Eu a fiquei encarando. Ela não estava me enganado. Era estranho, muito estranho. Uma mulher não desconfiar da própria gravidez... Enfim, ela não estava fazendo jogo comigo. Ela estava se sentindo mal e não sabia porque. Eu me sentia no dever de ajuda-la.

"Isso é complicado..."- eu não sabia por onde começar- "eu tenho receio de falar..."- eu não sabia se tinha mais medo da reação dela ao saber que estava grávida ou se morria de vergonha.

"Diz logo, você está me assustado..."- ela disse, agora se cobrindo um pouco com o lençol com o olhar aflito.

"Você já pensou na..."- eu disfarcei um pouco- "na possibilidade de..."- não havia mais jeito, eu teria que falar- "de já estar grávida?"- eu rapidamente pulei meus olhos pra ela e vi sua reação assustada.

"Que?"- ela ficou na defensiva- "como assim, por que diz isso?"

"Fomes repentinas... alterações de humor.. mudanças no corpo... você sabe..." - ela continuou seria, me encarando e puxando o lençol para ainda mais perto de si.

"Eu sei?" - ela falou agora mudando a expressão. Olhava para os lados, passava as mãos no cabelo e colocou uma mão no queixo olhando pra mim. – "você acha mesmo isso? Eu não estaria apenas engordando não? Pois como dizem.. casamento engorda..."

"Não dessa forma Abby... sua menstruação está atrasada.. fazem três meses que deixou de tomar o remédio e já deu tempo dela dar uma regulada.. eu só estou falando isso porque realmente eu tenho essa duvida... você não desconfia nenhum pouco disso?"

"Não.." - ela diz cruzando os braços sobre o peito – "..nem estava me tocando dessas coisas.. essas mudanças e os últimos acontecimentos me fizeram ficar com a cabeça nas nuvens.."

Ela ainda não havia esboçado um só sorriso. Estava calma, seria.. parecia estar se adaptando a idéia. Pelo menos ela não estava gritando e chorando aos quatro ventos pela possibilidade. Eu acho que isso sim era um bom sinal.

"Eu não quero que você fiquei muito preocupada"- eu a vi ainda estática olhando pra mim, sem reação alguma- "só acharia melhor se você fizesse algum exame, só pra tirar isso da cabeça..."- eu fui pra mais perto dela.

"Tá..."- ela ainda não parecia muito animada- "se você acha melhor..."- ela ainda estava agindo com indiferença. Que era dessa vez? Nós já não tínhamos conversado sobre isso?

"Não é porque EU quero, Abby"- eu a encarei com mais seriedade- "mas sim porque é melhor...Imagina se você tá grávida e não sabe..."- eu fiquei pensando nas possibilidades e vi que ela acompanhava meu pensamento.

"É, você tem razão..."- ela parecia ligeiramente mais animada.

Eu dei um sorriso mais amigável e ela retribuiu. O clima parecia estar perdido em algum lugar que não sabia exatamente onde era. Mas juro que daria tudo pra saber e recupera-lo.

"Mas você já..."

"John... "

Nós falamos ao mesmo tempo e eu parei o que estava falando esperando que ela continuasse.

"Fala.." - eu disse incentivando-a.

"Fale você primeiro.. o que você tinha pra dizer?"

"Tem certeza de que você não quer falar primeiro?"

"Não..." - ela sorriu. Tudo bem.. eu falaria.. se não iríamos continuar naquela besteira a noite toda.

"Eu só estava imaginando aqui..." - eu falo me aproximando mais dela. – "imagina como deve sr emocionante ver cada fase do desenvolvimento de uma criança.." - eu falei aproximando minha mão da sua. – "e só de saber que ele é nossa... que vai ter as nossas características... Você já imaginou uma copiazinha sua?" - eu finalmente vejo-a se virar pra mim prendendo um sorriso.

