Capítulo 12 – Ops!
Uau! O nome desse capítulo é bastante esclarecedor, não acham?
"Mas que droga! Eu não devia ter comido coisas tão pesadas de noite" Cinthia pensou, saindo do banheiro do seu quarto no hotel trouxa de manhãzinha. Tinha passado mal outra vez. "Mas eles não tinham nada mais parecido com uma salada, e eu tava com tanta fome… é melhor ver como a Aline está, já que estou acordada. Ela já deve ter melhorado a essa hora."
Eram oito e meia da manhã seguinte e Jorge ainda estava dormindo, por isso ela saiu do quarto silenciosamente. Notou um envelope que havia sido passado por debaixo da porta, endereçado a ela e até com o número do seu quarto. Quem será que sabia que ela estava num hotel trouxa? Havia um post-it da recepção, dizendo que havia vindo junto com a correspondência. Depois de acordar direito, ela se lembrou da carta que havia mandado a Tonks, e voltou para o quarto para ler o que estava escrito. Viu que havia mesmo a assinatura da aurora, e em seguida leu a carta.
Cinthia,
Você correu um risco danado perseguindo aquele Comensal da Morte, mas não posso dizer que não fez um bom trabalho. Passei as informações que você conseguiu sobre os Tenembaums e, realmente, os aurores daqui já suspeitavam que eles praticavam atividades ilícitas, e até conseguiram algumas provas. Também vão investigar o barman Joe, mas ainda não chegaram a lugar nenhum. Espero que não tenham tido muito trabalho pra alterar a memória daqueles trouxas, e que não tenhamos problemas mais tarde por causa disso.
Já foi um bom começo descobrirmos que eles têm turnos de oito horas para vigiar os aurores, assim pudemos observar o que acontecia de diferente nas trocas de turnos. Há alguns bruxos que apresentaram falta ao trabalho durante alguns desses turnos, por isso vamos investiga-los. Estamos quase encontrando o lugar, então não se preocupe e deixe o resto do trabalho com a gente. Vou te mandar uma coruja assim que descobrirmos mais alguma coisa.
Espero que estejam todos bem depois do banho de rio,
Tonks
- Ela não está me ajudando muito – Cinthia disse para si mesma, dobrando a carta e guardando-a para, mais tarde, mostrar aos outros.
A chuva já havia parado, e o sol se esforçava em sair de trás das nuvens. Jorge começou a se mexer na cama e acordou, bocejando.
- Já é de manhã?
- É sim, e vamos perder o café da manhã do hotel se não acordarmos os outros logo. Vou ver como a Aline está, enquanto isso você pode se trocar.
Cinthia bateu na porta do quarto da amiga, mas ela não respondeu, devia estar dormindo ainda. Usou um feitiço para destrancar a porta e entrou. Abriu as janelas devagar, para não acorda-la de repente, e sorriu ao vê-la abrir os olhos.
- Bom dia! Está melhor hoje?
- Eu… acho que não.
Cinthia se aproximou dela e colocou a mão na testa de Aline, surpresa com a temperatura alta. Além da sopa, ela ainda dera a Aline o remédio bruxo para gripes, mas a amiga estava com uma febre ainda mais alta, se é que isso era possível. E estava toda suada, e com uma cara bem abatida.
- Acho que estou com pneumonia – Aline disse com a voz rouca.
- Tem certeza? Pode ser só uma recaída…
- Eu estou quase me formando no curso de medibruxa. Acha que eu não ia saber a diferença de uma simples gripe e pneumonia?
Aline começou a tossir, e Cinthia ajeitou suas cobertas, oferecendo o copo de água ao lado da cama.
- OK. Você sabe fazer um remédio para pneumonia, não sabe? É só me dar as instruções que eu faço.
- É bem simples, mas eu não tenho todos os ingredientes. Teria que comprar mais da metade deles ainda.
Aline teve outro ataque de tosse, e Cinthia segurou o copo para que ela não derramasse a água na cama. Jorge bateu de leve na porta e entrou, seguido de Fred, que já estava acordado há alguns minutos.
- Recebemos uma carta da Tonks – Jorge disse, mostrando um envelope ainda fechado. – A coruja chegou agora a pouco.
- Mas já? Eu mal acabei de ler a outra carta dela.
- O que dizia na primeira? – perguntou Fred.
- Ela disse que conseguiram algumas provas contra os Tenembaums depois da nossa investigação e que estavam trabalhando no caso do barman. Estão monitorando qualquer coisa estranha que aconteça em períodos de oito horas, e estão quase encontrando o esconderijo K9.
- Ah, que bom! – Aline disse, se recostando nos travesseiros.
- É, mas ela disse que já ajudamos o suficiente e não quer que a gente se meta no resto das investigações daqui em diante. É melhor que ela tenha mudado de idéia na segunda carta.
Jorge entregou o envelope a Cinthia e ela o leu em voz alta.
Cinthia
Como você disse, Hastings Tenembaum percebeu que estava sendo seguido, e provavelmente alertou seus superiores disso. Quando chegamos ao local às cinco da manhã, já não havia mais ninguém por lá, muito menos pistas. Conseguimos prender os Tenembaum com as provas que conseguimos contra eles, e o mais novo nos revelou que o plano de fuga era ir para Gyor, na Hungria, caso o plano atual corresse algum risco. Lá eles se encontrariam com alguém que poderia esconder os aurores capturados em um lugar seguro, mas suspeitamos que a Hungria seja só um ponto de descanso e que não permanecerão lá por muito tempo.
Estamos indo para lá agora, mas você e os outros ainda podem desistir das investigações. Isso eu sei que você não vai fazer, então tome cuidado e sempre vigie a sua retaguarda.
