VINGANÇA

"O homem sensato não procura vingar-se

de seus inimigos; deixa à vida essa tarefa."

Courty

Capítulo 28

As horas haviam-se arrastado nesse dia. Apesar disso, Dana Scully revolvera, de uma vez por todas, tomar uma decisão.

Não mais poderia ficar parada, chorando, sofrendo, enquanto as coisas terríveis sobre o desaparecimento de Mulder continuavam a piorar.

Dentro do seu coração um impulso de luta e perseverança sobrepujava qualquer outro sentimento..

Está ali na sala do Bureau, há algumas horas já neste dia.

A porta abre-se, repentinamente.

- Agente Scully! - chama Skinner, acabando de chegar - Finalmente!

Ela dá um salto, levantando da cadeira:

- O que foi?

- Agente Scully, descobriram algo!

Dana leva as mãos à cabeça:

- Meu Deus! Não acredito! - apressa-se - Vamos, senhor!

Ele faz um gesto com as mãos, para impedí-la:

- Não, não, Scully! Nós temos que aguardar, pois o Agente Mulder está sendo levado neste momento para um hospital.

- Hospital! O que ele tem? É grave? - está assustada - Como ele está, senhor?

- Calma, precisamos dos detalhes que não temos ainda! Não sabemos. Os Pistoleiros acharam a pista hoje e encaminharam-se urgente para o local e avisaram o FBI.

- Eu não posso esperar aqui!

- Acalme-se, já disse! Precisamos saber para onde vai ser levado, ainda! E ao que tudo indica, vão apenas levá-lo para ser medicado. Dei instruções para que o levem para a casa dele, logo após...

- Não! - ela corta a frase - Avise-os para que o levem para o meu apartamento, por favor, senhor!

- Seu apartamento!

- Sim, sim! Minha mãe está comigo e cuidaremos dele! Por favor!

Skinner dá uma olhada por cima do aro dos óculos; há uma sombra de dúvida pairando sobre seu semblante, porem nada comenta. Pega o celular para ligar.

- Meu Deus! - ela queixa-se, quase chorando.

Seu coração aperta-se numa violenta e fechada dor, imaginando o que Mulder deve ter passado.

- Mulder! - murmura baixinho.

O coração de Dana dispara quando ouve um ruído na porta. Logo tocam a campainha.

Ela vai ansiosamente abrí-la.

À sua frente está aquele que corresponde à metade de sua vida: Mulder.

Está abatido, magro, olhos com profundas olheiras fazem mais realçar o verde agora esmaecido de seus olhos.

Não trocam palavras.

Scully estende os braços para a frente. Os olhos brilham de lágrimas que estão neles a flutuar.

A figura pequena e fragil de Dana parece querer amparar o corpo alto e viril de Mulder.

E o abraço é tão dramaticamente intenso, que enternece aos quatro homens que o estão assistindo e à Margareth, que também se encontra presente.

Os soluços que saem de seus peitos ecoam pela sala do apartamento.

Os dois sabem que não podem exceder a maiores demonstrações de carinho, a não ser este caloroso abraço. Então controlam-se para manter as aparências de uma profunda amizade entre dois grandes

amigos.

Mas há o choro incontido que os leva a soluçarem desesperadamente, enquanto afagam-se, sentem-se, olham-se.

Skinner dirige-se a Byers, que está junto a Frohike e Langly.

- Acho que devemos deixá-los conversar agora um pouco. Vamos embora.

- É... o senhor está certo, sim. - confirma Byers.

Com um olhar dirigido aos dois companheiros, decidem deixar o casal e Margareth a sós. E saem.

Maggie, por sua vez, resolve afastar-se para outro aposento.

Ela sabe, com toda certeza, o quanto Mulder e Dana tem para falar e se acariciar.

Walter Skinner, sentado diante do acusado, interrogando-o, está remoendo-se de raiva, porém aparentemente um semblante frio aparece em sua face.

- Jack Franklin, qual o motivo pelo qual queria eliminar o Agente Mulder?

- Nada tenho a declarar. - diz, sem levantar o olhar.

