Parte 6
Cap. 1: Uma amiga?
Nakago nada disse a Hotohori, mesmo que o namorado o tivesse traindo não arriscaria perde-lo, pois o amava mais do que tudo na vida, não saberia viver sem Hotohori. Aceitaria que ele tivesse até mesmo um amante? Essa duvida corroia o coração de Nakago. Deixou Hotohori em casa, como vinha acontecendo nos últimos tempos não consegui dormir.
No dia seguinte não assistiu a nenhuma aula, ficou o tempo todo pensativo, mas se arrependeu, pois havia um trabalho importantíssimo para fazer, viu de longe Nuriko, eram da mesma turma nessa matéria e decidiu procura-la. Ela corava sempre que o via e ele achava que fora muito complicado para ela, que ele a tivesse visto naquela situação. Ele ficava um pouco constrangido, ainda mais por ela ser irmã de Tamahome, mas não tinha amizade com seus outros colegas, era, completos estranhos e Nuriko era a menos estranha entre eles. Avançou até ela.
- Nuriko! Eu não fui à aula hoje. Será que você... – foi logo dizendo.
Nuriko riu discretamente, com a mão cobrindo a boca.
- Eu percebi que não foi à aula, Nakago. – disse – Aliais, a professora achou bem estranho a sua ausência, mas alguém lhe fez o favor de dizer que você estava perambulando pela faculdade e não assistiu a aula porque não quis.
- Bando de dedo duro. – resmungou fazendo uma careta.
- Você quer ajuda com o trabalho? – indagou Nuriko.
- É exatamente isso, Nuriko o que vim lhe pedir. – admitiu corando de leve.
- Não tem problema. Podemos nos encontrar depois do almoço na biblioteca?
- Mas é claro. – respondeu sorrindo.
- Então até mais tarde! – e Nuriko se afastou. Deu um longo suspiro, esteve tão nervosa diante de Nakago, esperava que ele não tivesse percebido.
Mais tarde conforme o combinado, Nakago apareceu na biblioteca. Nuriko já estava lá, imersa em livros e tão concentrada que Nakago relutou em se aproximar. Mas, sem querer derrubou um livro e chamou, não só a atenção dela, mas também a de varias outras pessoas na biblioteca. A bibliotecária o olhou de cara feia e Nuriko achou graça, e ficou satisfeita em saber que ele também estava nervoso, mas seu coração se apertou quando suspeitou do motivo do nervosismo de Nakago. Ele não tinha amigas mulheres. Ela não era mesmo mulher, mas Nakago não sabia disso.
Discutiram o trabalho, embora algumas vezes fugissem um pouco do assunto, quando alguma palavra os faziam lembrar de outra coisa, um livro ou filme que gostava, as vezes até riam alto e ouviam os "shhs" das outras pessoas presentes no local.
Depois de terminada as obrigações, Nakago convidou Nuriko para conversarem um pouco na lanchonete, seus olhos se iluminaram e seu primeiro impulso foi o de aceitar sem demora, mas as palavras de Tamahome ecoaram em sua mente: "Nem pense em se apaixonar por ele." Ela engoliu em seco e recusou o convite.
- Não posso. – disse de olhos baixos. – Tenho outros afazeres.
Ele estranhou a recusa e deu de ombros. Inclinou-se e deu um beijo no rosto de Nuriko, que se espantou e arregalou os olhos surpresa, mas Nakago nada percebeu.
- Então até amanhã. – disse e se virou deixando a biblioteca.
Nuriko corou quando a bibliotecária lhe lançou um olhar maldoso e saiu depressa dali.
Cap. 2: Condições e impedimentos
Hotohori tentava encontrar um meio de terminar com Nakago sem fazê-lo sofrer muito, mas não encontrava nenhuma. Torturava-se dizendo a si mesmo que era uma pessoa muito má, por maltratar um cara tão legal quanto Nakago. Tamahome o evitava na faculdade, mas na terça não teve como não encontra-lo n academia.
Inventou para Nakago que tinha um treino mais cedo, e este o deixara antes do horário na academia, assim que chegou avistou Tamahome terminando a aula com uma turma. Ele viu Hotohori chegar e assim que se despediu dos alunos, correu para o vestiário, mas Hotohori foi atrás dele.
