Parte 5

Cap. 1: Eu não estou doente

Hotohori não foi à academia durantes as duas semanas seguintes e quando voltou sempre faltava algum dia. Estava cansado de tanto exercício e não queria estar perto de Tamahome. Podia não resistir a tentação e agarrá-lo a qualquer momento. Sua paixão aumentava a cada dia e ele tinha consciência disso e tentava com todas as suas forças abafar esse sentimento.

Seu pai já não falava nada ao vê-lo junto de Nakago, mas ainda virava o rosto quando os via juntos. Nakago voltou a freqüentar a casa e aos poucos Hotohori abandonava a academia sem que o pai o recriminasse por isso.

A mãe vez ou outra comentava como ele estava magro e recriminava-o por não comer nada, mas Hotohori sempre dava uma desculpa, mentia que já comera ou que comeria mais tarde e nunca fazia isso. Nakago também estava preocupado, pois mais de duas vezes Hotohori desmaiara em seus braços e também desmaiava em outros lugares mais de uma vez. Até mesmo Tamahome manifestara preocupação quando Hotohori sentiu-se tonto durante uma aula e mandara para casa.

Hotohori começava a se irritar com tanta preocupação e se trancou no quarto sem querer ver ninguém. Mais tarde a mãe entrou no quarto e o encontrou caído no chão perto da porta, provavelmente se sentira mal e tentou chamar alguém, mas desmaiou antes.

- Para mim já chega eu vou chamar um médico. – disse resoluta discando o número do médico da família.

- Não precisa, mamã. – disse Hotohori tentando pegar o telefone. – Eu já estou bem.

- Você não está bem Hotohori. – disse saindo de perto do filho. – Está doente e precisa de um médio e... Boa tarde... – deixou o quarto enquanto acertava para que o médico viesse imediatamente ver Hotohori.

O pai o olhava de lado. Isso era revoltante. Não estava doente e não queria ser examinado. Detestava médicos. Lembrou-se do Dr. Mitsukake e de suas palavras "Espero que faça por merecer todo esse amor". Deitou-se na cama. Agora não tinha remédio. Os pais não o deixariam sair de casa enquanto o médico não chegasse. Revoltante.

Cap. 2: Diagnóstico: Anorexia

O medico o examinou e fez algumas perguntas. Hotohori recusou-se a responder a maioria enquanto os pais estivessem ali. E quando eles saíram continuou emburrado e nada disse ao médico.

- Está bem, então. – disse o médico levantando da cadeira. – Vou dizer a seus pais que você precisa ser internado pra assim descobrimos o que você tem.

- NÃO – gritou levantando e agarrando o braço do medico para impedir que ele abrisse a porta.

- Então você tem que responder as minhas perguntas, rapazinho. – disse o medico sério.

- Está bem. Pergunte. – Hotohori sentou-se na cama.

- Quando foi a ultima vez que comeu? – perguntou ainda mais sério.

Hotohori deu de ombros e o médico balançou a cabeça e suspirou.

- Foi o que pensei. – levantou-se e abriu a porta.

- O senhor disse que se eu respondesse não os chamaria. – disse choroso.

O médico olhou bem para ele chamou seus pais.

- O problema de Hotohori é mais sério do que imaginam. – começou. – Ele está com uma forte anemia, por isso os desmaios. Além disso, minha suspeita é... eu tenho quase certeza que ele tem anorexia.

- Anorexia? – perguntou a senhora Kishomoto espantada. Não sabia o que isso queria dizer, mas pela cara do médico era bastante sério.

Hotohori tinha uma expressão revoltada e espantada no rosto. O que aquele doutorzinho queria dizer? Não iria para o hospital de jeito nenhum. Não deixaria que o internassem.

- Anorexia é uma doença que impede as pessoas de se alimentarem. É mais uma doença psíquica do que física, na verdade. – explicou. – A pessoa doente se vê gorda e feia e fica sem comer para chegar ao corpo ideal. Mesmo estando pele e osso, continua se vendo obesa no espelho. Se não for tratada a doença pode levar a pessoa a óbito.

- Eu não estou com isso. – gritou Hotohori levantando-se. Mas o pai fê-lo sentar de novo.