Um abraço pra todo mundo,
Tonks
PS.: O esconderijo K9 ficava no subsolo do canil municipal. Não é à toa que não estava marcado pelos aurores.
- Mas como eu fui tonta! – Cinthia disse, se sentando na cama depois de ler a carta. – K9 é um trocadilho com a palavra "canino" em inglês. Simples e bem camuflado. Só aqueles que sabiam dos esconderijos saberiam sobre qual eles estavam falando. Eu não acredito que deixei passar essa!
- Agora temos que voar para a Hungria para acha-los antes que mudem de lugar outra vez – Aline disse, tossindo de leve em seguida.
- Você não pode voar naquele tapete desse jeito. Precisa se recuperar primeiro.
- Ainda não sarou da gripe?
- Não, Fred. Ela está com pneumonia.
- Mas se vocês fizerem logo o remédio, poderemos ir para a Hungria amanhã mesmo. Só estão faltando sete ingredientes, os outros quatro eu tenho.
- Deixa que eu compro – Cinthia disse, se levantando. – Depois de te arrastar pra isso, é o mínimo que eu posso fazer.
Aline passou a ela a lista dos ingredientes que faltavam, e Cinthia saiu a procura de uma loja de poções. A primeira que achou perto do hotel só vendia cinco dos ingredientes da lista, apesar de todos serem bem simples. O balconista indicou uma outra loja a umas três quadras dali, e Cinthia foi a pé mesmo, carregando a sacolinha com os cinco ingredientes.
"Só falta agora olhos de besouros negros e raiz de tubérgia da Mongólia. Espero que o estoque dessa outra loja esteja cheio."
Cinthia ia observando a rua molhada enquanto andava. Havia um buraco na nuvem cinza-claro pelo qual os raios de sol escapavam, prometendo tempo melhor à tarde. Ela passava por várias lojas trouxas, se lembrando de quando ainda não sabia que era bruxa com uma pontada de saudades, apesar de gostar mais do que estava vivendo agora.
Enfim avistou a loja que o homem havia indicado e comprou o que faltava, aliviada em chegar antes que levassem o último punhado de olhos de besouro negro. Ao sair, percebeu que logo do outro lado da rua havia uma farmácia trouxa. Sabia que os trouxas não vendiam remédios para pneumonia nas farmácias, e sim que precisavam ficar internados em hospitais tomando antibióticos e soros por dias. Essa era uma grande vantagem das poções dos bruxos. Mas ela entrou, mesmo assim, preocupada com outra coisa.
Quando aparatou de volta para o quarto de Aline no hotel, percebeu que ela já estava dormindo outra vez. Saiu silenciosamente do quarto e procurou pelos gêmeos. Eles haviam montado o pequeno caldeirão de Aline no quarto de Fred, e já estavam acendendo o fogo e colocando a água para esquentar.
- Ela nos deu a receita – Fred disse. – Você conseguiu todos os ingredientes?
- Consegui sim – Cinthia colocou as duas sacolas ao lado do caldeirão, apertando de leve o bolso em que havia guardado o produto da farmácia. – Eu já volto para ajudar vocês.
Cinthia demorou um pouco para decidir o que fazer com o que havia comprado, mas enfim guardou junto com suas coisas na mala. Voltou para o quarto de Fred, ajudando os dois a fazer a poção. Como eles sabiam mais que ela sobre poções, Cinthia se contentou apenas em ver os dois preparando o remédio de Aline. Nunca se dera muito bem nessa matéria, e confiava mais neles para fazer qualquer poção, mesmo quando era ela que precisava.
Uma hora e meia depois, eles terminaram a poção e acordaram Aline. Ela prendeu a respiração antes de tomar, mas o gosto quase a fez cuspir tudo para fora. Com uma careta, ela conseguiu tomar o resto da poção, esperando que aquilo fizesse efeito antes do seu intestino. Ela teria que repousar, e tomar o remédio de três em três horas, até melhorar. Nenhum deles saiu do hotel no resto do dia, e nem se importaram em perder o café da manhã.
À noite, outra coruja de Tonks chegou, e tinha um feitiço de velocidade.
Cinthia
Ainda bem que você não está por aqui. Eles suspeitam que os aurores estão atrás deles (o que é verdade), e por isso estão sendo mais cautelosos que antes. Temos certeza de que vão mudar de lugar logo, mas nem eles sabem para onde.
Os aurores da Hungria não quiseram nos ajudar no caso, pode acreditar? Eles disseram que esse problema é nosso, e que não existem Comensais da Morte no país deles. Ah, como eu quis acertar a cabeça daquele inspetor bigodudo! Enfim, vai ser impossível encontrar os aurores capturados na Hungria sem ajuda, então o jeito vai ser descobrir o próximo esconderijo, torcer para os aurores do próximo país nos ajudarem e chegar lá antes dos Comensais.
Deseje-me sorte, porque as coisas por aqui estão difíceis.
Tonks
PS.: Não ligue essa mancha de tinta. É que eu derrubei o primeiro tinteiro… Ih, fiz de novo!
- É ela, definitivamente – Fred disse.
- Vamos acordar a Aline? – perguntou Jorge.
- É melhor não. Se ela souber que demos um passo para trás nas investigações pode ter uma recaída. Vamos esperar até amanhã para contar. Ela já deve estar melhor lá pela hora do almoço. E segure essa coruja, eu quero mandar uma resposta para a Tonks, e ela tem que chegar rápido.