- Você ainda está com Nakago. – disse Tamahome de costas para Hotohori.
- E vai me evitar enquanto isso? – perguntou dando sensualidade a sua voz. Abraçou Tamahome por trás e deitou a cabeça em suas costas. – Eu te amo.
Tamahome sentiu seu membro corresponder ao toque de Hotohori e o afastou abruptamente.
- Pare com isso. – disse rispidamente. – Por que ainda vem aqui? Pra me atormentar?
Hotohori parecia ofendido com o tratamento de Tamahome.
- Não, seu idiota. – retrucou. – Eu venho aqui por que o amo.
- E ama Nakago também? – perguntou sarcástico. – É sim, o ama, não é? Se não já teria terminado com ele. Ele sofrendo ou não. Já lhe disse que não vou aturar jogo duplo.
- Por que você é sempre tão rude comigo, Tamahome? – seus olhos estavam enchendo-se de lágrimas. – Me trata sempre tão mal.
O rosto de Tamahome perdeu a dureza e ele olhou para Hotohori com ternura, mas nada disse, viu Hotohori cambalear e cair para frente. Num pulo ligeiro para frente segurou-o em seus braços, passando a mão em seu rosto como se para ter certeza que ele estava vivo.
- Alguém chame um medico! – gritou e logo apareceram vários curiosos no local para saber o que estava acontecendo.
Não esperou resposta, levantou-o nos braços e levou-o para a enfermaria da academia.
- Acho que não tem se alimentado direito. – disse a medica. – Ele vem emagrecendo rápido demais. Deve estar doente.
- Ele está com anemia. – sentenciou a doutora. – E parece-me muito séria. Sabe o número de alguém que possa vim buscá-lo? Ele nem devia esta aqui, não precisa de mais exercícios.
Tamahome concordou, balançando a cabeça suavemente.
- Eu sei, Julia. Faz muitas semanas que ele não faz nenhum tipo de exercício. Eu mesmo o proibi. Não sei como ele ainda consegue se manter de pé.
- Eu estou muito bem. – disse Hotohori pondo-se sentado na cama. – Não sou tão fraco quanto imaginam.
- Não é questão de ser forte ou fraco. – interferiu a medica. – A questão é que está doente e precisa de tratamento.
Hotohori levantou-se e olhou feio para a medica.
- O que eu preciso ou não, não é de sua conta, mulherzinha intrometida. – saiu da enfermaria e foi sentar-se na sala de recepção da academia. Tirou o celular do bolso e ligou para Nakago, pedindo para que viesse buscá-lo imediatamente e não deu mais explicações.
Tamahome pediu licença e saiu atrás dele. Encontrou-o ali sentado e emburrado. Havia muita gente ali e não poderia discutir com Hotohori, ele ainda era um aluno. Sentou-se a seu lado.
- O que você tem? – perguntou baixo, aproximando a boca do ouvido de Hotohori.
- Não interessa. – respondeu ríspido.
Tamahome segurou a mão dele.
- Tolinho, é claro que me interessa. – disse ainda com a voz baixa. – tudo a seu respeito me interessa.
Esse comentário fez Hotohori sorrir.
- Não está bravo comigo?
Tamahome fez uma cara de dúvida e sorriu em seguida.
- Só um pouquinho. Nada que um beijo não resolva.
Hotohori virou-se para beijar Tamahome, sentiu sua mão forte puxar sua cabeça e deixou a língua dele explorar sua boca. Ninguém virou-se para ver os dois se beijarem o movimento de entra e sai era tão grande que isso passou despercebido, até o momento que uma mulher tropeçou na perna de Tamahome, fazendo-o se separar num susto de Hotohori. Ela pediu desculpas e continuou seu caminho. Parece que nada tinha reparado. Minutos depois o som de uma buzina chamou Hotohori e ele correu para os braços de Nakago mais uma vez.
Cap. 3: Internação Sim!
Quando Hotohori contou o motivo de ter saído mais cedo da academia Nakago quase bateu o carro, numa freada brusca.
- Você desmaiou de novo? – perguntou em tom de reprovação.
