TEM QUE EXISTIR O CIÚME
"Os homens amam através do ciúme;
mas as mulheres são ciumentas
através do amor."
Wertheim
Capítulo 29
- Scully, preciso ir lá no meu apartamento buscar umas coisas...
- Que coisas?
- Soutien, calcinhas... coisas assim.
- Engraçadinho... não acho graça nenhuma. - faz cara amuada.
- Vamos lá. Preciso passar lá antes de irmos para o Bureau.
- Tudo bem, Mulder.
Scully apressa-se a arrumar-se para sairem.
Já está colocando sua blusa branca, para ficar sob o uniforme escuro, agora.
Mulder volta ao quarto e fica a olhá-la, com interesse.
- Mulder, por que não age, em vez de ficar só me olhando aí?
- Claro! - diz isso, e num repente agarra-a pelas costas com paixão.
- O que é isso, Mulder? - ela protesta em vão.
- É amor, Scully, paixão...!
- Mulder...
Nem adianta seu gemido de protesto.
Mulder já a beija com sofreguidão e ela... corresponde.
Separam os lábios. Corações acelerados.
- Oh, Mulder... eu nem quero ver...
- O que?
- Como está meu batom.
Mulder afasta-a de seu corpo para examiná-la.
- Scully! Você está linda!
- Ah Mulder, pára!
- É verdade.
- Me larga, Mulder! Preciso me arrumar! Olha a hora! - olha firme para ele agora - Ai, não acredito!
E ela começa a rir, sem parar.
- O que é?
- Você está com todo o meu batom, Mulder!
E ri, ainda, colocando as mãos à boca, divertida com a cena.
Continua assim e nem percebe que ele estende as mãos para agarrá-la novamente.
- Quero devolver o seu batom. Não gosto disso. - fala assim e procura-lhe a boca.
Dana não recua e nem tenta alguma reação.
Para que? Mulder é o seu amor, seu bem-querer, sua paixão, seu amado... e está alegre, feliz, brincalhão e eufórico.
Ela não vai quebrar esses instantes de plena felicidade.
Separam os lábios, agora. Permanecem abraçados.
- Sempre ouvi dizer que lua-de-mel é assim, quente, mas eu nunca imaginei viver uma...- diz Dana.
Mulder aperta-a com calor.
- Eu também, lindinha. Em tantos anos de convivência, eu apenas sonhei com os momentos em que pudesse estar com você, mas não os imaginava com tanta realidade. Era tudo tão longínquo... eu achava que não poderia nunca alcançar... eu o "spooky" Mulder, o cara cheio de defeitos, de manias, de idéias esquisitas...
Scully coloca os dedos sobre seus lábios:
- Não fique falando assim, Mulder! Eu quero você assim, com todas essas coisas diferentes que você faz, e ai da mulher que queira apreciar isso tudo que você é...!
- Você acaba com ela?
- Extermino-a da face da Terra!
- Oh, minha exterminadora maravilhosa! - aperta-a com tanta força que Dana sente seu frágil corpo sumir entre os fortes braços de Mulder.
Mas não se importa. Abraçam-se.
Ela tem o rosto apertado sobre o peito nú dele. Só tem chance para respirar, pois ele ainda a agarra fortemente.
- Mulder...?
- Hum?
- Vamos...?
- O que?
- Nos arrumar... hum?
- Que horas são?
- Já é hora de sair.
- Quer que eu te largue?
- Bem... querer eu não quero... mas o dever...
- Scully... - afrouxa os braços - ... às vezes me bate esse pensamento: e se nos separarem?
- Por que você fala nisso novamente, Mulder? Eu não gosto quando começa com isso!
Repentinamente o semblante de Mulder torna-se nostálgico e preocupado.
Solta Scully de seus braços.
Lá dentro, bem no fundo, vem-lhe essa intuição louca, de que algo tirará Dana de sua vida, ou melhor, ele será tirado de junto dela.
Por segundos sente-se pesaroso e infeliz.
Dana já está retocando a maquilagem e novamente ajeitando a roupa diante do espelho do banheiro.
Mulder fica ali, a contemplar o nada, absorto.
Somente a voz de Scully o faz voltar à realidade.
- Mulder, já limpou o rosto? Vestiu a roupa?
Ele desperta da letargia:
- Ahn...? Ah, sim. - corre para ajeitar-se, por sua vez.
Mulder abre a porta.
Scully o acompanha. Logo seu olhar vai em direção do aquário iluminado.
- Mulder? Você deu comida aos peixinhos ontem?
- Ontem? - ele pára o que está fazendo - Ontem? Ontem... eu não vim aqui, Scully!
- Mas Mulder, como pode fazer isso? Tadinhos!
Ela logo apanha o potinho com a comida para alimentar os peixes.
Mulder sorri, vendo a solicitude dela.
