A CHAMA DA FÉ

"A impossibilidade de provar que

Deus não existe é a melhor prova

de sua existência."

La Bruyère

Capítulo 27

Dias atrás Mulder havia esperado durante 45 minutos a chegada de John Parkson ao lugar onde haviam marcado encontro.

Um carro aproximara-se da calçada onde Mulder, recostado a um muro, aguardava. Do carro descera um homem jovem, bem apessoado; aproximara-se.

- Agente Fox Mulder?

Mulder não respondera. Sua mão, instintivamente, apertava a arma guardada por sob a roupa, pronto a qualquer minuto retirá-la rapidamente e apontar para o homem que lhe falara.

- Acompanhe-me, Agente. - dissera o homem.

Mulder seguira-o Entraram no carro.

Ruas, avenidas, vielas, estradas haviam sido percorridas pelo veículo dirigido pelo desconhecido.

- Afinal de contas, em que buraco desta cidade se meteu o Parkson? - perguntara Mulder já intrigado.

O desconhecido apenas lançara-lhe um rápido olhar e continuara seu itinerário.

Mulder resolvera calar-se e aguardar.

Cerca de 40 minutos depois haviam chegado a um imenso casarão, longe do burburinho da cidade.

Mulder descera do carro e detivera-se a olhar a grande casa antiga que tinha um avarandado todo ao seu redor.

Parecia abandonada, pois à sua volta, em todo o vasto terreno, a terra estava coberta por muito capim e erva daninha.

- É... o jardineiro daqui está de férias, hein? - gracejou Mulder.

Mais uma vez o seu acompanhante nada dissera. Limitara-se a continuar a levar seus passos para dirigir-se à casa.

Ao colocar seus pés na escada da entrada, logo Mulder avistara dois homens que agiram como se fossem seguranças de alguém.

Ele entrou, enquanto os dois homens fazendo um sinal, pediram para segui-los.

- Afinal, quem é o anfitrião aqui da mansão? - perguntou ao chegarem a um grande e escurecido salão, onde nas paredes haviam muitos quadros, mas os móveis eram poucos e antigos.

- Eu, Agente Mulder! - anunciara-se alguém às suas costas.

Mulder voltara-se para ver de quem era a voz.

- Você! - reconhecera de imediato; fizera uma pausa, encarando o sujeito - Não estava sendo bem pago onde andou trabalhando e resolveu vir pra cá?

O homem riu, sinistramente:

- É ... pode até ser. - sentou-se numa cadeira - O seu mal, Agente Mulder, é vir meter o nariz onde não é chamado.

Mulder franziu os lábios.

Colocou as mãos na cintura, empurrando o paletó para trás.

- Isto é um sequestro? - perguntou.

- O que você acha?

- Vamos logo, cara! Fale o que você tem na sua mente. Eu não tenho tempo a perder.

- Nem eu, Agente, nem eu!

O homem, imperceptivelmente, fizera um sinal para um terceiro homem que havia entrado na sala, sem que Mulder o percebesse.

Em fração de segundos, e sem dar tempo para Mulder sacar sua pistola, o homem desfechara-lhe um duro golpe na cabeça com um soco inglês, o que de imediato causara a queda de Mulder e um grande entorpecimento involuntário na sua mente.

Mulder fôra levado para um pequeno quarto da grande casa.

A noção do tempo esvaira-se de sua mente.

Somente sentia que estava impossibilitado de mover-se e, por vezes, uma rápida e aguda dor surgia repentinamente em seus braços. E depois o nada... a escuridão... sombras... Scully... sua silhueta desenhando-se entre nuvens brilhantes...

Alguns momentos de lucidez passavam como fugídios raios por seu cérebro. Aí então vinham o

sofrimento... solidão... fome... desespero... dor... lembranças... Scully... tudo isso embalava o resto da vida que ameaçava se esgotar em Mulder!

Ele gemia e mantinha-se deitado no catre em que lhe haviam colocado.

Sentia-se ir perdendo as forças a cada dia.

Somente a crueldade daqueles que o haviam prendido àquele lugar, é que davam ânimo para Mulder lutar por si mesmo e manter acesa a chama da fé na esperança de vida.

Dana adormecera no seu quarto com os afagos de Margareth.

Esta chora, lamentando o estado da filha tão forte e destemida e agora demonstrando extrema debilidade psicológica e também fisica.