- Bem... a situação poderá ficar muito feia pra você, se não facilitar as coisas, Franklin.

Silêncio. Ele continua de olhar abaixado. Fisionomia estática. Semblante frio.

Skiiner levanta-se, arrasta a cadeira, fazendo menção de que vai retirar-se.

- O problema é todo seu, cara!

O acusado levanta a cabeça, olha cinicamente para Skinner:

- Ele intrometeu-se na minha vida em novembro de 97 e eu nunca o esqueci... queria, de uma certa forma, encontrá-lo diante de mim novamente...

- Uma vingança?

Franklin não responde. Somente continua com o olhar fixo sobre Skinner.

- E agora tinha que se meter na minha vida, outra vez... - fala, entre dentes.

- E o Detetive Parkson? O que foi feito dele?

Franklin novamente fica calado. Sempre faz uma longa pausa para responder.

- Eu lhe fiz uma pergunta, Franklin. E o Detetive Parkson? Você o matou, não é?

- Claro que não! - resolve responder.

- É... realmente claro que não! Quem o matou foram os seus comandados. Agora, para seu azar, já sabe o que o aguarda, não é Franklin?

Mais uma vez ele tarda a dar a resposta.

- Olhe, dou - tor Franklin... - fala pausadamente - o Agente Mulder será submetido a uma bateria

de exames e se algo vir a prejudicá-lo, simplesmente você está acabado, dou - tor...!

O homem apenas sorri, cinicamente.

Skinner levanta-se, ajeita os óculos e afasta-se, deixando Jack Franklin.

Este permanece calado, olhos frios na direção de Skinner, acompanhando até o último passo dele dentro da sala.

Byers, que aguardava a saída de Skinner, aproxima-se:

- E então, ele vai ser condenado?

- Não há a menor dúvida quanto a isso, não só pelo sequestro de um agente do FBI, quanto aos crimes anteriores que havia cometido.

- E naturalmente investigados por Mulder...

- Exatamente. O cara induzia, com seus poderes sobrenaturais, outros médicos de uma clínica de cirurgia plástica e estética a assassinarem pacientes...

- E qual a finalidade disso? - quer saber Frohike.

- Na época o Agente Mulder descobriu que ele precisava fazer o sacrifício de sangue usando o de suas vítimas...

- Sacrifício de sangue? Qual objetivo? - indaga Langly.

- Mudar de fisionomia... ficar mais bonito...

Frohike está com a mão no queixo, pensativo.

Byers o olha e adivinha o que ele está pensando e ri. Sabe que o amigo bem gostaria de poder ter uma aparência melhor.

- Infelizmente na época, Franklin conseguiu escapar do FBI. - conclui Skinner.

Por alguns minutos Mulder e Scully permanecem abraçados. Os soluços abafados de Scully contra o peito de Mulder abrandam-se pouco a pouco.

Depois disso, somente os suspiros entrecortados são lançados para fora de seu peito cheio de comoção pelo reencontro.

- Mulder...! - ela murmura.

Ele toma o rosto dela entre suas mãos ansiosas por afagar o rosto amado.

- Mulder...!

- Eu estou aqui. - fala baixinho.

Ela afasta a cabeça do peito dele para fitá-lo ardentemente nos olhos. Examinar cada detalhe do seu rosto. Passa a mão carinhosamente sobre o rosto de olhar abatido e a barba por fazer.

Beija-o ternamente na testa... olhos... e vai descendo pelo nariz.

- Mulder! - repete o nome dele mais uma vez.

Ela quase nem acredita no que vê. Parece-lhe um sonho, do qual tem medo de despertar.

- Diz que eu não estou sonhando...

- Não está não, Scully; eu estou aqui... com você.

Abraçam-se fortemente mais uma vez.

Não falam nada. Para que? Para dizer com palavras coisas banais, quando o seu coração está gritando:

MEU AMOR! TE AMO! TE QUERO! TE ADORO?

O barulho de algo causado no outro ambiente os faz despertar desse torpor amoroso.

Afastam-se um do outro.