Cinthia escreveu pedindo detalhes detalhados Eu sei, isso foi redondamente redundante. sobre as investigações deles, nomes, lugares e coisas assim. Assim ela já poderia começar a investigar quando chegassem na Hungria, e ela não queria perder mais tempo do que já haviam perdido com a doença de Aline. Também lembrou de colocar uma nota sobre a pneumonia, dizendo que ela já estava melhor. Disse que ia estar chegando lá no dia seguinte, e que precisava de uma resposta logo.
E, no dia seguinte, eles encontraram uma Aline bem mais disposta, alegre e saudável. Eles arrumaram as malas e pagaram a diária no hotel com quase todo o dinheiro que haviam trocado no Gringotes, voltando para o parque em que aterrissaram. Dessa vez, Aline estava com uns três casacos extras, apesar do sol, para evitar uma recaída durante o vôo. Eles entraram no meio das árvores para evitar serem vistos por trouxas.
- A nuvem de chuva já passou. Seria bom que tivéssemos nuvens para não sermos vistos – Cinthia disse, olhando no meio das copas das árvores. – Vamos ter que evitar passar perto de cidades e torcer para não sermos vistos saindo daqui.
Eles desenrolaram o tapete, prendendo as malas na parte de trás, e Cinthia executou novamente o feitiço desilusório neles. Levantaram vôo, desejando que nenhum trouxa quisesse passear no parque na hora do almoço, e viram aliviados que os poucos pontinhos que passeavam por ali não os haviam notado.
Eles saíram logo dos limites da cidade, e Cinthia procurou no mapa de zoom uma rota segura. Não poderiam fazer uma linha reta, e teriam que ficar a uma altura mais alta do que quando viajaram a noite. Isso ia atrasa-los alguns minutos, mas não havia outra solução.
- Para onde vamos agora? – perguntou Aline se debruçando sobre o ombro dela para olhar o mapa, que agora mostrava um trecho da Suíça até a Hungria, a leste.
- Bem, vamos dar uma leve desviada para o norte, acima de Eschotzmatt, e aproveitar para passar por cima do lago Vierwaldstatter. Viramos um pouquinho para o sul para evitar Schuyz, Glarus e Mels, e vamos passar perto de Liechtenstein, entrando no território da Áustria logo em seguida. Depois seguimos os trilhos do trem pelo lado sul, sempre tentando fazer uma linha reta na direção leste. Quando passarmos por Innsbruck vamos ter que tomar muito cuidado com uma aglomeração de cidadezinhas totalmente trouxas. Passando por Krimml, seguimos pelo rio Salzach, e então desviamos para o sul perto de Zell e Bruck.
- Por que quase todas as cidades austríacas têm letras duplas? – Fred perguntou, também dando uma espiada no mapa.
- Eu não faço a mínima idéia. Bom, depois do rio – Cinthia continuou – vamos ter que seguir os trilhos outra vez pelo sul. Antes de chegarmos a Leoben, que é uma cidade consideravelmente grande, passamos para o norte dos trilhos, subindo um pouco. Assim que passarmos por Wiener Neustadt, cruzamos os trilhos novamente e seguimos reto para o leste, entrando na Hungria. Não vai demorar para chegarmos a Gyor, mas acho que é bom aterrissarmos no sul, por causa dos trilhos do trem e da estrada ao norte.
- Você está parecendo uma agente de turismo – Aline disse com uma risadinha. – Ainda bem que estamos fazendo turismo quase de graça.
- Então eu sugiro que durante a viagem vocês olhem constantemente para a sua direita, ao sul, onde poderão ver os Alpes Suíços.
Cinthia ordenou para que o tapete subisse mais um pouco, e logo começaram a se deslocar para nordeste. De noite havia nuvens tapando a visão deles, além da falta de luz, mas agora eles podiam ver a altas montanhas dos Alpes suíços. Os picos recortavam o céu de brigadeiro com seus amontoados de neve que não derretiam nem mesmo no verão.
Eles seguiriam aquela cadeia montanhosa por toda a viagem, que acabou sendo bem rápida apesar dos constantes desvios que precisavam fazer. Em três horas já estavam entrando na Hungria, e agora estavam mais perto da linha do trem que em toda a viagem.
- Ah, eu quase me esqueço de falar. Quando chegarmos perto de Gyor, vamos poder ver o rio Danúbio. Ah, olha lá, já da pra ver – Cinthia disse apontando para uma linhazinha azulada a nordeste. – Já devemos estar chegando. Vou procurar um lugar para pousarmos.
Ela ampliou a área de Gyor no mapa, encontrando um bom lugar para aterrissarem perto da estação de trem. Assim que chegaram ao chão, Cinthia desfez os feitiços desilusórios e eles enrolaram o tapete. Aproveitaram que um trem estava chegando e se misturaram às pessoas que saíam dele para disfarçar a bagagem que levavam.
Saindo da estação, Cinthia puxou o mapa e procurou por uma área bruxa enquanto Fred e Jorge comentavam alguma coisa sobre visitar Carlinhos no país ao lado. Eles precisavam comprar Chás de Línguas para poderem se comunicar na cidade, e precisavam achar logo uma loja que vendesse o produto.
- Não teria sido mais simples comprar chá de húngaro na Suíça? – perguntou Aline, enquanto eles passavam por algumas lojas tipicamente bruxas em uma rua sem acesso para trouxas.
- É, só que na pressa de vir logo pra cá, eu acabei esquecendo desse detalhe. E… ah… acho que é aqui.