Hotohori confirmou com a cabeça.
- Meu Deus, Hotohori, quando é que você vai entender que está correndo risco de morrer? – perguntou. Colocou a mão no rosto de Hotohori fazendo-o virar. – Meu amor, precisa se tratar. Eu não quero perder você.
Nakago se inclinou e pôs sues dedos entre os finos cabelos de Hotohori trazendo-o par junto de si e beijando-o de leve nos lábios. Quando puxou a mão de volta um tufo de cabelo lhe veio junto. Ele olhou espantado e Hotohori encolheu-se como se estivesse com medo quando viu mechas de seu cabelo na mão de Nakago. Ele sacudiu a mão se livrando dos cabelos e abraçou Hotohori.
- Calma. Calma, meu amor. Eu estou aqui. Eu vou te ajudar. Vamos vencer isso juntos. – Beijou-o e tornou a dirigir em direção a casa dos Kishomotos.
- O quê? – perguntou a Sra. Kishomoto.
- Isso mesmo, tia. Ele desmaiou na academia. – confirmou Nakago.
Hotohori estava encolhido no sofá, sem nada dizer, as lágrimas escorriam-lhe pelo rosto silenciosamente.
- Meu Deus, filhinho. Você jurou que iria se alimentar. – ele virou-se par Nakago, seu rosto estava transfigurado pela decisão que já esperava ter que ser tomada. – Eu não vejo outra alternativa a não ser interná-lo.
Hotohori levantou-se de um salto.
- NÃO! Isso não! – gritou afastando-se da mãe.
- Você não nos deixa outra alternativa, Hotohori. – afirmou. – Esperei que você colaborasse, que tentasse, ao menos fizesse um pequeno esforço para comer, mas você só piorou as coisas. Amanhei mesmo falarei com o medico e verei qual a melhor clinica para você.
- Não, mamã, por favor. Não faça isso comigo. – implorou ajoelhando-se e segurando as penas da mãe. – Eu juro, mamã, eu juro que vou comer. Mas não me deixe num daqueles lugares horríveis mamã, por favor.
Naoko tinha lagrimas nos olhos ao ver o filho naquele estado. Sabia o quanto ele detestava hospitais, mas não enxergava mesmo outra opção. Ou fazia isso ou tinha a certeza que a morte levaria seu filho. Ao ver que a mãe estava inflexível levantou-se e abraçou Nakago.
- Nakago, meu amor, não deixe que me levem. Eles vão me matar lá.
Mas ele também chorava, com as lagrimas caindo pelo rosto ele respondeu.
- Não, meu amor. Eles vão salvar sua vida.
Hotohori se afastou como se Nakago fosse um mostro horrível, afastou-se também da mãe e correu em direção as escadas gritando:
- VOCÊS ESTÃO TODOS CONTRA MIM. EU ODEIO TODOS VOCÊS!
Ouviu-se então o bater da porta do quarto duas vezes, no mesmo instante em que o Sr. Kishomoto chegou.
- Mas o que está havendo aqui? Eu ouvi os gritos de Hotohori. – perguntou atônito, então percebeu as lágrimas de Nakago e da esposa. – Mas o que foi afinal?
- Decidi internar Hotohori, Fusaka. – comunicou a Sra Kishomoto. – Se não fizer isso ele irá morrer, tenho certeza.
- E esses foram os protestos dele, suponho. – virou-se para Nakago. – O que você acha disso?
Nakago se surpreendeu pelo Sr. Kishomoto pedir sua opinião a respeito de algo que envolvesse Hotohori.
- Eu só quero que Hotohori se cure, meu tio. – respondeu. – Me dêem licença, preciso ir, tenho certeza de que Hotohori não irá querer me ver ainda hoje.
Saiu em seguida.
Cap. 4: Um Estranho No Espelho
Hotohori empurrou com força a porta do quarto, mas ela voltou e bateu na parede e ele tornou a fechá-la, trancando-a. Pulou na cama e deitou-se chorando copiosamente. Não queria ser internado, não queria ficar sozinho numa clinica, mas não pensou nisso por muito tempo, pois adormeceu logo depois.
