DESEJOS

"Um homem deseja pelo olhar,

uma mulher se dá no seu."

A Karr

Capitulo 13

Mulder, com o braço à cintura de Scully, continua a olhar o céu lá fora.

A noite está gelada.

- Vamos tomar um chocolate quente, Mulder? Você quer?

- Claro! Se bem que prefiro mesmo é esquentar-me em você... assim... - ele aperta-a com ardor.

Dana desvencilha-se gentilmente de seus braços com um sorriso nos lábios.

Ele a solta e abre as mãos espalmadas como que rendendo-se à sua ordem.

X x x x x x X

Ambos saboreiam o chocolate fumegando nas xícaras.

- Está saindo do seu regime, Dana?

- De vez em quando acontece, assim como aconteceu agora com você.

- Como assim?

- Chamou-me Dana.

Mulder sorri.

Falam sobre os assuntos que haviam sido resolvidos durante o tempo da separação.

Scully o examina detidamente.

Como o ama! Como ele tornou-se importante na sua vida desde há muito tempo!

- Mulder, me diga uma coisa: você pretende ainda, em alguma ocasião, pegar a incumbência de uma investigação tão longe e prolongada do jeito que aconteceu essa última? - levanta as sobrancelhas aguardando a resposta.

- Scully... sou um subordinado... - o que posso fazer? Teria opções?

- Certo... só que de outra vez eu o acompanho nem que seja sob as brigas do Skinner!

- Tem certeza? E vai correr o risco de uma demissão?

- Ah, Mulder... quantas vezes ele já nos ameaçou por não concordar com nossas idéias...!

- Eu sei, Scully.

- E eu prefiro correr o risco.

É tocada a campainha na porta.

- Posso atender? - pergunta Mulder.

- Claro! Por que não?

Mulder apressa-se em caminhar até a porta.

Margareth está à frente da porta, aguardando.

- Fox! - exclama - Você voltou? Como está?

Abraça-o comovida e feliz.

Scully os observa sorridente.

- E então? - ela volta a falar - Como é que foi por lá?

- Não muito bem...

- Por que? As coisas não deram certo pra você?

- Não deram certo as emocionais... as do coração... - explica.

Margareth olha-o intrigada. Afasta-se para observá-lo melhor.

Dana, de onde está, suspira fundo.

Teme uma resposta desagradável da parte dele.

De repente ele pode falar em algo que a deixe triste.

- Fox... - Maggie reinicia.

- Mãe! - impede-a Dana - Deixa o Mulder com os problemas dele! Não seja indiscreta!

Mulder apenas sorri. Aproxima-se de Dana.

- Ela não está sendo indiscreta, Scully. Deixe-a perguntar o que quiser.

- Mas, na verdade, sobre o que? - Maggie novamente fala.

- Sobre o meu coração... - sugere Mulder.

- Seu coração Mulder, está em pleno e bom funcionamento! Nada há de estranho nele! - intervém Scully, sorrindo e olhando-o com infinito carinho.

- Senhora. Scully, - ele senta-se - você sabe, eu sou um cara tremendamente necessitado de carinho e lá...

- Lá...? - quer Scully a conclusão, embora dentro de si exista um medo atroz em saber.

- Eu não poderia ter isso.

Maggie aproxima-se e senta-se junto a ele.

- Eu te compreendo, Fox. Dana talvez entenda, porem não quer demonstrar.

- Mãe! - exclama Dana aflita e sentindo-se completamente sem graça.

Margareth ri.

Mulder apenas sorri, discretamente.

- Veja, filha, - mostra-lhe um embrulho - eu trouxe-lhe algo muito gostoso para o seu jantar. Já que você não pôde ir lá em casa eu o trouxe aqui.

Dana toma o embrulho e ambas encaminham-se para a cozinha.

X x x x x X

- Você vai jantar agora? - ele pergunta ao vê-la retornar à sala.