Cinthia parou na frente de uma vitrine que mostrava vários frascos com ingredientes mágicos, livros de como utilizar alguns artefatos (em húngaro) e mais algumas coisas que pareciam medalhões. Eles não entenderam bulhufas do que dizia na placa, mas entraram na loja mesmo assim. Ficaram aliviados ao tentar falar com o balconista, pois ele sabia falar um pouco de inglês, mas com muito sotaque. Depois de negociarem o que havia sobrado do kit suíço por alguns saches húngaro, eles saíram da loja a procura de um hotel. Havia um hotel bruxo naquela mesma rua, o que lhes poupava o trabalho de ter que trocar galeões por florins. O atendente do hotel também falava inglês, só que com um sotaque quase imperceptível, e eles conseguiram logo os quartos.
- O que a gente faz agora? – Jorge perguntou.
- Primeiro nós vamos fazer o chá de húngaro, e depois preciso falar com a Tonks. Preciso saber como está indo a investigação dos aurores.
Eles esquentaram a água em um caldeirãozinho que havia na lareira do hotel Eu avisei que era tipicamente bruxo. e finalmente puderam entender o que os outros hóspedes estavam falando. Eles acharam muito engraçado ver uns aos outros falando naquela língua quase grunhida, e saíram do hotel aos risos depois de perguntar ao atendente onde ficava o correio coruja.
Cinthia pediu a coruja mais rápida do lugar e mandou a coruja para Tonks. Ela não sabia fazer um feitiço de velocidade, mas ia tentar aprender depois que acabassem com aquela confusão toda. Já passava das quatro da tarde, e eles resolveram dar uma volta pela cidade enquanto esperavam a resposta da aurora.
Enquanto andavam pelas ruas desconhecidas até atingirem uma pracinha sem falarem muito, Aline começou a cantarolar baixinho sem perceber.
- Eu conheço essa música – Cinthia disse, distraindo Aline.
- Eu achei que você fosse reconhecer, foi na sua casa que eu ouvi, antes de terminarmos Hogwarts. O Douglas gostava do grupo que cantava, mas eu não consigo lembrar a letra.
- Acho que era algo como…
I have climbed the highest mountain,
I have run through the fields
Only to be with you.
Only to be with you.
I have run, I have crawled,
I have scaled these city walls,
These city walls.
Only to be with you.
But I still haven't found what I'm looking for.
I have spoke the tong of angels,
I have held the hand of a devil.
But I still haven't found what I'm looking for…
- Parece o que a gente está fazendo – comentou Aline, deixando escapar um suspiro.
- Mas duvido que húngaro seja a língua dos anjos – Jorge disse.
- Com isso eu concordo – Fred falou em húngaro, e eles riram.
Uma coruja parda e grande voou de encontro a eles enquanto riam, e reconheceram a coruja do correio. Cinthia a pegou e desatou a mensagem de sua perna antes que algum trouxa da pracinha visse, mas enquanto abria o envelope viu que algumas matronas que estavam nos bancos espiavam curiosas por cima do ombro. Ignorou as velhotas, lendo a resposta de Tonks.
Cinthia
Estamos mesmo precisando de ajuda, nem que seja de um trasgo montanhês. O meu grupo é muito pequeno para fazer todas as investigações, e estamos com falta de muita informação. Hoje planejamos vigiar uns três bruxos, mas não sabemos se são Comensais da Morte, muito menos se tem alguma idéia dos três aurores capturados. Pedimos ajuda para os aurores daqui, mas eles "estavam muito ocupados e não podiam perder tempo com bobagens".
Ainda temos dois endereços para investigar, mas não vamos poder checar nenhum dos dois. Parece que já procuraram o próximo lugar para levar os aurores, o que nos deixa com pouco tempo. Estamos investigando esses três, porque parecem ser os mais suspeitos, mas se você e os outros pudessem dar uma olhada nos outros, iria ajudar muito. Pouget vai estar visitando uns amigos na hora do jantar na rua Fritz Archel, nº 74, e ouvimos que está planejando viajar; não conseguimos o endereço da casa dele. Tourgoshk também planeja viajar, mas acreditamos que vai passar a noite em casa, na esquina da rua Minstvits com a Truk Dol. Ambos moram sozinhos.
Se precisar interrogar algum dos dois, tome muito cuidado para não ser vista. E não se esqueça de usar o feitiço da memória caso não seja quem procuramos (acho que você e os outros já devem ter pegado prática depois do episódio com o arpéu), ou de amarrar bem e trazer para nós, caso seja mesmo um Comensal da Morte. Invente qualquer desculpa e mande um bilhete com o que descobriu.
Brigadão pela ajuda e um abraço pra todo mundo!
Tonks
- Bem, já temos planos para hoje à noite – Cinthia disse, guardando a mensagem no bolso.
- Qual dos dois sujeitos vamos investigar? – perguntou Aline.
- Pouget. É estranho que não tenham conseguido o endereço dele, o que o torna mais suspeito. E podemos ouvir alguma coisa na conversa do jantar, enquanto que com Tourgoshk teríamos que apelar para o método tradicional.
- Torturar e pressionar? – perguntou Fred.
- Prender e interrogar – corrigiu Cinthia. – Sou melhor quando faço a investigação furtivamente. O que me lembra… o que vocês dois trouxeram na bagagem?
Pouco tempo depois, quatro pessoas estavam agachadas debaixo de uma janela nos fundos de uma casa. Através da fina cortina branca, eles podiam ver que a casa não era uma casa comum de trouxas, e que sete bruxos e bruxas conversavam animadamente durante a refeição da noite. Embora as luzes da rua e a lua iluminassem razoavelmente o quintal daquela casa, essas quatro pessoas não podiam ser vistas pelas pessoas de dentro. Mas quem olhasse do lado de fora, veria quatro corpos sem cabeças, ajoelhados na grama com um embrulho aparentemente aquoso ao lado.
