6 – Emboscado pela cobra

N/A: Esse título pegou meio mal depois do capítulo anterior, mas não é pra maliciar, ouviram bem? NÃO MALICIEM! Ih, tarde demais...

N/A adiantado: Eu fiquei com medo do que eu mesma escrevi neste capítulo, vê se pode!

Em algum lugar não mapeado, de difícil localização, escondido por vários feitiços, encantamentos e maldições, reina um Lord mais temido que o pior dos bruxos das trevas já enfrentado até hoje. Seu nome amedronta e poucos ousam pronunciá-lo. Voldemort, um bruxo que conseguiu enganar bruxos poderosos e escapar da própria morte e que não teme maldições, pois é capaz de proferir a pior delas com total frieza no coração, se este ainda existir. Mas se há algo que sempre ficam em seu caminho e que ele amaldiçoa mais que qualquer coisa são as...

- Profecias! Estou cheio delas! Nagini, se você soubesse como as coisas poderiam ter sido mais fáceis se aquela farsante não tivesse feito sua primeira profecia verdadeira... eu provavelmente estaria em um lugar muito mais luxuoso, e não no meu antigo esconderijo. Estaríamos no Ministério, talvez, comandando a minha própria nação!

A cobra a seus pés entendeu o que seu mestre falava, pois ele dizia tudo em sua língua. Sibilou alto, indignada, e levantou a cabeça.

- Você não esperava que eu dividisse o comando de um país com você, não é mesmo? Preciso ensinar você a ser mais humilde, Nagini, ou ainda pode arranjar problemas para você mesma, entendido?

A cobra deu outro silvo, mas desta vez mais baixo e suave, se enroscando aos pés do trono de seu Lord. Voldemort sorriu, pensando se algum de seus Comensais pensava como Nagini. É claro que sim, ele sabia e via no rosto de muitos deles a mesma cobiça pelo poder que ele tinha, mas não seria enganado por nenhum deles. Sabia diferenciar bajulação de verdadeiro respeito, por isso só libertou dez de todos os Comensais sobreviventes que foram confinados em Azkaban. Os outros que apodrecessem naquelas celas imundas, não mereciam a sua misericórdia, eram fracos. Se havia alguma coisa que Voldemort não suportava era a fraqueza, mas muitos de seus seguidores a tinham, e só não se livrara deles porque poderiam ser úteis e eram fáceis de lidar, obedeciam fácil sob pressão.

- Mas dessa vez eu tenho um trunfo contra esta profecia em particular. Rabicho!

De um canto escuro da sala apareceu um homem baixo e flácido, meio careca no topo da cabeça, que se aproximou do trono em que Voldemort estava, e sua mão de prata reluziu fracamente debaixo da capa que usava. Ele andava curvado como se não quisesse ver o rosto de seu mestre, cuidando para não levantar muito o rosto.

- Si-sim, Milorde?

- Chame Pieri aqui. E seja rápido.

- Sim, Mi-milorde.

- E tente não ser visto. Eu já tenho muito com que me preocupar, e dessa vez não vou poder consertar seus erros.

- Claro, Milorde.

Rabicho saiu curvado como sempre fazia, mal olhando para o rosto de seu amo. Voldemort sorriu para Nagini quando a porta do aposento se fechou, sabendo que não teria que se preocupar muito com aquela profecia.

- Finalmente vamos saber o que a profecia de Bernard Weasley tem a ver com os seis brasileiros que foram para Hogwarts. Incrível como até os ancestrais de quase quatrocentos anos dessa família continuam me trazendo problemas por causa dos trouxas. Uma vez do lado errado, sempre do lado errado.

A cobra sibilou algumas vezes sem levantar a cabeça, continuando enrolada ao lado de Voldemort com uma atitude indiferente.

- Não, Nagini. Eu neguei minha família e mudei para o lado certo como poucos são capazes de fazer. Os Weasley nunca foram capazes de seguir o lado certo, e nunca serão.

