AMOR DE VERDADE

"O verdadeiro amor é uma

amizade que se incendeia."

Jeremy Taylor

Capítulo 20

Dana deixa-se levar pela intensidade do desejo que lhe invade neste momento em ser amada por Mulder.

Seu corpo, vibrando de prazer, aceita todas as mais intensas carícias que está recebendo neste instante. O êxtase é total; todas as fibras de seu ser tremem de incontido desejo.

Sente, a cada toque dos macios, desejosos, mornos e suaves dedos de Mulder a volúpia a que se entrega todo o seu ser, assim como a boca desejosa dele, a saboreia como se fosse a mais gostosa iguaria, numa cada vez maior intensidade.

A respiração dele, ofegante, dentro dos ouvidos de Dana a faz quase gemer de prazer e ânsia ao mesmo tempo.

Como o ama, como o deseja, como o quer tomando conta inteiramente de seu corpo!

X x x x x X

Quietos, abraçados e agora, relaxamente no leito aquecido pelo calor de seus corpos, estão silenciosos.

Somente o ruído do tic tac de um relógio quebra o sossego da cena.

Mulder levanta a face de Scully de seu peito para fitá-la. Nota que os olhos dela estão rasos d'água.

Ele sente um leve temor pelo que vê.

- Que foi, Scully? - pergunta, um tanto preocupado.

- Nada, Mulder.

Ele toma o rosto dela entre as mãos.

- Nada, não; claro que aconteceu algo pra você estar triste, agora.

Ela sorri, olhando-o ternamente:

- Não estou triste.

- E o que é, então?

- Mulder... é... a forma como você me ama... a sua ternura... o seu carinho... me deixam tão feliz que sinto... vontade de chorar...

Ele a aperta entre seus braços.

- Ah, lindinha... é porque eu te amo... pra valer!

Agora Scully aperta-se contra o corpo dele, com calor:

- Eu tambem te amo muito, Mulder, e esse amor é que me faz sentir assim... essa emoção...

- Minha Scully!

Ambos ficam calados, com os pensamentos correndo entre suas mentes, ainda abraçados.

- Scully?

- Hum?

- Defina a emoção.

- A emoção? Ahn... a emoção... é... um estado mental caracterizado por intenso sentimento, acompanhado de perturbações psicológicas e até...

- ... fisiológicas, que representam as formas primitivas de conduta. - conclui Mulder, num largo sorriso.

Este momento serve para descontrairem-se totalmente.

Ambos riem por seus extremos conhecimentos e experiência de vida.

Mulder olha para o relógio sobre o móvel.

- Scully, hoje já terminamos nossa folga.

- Sim? Preparemo-nos, então, para a luta a partir de amanhã! - geme, retesando os membros, espreguiçando-se.

X x x x x X

O Diretor Assistente Skinner os observa sentados à sua frente, impávidos e demonstrando extrema tranquilidade, como sempre.

- Como foi de descanso, Agente Mulder?

- Fui bem, senhor. Muito bem.

- E você, Agente Scully?

Scully levanta as sobrancelhas, molha os lábios:

- Ótima, senhor.

- Bem, vejo que realmente parece que aproveitaram com muito gosto sua folga.

- É verdade, senhor. - fala Mulder.

- É... Agente Mulder... você saiu da cidade?

- Eu...? Ah, sim... fui para um hotel-cabana, dentro de um bosque...

Scully sente-se incomodada.

"Por que nos faz tanta pergunta que não interessa, em vez de entrar logo no assunto do trabalho?"

- E você, Agente Scully?

- Eu? Bem... ahn... - está titubeante na resposta.

- Scully? Ah... ela foi para uma casa de praia, andou de veleiro... essas coisas... - apressa-se em explicar Mulder.

Scully abre os olhos, quase assustada com a saída esperta de Mulder.

- Como sabe, Agente Mulder? - indaga Skinner, remexendo-se na cadeira.

- Ela me contou... - explica Mulder, franzindo os lábios, fazendo bico.

Skinner balança levemente a cabeça, aceitando a explicação.

- Agentes, temos que investigar um caso numa cidadezinha distante daqui e eu acompanharei vocês.

- Algo especial, senhor?

- É... talvez nem se torne necessária a minha presença, mas como prometí a meu amigo ir até lá, o farei.

- Muito bem, senhor. - diz Mulder - O que temos a investigar?

Skinner, com sua costumeira calma, começa a explicar os trâmites do caso aos seus dois corretos e impávidos Agentes sentados à sua frente.

X x x x x X

No carro dirigido por Mulder, Skinner ao seu lado, conversa sobre todos os detalhes da investigação a ser efetuada.

