Parte 7

Cap. 1: Conversa entre Amigos

O final do semestrechegava e os alunos corriam para tentar recuperar o tempo perdido com as farras e negligencias. A faculdade costumava dar uma semana de "folga" para os alunos na semana anterior a das provas gerais. Alguns ficavam na biblioteca da faculdade, outros espalhavam-se pelas adjacências do lugar, parque, lanchonetes ou mesmo o gramado do lugar.

Nakago e Nuriko estavam estudando no parque próximo da faculdade, onde vários colegas se refugiavam também, na paz do lugar era mais fácil concentrar-se. Tinha matérias em comum e como se tornaram amigos ultimamente ficaram estudando juntos, um ajudando o outro.

Ele passou a estar mais com Nuriko, achava-a inteligente, alegre, uma pessoa muito interessante. O fato de ser irmã de Tamahome parecia não interferir nessa opinião e gostava do fato de ter uma amiga, e era isso que Nuriko se tornara. Até mesmo já sonhou com ela, e levou um grande susto ao acordar. No sonho estavam de mãos dadas, mas Nuriko vestia-se como um rapaz. Sentiu o estomago embrulhar ao pensar em beijar uma mulher. Sorri com seu delírio, gostava tanto de Nuriko que queria que ela fosse homem.

Nakago afastou os livros e deitou sobre o braço na mesa.

- Estou cansado Nuriko. Muito cansado – disse levantando a cabeça e jogando-a para trás encostando-se às costas da cadeira.

Nuriko fechou o livro e olhou para ele um tanto cética.

- Cansado de quê? Você nem mesmo trabalha.

Nakago levantou a cabeça, apoiou o queixo nas mãos e sorriu para ela.

- Que eu saiba você também não trabalha.

- Isso porque Tamahome não me deixa.

Uma expressão atormentada surgiu no rosto de Nakago.

- Tamahome... – murmurou em voz alta quase para si mesmo. Então virou-se para Nuriko. – O que faria se soubesse que seu namorado estava lhe traindo.

Nuriko surpreendeu-se com a pergunta e baixou os olhos para seu colo.

- Você fala de Hotohori, não é mesmo?

- Sabe que sim. – respondeu. – E também sabe que ele esta me traindo com seu irmão.

- Nakago, eu nada tenho haver com isso. – falou tentando fugir do assunto. Mas seu coração doía e ela teve vontade de dizer "Esqueça ele, ame a mim. Eu lhe farei muito feliz". Mas via a impossibilidade disso cada vez que olhava para ele e via seu sofrimento por causa de Hotohori.

Nuriko deu um breve suspiro.

- Eu vou responder a sua pergunta. – disse. – Se meu namorado me traísse eu o chamaria para conversar, falaríamos do que já tinha havido de importante em nosso relacionamento e procuraríamos entender o porque da traição, se isso acontecesse por falta de amor... então eu terminaria.

Olhou bem nos olhos de Nakago.

- Tamahome ama Hotohori e se ele o está lhe traindo é porque corresponde a esse sentimento. Olha Nakago, eu não quero lhe dizer o que fazer, mas essa é a minha sincera opinião.

Pensou que ele ficaria irritado com ela, mas seu rosto não se alterou.

- Eu sei. – disse. – Mas eu também o amo muito. Não posso, não consigo imaginar minha vida sem ele.Juro que se ele me pedisse para cortar os pulsos, eu assim faria.

- Deus, Nakago. Não diga bobagens.

- Não é bobagem, Nuriko. Eu daria a minha vida por Hotohori.

Nuriko balançou a cabeça. Com o era bom ouvir o seu nome na boca do homem que tanto desejava, mas ao mesmo tempo sentia-se deprimida por ver o estado em que ele se encontrava.

- Tudo o que vai conseguir é se machucar mais ainda. Sofrer mais do que está sofrendo. Será que tudo isso vale a pena, Nakago?

Ele deu um sorriso deprimente.

- Palavras. É fácil pronunciá-las. – falou olhando para o céu, como se pudesse enxergar além dele. – Mas para mim, a realidade é mais dura. Tenho pesadelos quando eu penso que ele pode me deixar, acho que não agüentarei o dia em que ele decidir ficar mesmo com Tamahome, se ele decidir-se realmente por isso. Tenho muito medo desse dia, essa é a verdade.

- Pois quando esse dia chegar, você terá de ser forte e aceita-lo.