Teve um sono agitado, com vários sonhos estranhos. Sonhou que estava numa clinica, numa cama com os braços e pernas amarrados, enfermeiros espetavam várias seringas em seu corpo e deixavam-nas no lugar e riam da cara dele enquanto ele chorava de dor. Também sonhou que o entupiam de comida até que ele encheu como um balão e vou para longe e sozinho e ainda que secava, a carne de seu corpo ia desaparecendo rapidamente até que ele era apenas osso, mas seus ossos também começaram a virar pó e finalmente desapareceu.
Acordou com um grito que não foi ouvido por ninguém em sua casa. Olhou para a cama encontrando mais algumas mechas de seu cabelo, Hotohori chorou baixinho e se levantou, tirou a roupa e entrou embaixo do chuveiro quente, quando saiu parou em frente ao espelho. Deixou a toalha cair e observou-se atentamente. Viu como seus braços estavam finos, assim como suas pernas pareciam gravetos, suas costelas apareciam, já seu estomago parecia ter desaparecido restando apenas um buraco em seu lugar. Hotohori caiu chorando em frente ao espelho. Quem era aquele ser horrendo diante do espelho? Não podia se ele mesmo. Ele não queria acreditar nisso.
Ele enxugou as lágrimas e levantou-se, olhou para sua própria imagem e em voz alta disse para si mesmo:
- Eu vou mudar. Eu vou conseguir mudar, eu juro.
Vestiu-se e desceu. Ficou surpreso ao ver Nakago à mesa com seus pais. Nakago levantou-se quando Hotohori entrou na sala de jantar e olhou também com surpresa, ele usava camisa de mangas compridas e um gorro, como se fizesse frio. Nada comentou a esse respeito, pois sabia que achava que ele perdera mais um pouco de cabelo na noite que passou. Segurou sua mão com delicadeza, sentindo os osso que se faziam notar.
- Bom dia, meu amor. – disse sorrindo. – Nós estávamos conversando e eu consegui convencer seus pais a te deixarem terminar o semestre antes de lhe internar. – Seu rosto brilhava de emoção.
Hotohori arregalou os olhos mais espantado ainda, era a chance de que precisava.
- Se em duas semanas você ganhar peso Hotohori, talvez reconsideremos sua internação. – comunicou a Sra Kishomoto. – Se e somente se você ganhar peso e continuar a comer.
Sorriu satisfeito, iria fazer isso sim, por ele mesmo.
Nakago era só alegria e inclinou-se para beijar Hotohori, mas o Sr. Kishomoto fez um "ham, ham" e ele parou a meio caminho e sentou-se ao lado de Hotohori.
O prato de Hotohori foi servido, ele olhou-o com uma cara de nojo e respirou profundamente, afastando o prato.
- Não quero isso. – disse, mas antes de alguém dizer alguma coisa ele completou. – Traga-me uma fruta, é melhor para engolir.
Nakago e os pais de Hotohori sorriram discretamente e a fruta foi trazida. Hotohori relutou em pegar o mamão, então com uma colher retirou um pouco da polpa da fruta e levantou o braço em direção a boca. Fechou os olhos, suas mãos tremiam e então sentiu o toque de mãos conhecidas em sua mão ossuda. Era Nakago que o ajudava a levar a fruta à boca e ele com uma careta engoliu a fruta como se aquilo requeresse grande força de sua parte. Mas isso realmente era verdade, a fruta desceu como acido em seu interior, era como se rasgasse tudo por dentro até cair fria em seus estomago. Sentiu que botaria tudo para fora, mas controlou a ânsia de vomito comeu mais um pedaço do mamão.
Pouco depois estava na faculdade, concentrado nas ultimas aulas antes das provas finais, não poderia perder o semestre e seu status de melhor aluno da turma.
Cap. 5: Esforços
Nakago estava sentado na pequena praça da faculdade quando uma bola de papel passou por seu rosto quase raspando seu nariz. Levou um susto e pensou em ralhar com o rapaz que fizera isso, mas percebeu que não fora uma atitude intencional, havia uma lata de lixo perto dele. A bola de papel caiu no chão e ele abaixou-se para pegar e jogá-la no cesto, e ao nesse momento um servente fez o mesmo. Nakago levantou a cabeça tirando o boné usado pelo rapaz e espantou-se ao reconhecê-lo.