Naoko estava chocada. Seu filhinho tinha essa doença horrível?

- E como vamos tratá-lo, doutor? – perguntou mal conseguindo conter as lágrimas. – Vamos interna-lo hoje mesmo.

- NÃO. Eu não vou ser internado. – Gritou Hotohori agora chorando também.

- Creio que isso não será realmente necessário. – disse o medico e Hotohori calou-se surpreso. – Um tratamento psicológico e remédios, creio ser suficiente. A internação só será necessária se ele não progredir, entendeu bem, Hotohori?

- E o que nós podemos fazer? – perguntou o Sr. Kishomoto.

- Apoio, será o suficiente. – conclui o médico. Todos devem apoiá-lo. Não será uma jornada fácil. – virou-se para Hotohori. – Amigos e... ahm... namorada?

- Namorado. – acrescentou Hotohori limpando as lagrimas e deu um sorrisinho, o pai tossiu, mas o médico não deu importância e sorriu para Hotohori.

- Namorado, então. – corrigiu-se e Hotohori gostou de ver o pai sentir-se constrangido com o não constrangimento do médico. – Todos devem colaborar com o Hotohori. Bem, eu dar-lhes-ei o nome de um profissional especializado nesses casos. Agora meu trabalho terminou.

O Sr. Fusaka saiu acompanhado do médico e deixou a esposa e o filho no quarto.

- Você ouviu o médico, filhinho. – disse alisando o cabelo sedoso do filho. – Mas por quê você decidiu parar de comer. Nunca saiu de seu peso normal.

- Não sei mamã. – respondeu chorando e deitando no colo da mãe. – Tive medo de ficar gordo e parei de comer, pensei em perder uns três quilos e só mais então eu fiquei mais pesado e não quis mais comer. Mas não estou doente, mamã, juro que não estou.

- Amanhã vamos ver o psicólogo. – disse a mãe decidida, fazendo Hotohori chorar mais ainda – Ele decidirá isso.

Cap. 3: Não Posso Mais Resistir

Hotohori começou a fazer tratamento dois dias depois. Mas continuava mal tocando na comida e sua mãe estava cada dia mais preocupada. Nakago também compartilhava dessa preocupação e até brigou com Hotohori.

- Come Hotohori. – pediu no refeitório da faculdade.

- Não quero, Nakago. – disse virando o rosto.

- Ou você come ou eu te obrigo a comer. – disse Nakago pacientemente.

- Então você vai ter que me obrigar! – gritou levantando-se da cadeira e saiu correndo.

Nakago suspirou, mas não foi atrás dele.

Hotohori correu, mas saber aonde ia, se viu parado nos fundos da faculdade. Havia uma porta entreaberta e dentro podia-se ver vassouras, panos e outros utensílios de limpeza. Ouviu conversas e escondeu-se ao ver dois homens saindo da pequena sala. Seu coração disparou ao ver que um dos homens era Tamahome. Ele sorria ao falar com o outro rapaz e Hotohori pensou em como era lindo seu sorriso. O rapaz foi embora e Tamahome entrou sozinho.

Num impulso, correu até a porta e entrou. Tamahome estava sozinho, lavando uma vasilha plástica onde devia ter almoçado, ouviu o som dos passos e virou-se dando de cara com Hotohori, que olhava para ele com as mãos para trás e um olhar inocente.

- O que faz aqui? - Tamahome perguntou sério.

Hotohori deu de ombros sem responder nada.

- Saia daqui! – disse rispidamente e virou-se para continuar seu trabalho. Guardou as coisas e ouviu os passos de Hotohori se aproximarem. Virou-se para mandá-lo embora, mas Hotohori estava tão próximo dele... seus rostos, seus corpos estavam tão próximos.

Tamahome agarrou-o e beijou-o apaixonadamente. Hotohori não resistiu nem por um segundo e abraçou Tamahome se entregando ao pulsante desejo que os dominava fazia tempo. Apertou a bunda dele e puxou-o para cima, caminhou até a mesa do refeitório, deitando-o.

- Hotohori... eu não vou agüentar mais. – disse ofegando. – Não posso mais resistir...