Vinte minutos depois a porta do aposento era aberta novamente, deixando duas figuras encapuzadas entrarem. Rabicho era reconhecível pelas costas naturalmente curvada, mas o outro tinha uma postura altiva apesar de baixo, se curvando apenas para saudar o seu mestre e ninguém mais. Voldemort olhou de Rabicho para Giovanni, e Nagini levantou a cabeça para olhar os dois homens também.

- Saia, Rabicho!

O homem saiu da sala com um muxoxo, fechando a porta pesadamente. Giovanni deu alguns passos para frente até ficar no meio da sala, esperando Voldemort falar.

- Você falou da profecia que levou seis crianças brasileiras para Hogwarts. Se ela for verdadeira, teremos que dar um fim nela, e para isso precisamos impedir que os seis brasileiros se reúnam. Você está sabendo do encontro no começo de maio?

- Sim, Milorde. Será a iniciação de alguns novatos. Infelizmente os aurores descobriram sobre ela, mas já estamos tentando mudar o dia.

- Não o faça. Mude apenas a hora. De acordo com os meus espiões, um dos brasileiros estará no grupo de aurores que planejam capturar meus Comensais.

- Berttapeli... - Giovanni sorriu cinicamente ao pronunciar aquele nome, o seu antigo "amigo" de escola.

- É este. Eles esperam capturar cinco, no máximo seis novatos, mas eu quero que você leve mais vinte Comensais para recepcioná-los. Eu quero Shacklebolt, Berttapeli e Inckletiff vivos, os outros do grupo podem ser eliminados. Vou colocar você no comando desta tarefa e espero resultados satisfatórios.

- Obrigado, Milorde. – Disse Giovanni se curvando. – Não se arrependerá disso.

- Eu nunca me arrependo, ao contrário de você, caso falhe. Agora saia. E mande Rabicho entrar.

- Sim, Milorde.

Giovanni saiu da sala com uma reverência, deixando a porta aberta para Pedro entrar. Quando o Comensal fechou a porta, Voldemort sibilou baixinho para a cobra e Rabicho se aproximou de seu trono.

- Não entendo porquê você não me conta que plano é este, mestre. Eu estive ao seu lado, servindo o senhor desde antes de sua volta...

- Chega, Rabicho! Da última vez que eu lhe dei uma missão você me desapontou muito, perdeu a oportunidade de acabar com Dumbledore.

- Havia muitos professores vindo... - murmurou.

- Mentiroso! Você correu com a simples idéia de que alguém pudesse ter ouvido e ainda não conseguiu eliminar um aluno que hoje está se mostrando bastante irritante nos meus planos. Talvez um pouquinho de dor te faça lembrar o quanto você deveria se arrepender disso. – Rabicho encolheu antes mesmo de Voldemort fazer qualquer menção de pegar a varinha, mas não sentiu nada. – O medo já é o suficiente – Ele disse satisfeito, e Rabicho levantou o rosto para seu mestre. - Este plano não lhe diz respeito e não preciso da sua ajuda para executá-lo. Se em algum momento eu precisar de você, então, e só então você precisará saber do que se trata. E se considere com sorte por eu não te lembrar do castigo que merece.

- Mas, mas Milorde...

- Basta, Rabicho. Sugiro que você se cale se não quiser lembrar a sensação causada pela maldição cruciatus.

- Na-não, Milorde. Tudo menos a maldição!

- Então cale-se.

Rabicho se recolheu ao canto em que estivera antes, encolhido, curvado e tremendo de medo. Se tivesse outra opção, provavelmente estaria longe dali, mas a única maneira de continuar vivo era obedecendo, e Voldemort sabia.

- Servos, Nagini – ele sibilou novamente na língua das cobras. – Servos assustados. São maleáveis e fáceis de lidar. Pieri, ao contrário, é um servo devoto, que obedece por respeito. Este também é fácil de lidar no começo, mas vou precisar ficar de olho para ver o quanto sua lealdade vai durar.

N/A: Eu disse que tinha ficado assustada, e com motivo!

