"Puxa.. pensei que nunca deixariam você entrar..." - ela fala pulando da cama e vindo ao meu encontro.
'Eu também pensei.. mas pra tudo se dá um jeitinho..." - ela se aproximou de mim com um papel nas mãos. Estaria ela sabendo do resultado? Ela caminhou mais até que me abraçou forte colocando sua cabeça no meu peito.
Ela permaneceu muda, sem falar nada enquanto me abraçava. Será que minhas suspeitas estavam furadas e eu lhe dei falsas esperanças! Vários pensamentos tomaram minha mente, quando ela se afastou e olhou para os papéis.
"Você sabe o que é isso né?" - ela falou levantando o seu olhar.
"Sim.." - eu tentei parecer o menos ancioso possível.
Ela sorriu uma, duas, três vezes quando eu vi os seus começarem a lacrimejarem.
"Temos que marcar a consulta com a ginecologista amanhã..."
Eu abri um sorriso maior do que eu mesmo. Um alivio tomou conta de mim. Um alivio por ela, por ela estar reagindo bem. Um alivio por mim, que não ficaria frustrado e finalmente teria a minha pequena...
"Nossa! Mas como saiu rápido!"- eu disse, depois de dar um abraço apertado nela, ainda no meio do corredor.
"Optei por algo mais rápido...e menos doloroso..."- ela sorriu e eu a parei no corredor.
"Como assim?" - eu perguntei, ainda meio confuso.
"Fiz um ultrasom..."- ela riu como se fosse a coisa mais normal- "é na hora e não tem que me picar.."- ela mostrou a língua pra mim, voltando a andar. Eu fiquei ali parado, ainda assimilando a idéia.
"Você viu a minha bebê e nem me chamou?"- eu perguntei indignado.
"Que bebê, Carter? Ela parece um ovo de codorna..."- ela riu, me puxando pela mão para andar.
Eu sorri com o comentário dela e saimos do corredor.
"E por que aquela maluca me disse que estava levando seu exame?"- eu perguntei, na dúvida.
"Meu?"- ela perguntou intrigada- "aquela velha é meio louca..."- ela sorriu e nós demos de cara com George de novo.
"Ei, Carter! E aí, deu tudo certo?"- ele perguntou, nos parando quase na entrada do hospital. Eu segurei a mão de Abby antes de responder.
"Sim, sim"- eu sorri- "muito obrigado por tudo..."
"Imagina..."- ele sorriu a Abby também- "ah, sabe o garoto que fez o ultrassom Meu filho...lembra dele" - eu parei um pouco. Como assim filho? Eu estava realmente ficando tão velho! Há quanto tempo eu não via aquele pirralho!
"Eu não cheguei a conhece-lo..."- eu sorri amarelo- "mas, nossa, com quantos anos ele está! "
"Faz 19 no mês que vez..."- George respondeu, sorrindo a nós dois novamente.
"Bom.." - eu disse antes que ele começasse algum outro assunto. – "agora temos que ir.. trabalhamos cedo amanhã... precisamos descansar para isso..."
Quem vê pensa que eu iria dar sossego a ela essa noite. A minha vontade naquele momento foi de gargalhar bem alto mais que tinha que me controlar senão iam achar que eu sou alguma espécie de louco.
"Tudo bem.. apareça mais por aqui..." - ele falou estendendo a mão pra me cumprimentar.
"Claro.." - Hum.. quem vê pensa.. vou me manter a quilômetros de distância daqui. Mercy, só se for algo muito urgente.
Eu segurei a mão de Abby e fui colocando meu pé fora do lado de volta quando ouvi me chamarem de novo. O que era agora?
"Ah... e meus parabéns!" - ele veio abraçar Abby que ficou sem reação. – "primeiro filho de vocês?" - ele fala agora vindo também me abraçar.
"Sim... primeiro de muitos..." - eu continuo sorrindo mas sinto ela me dando uma leve cotovelada.
"Cuide bem dele viu... e boa sorte nessa nova vida... vocês vão ver como um filho alegra as nossas vidas..."