Através do espelho retrovisor dianteiro, Mulder lança seu verde e transparente olhar para Scully sentada no banco traseiro, que o recebe com uma quase incontida emoção e um discreto sorriso nos lábios.

Falando sem cessar, Skinner continua na sua dissertação sobre o assunto, alheio aos olhares apaixonados trocados entre os dois Agentes.

A viagem prossegue normalmente.

O vale verdejante pelo qual atravessam agora, abriga inúmeras pequenas casas pintadas de branco.

Assemelham-se a caprichosas pinturas num cenário sobre tela de algum pintor anônimo.

O carro prossegue velozmente pela estrada.

X x x x x X

Skinner entra no saguão do hotel, enquanto Mulder e Scully o seguem, mais atrás.

Dirigem-se ao balcão da recepção.

- Por favor, - diz Skinner - é sobre a reserva de três quartos.

- Ah, pois não, senhor. - diz o rapaz no balcão - O da senhora é na outra ala.

Entrega-lhes as respectivas chaves.

Mulder e Scully trocam um olhar de cumplicidade.

Ele bate com a chave sobre o balcão numa atitude de ansiedade.

O rapaz chama um empregado que vai levar os hóspedes até seus respectivos aposentos.

Os três sobem uma escada de dois lances, seguindo o funcionário.

X x x x x X

Scully entra no quarto e observa ao redor.

Somente uma janela abre-se para um pátio central do hotel, sem nenhuma vista interessante que possa ser apreciada, a não ser as janelas das alas opostas dos quartos do hotel.

Abre sua maleta e tira dela alguns objetos, colocando-os sobre a cama.

Sente-se fatigada.

Bem que precisaria, novamente, de uma reconfortante estadia junto do homem a quem ama, e que, a cada minuto, sente mais falta de sua presença sempre junto de si.

O celular toca no bolso do casaco.

Scully atende. Já sabe até de quem se trata.

- Scully. - ela atende.

- Sou eu, Mulder. Escuta, Scully, eu vou sair com o Skinner para adiantar alguma coisa na investigação, mas não é necessário você ir, se não quiser.

- Tenho opção? É o que, realmente, eu quero, Mulder! Prefiro agora tomar um relaxante banho e descansar dessa viagem...

- E depois...

- O que você quer dizer?

- Ah, lindinha... depois a gente se vê!

- Mulder... a gente se vê... apenas!

- O que houve, Scully?

- Você não sabe que o Skinner vai nos monitorar aqui, Mulder? É preciso ser...

- ... prudente! Tá, tá... pode deixar!

- Mulder?

- Que é?

- Um beijo...

- Outro, lindinha.

Scully desliga, pensativa. Um leve sorriso esboça-se em seus lábios, percebendo a intensidade do amor que sente por Mulder.

Olha o relógio de pulso.

É... talvez logo depois desça um pouco, para tomar um chá, qualquer coisa, já que os dois sairam do hotel e vai sentir-se sozinha.

X x x x x X

Enquanto toma o chá, Scully lê o jornal, interessada nas notícias.

À sua volta algumas pessoas, em suas respectivas mesas, alimentam-se e conversam.

Não há muitos rumores no ambiente.

O som de uma melodia suave inunda o salão de refeições, dando-lhe um toque aconchegante.

Somente é a quietude do lugar quebrada pelo ruído de louças e talheres manuseados pelos garçons.

Os olhos de Scully concentram-se, ternamente, sobre uma mulher que traz ao colo um bebê rosado e risonho, que é alvo dos mimos da mãe.

Subitamente vem à sua mente a horrível dor de pensar que nunca poderá ser mãe, ter um bebezinho como aquele que vê agora. Seus olhos ficam úmidos de lágrimas.

Desvia o olhar da cena que a comove.

" Vou tomar esse chá, depois descanso um pouco, enquanto Skinner e Mulder não chegam. Devem trazer alguma informação importante para nós estudarmos o assunto da investigação." - pensa.

Enquanto leva a xícara à boca num momento, observa que uma mulher, numa mesa à frente da sua, a observa; nítidamente nota isso.

Scully termina seu chá e já levanta-se da mesa, quando a mulher sai de seu lugar para abordá-la.

- Agente Dana Scully?

- Sim, sou eu.

- É... eu... podemos conversar um pouco? - faz menção de sentar-se à mesa.

- Pois não. - faz sinal que concorda e volta a sentar-se tambem.

- Agente Dana Scully, eu soube que você veio junto com o Agente Fox Mulder aqui para a cidade...

- É verdade. O que deseja?