No escritório dos aurores no dia oito de maio, Shacklebolt falava com Douglas sobre a missão do dia seguinte. O auror novo não parecia muito contente, sentado à frente de sua mesa com os braços cruzados, mas Shacklebolt tinha que esclarecer algumas coisas com o novato.

- Douglas, eu vou por todo o Terceiro Esquadrão neste caso.

- Mas de acordo com os investigadores só vai ter novatos nessa reunião, e talvez um Comensal mais perigoso. Pra que levar o Terceiro Esquadrão?

- Por mais que você tenha se destacado nas últimas missões, você ainda é um novato. Só porque você faz parte do Terceiro Esquadrão do Serviço de Combate Interno não significa que você tenha a experiência necessária para pegar missões mais pesadas. Por isso eu te deixei fora do caso da rua Magnólia na semana passada.

- Mas eu fui aceito no Terceiro Esquadrão, sendo assim eu devia estar preparado para todas as missões que nos fossem dadas! E estou! Eu posso enfrentar situações mais perigosas do que reuniões de Comensais novatos! – Ele disse se levantando e batendo as mãos na mesa do seu chefe.

- Sente-se, garoto. Você não está pronto para pegar missões mais pesadas. – Quim disse calmamente, e Douglas obedeceu. - Eu posso estar sendo muito cuidadoso, mas você é um dos melhores e mais sérios aurores que já me apareceu e eu não quero arriscar, entende? Só estou tentando fazer com que você se depare com todo o tipo de situação possível antes de pegar os barretes grandes. Eu não quero me arriscar a perder um auror de valor por causa do entusiasmo como o... bem, eu não quero arriscar. Eu falei com os chefes dos outros Esquadrões e pedi que nos dessem essa missão desde que descobriram da reunião, e não dá mais para transferir para outro Esquadrão. Amanhã, vinte e três zero zero, no antigo correio da terceira avenida do lado leste de Londres. "Vinte e três zero zero" é a forma oficial de dizer a hora, ou seja, onze da noite.

- Entendido. Os outros já sabem da missão?

- Não. Eu estou falando primeiro com você justamente para explicar porquê estamos pegando casos pequenos. Os outros sabem que esse é o procedimento padrão quando se tem um novato na equipe, mas acho que não vão ficar muito felizes de qualquer jeito. Pode avisá-los pra mim?

- Claro, eu aviso.

- Obrigado.

Douglas saiu da sala resignado, mas bateu a porta ao invés de fechá-la. Enquanto se juntava aos aurores de todos os outros Esquadrões e passava a missão para os seus colegas, ele pensava se seu chefe não estava certo.

Só estava pegando missões há dois meses, estando há apenas quatro meses no meio dos aurores. Como Quim havia dito, Douglas se destacava nessas poucas missões, mas também estava achando tudo muito fácil. Se o levassem mais a sério, talvez Douglas pudesse mostrar o que realmente podia fazer caso pegasse uma missão pesada. Mas não, ele era um novato. Aquele pensamento o irritava, mas todos do escritório pareciam pensar assim, especialmente Swingle. Pelo menos ele não estava mofando em uma sala fechada, o que já era um bom começo, mas mesmo assim, se pudesse mostrar aos outros que agüentava qualquer missão de qualquer peso, aí ele teria o respeito que merecia. No entanto, teria que esperar Quim lhe passar uma missão assim, o que com certeza não aconteceria por um longo tempo indeterminado.

Sempre que alguma coisa o deixava chateado no trabalho, Aline percebia que havia algo de errado quando ele voltava para o apartamento. Dessa vez Douglas tentou disfarçar, mas o seu jeito normal de ser estava bastante forçado, e Aline acabou percebendo mais rápido que nas outras vezes.

- Outro problema? – Ela disse de repente enquanto jantavam. – Sabe, você tem que parar de achar defeito em tudo e fechar a cara.

- Não tem problema nenhum – tentou mentir.