- Não quero que resista. – respondeu antes que Tamahome o sufocasse com outro beijo.

Tamahome beijou o pescoço de Hotohori, e enfiou a mão por dentro da camisa dele, acariciando seu peito. Vozes do lado de fora o fez despertar da loucura que o dominava.

- Não posso, Hotohori. – disse passando a mão pelo rosto e levando-as até o cabelo. – Não é direito. Você ainda está com Nakago.

Hotohori virou o rosto e mordeu os lábios para não chorar. Não aceitaria ser rejeitado por Tamahome e porque ele tinha que lembra-lo de Nakago. Agora sentia-se culpado, por trair Nakago desse jeito. Levantou-se da mesa e começou a ajeitar o cabelo desarrumado.

- Ahhhhhhhh! – Hotohori gritou ao ver uma mecha grossa de seu cabelo em suas mãos. Saiu correndo deixando Tamahome atônito e ao mesmo tempo aliviado. Se os pegassem ali dentro diriam que Tamahome tentara se aproveitar dele e tinha certeza que não o deixariam se explicar.

- Nakago, Nakago. – gritava procurando o namorado, que ainda estava no refeitório e veio correndo ao vê-lo chorando.

- Hotohori o que aconteceu? – perguntou assustado.

- Meu cabelo... – respondeu soluçando. – Meu cabelo está caindo, Nakago. Meu cabelo está caindo...

Nakago o abraçou sob os olhares curiosos de alguns alunos que estavam no local.

- Você sabia que isso poderia acontecer, meu amor. – disse com calma. – O médico avisou que se você não comesse, você poderia ter outros problemas.

- Eu vou comer eu juro... – prometeu entre lagrimas. – Eu juro que vou, Nakago. Eu não quero ficar careca... Eu não quero... Ficarei horrível... Eu não quero, que não quero...

Cap. 4: Desejos Nem Tão Satisfeitos

Tamahome não agüentava mais se segurar. Não sabia como resistiu a Hotohori aquele dia no refeitório. Toda vez que o via sentia uma enorme vontade de agarrá-lo, por isso trocava de caminho toda vez que o avistava.

Mas foi inevitável o encontro na terça à noite na academia. Que Hotohori ia só para não contrair mais ainda sei pai.

Puxou-o para um canto, onde ficaram sozinhos e o cobriu de beijos.

-Eu quero você Hotohori. – disse enquanto o beijava na boca. – Preciso de você. Eu te amo tanto. Te desejo tanto.

Hotohori deixava-se beijar e como sempre entregava-se sem resistência ao homem que amava há tanto tempo.

- O que está fazendo? – perguntou Hotohori pasmo quando Tamahome parou com os beijos e soltou-o.

Tamahome passou a mão pelo cabelo, suspirando.

- Me responda. – Hotohori levantou um pouco a voz.

Tamahome estava sério.

- Pare com isso, Hotohori. Não faça escândalo. Me escute.- disse tocando-lhe o rosto, fazendo Hotohori olhá-lo nos olhos. – Termine com Nakago. Você não gosta mais dele. Ou gosta?

Hotohori baixou os olhos.

- Como namorado. Não. – respondeu. – Mas eu tenho medo de magoá-lo. Sei que Nakago me ama muito. – Virou-se de costas para Tamahome sentindo de repente um calafrio na espinha. – Além do mais eu tive um sonho. No sonho eu deixava Nakago parta ficar com você e quando virei para olhá-lo ele estava no chão com sangue a sua volta, tinha cortado os pulsos.

Hotohori chorou escondendo o rosto com as mãos. Tamahome o abraçou e beijou-o no cabelo.

- O pior é você enganá-lo. – disse Tamahome carinhoso. – E o que é pior ainda, comigo. Sabe que Nakago e eu já nos enfrentamos várias vezes no ringue e não nos damos muito bem fora dele. Ele pode achar que eu dei em cima de você só para provocá-lo. – Virou Hotohori e olhou-o bem nos olhos. – Nakago pode aceitar que você fique com ele e outro ao mesmo tempo, mas eu não. Hotohori eu não agüento mais ficar longe de você. Mas terá que escolher entre eu e ele.