- Eu ainda não entendi porque não usamos aquele feitiço desilusório de antes – Aline resmungou num sussurro, pois a janela em que espiavam estava entreaberta.
- Porque eles poderiam nos ver do mesmo jeito – Cinthia disse. – Você lembra do efeito do feitiço, e ele não deixa completamente invisível, só da mesma cor do fundo.
- Mas é muito estranho olhar para vocês sem cabeça.
- O Nick Quase-Sem-Cabeça ia ficar morrendo de inveja da gente – Jorge disse. – Ele quase comprou um dos nossos chapéus, não foi, Fred?
- Silêncio! – Cinthia falou mais baixinho que antes. – Sim, a invenção de vocês é uma maravilha, e foi uma sorte que vocês tenham trazido tantas tranqueiras na bagagem…
- Acidentalmente – frisou Fred, que havia trazido uma mala errada em que guardara alguns dos logros.
- … mas agora temos que prestar atenção na conversa dos outros. Não deve demorar para eles terminarem o jantar e irem embora. Quando passarem para o hall, a gente coloca a capa da invisibilidade e tenta descobrir quem é o tal Pouget e segue ele.
Durante todo o jantar, os bruxos haviam se chamado pelo primeiro nome, e nenhuma vez o sobrenome Pouget fora mencionado. Os gêmeos também haviam trazido a antiga capa da invisibilidade que ganharam do tio no segundo ano de Hogwarts, e Cinthia fez um feitiço leve de aumento para que todos coubessem nela, mas ainda precisavam andar bem juntos debaixo dela pois seu material não sofria muita alteração.
Depois de terminarem finalmente a longa refeição, os bruxos da casa se demoraram conversando na sala de estar, e os quatro do lado de fora só precisaram esticar um pouquinho as Orelhas Extensíveis para ouvir a conversa. Eles não falavam nada que revelasse algum envolvimento com Voldemort e os Comensais da Morte, ou qualquer atividade ilegal. Cinthia já estava achando que fora uma perda de tempo terem ido até lá, e estava ficando tão cansada quanto os outros de ouvir aquela conversa inútil sobre trabalho e vizinhos. Depois de pelo menos uma hora, eles ouviram um deles dizer o nome que procuravam.
- E a grande Didier Pouget teria a solução para esse quebra-cabeça, eu suponho.
- É claro, Gus – eles ouviram a voz que mais falara em todo o jantar responder, altiva e alegre, além de um pouco convencida. – Só um tolo não veria que a resposta é tão simples quanto um mais um…
- Eu achei que estávamos atrás de um cara – Fred disse.
- Bom, não dava pra saber só pelo sobrenome – Cinthia disse. – Agora temos que esperar ela sair, segui-la e encurrala-la para descobrirmos alguma coisa. Só espero que estejamos errados, e que a Tonks esteja se virando melhor que a gente. Odeio descobrir que alguém é culpado de alguma coisa.
Parecia que eles nunca iriam sair daquela casa. Ainda tiveram que esperar uma hora e meia para que alguns começassem a se despedir do casal que provavelmente eram os donos da casa, os outros foram se despedindo também. Os quatro tiraram os Chapéus Sem Cabeça e jogaram a capa da invisibilidade por cima, passando para a parte da frente da casa. Não precisaram chegar muito perto para ouvir os nomes dos que se despediam, muito menos os altos "cracks" de alguns que aparatavam. A bruxa que estavam vigiando foi a última.
Ela parecia ser muito amiga da anfitriã, e por isso se demorou na despedida.
- Prometa que vai nos visitar mais vezes, Didier – dizia a anfitriã.
- Ah, você sabe que eu tento, mas não é sempre que eu posso voltar para o país. O mais cedo que posso voltar é nas férias de inverno. Enquanto isso, não deixe a sua coruja ficar doente.
- Nem a sua, hein. Bom, a gente se vê qualquer dia.
- Tchau, Fiona. Vou sentir saudades. Tchau Jess.
- Até! – disse o anfitrião, abraçando a mulher.
Didier Pouget se afastou da casa ainda acenando para o casal. Os quatro começaram a segui-la, mesmo parecendo que ela fosse uma bruxa normal. A casa dela devia ficar perto, já que ela não havia aparatado. Ventava de leve, mas a noite não estava muito fria, mas eles seguraram a capa mais firme para que ela não voasse. Já era perto de nove horas, e apenas raramente eles viam alguma pessoa passar na rua.
A bruxa entrou numa rua mal iluminada, onde não passava ninguém e todas as casas tinham um aspecto bastante antigo. Ela começou a remexer os bolsos a procura das chaves de sua casa, e Cinthia apressou o passo, pois eles mantinham uma distância de cinqüenta metros dela.
- Se ela entrar em casa, não poderemos entrar sem um mandado – ela disse com urgência, se esquecendo de manter a voz baixa.
A bruxa estava perto das escadinhas de uma casa de um andar só, mas parou antes de pisar no primeiro degrau ao ouvir a voz de Cinthia. Ela olhou em volta, mas como eles ainda estavam cobertos pela capa, ela ficou preocupada.
- Quem está aí? – ela perguntou, bastante desconfiada. – Eu bem achei que tinha alguém me seguindo, mas achei que estava ficando paranóica. Eu ouvi mesmo seus passos a umas duas quadras atrás.