- Eu conseguiria dizer a cinco quilômetros de distância que tem alguma coisa te incomodando, e mesmo assim você tenta esconder isso de mim. Fale o que é.

- Amanhã eu tenho outra missão de novato. – Douglas cruzou os braços e apoio as costas na cadeira, tentando não olhar para o rosto de Aline.

- Você não esperava que eles já te dessem missões de um auror quase aposentado, não é?

- Mas eu sou um dos melhores que eles tem lá dentro, e só o que eu consigo são missões ridículas de tão fáceis! – Ele olhou duro para Aline. Estava sentindo que todos formaram um complô contra ele.

- Você precisa de experiência. Eu concordo que quatorze missões em dois meses são bastante coisa, mas ainda assim são só dois meses.

- Você andou falando com o meu chefe?

- Não, mas se ele diz o mesmo que eu, então deve ser um homem sensato.

Douglas abriu a boca para retrucar, mas ficou quieto. Sabia que Quim era um auror cuidadoso e nunca fazia nada desnecessário, por isso conseguiu chegar a chefe do Terceiro Esquadrão. E se mais de uma pessoa achava que ele estava reclamando de barriga cheia, então ele devia mesmo repensar as suas atitudes.

- De qualquer jeito – recomeçou Aline –, eu nunca concordei que você tivesse tantas missões em um espaço tão curto de tempo, mas é o seu trabalho e eu não vou interferir. Me fale da missão de amanhã.

Douglas sorriu meio resignado e meio feliz. Ele sabia que não ia conseguir nadar cachoeira acima logo na primeira vez, então teria que esperar para subir de novato para experiente, e isso podia levar bastante tempo. Também estava feliz porque Aline continuava preocupada com as missões dele, e por isso sempre queria saber o que ele iria fazer para ter certeza de que não corria nenhum perigo. Aline ainda não se conformara de que faltava ainda meio ano para terminar o seu curso, e só depois de fazer uma entrevista ela poderia entrar para a equipe de medibruxos dos aurores. Só ficaria sossegada quando pudesse acompanhar Douglas nas missões, entretanto teria que esperar até o próximo ano. Esse era o jeito super discreto dela demonstrar que se preocupava com ele.

- Vai ser outro caso pequeno. Vamos até o antigo correio no lado leste da cidade para prender alguns Comensais novatos. – Douglas odiava aquela palavra, mas era melhor rotular os outros assim do que dizer que ele mesmo era um novato. – Talvez tenha um Comensal da Morte mais experiente, mas é só com o que temos que nos preocupar.

- Então vocês vão levar um medibruxo, claro?

- Quim acha que não é necessário. São apenas barretes pequenos, não vão dar muito trabalho.

- Mas você mesmo disse que pode ter um Comensal mais experiente no meio deles! – Aline disse, agora com um tom mais preocupado que antes. – Eu estou chocada com a falta de cuidado do seu chefe!

- Você não acabou de falar que ele era sensato? – Douglas perguntou só para ver Aline confusa, o que raramente acontecia.

- Bem, eu disse. Mas ele está sendo bastante descuidado quanto à segurança, isso não se pode negar.

- Aline, o máximo que pode acontecer é eu voltar com um arranhãozinho ou dois. Com isso você não precisa se preocupar.

- Mas pelo menos estão levando uma equipe de reforço, não é? – Ela perguntou como se esperasse que ele dissesse que sim.

- Não.

- O quê?! Mas...

- Não precisa. Apesar de eu continuar a ser um novato, o Quim já tem confiança em mim, e toda a equipe está trabalhando no mesmo ritmo. Não tem mais como dar alguma coisa errada, eu te garanto.

- Eu não sei não. Não estou gostando dessa missão.

- Eu já tive uma pior.

- Mas daquela vez vocês levaram um medibruxo e uma equipe de apoio. Continuo com uma sensação ruim sobre essa missão.

- Eu prometo que tomo cuidado. – Douglas deu um beijo estalado na bochecha dela. – Além disso, você abandonou as aulas da Sibila Trelawney logo depois de fazer o primeiro ano. Não acha que está sendo um pouco exagerada quanto a este pressentimento?

