocado por ele apenas uma vez. Solto um gemido rouco e jogo minha cabeça para trás, ao mesmo tempo em que me agarro em seus cabelos com toda vontade.
"Não, isso não pode estar acontecendo... ", eu penso, com os olhos cerrados.
Quando eu abro novamente os olhos, sinto que nada mais ocupa minhas mãos e que estou sentada num chão frio, e não mais no colo de Hiei.
- Hi...
Olho para os lados e percebo que ele não está mais em lugar nenhum. Era uma ilusão mesmo, afinal.
Fecho meus olhos novamente, e eu viro meu rosto para o céu, enquanto as últimas lágrimas correm pela minha face terrivelmente triste... mais triste do que todas as outras vezes.
Afinal, não era ele quem me abraçava no sonho...
É arriscado, eu sei. Kurama não está em casa, mas pode chegar a qualquer minuto. Mesmo assim eu me arrisco.
Dou mais uma olhada para o céu escuro e parcialmente nublado do Ningenkai, depois me sento na cama a quem Kurama adora chamar de "ninho de amor".
Amor, hm? Em outras épocas, essa palavra seria inteligível para mim. Em outras épocas...
Fecho meus olhos, lembrando do calor do corpo de Kurama, de seu beijo doce e de seu sorriso sempre convidativo...
Não, não! Preciso me concentrar em outra pessoa... mesmo que por alguns poucos minutos.
Retiro a faixa que cobre meu jagan e logo começo a minha pequena "viagem".
O caminho que minha mente faz é um pouco tortuoso, mas eu continuo firme, até porque esse caminho é mais do que conhecido pra mim... e o motivo de eu ir até lá é bem convincente.
Por alguns minutos, tudo está muito confuso e indistinto, encontro muitos youkis, mas logo um se distingue dos outros.
- Mukuro... - deixo escapar um pequeno sorriso.
Quando a imagem de Mukuro fica bem nítida em minha mente, percebo que ela está muito mudada. Sua expressão é de constante tristeza, como se estivesse chorando o tempo todo. Mas uma coisa eu reconheço... a pedra de lágrima ainda está no mesmo lugar que eu deixei quando parti para o Ningenkai, e isso me faz querer continuar.
"Desta vez eu quero vê-la sorrir para mim...", penso.
- Mukuro... Mukuro, você está me ouvindo?
- Hi... Hiei?? - ela responde, sua face é de muita surpresa..
- Está conseguindo me ouvir com clareza? - digo.
- Estou sim, pode falar. - ela diz num tom muito formal, como se eu fosse um mero visitante.
- Hn... nada de especial. Queria saber como você estava.
Sua expressão era de indiferença, mas ainda se via claramente sua tristeza. Mukuro nunca foi realmente de poder esconder seus sentimentos de mim.
- O que foi? Pensei que pudesse visitá-la de vez em quando... afinal, faz tanto tempo que não nos falamos, não é? - digo, querendo iniciar uma conversa mais informal.
- Você está irreconhecível, sabia? - sua voz era de leve desdém.
- Hn. Não seria tanto surpresa, se você soubesse como estou vivendo aqui. Mas você também está bem diferente de quando eu morava aí.
- E você nem deve imaginar o porquê, não é? - suas palavras saíram duras. Típico dela. Fico sem fala durante uns instantes, e logo ela continua:
- Mas não tem problema. Quem sabe a outra parte do seu coração não chame você um dia, novamente...
Suas palavras eram como espinhos. Mesmo querendo parecer indiferente, Mukuro ainda queria me atingir de alguma forma, me culpar pelo que eu havia feito. Afinal, ela não era mais uma pessoa solitária... nem eu.
Comecei a manipular meu youki para que eu pudesse tocá-la. Não era eu, era apenas minha energia maligna ali...
- Hiei... não faça ilusões com seu jagan para mim. Será mais difícil ainda depois que você ir.
E estava certa. Até para mim, pensar em sair dali seria mais difícil do que da última vez. Mas... mas... não podia simplesmente ir embora novamente, desse jeito.
Transmito quase todo o meu youki pelo jagan. Nunca havia feito isso, mas por Muk... mas sempre tem a primeira vez.
Assim, antes do meu youki se materializar, eu fecho os olhos. É praticamente real. Parece que estou ali, que estou a seu lado... sentindo seu corpo... se eu pudesse, nunca mais sairia dali...
- Hiei? Hiei?? O que você está fazendo?? Por que está usando o jagan?
cc
Abro os olhos e imediatamente deixo de usar o jagan, ao perceber que era Kurama me chamando para a realidade em que eu me encontrava.
- Kurama? Já está de volta? - pergunto para desconversar.
Kurama me olha com muita desconfiança.
- Por que estava usando o jagan? - perguntou. Eu realmente nunca consegui desconversar com Kurama.