O telefone toca sobre um móvel.

Margareth atende, sem tirar os olhos da direção de Dana, que adormecida profundamente, nem escutara a chamada do aparelho.

- Alô! - atende Maggie.

- Aqui é o Byers, senhora Scully. Sua filha está?

- Ela... ela... olhe, ela não pode atender agora... está descansando! - fala em baixa voz.

- Tudo bem, senhora.

- É alguma notícia sobre o Fox?

- Sim, aliás não; não temos nada ainda de concreto sobre o paradeiro dele.

- Oh, meu Deus!

- Senhora Scully, sua filha nem deve saber do que vou dizer, mas nem temos mais esperanças...

- Pelo amor de Deus, não fale isso, senhor Byers! - suplica, num murmúrio.

- Eu sei que é duro dizer isso, mas vamos continuar!

- Tem que continuar! A Dana está sofrendo!

- Nós, os seus amigos também, senhora Scully. - faz uma breve pausa - Temos apenas uma longinqua pista, mas que, de qualquer maneira, será motivo de esperança pra todos nós.

- Por favor, senhor Byers! Por favor, prossigam a busca!

Dana encontra-se numa alta montanha.

Gritos de aves de rapina, ruflando suas asas negras, faz-se ouvir e ela dirige os olhos para o céu, procurando acompanhar o vôo das temíveis aves.

Direcionam-se em redor de um lugar mais abaixo de onde encontra-se Dana e ela, dificultosamente, pisa sobre pedregulhos irregulares que existem aos milhares no lugar.

Dana chora de saudade.

Saudade do homem que ama. De Mulder.

Súbito, um chorinho como um gemido ela ouve perto de um seco arbusto próximo de onde está.

Aproxima-se bem. Um bebê rechonchudo, de rostinho alegre e vivos olhos verdes transparentes, anima-se ao vê-la achegar-se a ele.

O bebê lança-lhe o mais lindo e ingênuo sorriso da inocência ao vê-la tão perto.

Ergue os bracinhos ansiosos em sua direção.

Dana leva as mãos para segurá-lo, emocionada e ao mesmo tempo feliz.

O bebê movimenta o pequeno corpo, como que desejando que logo ela o erga do chão.

Ao tocar os dedos no corpinho do bebê para segurá-lo, tal como um vento, as asas de um enorme pássaro branco, roça as faces de Dana, arrebatando-lhe o precioso achado.

Ela grita, desesperada.

Corre, mas já não pode alcançar a ave carregando a criança pelas garras, pois a altura em que ela está já se pode confundir com as nuvens.

Dana, gritando, vai até a beira de um barranco, onde estão aglomeradas várias das negras aves de rapina, que antes avistara.

Vai chegando mais perto. Sua vista alcança o fundo do barranco onde um corpo de homem se encontra já cercado e sendo destroçado pelos bicos dos pássaros pretos que o devoram.

Dana arregala os olhos de pavor e não consegue conter um grito de desespero e aflição, quando vê o corpo mais de perto.

- Mulder! Mulder! Nãaaaao!

Ergue o corpo nesse grito que ecoa pelo apartamento.

- Que foi, filha?

Dana olha e vê sua mãe, com o olhar preocupado em sua direção.

- Oh, mãe! Mãe! Um terrível pesadelo!

Permanece alguns minutos com o rosto entre as mãos.

Em seu interior sente um alívio por ter sido somente um pesadelo.

- Com o Fox, não é?

- Sim... mas também havia um bebê no meu sonho.

- Um bebê? - Maggie sorri levemente.

- É... ele foi arrancado de minhas mãos... - murmura, olhando à distância para o vazio.

- Filha... vamos lá, anime-se! - diz Maggie, querendo fazê-la distrair-se - Olhe, eu tenho um pressentimento de que boas notícias virão.

Dana olha sua mãe, rapidamente:

- Alguma notícia?

- Não, filha... é que os antigos dizem que quando se sonha uma coisa ruim com alguém é porque justamente vai acontecer o contrário.

Dana sorri levemente.

Não quer, jamais, aceitar que na vida real esteja acontecendo alguma crueldade com Mulder.

Ele não merece a maldade de ninguém.

Nem morrer em mãos bandidas.

"Os malvados obedecem às suas paixões,

como os escravos a seus donos. "

Diógenes