- Pode ser, mas eu só vou me sentir melhor quando você estiver de volta.

Ele deu um longo beijo nela, mas não conseguiu afastar de Aline esse mau pressentimento.

- Eu volto. Eu sempre vou voltar.

- Prestem atenção. Nós vamos aparatar daqui até o outro lado da cidade, por isso não esqueçam de usar os silenciadores.

"Como sempre" pensou Douglas, depois de Quim ter passados aquelas instruções complicadíssimas pela pentelhonésima vez. Ele olhou com o canto do olho para o silenciador de Ian, uma corrente de madeira escura com um só aro de metal, e viu que havia várias partes com farpas e alguns pedaços lascados. Com certeza precisava de concerto, mas Ian insistia em fazer seus próprios reparos. Douglas tirou uma corrente igual do bolso e deu a ele enquanto Kelly e Travis conversavam com Quim sobre missões ridículas.

- Use a minha reserva, só para garantir.

- Não precisa. Eu acho que consegui achar o problema dessa vez. – Respondeu o bruxo afastando pela décima vez a franja loira dos olhos. Já fazia uma semana que Ian estava para cortar o cabelo, mas sempre se distraía com alguma outra coisa, assim como as coisas que precisava mandar pro conserto. Até suas vestes estavam um pouco surradas, pois ele tinha preguiça de lavar ou de mandar para alguma lavanderia. Douglas vivia se perguntando como uma pessoa tão desleixada conseguiu chegar ao SCI3 (SCI Serviço de Combate Interno, e 3 indica o número do esquadrão) e ainda fazer parte da Ordem da Fênix. Estava começando a achar que tinha mais malucos na Ordem do que no St. Mungus.

- Você precisa mandar essa coisa para o conserto. Use o meu pelo menos hoje, OK?

- Tá legal... – Ian disse resignado, colocando a corrente de madeira no pulso contrário da varinha. – Mas eu acho mesmo que o problema era no aro de metal, e que finalmente consegui consertar.

Douglas ficou mais aliviado ainda que ele estivesse usando o seu silenciador reserva, já que o aro de metal era a parte principal do aparato, e ele nunca se arriscaria a mexer em uma peça tão importante.

- Ei! Vocês dois! – Quim chamou trás de Kelly e Travis. – São quase onze horas. Vocês querem ou não querem prender alguns Comensais?

- São só novatos, Q. – Ian disse. – É de se esperar que eles também se atrasem.

- Então vamos surpreendê-los. Todos prontos?

- Claro! – Disseram os outros quatro, e no instante seguinte já haviam aparatado silenciosamente.

Os cinco aurores desaparataram no antigo correio de Londres, um prédio pequeno em comparação com o novo, e em um estado deplorável de desuso e descuido. Estavam na sala em que eram guardadas as corujas, sendo que mal podiam ver o teto por causa da escuridão. Todas as janelas haviam sido tampadas com tábuas de madeira, e havia várias vigas pela sala para as corujas usarem como poleiros, mas apenas as mais baixas eram distinguíveis. Um cheiro de titica velha se misturava ao pó acumulado deixando a sala com um ar pesado. Douglas estava se perguntando por que Comensais só se reuniam em lugares em processo de decomposição quando percebeu que havia algo errado. Estava muito silencioso, e também...

- Onde estão os Comensais? – Kelly perguntou baixinho, ficando alerta. – Era aqui mesmo que eles deveriam estar.

- Vamos ver se eles estão em outra sa...

Mas um feitiço atravessou a sala e atingiu Travis sem dar tempo para ele terminar a frase, iluminando momentaneamente as paredes com uma luz avermelhada. Puderam ver que nas três portas que davam acesso ao corujal havia Comensais da Morte, pelo menos vinte deles, e não eram novatos.

- É uma emboscada! – Quim gritou, se posicionando para proteger o corpo inerte de Travis, mas parou no meio do caminho para evitar uma azaração. – Procurem qualquer coisa que sirva de proteção!