Lembram-se da presença de Maggie ainda no apartamento.

Scully o segura pela mão e encaminha-o para sentar-se.

Maggie entra neste momento. Caminha imediatamente na sua direção para abraçá-lo com afeto.

Ela também chora de emoção:

- Fox! Que bom te ver de novo!

Scully, com as mãos nas faces, chora e ri ao mesmo tempo, maravilhada com a realidade da cena que pode desfrutar neste instante.

O seu Mulder havia voltado. Agora se lhe retorna a razão plena de viver. E viver para ser feliz com Mulder, o seu amor.

O macio e quente colchão sob suas costas dá-lhe uma inensurável sensação de conforto e prazer.

Com os olhos voltados para o teto, a mente em um turbilhão de pensamentos, Mulder sente-se bem.

Ouve as vozes que vem de Dana e Maggie no outro ambiente do apartamento.

Logo em seguida os passos de Dana aproximando-se. Ela entra no quarto.

- Scully, vem cá. - estende a mão, ainda deitado.

Dana senta-se à beira da cama, encostando a cabeça em seu peito.

Num dado momento avista manchas roxas em sua pele.

- Oh, Mulder, o que fizeram com você...! - murmura, chorosa.

- Barbaridades, Scully.

- Shiiiiii! Não fale nada. Existe "Alguém" que dará a recompensa a tanta maldade, esteja certo. - diz, usando sua fé.

Ela coloca agora as pernas sobre a cama, deitando ao seu lado.

Mulder continua deitado de costas, olhando para o teto.

No semblante o sofrimento. Na testa as linhas horizontais demonstrando preocupação. Nos olhos a intensa transparência verde esmaecera-se, dando lugar à profunda cor cinzenta.

Scully afaga-lhe os cabelos, ternamente.

- Durma, Mulder... descanse. - sussurra.

- Eu não estou conseguindo, Scully...!

- Vamos fazer um esforço...? Hum?

- Vamos...? - ele sorri.

- Sim, vamos. Eu fico aqui com você até adormecer.

- Você canta uma canção de ninar? - ele tem a voz enrouquecida, pelos dias sofridos nos quais passara em um cativeiro.

- Você já sabe que eu não sei cantar. - diz, carinhosa.

- Não faz mal. Serve aquela do sapo-boi...

Scully consegue sorrir com sua frase engraçada.

- Não sei se ainda lembro... - aspira a quente pele dele - Huuuuum... está cheirozinho...!

- Claro que estou! Depois de tirar a casca de tantos dias de sujeira...!

Dana volta a sorrir, mas sofrendo, achando engraçado e triste ao mesmo tempo.

Mulder agora a faz deitar sobre seu peito dolorido. Fecha os olhos. Coloca a boca sobre os cabelos perfumados de Dana e mantém-se assim. Quieto. Sereno.

- Não saia daqui. - pede.

- Não vou sair.

- Pois então cante...

- Tá. Ahn... como é que é mesmo...? - faz uma pausa e desliza ternamente os dedos sobre o peito de Mulder, enquanto continua com a face colada à pele morena do seu peito.

- Scully?

- O que?

- Cante.

- "Jeremias era um sapo-boi... não sei também o que ele foi..."

Durante alguns minutos ela cantarola baixinho e amorosamente a canção, lembrando-se do dia em que estavam lá na floresta, à noite, perdidos...

Pára de cantar, agora para observar se ele está quieto.

Mulder está ressonando levemente, ela percebe.

Depõe os lábios sobre a morna carne do seu peito. Sente que pode afastar-se vagarosa e levemente para deixá-lo dormir. Com o máximo cuidado, vai retirando o seu corpo de junto do dele.

Sente, subitamente, o braço de Mulder envolvendo sua cintura, firmemente, obrigando-a a ficar.

- Não estou dormindo, ainda, Scully! Não conseguí. - abaixa a voz - Me faz dormir, anda!

Scully sorri, mais uma vez. Ele é como uma criança. Um criança grande. Carente. Precisa dela, do seu carinho, dos seus cuidados.