- Preparem as varinhas, mas as escondam – Cinthia murmurou e procurou pela varinha no bolso, em seguida se dirigindo a bruxa e tirando a capa que cobria os quatro. – Está certo. Nós só queremos conversar…
A bruxa lançou um feitiço na direção deles, mas errou Jorge por muito pouco e só porque ele se jogara para o lado. Cinthia tentou lançar um expeliarmus nela, mas Didier o interceptou com um impedimenta enquanto ainda procurava pelas chaves no bolso. Ela não podia aparatar para dentro de casa pois havia enfeitiçado o lugar para se proteger de eventuais pessoas inoportunas.
A bruxa lançou outro feitiço neles, mas tão rápido que tiveram que se abaixar para evita-lo. Os quatro lançaram azarações ao mesmo tempo, mas a bruxa repeliu três deles e desviou do quarto. Cinthia viu horrorizada ela tirando as chaves do bolso e subindo o primeiro degrau, quase em câmera lenta. Enquanto os outros se preparavam para lançar mais azarações e a bruxa apontava a varinha para trás para estuporá-los, Cinthia bradou "Accio, chaves!" A bruxa viu suas chaves irem na direção de Cinthia e escorregou na escada de susto, evitando as azarações dos outros acidentalmente. Eles se aproximaram alguns passos dela, e Aline usou o accio também para pegar a varinha dela antes que se recuperasse do tombo.
- Agora você concorda em bater um papinho? – perguntou Jorge enquanto ele e os outros apontavam suas varinhas para a bruxa.
- Claro. O que vocês querem? – ela disse secamente, olhando para as quatro varinhas.
- É sobre os três aurores – Cinthia disse, mas a bruxa demorou muito para responder.
- Existem tantos aurores por aqui. Você vai ter que ser mais específica, amiga.
- Primeiro, eu não sou sua amiga. Segundo, os três aurores não são daqui. O que você sabe sobre eles? – Cinthia se aproximou um passo segurando a varinha firmemente, e a bruxa engoliu em seco.
- Olha, eu sou nova nisso, é o meu primeiro trabalho. Eu só sei que é pra eu encontrar um carinha, perguntar se ele pode esconder os caras pra gente e onde que ele vai deixar a Carga. É só isso o que eu vou fazer. Eu juro que nunca vi os aurores. Vocês estão procurando por eles ou algo assim?
- É algo assim – Fred disse. Cinthia havia dito que não era bom dar muitos detalhes a esse tipo de gente quando falavam com eles e esperar que eles dessem as informações. Mas sempre que possível era bom parecer durão, e ela deixou essa parte para os gêmeos.
- Nós queremos todas as informações – Cinthia disse ligando o seu gravadorzinho. – Para quem você está trabalhando, o que disseram para você fazer, quem é o seu contato, aonde iriam se encontrar e alguns nomes, enquanto a sua memória ainda está em boas condições.
- Eu não sei o nome de nenhum outro Comensal, nem mesmo o nome de quem me passou as informações. Já disse que estou nisso a pouco tempo.
- Podemos descobrir isso mais tarde, por isso poupe seu fôlego e nos dê as informações que queremos.
Pouget olhou com uma cara feia para os quatro, o que fez suas feições suaves e bonitas ficarem quase irreconhecíveis com raiva. Mas ao ver novamente as quatro varinhas apontadas na sua direção e a sua própria na mão de uma daquelas pessoas, ela resolveu cooperar.
- Me disseram para voltar logo para a Holanda, onde eu moro, porque precisavam de alguém que pudesse trocar de países que não chamasse muita atenção. O cara concordou em encontrar um de nós amanhã para conseguir um bom esconderijo para a Carga e nos informar onde é. O Lorde das Trevas nunca iria aceitar o acordo se ele não soubesse onde estaria sua mercadoria. Isso é tudo que eu sei.
- Eu acho que estão faltando alguns pedaços. Onde exatamente você iria encontrar esse contato e quem é ele.
- No lado sul de Roterdã, no balcão de uma danceteria chamada Flying Discos por volta das onze. A senha é pedir um Bloody Mary, e ele vai responder que é um pedido interessante, pois é uma das bebidas favoritas dele. É uma senha engraçada, já que ele é um vampiro.
- Um vampiro? – Aline disse, tão surpresa quanto os outros com aquela informação.
- Nunca lhe ocorreu? – disse a Comensal sorrindo sinistramente. – Se os poderes do Lorde estão chegando até aqui, na Hungria, porque não alcançaria também as raças inferiores mais próximas? Devo admitir que é difícil de convencer os vampiros a cooperar, mas a cada dia mais e mais deles se juntam a nós, afinal, a maioria deles já foram bruxos puros uma vez.
- Você parece saber mais do que diz saber – Cinthia disse, tentando cortar a confiança da Comensal.
- São os boatos que correm. Me admira vocês não saberem.
- Bem, vamos descobrir todos os boatos que você sabe quando te levarmos para Azkaban.
- Ah, eu não faria isso se fosse você e ainda quisesse encontrar os seus amiguinhos aurores. Vocês não podem me levar para a prisão – a Comensal sorriu desdenhosa, sabendo que eles não poderiam prende-la.
- Podemos e vamos – Fred disse.
- E quem vai encontrar o vamp, hã? Ele já foi avisado que eu, Didier Pouget, vou ser o contato dele, e ninguém mais pode ter acesso a essa informação. Esses vampiros são criaturas bem temperamentais, desconfiadas e traiçoeiras, vocês sabem, e podem pular fora se acharem que há muitas alterações nos planos. E não é assim tão fácil de se achar um vampiro, não a menos que ele queira.
Aline abaixou sua varinha, desanimada só de pensar que as chances de encontrar Douglas logo estavam diminuindo outra vez. Os outros continuaram a apontar suas varinhas para a Comensal da Morte, mas trocaram olhares confusos.