- Eu quero você Tamahome. – disse Hotohori dengoso. – Mas não vai ser tão fácil deixar Nakago. Principalmente por causa de meu pai.

Tamahome arqueou a sombracelha.

- O que seu pai tem haver com isso? Você está é fugindo do assunto.

Hotohori sorriu para ele.

- Não estou não. – protestou sorridente.

- Se eu terminar com Nakago, meu pai vai achar que foi ele quem conseguiu nos separar. – baixou o rosto e uma tristeza passou por seu olhar. – Tenho pena de Nakago também.

Tamahome deu um grande suspiro e o abraçou.

- Eu sei que Nakago irá sofrer, por que também sei que ele gosta muito de você. Mas você tem que me prometer que terminará com ele. – beijou-o novamente. - Venha vamos, acho que já sentiram nossa falta.

Na verdade Hotohori só ia para academia para dizer que ia mesmo, pois não fazia nada além de olhar os colegas treinarem aquilo que continuava a considerar luta de bárbaros, alem disso, Tamahome dizia que ele estava muito fraco e que deveria poupar energias e não gastá-la inutilmente.

Cap. 5: Entre dois Amores

Hotohori ainda não se alimentava, as seções com o psicólogo eram praticamente inúteis, ele se recusava terminantemente a comer qualquer coisa. Seus pais estavam muito preocupados, Nakago lembrava-lhe a todo o momento a promessa que ele fizera de que ira comer, mas tudo era em vão. Até mesmo Tamahome já notara que ele andava mais magro do que o normal, mas nada dissera a Hotohori. Não falava com ele desde que ele prometera terminar com Nakago.

Hotohori desviava o rosto e corava toda vez que via Tamahome. Ainda não cumprira sua promessa e Nakago começava a desconfiar do comportamento do namorado.

Isso começava a preocupá-lo, ele mal dormia, desconfiava e vigiava cada passo do namorado disfarçadamente para que Hotohori não percebesse.

Até que um dia viu a cena que já desconfiava estivesse acontecendo há algum tempo, mas não acreditava na culpa de Hotohori. Acreditava que era Tamahome quem o forçava a fazer essas coisas. Era Tamahome quem dava em cima de seu namorado, só para provocá-lo, só para desafiá-lo.

Hotohori havia marcado um encontro com Tamahome, que relutou em aceitar, e meia hora depois ele ainda não tinha aparecido. E quando apareceu Hotohori ficou muito irritado com a calma que demonstrava.

- Seu idiota. Seu imbecil. – xingou-o batendo no peito de Tamahome com os pulsos. – Quem você pensa que é?

Tamahome segurou os braços de Hotohori e o beijou com força. Hotohori tentou resistir ao beijo, pois estava com raiva. Se ele pensava que podia tratá-lo do jeito que quisesse estava muito enganado.

- Hotohori! – foi Nakago quem chegara pegando os dois em flagrante. Seu rosto estava transtornado. Seus olhos mostravam raiva e Hotohori se encolheu. Achou que Nakago fosse bater nele e gritou quando o viu partir para cima de Tamahome.

- Seu desgraçado. – gritou desferindo um soco em Tamahome e se jogando por cima dele dando-lhe mais um soco. – Vou ensiná-lo a não dar em cima do namorado dos outros.

Tamahome empurrou Nakago e deu-lhe um soco, fazendo-o caído de joelhos e deu-lhe um chute na barriga. Hotohori chorava e gritava encolhido no canto.

Nakago levantou-se e deu um soco no estômago de Tamahome, que caiu de joelhos e levou uma joelhada no rosto e antes que caísse levou mais um chute no queixo.

- TAMAHOME! – gritou Hotohori, levando a mão à boca.

Mil gritos ecoaram no ouvido de Nakago. Aquilo atingiu com mais força do que se tivesse levado um tiro no peito. Parou e levantou-se antes de desferir mais um soco em Tamahome. Abraçou Hotohori e arrastou-o dali sem olhar para trás.

Tamahome limpou o sangue que escorria do nariz e da boca e observou Hotohori deixar o local nos braços do namorado.

Continua...