Olho para ele, procurando alguma desculpa. Sei que preciso escolher detalhadamente, pois Kurama, às vezes, parece poder ler os meus pensamentos.
- Eu estava vendo como andam as coisas no Makai... - me arrependo prontamente do que disse. A palavra "Makai" sempre era ligada a uma pessoa que Kurama não gostava nem um pouco de ouvir o nome. Mas, se eu mentisse, ia ser pior... muito pior.
Kurama me olha enviesado. Um arrepio me corre pela espinha, como se já soubesse o que viria pela frente.
- Makai, é? - Kurama, que estava sentado na cama ao meu lado, levantou-se e começou a andar pelo quarto - Fazia tempo que você não falava sobre isso. Como estão as coisas por lá? - encostou-se na parede. Kurama falava de um jeito muito frio.
- Você quer mesmo que eu fale? - tento parecer indiferente.
Kurama estava com um ar sombrio, em um canto mais apagado do quarto. Apenas seus olhos refletiam a fraca luz da lua que ainda se escondia por trás das nuvens. Desencostou da parede e veio caminhando até mim. Chegando mais perto, começou a gritar:
- NÃO, HIEI! EU NÃO QUERO SABER COMO A MUKURO ESTÁ! NÃO QUERO SABER O QUE VOCÊ FALOU COM ELA, NÃO QUERO SABER DE NADA DAQUELE MALDITO LUGAR, ENTENDEU BEM??? - Kurama batia com os punhos fechados na cama, entredentes. Ele estava realmente me assustando...
- Kurama, por favor, pare com isso!
- Parar com o que, Hiei? Acho natural alguém não gostar de ter uma pessoa querendo roubar o que mais se ama na vida... - Kurama não conseguia conter sua raiva.
- Roubar? Quem está querendo roubar o que aqui? Eu estou com você, não estou?
- Isso não quer dizer nada, Hiei... você pode estar aqui, e seu coração estar em outro lugar...
- Não diga best...
- Você mesmo disse que amava Mukuro! E ainda a ama, eu sei disso! Você mesmo tenta se enganar, mas... a mim você não engana... infelizmente... Como seria bom não saber que você ama mais alguém, como seria bom ter certeza que você é só meu... mesmo que não fosse verdade...
Kurama estava com o rosto escondido entre os braços, mas eu sabia o que estava acontecendo. Mais uma vez, fiz cair mais lágrimas de seus olhos... mais uma vez...
- Kurama... - as palavras não saíam, eu queria explicar a ele que eu estava ali, que eu estava com ele... mas a pior parte era saber que ele tinha razão. Eu ainda amava Mukuro, amava muito. Amava-a tanto quanto eu amava a ele.
"Por Inari... como eu gostaria de poder resolver isso... como eu gostaria de não precisar dividir meu coração em dois, dividir minha vida em dois. Eu preferia mesmo nunca ter conhecido o amor. É um sentimento ruim, no final das contas... faz quem a gente quer que sorria, chorar...", eu pensava, enquanto acariciava os cabelos de Kurama, esvaindo-se em prantos ao meu lado.
- Kurama, venha aqui... - disse, enquanto puxava Kurama pra mais perto de mim. Ele virou o rosto, mas mesmo assim resolve obedecer. Coloco-o de frente para mim e tento olhar em seus olhos, mas Kurama vira o rosto para todos os lados, evitando olhar diretamente a mim. - Por favor, olhe pra mim...
- Por quê? - ele responde com uma foz chorosa, mas, ainda sim, fria.
- Porque eu gostaria de ver o rosto da pessoa que eu mais amo no mundo.
- Então por que não usa o jagan novamente? - a voz de Kurama saíra ainda mais fria que antes.
Com este comentário, minha paciência, já pouca, esvaiu-se totalmente. Puxo o rosto de Kurama para mim, até nossos lábios se tocarem e um beijo longo e cheio de paixão acontecer. No começo Kurama tentou evitar, mas eu sabia que não conseguiria...
- No final de tudo, você ainda me ama, não é? - perguntei a ele logo que o beijo terminou.
- Ora, Hiei... - Kurama respondeu com uma voz triste. Pelo menos não estava mais frio.
- Escute, kitsune. Acho que eu deveria ter falado isso desde o começo...
Kurama finalmente olha nos meus olhos. Talvez já soubesse o que viria... talvez apenas gostaria de saber.
- Você precisa saber o que se passa aqui... - digo, apontando para o meu próprio peito.
- Ah, Hiei, esqueça... você não precisa se forçar a falar só por minha causa. Um dia eu descubro por mim, afinal, é o que sempre acontece... já até estou me acostumando com isso...
Sinto muita angústia em suas palavras. Ah, como eu gostaria que tivesse sido diferente...