- Ora, se não é o grande Tamahome Sanokino. – disse sarcástico. – Limpando o chão onde eu piso. Quer dizer que faz mais alguma coisa aqui além de dar em cima de meu namorado.
Tamahome estava sério e nada disse, jogou a bola de papel no lixo e virou-se para sair dali, mas Nakago o segurou pelo braço.
- Espero. Eu preciso falar com você. É sobre Hotohori.
- Me solte primeiro. – disse olhando para a mão de Nakago em seu antebraço.Nakago soltou-o e Tamahome perguntou-se se Hotohori já terminara com ele ou se o que queria era tomar satisfações sobre alguma outra coisa. – O que tem ele? – perguntou, tentando não deixar transparecer nenhuma emoção.
- Está doente. – Nakago respondeu. – E é muito serio. Ele ainda está treinando?
Tamahome sorriu irônico.
- Ele nunca fez isso realmente. Mas não, não está se é o que quer saber. Achei melhor deixá-lo de lado, ele está muito magricela, parece mesmo doente. O que ele tem?
- Anorexia. – foi a resposta, mas a expressão de Tamahome não se alterou, não sabia o que era isso e aguardou uma explicação de Nakago, que veio logo em seguida. – É uma doença que o impede de comer, falando grosseiramente. Mas esta ficando muito perigoso. Ele me contou que desmaiou ontem e isso já aconteceu outras vezes. Hoje de manhã ele já comeu alguma coisa, se não fizer isso vai morrer.
Tamahome permaneceu sério e parado na frente de Nakago.
- E o que você espera que eu faça? – perguntou ao loiro.
- Pensei que você como mestre dele podia pôr alguma coisa naquela cabeça dura. – respondeu, mas na verdade seu pensamento foi "Você como amante dele, poderia convencê-lo."
- O que o faz pensar que ele me ouviria? – perguntou quase irônico.
"Ele ouviria o amante. ", pensou, mas disse:
- Não custa tentar. O semestre termina em duas semanas e se não ganhar peso os pais vão interná-lo. Ele morreria se ficasse só numa clinica.
Tamahome ainda estava cético diante da atitude de Nakago, não sabia o que pretendia. Pegar ele e Hotohori em flagrante? Mas podia ver também o esforço que custava a ele falar tão abertamente ao seu rival, não tanto no kickboxing, mas pelo amor de Hotohori, sim porque ele via nos olhos de Nakago que ele desconfiava da traição de Hotohori. Como ele podia ser tão frio a esse ponto? Mas Tamahome também desconfiava ter essa resposta, não era frieza nos olhos de Nakago, era um amor tão desesperado que se sujeitaria até mesmo dividir o namorado com outro. Mas ele, Tamahome não aceitaria isso.
Saindo de seus devaneios deu de ombros, como se aquilo não significasse muita coisa.
- Eu vou tentar. – respondeu e virou-se novamente para ir embora, e dessa vez Nakago não o impediu. Pegou a vassoura e a pá, que estavam encostadas a uma árvore e partiu.
Cap. 6: Faça por mim, mas faça por você também
Tamahome fingia limpar o chão enquanto esperava a aula de Hotohori acabar. Então quando Hotohori passava lentamente em sua frente, abaixou-se como que para pegar algo no chão e pôs um bilhete em cima dos livros de Hotohori e saiu do corredor apinhado de gente que saiam de varias salas ao mesmo tempo.
Hotohori correu para um canto e abriu a folha de papel dobrada. Coçou os olhos que se embarçavam e o impediam de ler as letras miúdas de Tamahome. Era como se uma nuvem passasse por seus olhos e ele teve medo de desmaiar e quem o encontrasse lesse o bilhete de Tamahome. Mas enfiam consegui ler:
"Estarei lhe esperando no refeitório pouco antes da hora do almoço. Não se atrase".
Essas poucas palavras como uma ordem irritou Hotohori. Tamahome brincava com ele sempre. O que será que queria dessa vez? Pressioná-lo ainda mais pra terminar com Nakago? Pensou seriamente em não ir, mas na hora combinada se dirigiu pra o refeitório dos empregados.