- Scully, sabe o que estou procurando e não acho?
- Nem imagino!
- Minha camisa cinza de malha.
- Ah, não!
- Ah não, o que? O que quer dizer? Sabe onde ela está?
- Não, e não quero que a encontre.
- Não! - ele pára de andar para fitá-la.
- Exatamente o que ouviu, Mulder!
Ele espalma as mãos, surpreso e sorrindo:
- Não entendi, Scully! Me explica!
Ela afasta-se do aquário com o potinho de comida de peixes ainda à mão.
- Eu não quero que você vista aquela camisa! É isso.
- Mas por que, Scully?
- Humpf! - ela faz cara feia , larga o potinho num móvel e cruza os braços.
Mulder está agora continuando a procurar a camisa nas gavetas da cômoda; abre os armários.
- Mulder...?
- O que?
- Você não ouviu o que eu falei?
- Ouvi. Ouvi, sim, Scully e não entendi e você não quer me explicar... então...
- Você não deve vestí-la, Mulder.
- Se não disser porque, eu vou me aborrecer!
- Nossa! Ele está zangado mesmo!
Mulder larga o que está fazendo.
Puxa Scully, agarra-a pela cintura e joga-a doce, mas firmemente na cama:
- Mulder, pára!
Ele deita-se por cima dela.
- Eu disse que se não me disser o porquê dessa bobagem que falou, eu vou ficar aborrecido.
- Ai... - geme manhosa - ... você está sendo ruim pra mim...!
- Vou ser mais, ainda! - pressiona-a mais, prendendo-lhe os braços, falando muito perto de seu rosto.
- Eu vou falar, pronto! Mas espera, Mulder!
- O que?
- Estou ficando sem respiração...
- Eu posso ajudar... com a minha...
Riem os dois.
- E eu quero...
Falam com os lábios quase unidos, sentindo a respiração um do outro.
- O que você quer, Scully?
- Quero... você... todinho... sempre...
- Mas eu não vou te beijar. - ele sussurra - É um castigo. Eu quero saber o negócio que você falou.
- Ah, Mulder...
- Ah, não! Fala logo pra mim, senão não saio de cima de você. Pronto!
- Ah, malvado!
Ele força-a mais. Beija-lhe o pescoço.
- Bandido!
Ele abre-lhe os botões da blusa.
- Tarado! - sussurra sorrindo.
Ele desliza os lábios sobre seu soutien rendado.
- Eu vou arrancar isso, Scully!
- Não, Mulder! Precisamos ir!
- Então fala!
- Eu falo, eu falo! - rende-se.
- Então por que é que não devo vestir a camisa?
- Porque ela está usada. Não pode!
- Ah, Scully, sem essa! Ela foi lavada e já estava na gaveta... - pára de súbito - Scully...?
- O que? - responde afogueada, ainda sob o peso do corpo dele.
- Você tirou ela de lá.
- Eu?
- Você!
- Mulder! - força com os punhos seu peito, para afastá-lo de si - Quero levantar. Pára! Já chega de brincadeira e eu não mexo em suas coisas! - protesta.
Ele levanta-se, deixando-a livre para sentar-se.
- Olha, não gostei, tá? Não me diga mais uma coisa assim... porque...
- Calma, lindinha... eu disse brincando!
- Sei. Disse brincando! - fala em um gesto amuado; levanta-se rapidamente - Sabe de uma coisa? Vou procurar essa droga pra você.
Ele senta-se na beira da cama e fica olhando, acompanhando os gestos dela.
Em poucos minutos, após arrastar vários cabides, finalmente, retira um do armário e coloca-o virado para Mulder.
- E o que você acha que é isso aqui?
Justamente é a camisa cinza, polo, de malha, diante dele.
Mulder levanta-se.
- Desculpe, Scully.
Ela não sorri. Continua segurando a camisa no cabide.
Ele toma-a de suas mãos, num gesto rápido.
- Pronto! - diz Dana - Pode vesti-la quando quiser e de preferência pode sair por aí, mostrando-se para as mulheres, tá?
- Que mulheres? - ele olha-a, espantado.
- Todas!
Ele dá largos passos no quarto e começa a rir.
- Espera aí, espera aí. Scully... não me diga que você não quer que eu vista esta camisa porque...
- Porque tenho ciúmes do modo como as mulheres olham pra você... Pronto! É isso! Quer mais?
Ele aproxima-se. Ri , divertidindo-se com as palavras dela.
- Quero mais, sim.
- O que? Que eu diga mais?
- Não. O que quero não vai permiti-la falar, de jeito nenhum.
- Ahn...?
Ele já havia enlaçado sua cintura e espreme-a contra seu corpo, levantando-a do chão.
- O que você quer, Mulder fala, entre os braços apertados dele.
- Tudo o que você quiser me dar.