- Você sabe que não estou forçando nada. Se eu não quisesse, não falaria, nem tocaria no assunto. Às vezes parece que você não me conhece...
- Às vezes eu também acho que não te conheço mesmo, Hiei.
- Hn. - Eu realmente nunca havia visto Kurama tão irado... talvez na vez do Game Master...? Não, não, aquela vez foi diferente... talvez porque Kurama não goste de perder... hn, é mesmo uma raposa estúpida...
A raposa me olha com seus olhos penetrantes, mas, ao mesmo tempo, vazios. Tsc... o que raios estou fazendo?...
- Kitsune...
- Você quer mesmo falar não é? Vá em frente então. Deveria saber que sempre estou todo ouvidos... diferente de você...
Um ímpeto correu por meu sangue, foi quando percebi que estava irritado também. Mas já era tarde, a raposa estava caída no chão, devido ao impacto do tapa que acabara de receber. Seu rosto estava escondido pelos cabelos bagunçados, mas não suas lágrimas. E um dia eu ainda achei que poderia fazê-lo feliz do meu jeito...
Ele se levanta lenta e vagarosamente, enquanto eu não consigo mexer sequer um músculo. Vejo que seu rosto está muito vermelho, e que um pequeno fio de sangue corre pelo lado de sua boca.
- Saia daqui... - falou a raposa, agora explicitamente furiosa. - Saia daqui, SAIA JÁ DAQUI SEU MALDITO!!!!!!!!! - seu grito percorreu todo o meu corpo com um grande frio e um arrebatador sentimento de culpa.
Quando dei por mim, estava correndo pelos galhos das árvores, enquanto a chuva engrossava cada vez mais. Não havia nenhum resquício da luz da lua, assim como o brilho nos olhos do Kurama... por Inari... por Inari... alguém faça essas lágrimas pararem de cair de meus olhos...
- Hm, não imaginava o Ningenkai assim... - digo para mim mesma, ao olhar ao meu redor. Um cheiro diferente entra pelas minhas narinas, um cheiro suave, muito convidativo, um ar bem mais leve que o do Makai. - A essa hora ele deve estar vindo... senão é um covarde...
"Hiei, espero que você mereça tudo isso...".
Logo sinto um youki familiar, mas nem assim, tão conhecido. Olho para a entrada da gruta e vejo uma pessoa a quem há tempos não me deixa ser feliz...
- O que você quer? - ele fala, com uma voz ríspida.
- Ora, Kurama. - digo, contendo minha raiva. - Por que está tão nervoso?
Ele sorri debochadamente.
- E você ainda pergunta? Deve saber, afinal, esteve com ele hoje à tarde...
- É, estive. Mas parece que ele teve que voltar às pressas, não é?
Ele não fazia a menor questão de esconder sua raiva. Hm, pouco me importava... só queria cumprir o que prometi a Shigure... só queria minha felicidade...
Vi lágrimas correndo de seus olhos.
- Você... você é a culpada de tudo, sua desgraçada!
Vejo Kurama sumir diante de meus olhos.
"Kurama... você é rápido, mas percebe-se claramente que você não está no meu nível. Vai atacar com tudo não é?".
- Rose Whip! - Kurama reaparece ao meu lado, mas eu consigo me desviar antes de ser atingida. Desvio de todos os seus ataques sem muita dificuldade.
- Patético. Rá! - um soco faz com que seu sangue se espalhe por todo seu rosto.
Kurama cai devido ao impacto, mas logo se levanta e volta a me atacar.
- Você que é patética! Não se contenta em simplesmente querer mandar em Hiei, você ainda quer tê-lo para si! Não vê que não é isso o que ele quer, sua maldita?!
Kurama expressava toda sua raiva, porém eu me mantinha firme e fria, como sempre. Como era bom saber que ele não tinha a menor chance contra mim...
- Você acha mesmo? Pois não é o que parece... se fosse mesmo isso, ele não teria ido me procurar hoje...
Uma tentativa frustrada de tentar plantar em mim a semente da morte e minhas palavras fizeram Kurama se descontrolar totalmente. Era fraco, mas eu devo admitir que sua garra e sua vontade de me derrotar foram as mais admiráveis que eu já havia visto.
- ISSO NÃO É VERDADE!!!
- Mesmo? - uma pequena luz sai da minha mão direita. Kurama viu-se totalmente encurralado. Prendo-o em meu espaço cortado e vejo-o imobilizar-se.
Começo a caminhar por sua volta, e digo:
- Escute, Kurama. Eu sei o quanto você o ama... para ter vindo aqui e, sem hesitar, lutou por ele. Lutou por seu amor. Mas devo dizer que... eu também o amo, e também vim aqui para lutar por seu amor. Eu não queria estar fazendo isso... mas não morra sem saber que... ele o ama sim, e você jamais deveria duvidar disso.