Bateu na porta de leve e não ouve resposta, empurrou a porta e entrou. Esperaria ali, mas quando entrou foi surpreendido por um homem, também servente da faculdade.
- Não é permitida a entrada de alunos aqui. – disse com a voz áspera e rouca de quem fuma muito, Hotohori desconfiou disso, pois seu bafo fedia a cigarro.
- Espero por Tamahome. – disse desafiador.
O homem o olhou atravessado e deu –lhe passagem. Hotohori sentou-se num banco à ponta da mesa e pôs os braços estendidos na mesa, começando a alisar os dedos de uma das mãos distraidamente. O homem sentou-se num bando do lado da mesa e pôs a mão em cima da mesa com a menção de chegar pertos das de Hotohori.
- Tamahome não gosta de garotas, gracinha. Ele é viado.
Hotohori levantou-se indignado.
- Eu não sou garota. – disse. Tamahome chegou nesse momento.
- Ele está te importunando Hotohori? – perguntou em tom ameaçador olhando para seu colega e trabalho.
O cara levantou-se e se afastou de Hotohori, fungou e pegou uma carteira de cigarros do bolso.
- Vou fumar lá fora. – disse saindo da salinha.
Tamahome o acompanhou com o olhar e afastou-se para deixar o homem sair, fechando a porta atrás de si.
Hotohori continuava de cara feia.
- Por acaso está com frio? – perguntou Tamahome olhando de cima a baixo para Hotohori.
Hotohori corou e baixou a cabeça.
- Não. É que meu cabelo está caindo. – explicou.
- Então está mesmo doente? – perguntou Tamahome quase que para si mesmo.
Hotohori levantou a cabeça.
- Quem te contou?
- Nakago. – respondeu aproximando-se da mesa.
- Sério? E por que ele fez isso? – perguntou meio duvidoso.
Tamahome se aproximou segurou mão de Hotohori e sentou-se no lugar antes ocupado pelo outro homem, fazendo-o se sentar também.
- Parece preocupado com você. Então você não tem só falta de apetite, não é? Não come porque não quer.
Hotohori puxou a mão.
- Ele lhe disse isso?
- Não. Me disse que você tem uma doença estranha é... ana alguma coisa, sei lá... – deu de ombros. – Mas me disse que se você não comer vai morrer.
- Também não é assim. Acho que ele exagerou um pouco. – respondeu franzindo o nariz, mas no fundo sabia que era verdade.
- Não precisa ser medico pra saber que não está bem, Hotohori. – disse Tamahome. – Você desmaia toda hora, naquele dia na biblioteca pensei que fui eu o culpado e fingi que o encontrei daquele jeito, mas depois do que o Nakarashi me contou, sei que é serio. Você está pele e osso. Não que já tivesse gordura. – acrescentou sorrindo.
Hotohori não pode deixar de rir com o comentário de Tamahome, mas logo voltou a ficar sério.
- Está mesmo preocupado comigo?
- Não só estou fingindo. – disse, mas sorriu. – É claro que estou preocupado seu bobo, só estava sem jeito de falar com você, também porque não sabia o que você tinha.
Os olhos de Hotohori molharam-se de lágrimas e Tamahome tocou-lhe o rosto de leve, parando uma lágrima que já descia pelo belo rosto do rapaz.
- Eu te amo, Hotohori. Faça isso por mim, mas também faça por você, entendeu? – levantou-se e o abraçou. – Quero que fique bom, para poder me amar, minha paixão, meu amor.
Hotohori estava totalmente emocionado, Tamahome nunca falara com ele desse jeito tão carinhoso, levantou-se a abraçou-o forte.
- Também te amo Tamahome, logo poderemos estar juntos sem que ninguém possa nos impedir. – Suas palavras eram tão sinceras que ele só teve consciência delas depois de dizê-las. Ah, o corpo de Tamahome, sonhava com o dia de tê-lo a lhe dar e receber prazer.
Tamahome levou-o até a porta e beijou Hotohori com amor e desejo recíprocos. A uma curta distancia dali Nakago os observava com as lágrimas escorrendo pela face.
Continua...