"É..." - ela agora abre um sorriso grande. – "se bem que eu gostaria mais de ver uma cópia sua..."

O tempo parou pra mim naquela frase. Viro pra ela e vejo o seu sorriso aumentar ainda mais, eu também não conseguia me conter. Puxei ela pra um abraço e dei um beijo no topo da sua cabeça.

"John.." - ela diz mexendo no meu cordão. – "você se incomodaria de ir à farmácia comprar uma coisa?"

"Sério?"- eu perguntei meio a mais um sorriso, sabendo exatamente o que ela queria.

"Ah..."- ela baixou o olhar- "se é pra saber...que seja logo, né?"- ela procurou todas as respostas no meu olhar. E eu não podia deixa-la ali. Dei o olhar mais confiante que pude.

"Sim, lógico"- eu não tirava aquele sorriso do rosto- "mas já que é pra saber, e logo"- eu pensei um pouco depois de dar uma olhada no relógio- "você não quer uma coisa mais segura?"- eu perguntei, vendo-a pensar um pouco.

"Mas..."- ela voltou com o olhar ainda apreensivo- "eu não queria que ninguém soubesse..."

"Ninguém precisa saber se você não quiser..."- eu falei, me ajeitando na cama para olha-la melhor.

"Que nem o nosso casamento Ninguém ia saber também..."- nós dois rimos um pouco.

"Mas nosso único e exclusivo problema foi..."- eu nem terminei e ela completou a minha frase.

"Susan" - nós rimos mais um pouco e a percebi pensando por um bom tempo, não me agüentei de ansiedade e decidir apressar as coisas.

"Então eu vou indo..." - eu falo pegando a carteira colocando-a no bolso.. – "não demoro nada..." - eu me aproximo beijando e me encaminho até a porta do quarto.

"Espera!" - ela grita saltando da cama – "eu vou com você..."

Eu paro literalmente e me viro vendo-a se arrumar. Em menos de cinco minutos ela estava vestida, perfumada pronta para ir a farmácia comigo.. eu sei que poderia pedir para o telefone, mas a graça estava em ir pedi isso no balcão e receber os parabéns dos outros. Entramos no carro e fui dirigindo até a farmácia mais próxima de casa. Estaciono o carro e quando vou tirando a chave ela coloca a mão sob a minha.

"O Mercy não fica muito longe daqui... lá também tem obstetrícia e ginecologia 24 horas... nós poderíamos ir lá primeiro..."

Eu não hesitei um só segundo e nem contestei o que ela falou. Liguei o carro novamente e fui dirigindo até o Mercy. Eu também tinha as minhas influências por lá... não demoraria nadinha para conseguir o exame de sangue e a ultrassonografia. Em pouco tempo chegamos lá e ao descer do carro e pegar na mão dela, percebi que ela suava frio. Realmente essa sensação era muito excitante, ainda mais pra mim, que tinha quase certeza de que ela estava mesmo grávida da filha que eu tanto queria.

Entramos no hospital, encarando tudo. Eu acho que só tinha entrado ali umas duas ou três vezes e nem me lembrava do motivo. O esquema era bem parecido com o County só que as pessoas pareciam mais mau-humoradas do que no hospital. Se isso fosse possível.

Eu fui até a recepção e procurei saber pelo Dr. George, meu antigo conhecido ali. Ele estava num Trauma e eu achei melhor esperar para não ter que falar com "estranhos". Sentamos numa cadeira e eu percebia toda a ansiedade de Abby transbordar pelos olhos.

"Você quer um refrigerante?" - eu falo procurando por uma moeda no bolso..

"Não.." - ela fala mexendo as mãos.

Eu me levanto e vou até a maquina pegar algo apara beber. Eu precisava ocupar minha mente com qualquer coisa. Eu não queria apelar e pular no meio da recepção implorando por um pouco de atenção. Volto sentando ao seu lado e a vejo folheando uma revista. Fiquei analisando-a e ela passava as paginas tão rápido que eu tinha certeza que ela nem sabia o que estava vendo.