- Não quero...
- Então melhor. Aí é que vou vestir a camisa e sair por aí...
Dana enlaça-o pelo pescoço e com o rosto próximo ao seu murmura, cheia de desejo.
- Você pode até sair, faça o que quiser, mas sei que as outras só vão poder olhar pra você... só vão babar... só imaginar coisas eróticas com você, mas não vão poder ficar como estou aqui, entregando-me toda a você... sentindo este teu peito quente e desejável, não podem olhar desse jeito esses seus olhos... beijá-los assim... - ela os beija - ... sentir essa sua boca que vasculha tudo de mim... - fala com os lábios pousados sobre os dele - ... elas todas vão ter inveja de mim...
E ela o beija, quase desesperadamente.
Após longos minutos, com o desejo a arrebatar-lhe os corpos, Dana sente que ele a leva em diração da cama.
Sai de seus braços, rapidamente.
- Não.
- Não?
- Exato.
- Estou pegando fogo, Scully!
- Não adianta. Prepare-se para irmos embora.
- Assim não posso, Scully!
- Assim, comö?
- Assim! - ela a puxa para que sinta-lhe a intumescência no seu corpo.
- Aaaaah...! - faz voz melosa - Tem que dar um jeitinho...!
- É... - diz ele, afogueado.
- Vem... - fala sussurrando e tira dele o paletó, desabotoa-lhe a fivela do cinto - ...vem meu menininho...!
Caminhando através dos corredores do Bureau o ar circunspecto dos dois Agentes somente demonstra a alta competência da dupla dinâmica do FBI.
Encaminham-se para a sala de Skinneer e Mulder fala com a secretária.
- O senhor Skinner os está aguardando. - avisa ela.
- Obrigado. - diz Mulder.
Dana acompanha-o, sem nada falar.
Skinner, de pé, próximo à janela, volta-se na direção deles, quando os vê chegar à sua sala.
- Bom dia, Agentes.
- Bom dia, senhor. - cumprimenta-o Mulder.
- Bom dia. - diz Scully.
Skinner pára para observá-los por alguns segundos.
- Você está bem, Agente Mulder?
- Eu? - espanta-se - Pareço doente?
- Me parece um pouco abatido...
- Aaaah! É... trabalho!
Mulder olha para Dana de soslaio, para sentir a sua reação pelo comentário.
Scully franze os lábios, ergue bem a cabeça e volta a olhar para a janela, como quem não quer ouvir a infame citação do seu superior.
- Agente Mulder - continua o Diretor - quero convocá-los para a reunião que vai começar agora...
- Agora? - indaga Scully.
- Daqui a... - Skinner olha o relógio de pulso - ... cinco minutos.
- Cinco minutos! - repetem os dois Agentes em uníssono.
- É... precisamos fazer uma reunião dle emergência.
- erto, senhor. - diz Mulder.
Encaminha-se para a mesa de reunião.
Scully o segue.
Já sentados à mesa estavam cinco agentes, dentre os quais Sophie.
Os recém-chegados cumprimentam seus colegas já à mesa e sentam-se, a seguir.
A reunião transcorrera em clima tenso pelas discussões havidas sobre o assunto tratado.
Mulder e Scully já estão dirigindo-se ao corredor, quando a Agente Sophie chama Mulder.
Ele volta-se para atendê-la e pára de caminhar.
- Ah, Fox, preciso de um favor seu!
- Tudo bem, diga.
- Dana pára de caminhar também, aguardando.
- Preciso de uma carona.
- Carona! - a exclamação de Dana saíra tão espontânea e instantânea, que causara uma espécia de choque em Sophie, que imediatamente olhou em sua direção.
- Ah... - ri Mulder - ... algum problema com seu carro?
- É... eu acho que sim. Não quer funcionar. Poderia deixar-me em minha casa?
- É que daqui temos que partir para a investigação, Sophie e o Agente Mulder não pode desviar seu itinerário...
- Ah... tenho certeza de que não o atrapalhará nem um pouco, não é Fox? - diz Sophie, com um sorriso insinuante em seu belo rosto.
- Claro! - Mulder está sem jeito.
- Sophie... ahn... eu a levo em casa. Pode deixar. - rebate Dana.
- Só que... Scully, a casa dela fica em direção da minha... é mais fácil eu a levar.
Dana já arrasta Sophie por um braço, retirando-se dali em passos rápidos.
Mulder permanece onde está.
"Scully sabe o que está fazendo. Se ela sente vontade de levar a colega, tudo bem. Mas... será ciúme? - pensa ele - Tudo fica por conta de sua imaginação."
Um leve sorriso desenha-se-lhe na face lembrando as palavras da poeta:
"Nas mulheres a imaginação e a
sensibilidade sobrelevam a lógica."
Madame du Deffand