- Nós vamos jantar, Mulder! Minha mãe trouxe algo bem saboroso pra nós.

Mulder puxa-a pelo braço, fazendo-a chegar até a janela.

- Scully, quanta saudade! - diz, fitando-a com seu olhar inquisidor, brilhante de emoção.

Ela confirma com ele a frase, fitando-o e sentindo as lágrimas aflorarem em seus grandes olhos azuis. Ele toma-lhe o rosto entre as mãos e desliza os lábios sobre seus cabelos, os olhos, a ponta do nariz...

O telefone toca.

Dana suspira fundo. Está indecisa.

Por fim, desprende-se dos braços de Mulder para atender a chamada.

- Dana Scully. - atende.

No segundo seguinte desliga.

- Era engano. - informa.

"Somente para atrapalhar nosso momento de ternura!" - pensa.

Mulder vai agora sentar-se no sofá.

Scully aproxima-se e de pé toma uma de suas mãos, segurando-a entre as suas.

Há um clima de intenso carinho neste momento.

- Ah, Mulder... nós somos tão próximos... uma separação nossa torna-se imensamente dolorosa...!

- Você também pensa assim?

- Claro! Tinha alguma dúvida disso? - ela, ainda de pé, toma a cabeça dele e encosta-a em seu peito; afaga-lhe os cabelos e logo os beija com ternura.

- Olhem só o que fiz! - anuncia a mãe de Dana, demonstrando contentamento, ao retornar à sala.

Pára de súbito, vendo os dois a acariciarem-se.

Mulder e Scully sentem-se desajeitados e um tanto aflitos com o flagrante.

Margareth imediatamente coloca os objetos que traz sobre a mesa e volta seus passos para retirar-se, discretamente.

- Senhora Scully, por favor! - pede Mulder, fazendo-a entender que deve ficar na sala.

Ela está parada e sorri.

Scully, desajeitadamente tenta comportar-se o mais naturalmente possível.

- Pode deixar, mãe, que arrumo a mesa. - ela diz.

Mulder acomoda-se no sofá, pegando um jornal, do qual logo abre as páginas.

- Parece que vamos ter bastante frio nestes dias agora, Scully! - fala, para descontrair-se.

- É o que está dizendo aí?

- Sim, é.

Ela continua nos seus afazeres arrumando os utensílios para o jantar.

Há um silêncio.

Margareth sai da sala.

Os dois contemplam-se com ternura.

X x x x x X

Mulder está dirigindo o carro, enquanto comenta:

- Sabe Scully, não imagino quando seu irmão Bill vai deixar de ter tanta raiva de mim!

- Ah, não ligue, Mulder! É o temperamento dele!

- É... na verdade não posso ligar para isso mesmo. Mas acho-o impertinente agindo assim. Você notou como odiou ver que estou de volta?

- E o que importa, Mulder? Não é a ele que interessa a sua volta! - fita-o intensamente.

- Obrigada Scully, por pensar assim.

- De nada. - diz, sorrindo.

Já estão chegando ao prédio onde mora Scully, retornando após terem deixado Maggie em casa.

Dentro do carro ele toca-lhe a mão:

- Scully, boa noite.

- Mulder, você não precisar ir!

- Não? - está surpreso.

- Não. Você esqueceu sua capa lá dentro do apartamento!

- Ah, esqueci! - ele examina seu próprio corpo para conferir.

- Esqueceu sim... e está muito frio aqui fora pra você ter que voltar pra casa sem ela!

- Ok, Scully! Vamos lá.

Saem do carro, após estacionar.

Caminham depressa para o prédio.

Mulder segura-lhe um braço para acompanhá-la em seus passos.

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- Por que não espera um café bem quente que eu posso preparar pra você?

Mulder está com a capa apoiada no braço. Retira-a dali.

- Aahn... - geme e joga-se no sofá.

Scully sorri, olhando-o

- O que foi? - ele pergunta.

- Fico observando o seu modo de ser, Mulder. Você é completamente informal e...