Nakago sorriu e segurou a mão de Nuriko.

- Acha que eu sou louco, minha amiga?

- Não. – ela respondeu séria. – Acho que é apenas um cara apaixonado. Um cara que precisará aprender a viver sem alguém que ele considerava muito especial.

- Obrigada por estar ao meu lado, Nuriko. – agradeceu ainda segurando a mão dela. – Nunca tive uma amiga, na verdade, meu irmão foi sempre meu único amigo. E depois dediquei-me inteiramente a Hotohori.

Nuriko corou e voltou a baixar os olhos, muito envergonhada.

- Você é realmente uma boa pessoa. – continuou com um sorriso enigmático – Gostaria que fosse homem, assim poderia me apaixonar por você.

Ele não disse isso, Nuriko pensou. Deus! Ele não disse isso. Nuriko sentiu o mundo parar, nada movia-se, o tempo congelou-se, sua respiração foi suspensa e até mesmo seu coração parecia ter parado. Um segundo depois tudo mexia-se rapidamente e seu coração estava tornou a bater. Agora descontroladamente. Tudo isso provocado pelas últimas palavras de Nakago. Sentiu vontade de gritar, confirmar as palavras dele, mas sabia que esse não era o momento e calou o que nem mesmo começou a dizer.

Nakago pegou os livros e levantou-se e deu um beijo no rosto de Nuriko e foi embora, deixando Nuriko imersa me seus anseios.

Cap. 2: Falei demais

Hotohori optou por ficar na biblioteca, não tinha matérias em comum com Nakago e por isso preferiu não estudarem juntos, até porque sabia que não conseguiria estudar com Nakago parando para beijá-lo a todo instante. O lugar estava lotado e silencioso, a bibliotecária, uma mulher magra e pequena, com óculos de lentes fortíssimas, sorria satisfeita, já que detestava a insistente conversa dos estudantes dentro do lugar, mesmo quando ela pedia para falarem baixo e também porque gostava de ver o desespero deles na hora das provas. Estudava sozinho, pois assim conseguia maior concentração.

Estava na faculdade desde as oito da manhã e desde então se enterrara na biblioteca e já passava das duas da tarde. Levou um susto ao sentir o celular vibrar no bolso da calça. Baixou a cabeça tentando falar o mais baixo possível.

- Oi! Está bem. Estou indo. – sussurrou.

Era Nakago chamando-o para almoçar. A idéia de comer lhe desagradava imensamente, mas a de ser internado era mil vezes pior e estava mesmo decidido a ganhar peso até o final de semana seguinte. Encontrou-se com ele na porta da biblioteca e almoçaram na cantina mesmo. Hotohori tomou um suco e consegui comer metade de uma maça, enquanto Nakago devorara um hambúrguer, uma fatia de torta de limão e meio litro de suco. Hotohori perguntou-se de onde vinha tanta fome, esquecendo que também já comera desse jeito.

Caminharam até o pátio e sentaram-se para descansar até o momento de recomeçar a maratona de estudos.

- Onde esteve estudando? – perguntou Hotohori.

- No parque – e antes dele perguntar com quem respondeu. – com Nuriko.

Hotohori deu um muxoxo,

- Está andando demais com ela. Daqui a pouco vão começar a falar. – disse como quem tem ciúmes.

- Por acaso está com ciúmes? – perguntou beijando-o no rosto.

- Eu? Imagina. – Mas estava. Querendo ou não ainda tinha ciúmes de Nakago, sentia-se um pouco egoísta por isso.

Nakago não entendeu.

- O que vão falar? Todo mundo sabe que sou gay, não inventariam que eu estou de caso com uma mulher.

Hotohori levantou-se e ficou de frente para ele.

- Nuriko é mulher tanto quanto eu ou você. – levou a mão à boca. Falou o que não devia. O que prometera a Tamahome não comentar.

- O que?

- Nada. Esqueça. – falou virando-se de costas.

- Não, Hotohori. Agora que você começou, pode me contar o resto.

- Não vou dizer mais nada. Eu prometi pra Tama... – calou ao ver os tristes olhos de Nakago. – Volte para seus livros, Nakago, é o melhor que você faz.

Então pegou os livros e afastou-se, deixando o abatido Nakago para trás.