Douglas e Kelly pularam atrás de uma viga que estava caída, mas mesmo assim não era suficiente para protegê-los inteiros, e Ian jogou no ar um saco de ração que estava por perto para evitar ser atingido por um feitiço. Três das paredes estavam tomadas pelos Comensais, e aqueles que estavam mais à frente lançavam feitiços e azarações diretamente contra os aurores desprotegidos.

Logo a viga foi destroçada, atingindo Douglas com algumas farpas. Sabia que quatro aurores não poderiam dar conta de vinte Comensais da Morte, mas mesmo assim deu alguns passos para frente e lançou quantos feitiços pôde, e assim faziam Quim, Ian e Kelly. Conseguiram derrubar dois, talvez três das figuras encapuzadas, embora fosse difícil de distingui-los no escuro. Douglas já havia sido atingido por dois feitiços de corte no braço e na perna quando ouviu Kelly ser atingida com um feitiço que a jogou na parede oposta, perto de onde estava Travis. Ele não teve tempo de olhar para trás por causa de outro feitiço lançado na sua direção, e teria sido soterrado se Ian não tivesse virado para trás para ver se Kelly continuava acordada.

- A parede! – ele gritou, apontando para o ponto em que Kelly havia sido jogada. – Vai desabar!

Os tijolos velhos que estavam bem embaixo de uma das vigas começaram a ceder com o peso. Quim ainda tentou alcançar os aurores caídos, mas a gravidade foi mais rápida e soterrou Kelly e Travis antes que ele pudesse dar três passos. Depois que a poeira baixou, eles viram um buraco aberto na parede que dava para a sala em que se guardavam os pacotes, mas não havia sinal de nenhum dos dois.

Dezessete varinhas foram apontadas para os três aurores restantes, mas estes haviam baixado a guarda para tentar ajudar os aurores soterrados e se viraram lentamente para os bruxos encapuzados sem outra alternativa.

- Parece que vocês perderam – um deles disse, se aproximando dos três com a varinha ainda na direção deles, e Douglas reconheceu aquela voz. – Joguem as varinhas no chão.

- Pieri, seu... - Mas Giovanni lançou a maldição cruciatus nele, fazendo Douglas cair de joelhos no chão, porém, sem uma exclamação de dor.

- Eu disse "varinhas no chão", e não que podiam falar. Agora! A não ser que queiram morrer em vão...

Quim jogou sua varinha aos pés do Comensal e acenou com a cabeça para que Ian fizesse o mesmo. Ainda meio relutante e com um olhar de ódio para Giovanni, Douglas se levantou e jogou a varinha no chão, sem deixar de encarar o bruxo que considerara um amigo no Brasil e um traidor na Inglaterra.

- Accio! – As varinhas pularam para a mão de Giovanni, mas ele continuava a sustentando o olhar de Douglas. Com os olhos já acostumados com a escuridão, Douglas pode distinguir um brilho de triunfo por debaixo do capuz, mas Giovanni logo virou as costas para os aurores, dando alguns passos para o meio dos Comensais. – Amarrem eles e levem para o local combinado. O Lord quer algumas informações, por isso não os matem ainda.

- Mas e os outros dois? Vamos simplesmente deixá-los ali? – Um dos Comensais perguntou, fazendo Giovanni se virar para o buraco na parede oposta.

- Acho que os tijolos já deram conta daqueles dois. É uma pena. Teriam sido um bom passatempo. Vamos!

Três comensais conjuraram cordas para amarrar os aurores enquanto alguns já aparatavam. Os três foram atingidos com feitiços estuporantes e colocados na garupa de vassouras para serem levados a algum lugar desconhecido. Um trouxa viu uma coisa escura passar no céu às 12:28 daquela noite, mas seus vizinhos disseram que ele estava vendo coisas. A rua ficou tranqüila, mas quando nenhuma notícia do grupo de aurores chegou a SCI no dia seguinte, eles perceberam que havia algo de errado.