"Dr. Carter?" - eu ouço uma voz falar comigo e eu me viro para ver quem era.

"Oi..." - eu me levanto para cumprimenta-lo. – "desculpa te incomodar hoje.. e sei como é o movimento de hospital numa hora dessas, mas eu precisava de uma ajudinha sua..."

"Pois não...?" - ele fala colocando os óculos.

"É..."- antes de tudo eu não podia de deixar de apresentar a pessoa mais importante e interessada. Ela não se movia então eu a olhei e toquei seu braço, chamando sua atenção. Ela se levantou e deu um leve sorriso- "essa aqui é minha"- eu parei um pouco e sorri todo orgulhosos por dentro- "mulher" - ela estendeu a mão e eles se cumprimentaram.

"Prazer em conhece-la...".- ele sorriu a mim- "nem sabia que você era casado..."- eu sorri, sem entrar em detalhes. Sorri mais uma vez e tratei de explicar a situação.

"Bom, eu precisaria que ela fizesse um exame de sangue..."- ela me olhou meio curioso- "um teste de gravidez"- ele abriu um enorme sorriso e senti Abby meio tensa com aquela situação.

"Ah, sim...".- ele foi caminhando até a recepção escrevendo um "pedido de exame". Quando assinava, ele resolveu me questionar- "você não está mais no County!"

"Estamos..."- ela finalmente abriu a boca. Respondeu a pergunta de George com a impaciência que Deus lhe mandava e por um acaso do destino, isso só causou mais perguntas.

"Você trabalha lá também?" -ele perguntou, me entregando o papel- "é enfermeira!"

"Médica..."- Abby disse quase bufando. Apertou minha mão como se gritasse "vamos logo sair daqui".

"Ah..."- ele respondeu com a cara de abobalhado que ele sempre teve. – "então por que não fizeram lá mesmo?" - ele insistia.

"Por que não queríamos perguntas inconvenientes..." - ela o encarou e eu me segurei muito para não rir.

"Hum..." - ele pareceu se tocar da "direta" que ela deu. – "em um minuto uma enfermeira vem lhe chamar..." - ele acenou e saiu de fininho pelo corredor.

Abby continuou seria e sentou de novo na cadeira.

"Se eu quisesse alguém fazendo um questionário da minha vida eu teria ido para outro lugar.. que povo mais inconveniente..." - ela falou se cruzando os braços, as pernas, se mexendo e se levantando de novo. – "Você tem uma moeda?"

Eu olhei incrédulo para ela. Puxei-a pelo braço a fiz sentar de novo.

"Calma que ela ja vem.." - ela recostou a cabeça no meu ombro e ficou olhando para baixo segurando minha mãos.

"E se eu não estiver?" – ela levanta o olhar.

"Não há problema.. vamos ainda ter muito tempo para tentar de novo..."

Ela parecia se acalmar conforme os segundos passavam. Mas aquele minuto se tornaram minutos, e agora eu que estava ficando tenso com aquela situação.

"Abigail Carter?" - a enfermeira se aproxima segurando uma ficha na mão. – "me acompanhe por favor..."

Ela foi levando da cadeira e medida que segurava a minha mão. Levantei junto com ela e fomos de encontro a senhora loira que havia chamado.

"Seguindo o corredor, última a porta a esquerda" - a mulher disse, indicando o corredor central. Eu estranhei muito. Nossas enfermeiras costumavam levar os pacientes até as salas, mas se fossemos julgar a cara de mau-humor da senhora, poderíamos relevar.

Abby agradeceu e foi colocando o primeiro pé no tal corredor, ainda de mão dada comigo até que eu vi a senhora, que ainda permanecia ali, me encarar. Senti Abby apertar um pouco a minha mão sinalizando para que eu fosse com ela.