Uma expressão de surpresa iluminou um pouco os olhos da raposa.
- O que está dizendo...?
- Hn, é difícil ter que admitir isso para seu maior rival... deve estar bem surpreso não é? Mas eu percebi que você já veio irritado, e, conhecendo bem "aquele l", certamente não foi meu chamado que o fez tão irado.
Kurama olhou para o chão, sem reação aparente, mas logo se fez ver mais lágrimas correndo de seu rosto.
- Bem, resumindo... você jamais deveria ter duvidado dele, Kurama. Ele o ama, ama sim. E eu sei, ah sei, o quanto é difícil ter que aceitar que ele está realmente amando aos dois, e você também sabe disso. Porém, se uma das partes desaparecer...
Kurama olha para mim instantaneamente, paralisado.
- Eu sei que você estava tentando achar algum ponto fraco em mim, mas o seu maior erro foi ter duvidado de Hiei...
Seu olhar era intrigado agora.
- Por que diz isso?...
- Simples. Você é conhecido como um dos ladrões mais frios, calculistas e cruéis do Makai, e certamente eu perderia para essa pessoa. Mas você se mostrou totalmente sentimental. Se você não tivesse duvidado dele, não viria de cabeça quente para cá... infelizmente, infelizmente, Kurama... adeus.
Antes que eu pudesse fazer qualquer outro movimento, uma sombra passa rapidamente pela minha frente e se prostra diante de Kurama. Era Hiei.
- Hiei! O que está fazendo aqui?! - gritou Kurama.
Eu apenas olho com frieza, sem dizer uma palavra.
- Mukuro... você veio até aqui... pra isso? - seu olhar era de puro ódio. Mesmo em nossa luta no torneio, ele não havia olhado assim para mim.
- Pelo jeito realmente foi um erro... tudo o que eu faço por você é um erro...
Hiei balançou violentamente sua cabeça, e quase gritou:
- Até você????? Já não basta essa raposa maldita querer me humilhar, dizendo que eu não faço nada por ele, agora vem você querer insinuar que eu não mereço você???? Por acaso é um complô de vocês contra mim, é????
Olho ligeiramente para Kurama, e este estava transpondo exatamente com o mesmo sentimento que eu. Aposto como ele também jamais havia imaginado que Hiei pudesse dizer algo assim. Ele estava explicitamente furioso com os dois.
- Escutem... eu queria ter falado para Kurama mais cedo, mas as circunstâncias não deixaram... mas é melhor eu dizer isso aos dois. - Hiei transmitia um sentimento de tristeza e raiva profundo, como eu jamais havia visto... - Em primeiro lugar, Kurama. Eu só gostaria que você me respondesse uma coisa... você deve me conhecer o suficiente para responder isso. Eu gosto do Ningenkai?
Kurama olhava-o sem jeito, como se já soubesse o que viria.
- Responda!
- N-não... - disse, hesitante.
- Agora a resposta dessa pergunta fica para você. Pense o porque de eu estar aqui, e ter ficado por aqui durante todo esse tempo tendo livre acesso para voltar ao Makai.
Kurama olhou para o chão, sem palavras. Eu sabia a resposta também.
- Agora para você, Mukuro. Me diga o que eu lhe dei antes de vir pra cá.
Olhei-o hesitante, e consegui compreender Kurama totalmente.
Peguei a jóia de lágrima e mostrei a ele, dizendo:
- Isso. - Kurama olhava para a pedra totalmente pasmo, talvez porque jamais imaginasse que a pedra estaria comigo.
- Lembra do que eu disse sobre... - ele hesitou um pouco, provavelmente por causa de Kurama. - Sobre as partes de meu coração?
Eu já não sabia o que fazer, ou o que dizer. Hiei estava muito triste... jamais imaginava-o tão frágil...
- Sim, Hiei... perfeitamente... - respondi.
- Então, deixe-me esclarecer uma coisa. Se uma das partes, qualquer que seja, morrer... eu não tenho mais porque continuar vivendo... e é pior ainda pra mim ver essas partes querendo se consumir uma a outra...
Hiei olha para os dois, e logo depois, abaixa a cabeça, enquanto diz, em uma voz soluçante:
- Os dois terão seu tempo, por favor, eu não quero ver as duas coisas que EU MAIS AMO NA MINHA VIDA DESAPARECEREM DIANTE DE MIM!!! - essas últimas palavras saíram mais em lágrimas que em um grito.
E porque ficar mais tempo ali? A última coisa que eu queria ver aconteceu... aconteceu por minha causa...
"Shigure, eu tentei... eu juro que tentei...", penso, enquanto as lágrimas que eu pensei ter conseguido secar, brotavam de meus olhos novamente.
Fim do 3º capítulo