N.a: muxoxo: som estalado feito com a boca, geralmente em sinal de aborrecimento ou desaprovação

Cap. 3: Tristezas do Fim de um Romance

Hotohori percebera o quanto seu namorado estava deprimido nos últimos tempos e sabia exatamente qual era a causa disso. Se de um lado Tamahome o pressionava pra terminar o namoro, por outro Nakago fazia de tudo para agradá-lo como se adivinhasse a hora em que ele tomara coragem para cumprir a promessa feita a Tamahome. Mas enfiam, decidiu que era chegada a hora. Não podia mais fugir disso, ligou para Nakago e abriu pessoalmente a porta para ele.

Nakago tentou beija-lo, mas ele se esquivou. Os Sr. e Sra. Kishomoto não estavam em casa e Hotohori levou o namorado para o quarto, segurava-o pela mão, mas não o olhava.

- O que está havendo Hotohori? Perguntou quando chegaram ao quarto. Engoliu em seco logo depois, pois já adivinhara a resposta. Sentou-se ao lado de Hotohori em sua cama.

Hotohori deixou que os olhos se enchessem de lágrimas e não conseguia encará-lo.

- Por favor, Nakago. Não diga nada. Me escute, por favor. – pediu tentando manter a voz firme.

Nakago estava abatido, seu olhar demonstrava um certo receio, um medo do que estava prestes a ouvir. Levantou-se da cama e afastou-se de Hotohori.

- Você quer terminar? – perguntou. Era visível o esforço que fazia para segurar o choro.

Hotohori confirmou com a cabeça.

- Por causa de Tamahome?

Novamente Hotohori confirmou balançando a cabeça.

- Está apaixonado por ele?

Recebeu uma nova confirmação.

- Está bem, Hotohori. Eu entendo. – disse limpando uma lágrima insistente. – Eu preciso ir agora. Com licença, meu amor.

Nakago abriu a porta e saiu devagar, mas desceu as escadas correndo e saiu batendo a porta. Entrou no carro e encostou a cabeça no volante, chorando baixinho. Engoliu as lágrimas e saiu dirigindo apressado.

Hotohori deitou-se chorando, encolheu-se na cama profundamente deprimido. Por que Nakago tinha que fazer isso? Aceitar assim, tudo tão facilmente. Teria preferido que lhe batesse até que tivesse desmaiado, que tentasse matá-lo. Mas ao invés disso, falou que entendia tudo e ainda o chamou de "meu amor". Tudo isso o fazia sofrer mais ainda. Amaldiçoou o dia em que conhecera Tamahome. Tudo teria sido tão mais fácil.

Nakago chegou em casa e correu para seu quarto. Os pais olharam-se e a Sra. Nakarashi levantou-se, mas Tasuki impediu-a de ir atrás do filho.

- Deixa, mamãe. Eu falo com Nakago. – disse, mas a mãe segurou-o pelo braço muito séria.

- Não. Aconteceu alguma coisa e ele precisa da mãe agora. – disse determinada e seguiu para o quarto do filho.

Bateu de leve na porta e entrou. Nakago estava deitado, com o rosto afundado no travesseiro, tentando abafar o choro. A mãe sentou-se a seu lado e acariciou os loiros cabelos do filho, com cuidado fê-lo se virar e deitar a cabeça em seu colo.

- Ma-mamãe, Hotohori terminou comigo. – começou entre soluços. A mãe nada disse e continuou a acariciar os cabelos de Nakago, deixando que o filho desabafasse toda a sua angustia. – Eu sinto tanta dor. Tanta dor, mamãe. Meu peito arde com essa dor, mamãe, é tão insuportável que parece que eu vou morrer. Eu sinto que vou morrer, mamãe. Eu preferiria a morte a ficar sem o Hotohori. Eu sabia que o estava perdendo há algum tempo, mas eu não queria ver isso. Não queria entender isso, mamãe. Preferi fechar os olhos e não ver que Hotohori não me amava mais, sabia que ele amava outro homem. Oh! Mamãe. Eu estou sofrendo tanto. Eu o amo tanto, tanto.

A dor corroia-lhe o peito, Nakago sentiu que ia explodir, seu coração parecia estar sendo esmagado por uma mão forte e perversa, perdera Hotohori, para sempre agora, quando essa dor iria passar.

A mãe continuou a afagá-lo com carinho, até que Nakago calou-se. Ainda chorou mais um pouco sem falar nada até que adormeceu. Mihako deitou a cabeça dele no colchão e saiu do quarto na ponta dos pés para não acordar o filho.