Ele começou a falar um monte de coisa, filosofar e eu olhei pra Abby me segurando pra não rir ali mesmo. Depois de alguns instantes, quando eu acho que ele finalmente se tocou que estava os enchendo a paciência se despediu de novo e finalmente nos deixou ir embora.
Finalmente estávamos fora dali e eu pude enfim ter um momento a sós com ela. Não disse nada, apenas repeti o abraço de lá de dentro com mais força e com as lágrimas contidas.
"Eu te amo muito, muito, muito..."- eu disse, apertando o rosto dela quando as minhas mãos.
"Eu também..."- ela disse num tom divertido, me mostrando a língua de novo.
"Você vai ver o que eu vou fazer com essa língua quando chegarmos em casa..."- eu sorri, abrindo a porta do carro pra ela. Entrei e ainda via o sorriso dela aparente - "Está feliz!" - eu perguntei, dando a partida no carro.
"Mais do que pensei..."- ela disse pausadamente, abrindo o vidro.
"E o pirralho, cresceu!" - eu mudei um pouco de assunto para que não pesasse muito.
"Que pirralho?" - acho que ela não tinha ouvido mesmo a conversa -mole do cara.
"O filho do George..."-eu disse, dobrando uma esquina.
"Ah...não o conhecia, mas é um garoto muito bonito e muito agradável..."- ela disse sem olhar pra mim- "diferente do pai"- nós dois rimos.
"Bonito, é?" - eu encenei um ciúme – "e você tirou a roupa na frente dele, foi?" - eu segurava o riso.
"Não.. nas suas costas!" - ela se vira rindo. Eu acho que ela não acreditava muito nos meus ciúmes.
"Mas ele é bonito?" - eu nem sei porque insistia naquilo. Eu queria vê-la bravinha comigo.
"Pára John!" - ela começou a rir – "eu nem quero abrir uma fábrica de fraldas e leite Ninho..."
Eu não me agüentei e entreguei o jogo começando a rir junto com ela. Eu tentei me concentrar no que estava fazendo e parei de rir indo o mais depressa possível pra casa.
"Posso confessar algo?" - ela fala quando paramos no sinal.
"Fale..."
"Eu bem que desconfiava.. mas não acreditava que ia ser.. foi tudo tão rápido.. pra mim essas coisas só aconteciam mesmo na televisão..."
"Talvez..." - eu olho para o lado. –".. mas quando se tem um John Carter como parceiro na reprodução... é tiro e queda!"
Não demorou muito para que chegássemos em casa. Antes tive que passar em um fastfood. Surgiu um desejo repentino vindo da parte dela de tomar um milkshake(que só o de lá era gostoso) com sanduíche. Eu tenho quase certeza de que a maioria dos desejos que as mulheres dizem sentir, são na maior parte das vezes aproveitadores da boa vontade dos homens de realizá-los.
Ela nem esperou que chegássemos em casa para começar a comer. Começou a tomar o milkshake e quando eu menos podia esperar a vi devorando também o lanche. Eu sorri mas não comentei nada. Chegamos em casa e ela foi jogar o copo do milshake no lixo enquanto e ainda começar a comer um sanduíche pequeno que tinha pedido também. Sabia que ela não teria tempo nem pique de fazer janta.
"Quantas semanas?" - eu perguntei quando estávamos no banheiro escovando os dentes.
"Semanas? De?" - ela fala cuspindo a pasta na pia.
"Tá me tirando!" - eu falo franzindo a testa. Ela fica em frente ao espelho usando o fio dental enquanto eu a encarava. – "Abby!"
"Três..." - ela fala sorrindo.
"Então.. quando será que foi? Você tem alguma idéia?" - eu falo passando por trás dela e me encostando na porta.
"Ai, Carter...que importa isso?" - ela disse, entre um riso meio envergonhado.
"Ah, não sei..."- eu me faço se anjo- "queria saber onde foi que ela foi concebida..."
"Pra contar pra ela?" - ela disse rindo.
"Julie é uma menina esperta..."- eu falei alto arrancando um leve gargalhada dela.
"Por que você tem tanta certeza de que é um menina! E se for um garoto?" - ela perguntou, cruzando os braços me encarando.