- A levamos para a Tonks ou não? – perguntou Jorge em voz baixa, e a Comensal não conseguiu ouvir o que falavam pois estavam a alguns passos de distância dela.
- Se ela não encontrar com o vampiro, então ninguém mais vai ter essa informação. Eu fui alertada sobre eles e esperava nunca ter que encontrar um. É muito provável que esse vampiro seja o único que sabe onde escondeu os aurores, de tão desconfiados que eles são com a própria espécie.
- Mas nós temos um vampiro no sótão da Toca, e ele é inofensivo – Fred disse.
- Existem quatro classes de vampiros. Os deploráveis, os perdidos, os escravos e os mestres. O da Toca certamente é um deplorável, mas depois eu explico a diferença deles. Esse pode ser um mestre, ou até um perdido, o que é mais provável, e são bastante astutos. Piores que os sonserinos, eu me atrevo a dizer. Se mandarmos ela para a prisão, eles vão alterar os planos, e os vampiros podem não gostar disso e vampirizar os aurores.
Aline arregalou os olhos e serrou os punhos para que sua mão não tremesse, apertando a varinha com força.
- Isso não pode acontecer – ela disse, um tanto rouca.
- Eu sei. Mas acho que tem uma solução…
A Comensal aproveitou que os quatro estavam distraídos para tentar escapar e se levantou, esbarrando em Aline para pegar sua varinha de volta. Aline caiu no chão e deixou as duas varinhas rolarem para longe. Assim que Didier se abaixou para pegar sua varinha, Fred, Jorge e Cinthia lançaram três azarações diferentes que a atingiram ao mesmo tempo. A bruxa caiu no chão e ficou imóvel, estatelada na calçada. Aline tateou pela varinha e se levantou, percebendo que estava bem na linha de fogo deles.
- Ainda bem que eu não estava de pé – ela disse, se virando para eles depois de dar uma boa olhada para a Comensal estrebuchada no cimento.
Os quatro levaram um susto e preparam as varinhas quando a Comensal se sentou na calçada, mas ela não os atacou. Ela apenas olhou para a varinha em sua mão e então para as deles com os olhos meios desfocados.
- Por que estamos segurando gravetos?
- Oh-oh – Jorge disse. – Eu já vi isso.
- É, isso também me é familiar – Fred disse.
- Vocês fazem parte da família? – perguntou a bruxa, um tanto abobalhada.
- Não me digam que ela perdeu a memória, por favor – Cinthia disse.
- OK, não vamos dizer – Jorge disse.
– Quem de vocês usou um oblliviate? Nós precisávamos dela para ser interrogada pelos verdadeiros aurores e…
- Ninguém apagou a memória dela – Fred disse.
- Foi uma junção de feitiços – explicou Jorge. - Eu usei o estupefaça, você usou o expeliarmus e o Fred usou o estupore, e isso tudo deve ter resultado num oblliviate. Uma coisa assim aconteceu quando eu e Fred ajudamos a azarar o Malfoy numa das viagens de trem.
- Eu já estudei alguns casos de acidentes por junção de feitiços – Aline disse. – Eles são tão difíceis de reverter quanto os feitiços originais, isso quando não há efeitos colaterais piores.
- Como vocês falam esquisito – disse a Comensal, ainda sentada na calçada. – Até parece que acreditam em magia.
Cinthia revirou os olhos.
- Você não consegue desfazer isso? – ela perguntou para Aline, mas a aprendiz de medibruxa balançou a cabeça negativamente.
- Pelo menos você tem as informações de que precisava no seu gravador – Jorge disse.
- Mas eu também estava pensando em usar ela para conseguir a informação com o vampiro. Os aurores podiam monitora-la durante todo o encontro, apagando apenas eles da memória dela, e prende-la logo em seguida junto com o vampiro. Mas agora ela está inutilizável.
- Eu certamente não sou inútil – vocês já sabem quem disse isso. – Só não sei o que faço… e quem eu sou. E quem são vocês, a propósito?
- Ilustres desconhecidos – Jorge disse.
- Oh, ótimo! – os olhos da Comensal se arregalaram de satisfação. - Eu não me lembro de ter conhecido ninguém ilustre antes. Alias, eu não me lembro de ter conhecido ninguém além de vocês.
- Isso é um desastre! – Cinthia colocou as mãos no rosto e balançou a cabeça, desesperada por uma idéia. – Duvido que a Tonks concorde em aceitar a nossa ajuda outra vez depois disso. Ela vai pirar! A equipe dela está atrás dos sujeitos errados e nós desmemoriamos a única chance… de… encontrar…
Cinthia foi levantando o rosto lentamente e abaixando as mãos. Ela olhou para a Comensal no chão com os olhos brilhando, e Jorge reconheceu o brilho que vira tantas outras vezes de quando ela resolvia a charada mais importante.
- Você já encontrou outra solução, não é?
- Eu acho que encontrei – ela olhou para ele bem mais calma, e estava até sorrindo. – Na verdade, é a própria Tonks.
- Como, se o nosso problema é a memória deste indivíduo? – perguntou Aline, apontando para a bruxa na calçada.
- Eu sinto muito se estou causando problemas a vocês, mas eu não me lembro do que eu fiz. É muito mal?
- É o fato de você existir – Fred disse, ignorando o olhar de desentendida de Didier. – Mas qual é a sua solução afinal?
- A Tonks é uma metamorfomaga, se esqueceram? Ela pode se passar pela Pouget e ainda conseguir as informações de primeira mão! Depois é só ela nocautear o tal vampiro e ir com o resto dos aurores resgatar o Douglas e os outros.