- Não... isto é... - a mulher sorri - ... na verdade eu preciso conversar com o Agente Mulder...

- Sim? Sobre o que?

Dana havia notado que a mulher é muito bonita e dona de um sorriso encantador.

- Bem... não se incomode, Agente Dana, é um assunto que eu gostaria de falar somente com ele mesmo. - sorri, novamente - Um assunto pessoal.

Scully, instintivamente, sente-se incomodada. Levanta-se decidida.

- Se é assim, deve procurá-lo, então...

- É ... é isso que eu farei. Eu ia falar com ele agora, mas soube que saiu.

- A senhora está bem informada.

A mulher levanta-se, também.

- Bom, sendo assim, eu deixo pra depois. Até logo, Agente Dana; desculpe.

Scully faz um gesto com a cabeça e sai do salão.

X x x x x X

Mulder joga o sobretudo em cima de uma poltrona. Passa a mão pelos cabelos; leva a mão ao queixo, num habitual gesto.

- Scully, eu creio que devemos nos preparar para enfrentar um grande problema.

Ela o olha, franzindo o cenho, como lhe é peculiar.

- Como se não fosse normal, isso!

- Sei, mas nesta cidade é tudo complicado, ninguém se entende.

- Como assim?

- Parece que aqui as pessoas não se dão bem, umas com as outras, sei lá...

- E esse caso é um Arquivo-X, Mulder?

- Bem... está me parecendo que viemos aqui fazer algo para um amigo do Skinner. - ele aproxima-se - Mas vamos deixar pra lá um pouco? Só amanhã podemos resolver. Skinner nos quer no local só amanhã, mesmo.

- É longe daqui?

- Uns vinte quilômetros, mais ou menos.

- Ahn... - faz ela e dirige-se pra a porta de saida.

- Scully, espera!

Ela retém seus passos:

- Que é, Mulder?

- Vai assim?

- Assim...? O que? - sorri, sem abrir os lábios, fingindo não entender.

Mas Mulder não lhe dá tempo mais para pensar. Toma-a nos braços, afoito.

Batem na porta, fortemente.

Mulder, sem largar Scully, apura os ouvidos para ouvir algo mais.

- Eu acho que sei quem é. - Scully informa, dando um suspiro.

- É ? Quem?

- Veja primeiro. - ela diz, molhando os lábios, e franzindo-os a seguir.

Mulder solta Scully de seus braços, a fim de abrir a porta.

- Agente Fox Mulder, meu nome é Betsy. - apresenta-se a mulher diante dele.

- Ah, olá Betsy! - cumprimenta-a gentilmente.

- Sei que não me conhece, é claro, mas posso lhe falar um pouco?

- Claro! - faz um gesto, convidando-a a entrar.

Betsy entra, quando então seu olhar depara com Scully.

- Oi, Agente Dana! Não sabia que estava aqui... no quarto do Fox...! - volta-se para Mulder - Posso lhe chamar assim?

Mulder faz um sinal com a mão, concordando, como se quisesse dizer:

"Sim, fazer o que? "

- Mas pode dizer o que veio me falar?

Betsy dá alguns passos, aproxima-se de uma das poltronas ali existentes.

- Com licença. - senta-se e cruza as pernas bem torneadas, sensualmente.

Scully não deixa escapar de seu olhar nem um só gesto da recém-chegada. Cruza os braços. Engole em seco.

Mulder nota seu olhar hostil contra a estranha.

- Fox... - recomeça Betsy - ... eu preferiria, se a Agente Dana Scully não se importa, falar com você a sós.

Mulder dirige-se à poltrona onde está seu sobretudo, retira-o do assento, para em seguida sentar-se, dirigindo o olhar para a moça.

- Betsy, eu e a Agente Scully trabalhamos juntos. Então...

- Desculpe Fox. Só que não é sobre nenhuma investigação que necessito seja feita pelo FBI.

- Não! - ele lança o olhar em direção à Scully.

Esta, numa fração de segundos, já havia tomado a resolução de dirigir-se à porta, para sair.

- Scully, espera! - ele levanta-se e vai até ela - Te vejo depois. - fala, em tom baixo.

Ela assente, abre a porta e sai, fechando-a atrás de si.

Mulder, ao retornar à poltrona para sentar-se ao lado da que a moça se encontra, observa que ela retira da bolsa uma carteira de cigarros e isqueiro.

- Não se importa? - ela pergunta.

- Claro. - fala ele, sem expressão; aguarda-a começar o que tem a dizer.

- Imagine, Fox, que o mundo é bem pequeno mesmo! Você não me conhece, mas eu sei da sua existência há bastante tempo! - acende o cigarro usando charme.