"É uma menina, confia em mim.."- eu disse, indo pro quarto. Vi ela apagar a luz e vir atrás de mim.
"Ok..."- ela pareceu aceitar- "e se eu não quiser que ela tenha esse nome?" - ela agora colou as mãos na cintura. Minha cara fechou na hora. Como assim?
"Por que?' - eu perguntei já desesperado- "que ha de errado com esse nome!" - eu parecia um menino manhoso.
"Calma'- ela riu de mim- "só estou levantando um hipótese..."- ela ria um pouco ainda quando trocava de roupa.
"Então não levante nada..."- eu disse, me fazendo de emburrado.
"É que você fala como..."- ela parou e pensou um pouco antes de vestir a camiseta- "como se ela já existisse, sei lá. É estranho..."- ela me olhou diferente, enquanto se deitava na cama.
"Talvez..." - eu falo voltando pra cama. – "ela já possa ter existido sim... quem garante que nós também não fomos casados em uma vida passada?"
"Tá delirando?" - ela senta na cama sorrindo. – "desde quando você acredita nessas coisas!"
"Se conforme Abby.. você nasceu para ser minha.. nós somos almas gêmeas.. eu não vivo sem você e você não vive sem mim... "
"E Julie não vive sem nós?" - eu me viro pra ficar olhando-a melhor.
"Captou a ideia!" - eu falo olhando nos seus olhos.
Ela sorri e coloca a cabeça no travesseiro. Eu aproveito e a sigo, fazendo o mesmo. Nós ficamos em silêncio por alguns instantes.. estávamos tão felizes que não sabíamos direito o que falar.
"Como ela será?" - ela de repente se vira na cama me olhando.
"Está mesmo acreditando que eu sei tudo?" - eu também me viro encarando-a.
"Vamos lá.. o que você acha! Eu também falo a minha opinião..."
"Bom..." - eu desço o meu olhar e coloco uma mão na sua barriga. – "de acordo com o que ela esta me falando.."
"Falando?" - ela sorri e eu balanço a cabeça afirmando.
"Sim.. ela diz que..." - eu paro um pouco e tento lembrar de suas características – "tem o cabelo castanho, bem clarinho..."- eu colei meu ouvido na barriga dela ainda mais- "é liso e cacheado"- eu vi Abby me olhar confusa.
"Liso ou cacheado? Decida!" - ela disse sorrindo, passando a mão no meu cabelo. Eu repeti a pergunta "pra barriga dela" e volto a falar.
"Ela me confirmou que é os dois..."-eu sorri- "ah! Os olhos também são castanhos..."- ela voltou a sorrir e eu resolvi dar a ultima tacada. Quando ela ia começar a dizer algo, eu a interrompi. - "Ei, espera...ela quer me contar um segredo..."- eu voltei a escutar o que "Julie" dizia- "ela disse que ama sorvete" - eu falei fazendo-a rir feito uma criança.
"Sorvete!" - ela fala colocando a mão na barriga. – "por falar em sorvete..."
"Ah não Abby!" - eu coloco as mãos na cabeça e ela começa a rir de novo.
"Tô brincando..." - ela passa as mãos no meu cabelo. – "tava só vendo a sua reação..."
"Já tô vendo que vou ser explorado..." - eu volto pro meu lugar na cama.
"Um pouco.. talvez..." - ela fala virando os olhos. Eu a encaro por alguns instantes e a vejo bocejar.
"Com sono?"
"Sim... podemos deixar pra amanhã o que estávamos fazendo hoje!"
"Claro!" - ela solta um tímido sorriso. – "Vamos dormir agora.." - eu desligo todas as luzes. – "eu, você e o nosso bebê..."
Caio no sono com a imagem de Julie na minha cabeça. Será que ela seria mesmo uma menina? Que teria o mesmo rostinho? Todas as características? O seu riso? Eu gostaria tanto que mais esse sonho se tornasse realidade.. mas só o tempo dirá isso.. e mesmo se não for.. só de saber que finalmente eu poder afirmar para todos que eu tenho uma família, faz com que realmente eu sinta que eu sou um homem de família.
Continua..