- Você tem certeza de que esse plano vai funcionar? – perguntou Jorge. – Parece fácil demais.
- É claro, fui eu que fiz o plano. Além do mais, quanto mais simples, menos coisa tem para dar errado. São os planos muito elaborados que geralmente tem maior risco de falhas.
- Quer dizer que logo… nós vamos encontrar o Douglas! – a voz de Aline quase falhou de tão emocionada que ela estava.
- É sim! – Cinthia disse a abraçando.
- Ah, eu odeio interromper esse momento lindo, mas… - disse Didier, se levantando - o que está acontecendo aqui?
Depois de inventarem uma desculpa qualquer e de deixar Didier na sua casa (sem deixar de trancar a porta para que ela não saísse e de dar instruções para que não falasse com ninguém, não tentasse sair e não tentasse esquentar a própria comida para não explodir o quarteirão acidentalmente, que eles logo voltariam para busca-la), eles enviaram uma coruja para Tonks falando o que aconteceu e o plano de Cinthia. Ela podia estar ainda vigiando um dos bruxos suspeitos, por isso teriam que esperar para receber uma resposta.
Mas quando já eram três da madrugada e todos estavam quase se rendendo ao sono, duas corujas entraram pela janela do quarto de hotel. Uma era a que eles haviam enviado, com o mesmo bilhete ainda preso na pata, e a outra vinha trazendo um outro pergaminho. Só por precaução, pegaram o bilhete antigo para ver se ela não havia escrito nada no verso, mas o pergaminho voltara para eles do mesmo jeito que mandaram, e a coruja foi embora no céu negro.
A outra coruja também levantou vôo assim que desamarraram o pergaminho de sua pata, e a mensagem era, na mais simples das avaliações, preocupante.
Cinthia
Eu e dois colegas fomos presos temporariamente na delegacia de delitos simples. Quando tentamos abordar o bruxo que estávamos de olho, ele chamou por ajuda, gritou que estava sendo atacado e de repente a rua aparentemente vazia ficou cheia de trouxas e bruxos. Vendo que estávamos com varinhas, alguém chamou a equipe de controle das leis mágicas, e tanto nós quanto o cidadão fomos levados para a delegacia como arruaceiros. Isso nos deu tempo para trocar algumas palavrinhas, e acabou sendo que ele é inocente de qualquer suspeita. Não podemos receber nenhuma coruja, mas tivemos direito de mandar uma, cada um. Estamos esperando que o resto do esquadrão termine logo o serviço e venha provar que somos aurores que estavam fazendo seu trabalho, já que ninguém aqui fica muito tempo por perto para ouvir a nossa versão da história. Só quero saber como eles vão nos tirar daqui.
Espero que esteja tendo mais sorte que eu.
Tonks
- Eu não acredito nisso – Cinthia disse, passando o bilhete para os outros e se sentando na cama com o rosto entre as mãos. À medida que cada um lia, iam ficando tão preocupados quanto ela.
- Não podemos entregar as informações para qualquer um dos outros aurores? – Aline perguntou, ainda esperançosa.
- A Tonks era a única que sabia que estamos investigando o caso também. Se passássemos as informações para outro, teríamos que explicar porque estamos nos metendo e isso levaria muito tempo, que é algo que nos falta. Além de que eu posso realmente me encrencar no trabalho, sem mencionar que todos nós podemos ganhar fama de desordeiros.
- Mas nós sabemos de uma coisa muito importante que eles não sabem! – Aline disse. – Pra mim isso não é atrapalhar, e sim ajudar.
- Mas nós desmemoriamos a única pessoa que podia comprovar isso, e quase nenhum bruxo confia em apetrechos trouxas como gravadores. Essa é a justiça; se você não faz o que deveria fazer normalmente, então está atrapalhando.
- Ééé, nós nunca ligamos muito para isso – Fred disse, coçando o queixo.
- E já temos fama de desordeiros desde que saímos das fraudas – Jorge apoiou.
- Mas não podemos perder tempo – Cinthia lembrou. – Eles vão ficar tão alvoroçados se nos descobrirem que vão deixar as informações que conseguimos de lado, sem dizer também que eles podem não acreditar em nada do que dissermos. Temos que pensar em outra coisa.
- Eu não vejo outra saída – Aline disse, se sentando ao lado dela. – Acha que conseguimos achar uma em vinte horas?
- Podemos tentar.
- Isso soa tão animador… – Fred comentou sarcasticamente.
N/Pelúcia: Uau! Que aperto, hein! Como será que eles vão sair dessa? N/Emplumada: Por que você está perguntando aos leitores? Fomos nós que inventamos a história, e eles não fazem a mínima idéia do final. N/Pelúcia: Eu estou tentando ser educada, poxa! Será que dava pra você ter um pouquinho mais de tato? N/Emplumada: Ops... foi mals.
A autora intrometida sai pelo canto do monitor enquanto a escritora maravilhosa continua a digitar em seu teclado mágico.
N/Pelúcia: Bom, nos mandem e-mails dizendo o que vocês estão achando da história, da escrita e de tudo, porque sempre é bom saber que não se é a única pessoa viva no mundo. Bem, com a Emplumada por perto, isso eu nunca vou esquecer, ela não deixa. N/Emplumada: Ei! Essa eu li!
A incrível escritora se coloca sorrateiramente fora do monitor, encerrando o trabalho do dia e evitando um puxão de orelha…
Iniciar... Desligar o computador... Desativar .......
Nota do Capítulo: A música que Aline estava cantarolando é do U2, "I still haven't found what I'm looking for". É isso que dá pegar um CD qualquer pra ficar ouvindo enquanto eu escrevo...