- O que aconteceu - perguntou Tasuki?

- Ele e Hotohori terminaram. – respondeu num longo suspiro, sentando-se no sofá.

- Nakago deve estar arrasado. – comentou Tarukawa Nakarashi.

A esposa suspirou e balançou a cabeça afirmativamente.

- Chorou até dormi, o pobrezinho. Está tão deprimido .

- Eu sempre soube que Hotohori não era flor que se cheirasse. – comentou Tasuki mordaz. – E Nakago é um bobo por ficar sofrendo por ele.

- Pare com isso, Tasuki. – censurou a mãe. – Seu irmão ama Hotohori e vai levar um tempo para esquecê-lo. Temos que apóia-lo nessa hora tão difícil e não recriminá-lo.

Cap. 4: Ainda Podemos Ser Amigos?

- Notei que Nakago, não vem mais aqui. – comentou a Sr. Kishomoto. – Terminou com ele e decidiu virar homem?

Hotohori acabava de chegar de sua primeira aula na auto-escola, iria aprender a dirigir agora que terminara com Nakago e não poderia levá-lo e buscá-lo todos os dias. Subiu alguns degraus, mas parou. Respirou fundo e caminhou lenta e calmamente até o pai.

- Olha aqui, papai. Eu terminei com Nakago sim. – disse muito calmo. – E se o senhor achar que eu vou virar hetero está louco. Eu sou gay, viado, bicha, ou seja lá o nome pelo qual queira se referir a mim. Eu realmente não me importo. Mas não há nada no mundo que o senhor possa fazer para mudar isso. E eu realmente gostaria que o senhor me deixasse em paz com essa história.

Hotohori virou-se e subiu para seu quarto, sem olhar para trás.

O Sr. Kishomoto ficou impressionado com a atitude do filho. Não sabia que ele podia ser capaz de tais atos. Não era tão delicado assim afinal.

Hotohori se jogou na cama chorando. Por que tudo era tão difícil? Fazia dois dias que terminara com Nakago. O evitara desde então e também não vira Tamahome. Enxugou as lágrimas quando ouviu batidas na porta.

- Nakago? – perguntou para a empregada que viera dizer que Nakago o estava esperando lá embaixo.

- Sim, senhor. Ele pediu para o senhor descer. Quer que eu diga que o senhor não pode recebê-lo?

- Não. Eu vou descer.

Nakago o aguardava de pé junto da porta.

- Oi, Hotohori. – cumprimentou-o timidamente.

- Oi Nakago. O que está fazendo aqui? – perguntou estranhando.

- Vim te ver. Já que você me evitou nos últimos dois dias. – explicou. – Só porque terminamos o namoro não significa que não podemos ser amigos. Ou não?

Hotohori sorriu envergonhado. Nakago era tão bondoso.

- Podemos ser amigos sim, Nakago... mas agora... - mordeu os lábios.

- Eu entendo. Mas eu gostaria de saber se não tem raiva de mim?

- Por que eu teria raiva de você? – perguntou Hotohori, seus olhos enchiam-se de lágrimas.

Nakago deu de ombros.

- Soube que está aprendendo a dirigir.

- É verdade.

- Verá como é bom dirigir, espero que se saia muito bem em seu exame.

Hotohori sorriu um pouco.

- Acho que vai demorar um pouco para fazer exames, comecei ontem.

Nakago balançou a cabeça, sentia vontade de tomá-lo nos braços e beijá-lo. Depois de quase dois anos de namoro não sabia mais agir como se fossem apenas amigos quando estavam sozinhos. Afastou tais pensamentos.

- Eu posso continuar a vir te buscar, como antes? - perguntou relutante.

Hotohori surpreendeu-se como convite.

- Bem... acho que por enquanto não tem problema. Acho que Tamahome não se importará, só temos essa semana de aula.

Nakago deu um passo a frente, mas recuou no mesmo instante.

- Então, até mais.

Deixou a casa de Hotohori e seguiu de carro sorrindo. Pelo menos ficaria perto de Hotohori alguns minutos.

Hotohori suspirou. Nakago era sempre tão bondoso com ele. Sentia-se a pior das pessoas por tê-lo enganado, tê-lo deixado. Desejava sinceramente que ele encontrasse alguém que o amasse muito e que essa pessoa o amasse também.

Continua...