- E...?

- ... eu gosto disso! - ela conclui.

Ele dá batidinhas com a mão no assento do sofá:

- Por que não me faz companhia aqui?

- Tudo bem. Eu volto num minuto!

Ela retira-se e vai até o quarto.

Mulder levanta-se para ligar a TV. Assiste algo por uns instantes. Desliga-a em seguida.

Em poucos minutos Dana retorna à sala.

Já se encontra com um traje menos formal.

- Mulder, vou colocar uma música, tá? - sugere.

- Tá. - concorda - A TV está sem nada interessante pra ver.

Ela liga o som. Coloca as músicas que deseja.

Mulder, relaxadamente refestelado na poltrona fecha os olhos; gosta do clima ameno, da paz num lugar aconchegante...

- Sabe Scully, é bom chegar de um lugar onde fiquei tanto tempo só, sem ninguém para contar as minhas desditas e aqui agora sentir essa paz junto a você.

- Pelo menos sirvo pra isso, não é Mulder?

Ele ri; um sorriso amplo, simpático, sincero, simples e espontâneo como um sorriso de menino.

- Não vou retribuir sua frase com simples palavras, Scully! - faz uma pausa olhando-a intensamente.

Está sentado. Levanta-se. Estende a mão para ela achegar-se a ele.

Scully vem; atende seu apelo.

Olhos nos olhos.

Corações batendo descompassados.

Ele enlaça-a para seguirem o ritmo da música, que os deixa embevecidos.

Dançam; corpos colados sentindo a quentura que emana de cada um.

Sentem-se na sensibilidade do roçar de suas carnes.

- Esta música me faz lembrar da festa naquela cidadezinha em que conhecemos o Grande Mutato. Lembra, Scully?

- Claro... eu lembro que você tirou-me para dançar ... e...

- E... ?

- Foi bom... e nós...

- ... nos beijamos. - ele conclui.

Ambos ficam em silêncio.

Mulder olha Scully com um profundo olhar apaixonado.

Sente que ela é a total e completa inspiração para os seus sonhos de amor e paixão.

Durante vários minutos permanecem assim, somente sentindo-se, calados, ao som da música.

- Scully... eu devo ir agora? - ele indaga.

- Não...! - murmura convicta.

- Não? - quer saber, com os lábios pousados nos ruivos cabelos dela.

- Não.

- Por que? - quer saber.

- Quero que fique.

- Scully...

Ela desencosta sua cabeça do peito dele para encará-lo.

Nem sabe o porquê das palavras que saem de sua boca.

Somente tem certeza de que é o sentimento do coração, neste momento, que está determinando a presença de Mulder ali, com ela.

Ele é o homem que ela sempre havia esperado. E que espera agora.

- Mulder... - sussurra - ... quero que fique aqui comigo...

- Por que?

- Está frio demais lá fora!

- É... aqui está quente, aconchegante, Scully! Principalmente por causa de você!

Ela desvia o olhar do chamejante olhar dele. Sorri.

Continuam a dançar.

As mãos de Mulder, acariciando as costas de Scully, fá-la sentir vibrante de amor.

O coração palpita; todo o seu ser está pulsando em delirante desejo.

- Mulder...? - sussurra.

- O que é?

- Não quero que vá esta noite... - levanta para ele o olhar carente, marejado de lágrimas.

- Scully... - ele murmura e aperta-a mais contra si.

- Não quero estar só! - fala num gemido.

- Eu não a vou deixar, Scully...

- Mulder...?

- O que?

- Não me deixa sentir novamente a solidão, Mulder! Me ajuda!

- Eu te ajudo! - toma o rosto dela entre as mãos.

Param os passos de dança.

A penumbra do ambiente é quebrada somente pela luz suave que sai do abajur aceso no quarto...

Olham-se amorosamente.

"Os olhos são grandes intérpretes do coração,

mas somente os interessados entendem sua linguagem."