"Desculpe, o senhor não pode entrar.."- a mulher finalmente disse quando Abby olhou pra ela.

"Como assim, não pode?"- Abby já estava irritada, podia ver isso no seu tom de voz.

"Normas do hospital..."- a enfermeira respondeu com aquela cara azeda e ainda ficou vigiando para ver se eu realmente não ia entrar. Abby veio pra perto de mim, como se tivesse desistido.

"Eu espero aqui..."- eu disse, dando um beijo na testa dela. Ela parecia tão apavorada quanto antes- "não vai me dizer que você tem medo de agulha?"- eu sorri, vendo-a se tranqüilizar um pouco. Logo depois, lá estava ela, andando por aquele corredor, que aos meus olhos, não parecia ter fim.

Voltei a me sentar na mesma cadeira de antes, porém com mais nenhuma paciência. Fiquei reparando em todos os movimentos do hospital. Quem entrava, quem saia, quem ia e quem voltava. Estava ficando a cada segundo mais impaciente. Encarava o meu relógio e os minutos passavam lentamente. Bebi mais um refrigerante até que vi a mesma enfermeira passar pelo corredor de novo.

"Hey..." - eu vou correndo em sua direção. – "você sabe se a minha mulher já saiu?"

"Que mulher?" - ela me olha de cima a baixo.

Como que mulher? Essa enfermeira só poderia estar muito drogada! Eu iria denuncia-la a direção do hospital!

"Uma morena... Abigail Carter? Possível gravidez!"

"Ah.." - a mulher parecia estar se lembrando. Também pudera! – "estava indo agora mesmo levar o exame ao medico..."

"Mas porque ela não saiu antes?"

"E eu que sei...!" - ela saiu sem olhar pra tras, sem me dar maiores explicações e me deixou com a minha cara de abobalhado no meio do hospital.

Voltei mais uma vez para a cadeira. Ela já devia estar familiarizada comigo e com meu nervosismo. Olhei para a máquina de refrigerantes, na possibilidade de pegar mais um, mas eu já não via nenhuma moeda no meu bolso.

Fiquei com os meus pensamentos por mais alguns minutos até que vejo a enfermeira passar novamente, agora sem nada nas mãos.

"Viu..."- eu chamo sua atenção, indo até ela- "deu tudo certo?"- eu pergunto tentando ser o maximo simpático com aquela bruaca.

"Acho que sim...Meu Sr., eu só levo o exame...não sei se dá ou certo ou não..."- ela foi indo em direção ao corredor, e eu a chamei de novo.

"Será que você pode me fazer uma favor?" - eu pedi com a maior cara de desesperado. Deus ouviu minhas preces e ela se virou pra me escutar- "posso entrar só pra ver se ela está bem? Ela não saiu ainda..."- eu provoquei minha feição de preocupação.

"Sinto muito, não posso mesmo..."- ela me olhava com um pouco mais de piedade- "mas eu vejo pro senhor..."- eu respirei mais aliviado, enquanto ela caminhava pelo corredor mais uma vez. Uma série de hipóteses vieram a minha cabeça e eu tratei de tira-las o mais rápido possível.

Dessa vez ao invés de sentar fui andando de um lado para o outro para ver se conseguia me aproximar da sala que ela supostamente estaria. Depois de muitas caminhas, suplicas, rezas e tudo mais vejo a porta se abrir e o Dr. George se aproximar de mim.

"Porque você ficou aqui esperando?" - ele falou tirando o telescopio do pescoço e colocando-o no bolso.

Eu olhei incrédulo pra ele. Esse hospital só tinha gente doida.. quanto mais cedo eu saísse dali, melhor seria.

"Agora eu posso entrar?" - eu falo já me movendo para onde ela estava.

"Claro..." - ele se vira mostrando qual porta era e eu aceno andando até lá. Paro na porta e vejo-a sentada em uma cama, hesito um pouco ao abri-la, mas finalmente.

Continua..