- É mesmo? Surpreendente!

- Acha mesmo? Você não se surpreende com coisa alguma, Fox, eu sei... acredita em tudo...

- Mas não em todos.

Betsy dirige-lhe um sorriso; dá uma pequena risada logo após:

- Eu... é... sou prima de uma colega sua do FBI.

- Ah, é? E qual é o problema?

Betsy, então, coloca a mão sobre o braço de Mulder, para falar entre risos:

- Mas não há problema nenhum, Fox! Sabe o que é? Minha prima me contou quase tudo sobre você.

- Sobre mim? O que? - ele joga as costas sobre o espaldar da poltrona, com um sorriso zombeteiro nos lábios.

- Tudo!

- O que significa esse tudo? Eu não tenho grandes amizades dentro do Bureau.

- Isso eu sei que não tem, Fox, mas você é muito visado por ter as preferências dos seus superiores.

Mulder ri.

- Está completamente enganada, Betsy! Quem lhe contou isso está redondamente enganado!

Ela ri, também. Desconversa.

- A sua colega, Agente Dana, não gostou muito de ter que sair, hein, Fox?

Ele não responde. Fica sem encarar Betsy, somente apertando os lábios. Ainda não havia conseguido entender as intenções da moça; apenas sua intuição masculina alerta-o de algo.

- Você ainda não me disse... - começa ele.

- Shiiiii! - ela o faz calar-se - É o seguinte: desde que minha prima começou a falar sobre você,

a minha cabeça ficou a mil...

- É mesmo? Dei-lhe um bom palpite pra jogar na loteria?

Ela o olha séria:

- Não brinque. É que eu fiquei doida pra lhe conhecer, e agora, quando soube que havia vindo pra esta cidade... nem sei!

Lança para ele o insinuante sorriso que havia deixado Scully em alerta.

Ela leva a mão ao peito, respirando, fazendo encenação.

- Fiquei emocionada!

Mulder balança a cabeça, afirmativamente, indicando que está a entender.

Betsy levanta-se da poltrona.

Mulder, vendo-a levantar-se, faz menção de ir até a porta para deixá-la sair.

- Eu nunca soube que é grosseiro com as mulheres... Fox! - diz, compassadamente, censurando-o por seu gesto de ir abrir a porta para que ela saisse.

Aproxima-se dele e o olha de alto a baixo, sedutoramente.

- Minha prima o descreveu de-ta-lha-da-men-te!

- Está conseguindo me deixar sem jeito... - comenta Mulder, fitando-a sem interesse.

Betsy dirige-se para a porta agora e Mulder acompanha seus passos, quando ela volta-se subitamente para encará-lo:

- Eu já vou, Fox... mas olha, preciso conhece-lo melhor. - diz, mostrando seu belo sorriso e fazendo uma voz insinuante.

Mulder abre a porta e Betsy sai do quarto.

Rapidamente ele fecha a porta atrás dela. Levanta a cabeça, abre a boca, respirando, para exclamar, com ar enfadonho:

- Essa não!

Atende o telefone que toca, neste momento.

"- Deve ser Scully." - pensa.

- É Mulder. - atende.

- Agente Mulder, chegue até aqui, por favor. Temos que fazer uns acertos. - é Skinner que fala.

- Mas senhor, chegamos há pouco...! - ousa protestar.

- Eu sei, eu sei, mas rapidamente terminaremos. Venha até aqui.

- Certo, senhor.

Mulder, chateado, passa as mãos pelos cabelos.

Sai, batendo a porta, porem vai direto ao quarto de Scully, na outra ala do hotel.

Bate na porta.

Scully vem abrir. Usa um belo quimono.

Mulder entra rápido.

- Scully, cheguei há pouco tempo e o Skinner está me chamando lá, agora. - diz apressado.

Scully o fita, entendendo. Porem apenas pergunta:

- O que ela queria?

- Quem? Betsy?

- Essa. - ela tem os braços cruzados.

- A prima dela é nossa colega no FBI.

- E...?

Ele aproxima-se mais.

- Depois falo sobre ela. Vem cá. - toma-a nos braços para apertá-la com força - É gostoso demais te sentir assim!

Ela deixa-se aninhar no peito dele.

Ele aspira o seu perfume atrás da orelha, colocando os lábios sobre os ruivos cabelos dela, sentindo-lhe a maciez.

- Vai logo falar com o Skinner, Mulder! Depois temos que conversar. - deposita um terno beijo sobre os lábios dele.

Mulder sai.

"O beijo é uma forma de diálogo."

George Sand