Deita novamente a cabeça sobre o peito dele.

- "Jeremias era um sapo-boi..."

Dana deixara Mulder na cama, em sono profundo.

Está com o telefone à mão, conversando com o Diretor Assistente.

- Senhor Skinner, então pegaram mesmo o sujeito?

- Já está entregue à Justiça, Agente Scully. O Agente Mulder, com todo o sofrimento pelo qual passou, achou uma chance de entregá-lo às autoridades.

-Como foi?

- Após vários dias no cativeiro, Mulder, num momento de consciência, conseguiu saber do seu carcereiro todos os detalhes de como encontrar o tal médico. E isso lhe rendeu uma aventura e tanto, fora o grande risco de vida pelo qual passou; mas agora está bem, não é verdade?

- Sim, está dormindo; está muito abatido. Obrigada, senhor. Até logo.

Dana desliga o telefone.

Quarenta e oito horas de cuidados e atenções de Dana haviam deixado Mulder em total recuperação.

Ele está na cama, retesando todos os músculos, procurando assim relaxar e ganhar novas energias para caminhar e cuidar das coisas pertinentes ao seu dia a dia.

- Scully! - chama.

Ela aparece solícita à porta.

- Oi? - aproxima-se dele - Como está se sentindo?

- Melhor do que você. - ele ri.

- Acredito nisso, Mulder.

Ele a olha, sorridente. Voltara à sua face o sorriso ingênuo de menino.

Dana proferira tais palavras, não por acaso, mas realmente pelo mal-estar que desde muito cedo da manhã sentia. Mas isso ela não iria deixá-lo saber, para não empanar sua felicidade de estarem juntos e em paz.

Ele puxa-a pela mão. Senta-se.

- Vem cá, Scully.

Ela achega-se, carinhosa.

- O que você quer, meu garotinho?

Mulder a examina em todos os detalhes do seu corpo.

Desliza as mãos sobre seus braços e logo, suavemente, toca em seus seios.

Encosta os lábios em seu pescoço, aspirando-lhe o perfume e o calor que lhe emana da pele.

A respiração dele está afogueada, ela sente.

- Mulder, - fala ternamente - você está se sentindo recuperado mesmo?

- Sim.

- Tem certeza? - ela sorri.

- Você tem dúvida, lindinha? Faça um teste. - fala, enquanto desliza os lábios sobre o pescoço... a junção entre seu busto...

Dana sussurra, enquanto deixa-se acariciar:

- Você... quer?

- Hum, hum...

Dana toma o rosto dele entre as mãos e o beija intensamente na boca, cheia de desejo.

Sente no corpo a sensibilidade do prazer que lhe envolve todos os sentidos.

Essa boca sequiosa dele, em busca de saborear todo o seu corpo a deixa repleta de satisfação pela realização dos desejos reprimidos por tantos dias.

Entrega-se a ele, totalmente.

Agora os dois corpos formam um só. Unidos. Colados. Ligados pelo amor.

Quietos, continuam unidos, sentindo a quentura de suas carnes, imóveis, parados, respiração acelerada aos poucos normalizando de intensidade, deliciando-se com esse momento em que seus corpos estão ligados, ainda, esperando normalizar e acalmar a sensação do frenesi, esse arrebatamento de amor, correndo entre suas veias, músculos, nervos.

Por vários segundos permanecem assim, até que Mulder afasta-se dela.

Joga-se para o lado na cama e agarra-a, para que permaneça grudada a ele, cabeça pousada sobre o seu peito.

E acaricia os macios cabelos ruivos dela, sem nada falar. Somente sentir. Sentir o amor. Sentir a paixão. A doçura de estar ali, com sua amada.

Amam-se. Adoram-se.

Scully, de olhos fechados, com o corpo achegado ao de Mulder, sente a sensação de prazer transformar-se em imenso carinho, dedicação e amor em tão grande intensidade, que imagina jamais ter uma palavra que possa expressar tudo o que sente pelo homem que tanto ama.

"A palavra é o veículo

do pensamento."

Benjamin Constant